sábado, 4 de setembro de 2021

040921 - Diário e reflexões


Filhos de Palmério e Dirce num momento feliz.

Refeição Cultural

Sábado, 4 de setembro. Segundo ano da pandemia mundial de coronavírus. Quinto ano do golpe de Estado no Brasil. Terceiro ano do regime militar-bolsonarista.

PANDEMIA

A infecção pelo vírus Sars-Cov-2 não é uma gripezinha. Até o momento, já foram infectados no mundo 220 milhões de pessoas, e morreram 4,6 milhões de pessoas. Aqui onde vivemos, o país jabuticaba, morreram 582.670 pessoas, e foram infectadas 20,9 milhões de vítimas. (Johns Hopkins University)

Não há cura para a infecção pelo coronavírus, mas há vacinas. Estudos diversos demonstram que a infecção pelo vírus deixa sequelas em mais de 1/4 das vítimas, que podem passar a ser doentes crônicos. 

A ampla maioria dos vacinados no mundo e no Brasil são os ricos, são os brancos (a distribuição das vacinas é para os países desenvolvidos e nos não desenvolvidos a distribuição é desproporcional, é para segmentos privilegiados). Os mortos são em sua imensa maioria os mais vulneráveis da sociedade humana: pobres e descendentes de povos africanos ou originários em terras colonizadas pelos europeus. Não estamos no mesmo barco... estamos no mesmo mar, alguns de iates e transatlânticos e a maioria em jangadas improvisadas e boiando sem nada.

ANIVERSÁRIOS SOLITÁRIOS

Minha mãe completa hoje 75 anos de vida. Uma vida brasileira, de uma mulher brasileira da base da pirâmide social. Mãe, meus parabéns pelo seu aniversário e desejo que a senhora esteja bem, na medida do possível para os dias que correm, e que continue conosco por muito tempo. Te amo.

Meu pai completou 79 anos de vida no dia 30 de agosto. Uma vida brasileira, de um homem brasileiro da base da pirâmide social. Dei os parabéns ao meu pai também desejando a ele que esteja bem na medida do possível nesses tempos. Te amo pai.

Neste sábado, que seria dia de festas e reunião com as pessoas que amamos, meus pais estão sozinhos em casa. Não haverá festa, não haverá reunião de família. Segue o amor incondicional que sentimos uns pelos outros. 

Minha mãe faz 75 anos e não teremos abraços e confraternização presencial...

Se já não bastassem as duas datas importantes na semana para mim e para nossa família, amanhã, domingo, dia 5 de setembro, é a data de casamento de meus pais. Eles se casaram em 5/9/1964, ou seja, completam 57 anos de casados. E não haverá reunião nem confraternização nenhuma.

Eu fico me perguntando se sou um idiota, se sou um cuzão ou algo parecido por seguir até hoje respeitando as recomendações da ciência em relação à pandemia. Desde que essa peste começou, nunca mais fui ver meus pais, irmã e sobrinhos. Nunca tive medo de morrer. Nunca. Mas temo pela morte das pessoas que amo. Essa abstração "amor" é uma das diversas abstrações do cérebro humano. Se importar com os outros...

Compartilhei com minha irmã e com meu filho e esposa minha angústia por não estar hoje na casa de meus pais e por deixá-los sozinhos nestas datas. Eles me confortaram e disseram que estamos fazendo o correto em não nos unirmos neste momento lá. Pior seria irmos lá, alguém morrer de Covid e depois ficarmos com o peso na consciência para sempre... Sei lá!

Estamos num fim de semana de feriado prolongado. Milhões de pessoas no Brasil estão aglomerando neste exato momento em que escrevo. O sol está forte, as praias estão lotadas, os parques idem, as pessoas estão enchendo a cara, bebendo o que podem e o que não deveriam porque a bebida alcoólica está fodendo a vida e a SAÚDE das pessoas mais que qualquer outra droga chamada de "ilícita", ou seja, droga que não foi definida pelos governos para pagar impostos. Cigarros e álcool, que matam milhões por ano, são drogas "lícitas" e tá liberado geral. Dane-se a saúde do usuário e a saúde da coletividade. 

A pessoa fuma um baseado de maconha e fica alegre ou sonolento. A pessoa ingere bebida alcoólica, fode fígado, rins e diversos sistemas a longo prazo e fica bêbada em algumas horas e causa mortes e acidentes irreversíveis e tudo bem. É uma hipocrisia desgraçada essa sociedade humana!

QUASE TODO MUNDO AGLOMERA (JOGO DE DADOS E PROBABILIDADES)

Estamos num mundo conectado pelas redes sociais e pela internet e redes de comunicação. Em minutos de pesquisas e visualização, vemos que praticamente todas as pessoas que conhecemos, que são nossos contatos, já se reuniram com seus familiares e amigos queridos nesse período de pandemia. 

Os especialistas das áreas que lidam com a ciência e a pandemia explicam os riscos de aglomeração, mesmo estando vacinada parte das pessoas, mesmo usando máscaras, porque as cepas atuais são mais contagiosas pelo ar e ao comerem e beberem juntos (sem máscara, óbvio), multiplica-se exponencialmente o risco de transmissão do vírus. E talvez, agravamento, e talvez morte da pessoa querida. Tudo são cálculos de risco, estatísticas e probabilidades...

É provável que eu e algumas pessoas como eu sejamos uns cuzões em não se encontrarem com as pessoas amadas. Também não estou acusando quem se reúne e aglomera, cada um cada um. Jogo de dados e probabilidades...

Afinal, pode ser que eu e ou as pessoas que amamos morram num segundo qualquer de qualquer coisa, afinal somos tão frágeis como animais, um coração que para, uma artéria ou veia que estoura ou entope, um câncer que nos emperre o funcionamento normal dos sistemas corpóreos. Um vírus de Covid pego mesmo com todos os cuidados que recomendam. Que dirá morrer de um tiro, uma pancada, um acidente qualquer.

RESPONSABILIDADE SOCIAL E COLETIVA 

Eu tive a oportunidade de conhecer pessoas e espaços que me transformaram politicamente. O meio me fez ser o que sou. O mundo do trabalho, o familiar e o estudantil. Meu aculturamento me fez ser o que sou. A consciência política do animal humano que sou hoje me faz ser assim.

Eu poderia ser um troglodita bolsonarista, qualquer um poderia ser um direitista no Brasil porque os ambientes em que vivemos nesta terra escravagista são propícios a isso. Acabei não sendo por acaso um direitista: veredas. 

Me tornei uma pessoa de esquerda. Isso me dá uma responsabilidade social que não tinha até uns vinte e poucos anos.

Chega de reflexões neste registro diário. Feliz aniversário, mãe! Aglomerem-se aqueles que quiserem. No Brasil, não sabemos sequer o que vai acontecer daqui a três dias...

William


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