sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Animal racional e imbecil



Refeição Cultural

Sexta-feira, 24 de setembro do 2º ano da desgraça da pandemia.


TCHAU ÁGUA (II)

"É desta massa que nós somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade" (Saramago)

Segundo o neurocientista Miguel Nicolelis o ser humano possui cerca de 86 bilhões de neurônios. Isso inclui o Bolsonaro e os bolsonaristas porque estamos falando da espécie humana (é sério!). Por termos esse cérebro portentoso somos chamados de animais racionais, porque temos capacidade de raciocínio.

Os dicionários que consultei na internet dizem que imbecil é a pessoa que tem pouca inteligência, pouco juízo, pessoa tola, idiota. Ou seja, tem seres humanos imbecis, mesmo com 86 bilhões de neurônios. Agora faz sentido o Bolsonaro e o bolsonarismo. Gente imbecil, idiota. Acrescento outros qualitativos a essa gente: gente má, mau-caráter, gente ruim e, sobretudo, hipócrita.

O animal humano é o bicho mais contraditório do reino animal. Nós somos racionais, dotados da capacidade de raciocínio, inteligência, e somos imbecis, capazes das coisas mais tolas, idiotas, burras do reino animal.

Por que parei minha leitura matutina para registrar isso? Por causa do barulho infernal do Vap do prédio vizinho. Estamos vivendo na região Sudeste a maior crise hídrica das últimas décadas, os reservatórios de água estão quase no zero, a previsão é catastrófica para os próximos meses e o Vap do vizinho não para de funcionar. Dias atrás era a lavagem da quadra (ler aqui). Hoje é o telhado da guarita, tudo está um brilho agora. Viva!

Incomodados (minha esposa tentou denunciar para algum lugar), falamos com nosso síndico que contatou o síndico vizinho. A resposta cordial foi a explicação de que eles pagam um valor x de uso de água ao fornecedor (quota mínima), e como eles não chegam a utilizar a quantidade de água que pagam, eles estão tranquilos porque podem gastar mais, até chegar na quota mínima paga pelo condomínio. Também explicou que o condomínio tem sistema de reuso de água para mesclar com a água potável pública de todos nós.

Esses somos nós, animais racionais e imbecis humanos (me lembrei de Saramago falando sobre nós humanos no Ensaio sobre a cegueira - ler aqui). Imaginem quantos condomínios existem na grande São Paulo. Suponhamos que uns 1000 condomínios pensem como pensa o condomínio vizinho. "Tô pagando uma água que não tô usando, então posso gastar mais até ela acabar. Tô pagando!".

De novo repito o que disse na postagem anterior: sei que não vai faltar água para a soja, o milho, pro gado, pro agro-pop (quer dizer, vai, mas lá na frente, no deserto). No momento, não vai faltar água pra cerveja nem pro refrigerante. Sei que quando o que era o Brasil virar um deserto os donos do dinheiro do agro e das bebidas vão pra outro país, aliás já moram em outros lugares esses desgraçados (Miami que o diga!).

É isso! Eu estou tão de saco cheio do ser humano, que não estou conseguindo sequer sentar-me com a cabeça boa para escrever a minha parte sobre encontros de saúde que faremos com uma militância sindical que ainda se esforça diariamente para mudar essa merda toda que tá aí. Estou num azedume infernal.

Tchau água! Tchau! Aqui é Bolsonaro!

William


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