domingo, 31 de outubro de 2021

Horror em Amityville (1977) - Jay Anson



Refeição Cultural

Casas mal-assombradas, fenômenos poltergeists, deuses e demônios, seres fantásticos, monstros desse e de outros mundos, fenômenos de OVNI e seres extraterrestres, poderes da mente e paranormais etc. Cresci acreditando em tudo isso.

Um casal aproveita uma oportunidade de aquisição de um belo imóvel mesmo sabendo que uma tragédia marca a história do casarão. Um ano antes da compra, uma família foi assassinada brutalmente por um dos filhos no local. Essa é a história de George e Kathy Lutz e seus três filhos ao se mudarem em dezembro de 1975 para a Ocean Avenue, 112, Long Island, Amityville.

Eles só conseguiram ficar no imóvel por 28 dias. Fenômenos estranhos passam a ocorrer desde o dia em que se mudam para a casa até que eles saiam às pressas com as roupas do corpo porque temem pela vida da família.

O romance de Jay Anson, de 1977, fez muito sucesso nos anos oitenta, inclusive após adaptações para o cinema.

Eu li esse livro na adolescência, quando morava no bairro Marta Helena em Uberlândia, Minas Gerais. Li esse e o outro livro do mesmo autor, 666 O limiar do inferno (1981). 

Na época, os livros de suspense e terror me causavam calafrios. Eu me lembro disso. Filmes e livros de demônios, espíritos e almas penadas eram assustadores para mim, faziam parte de minha visão religiosa do mundo.

Reli Horror em Amityville entre ontem e hoje. Leituras assim são muito fáceis. Foram 200 páginas lidas em duas sentadas. Peguei para ler este livro porque me deu vontade de avaliar qual a sensação de ler livros assim hoje em dia, sendo o que sou.

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SERES INFLUENCIÁVEIS, SERES DE CULTURA, PASSÍVEIS DE FORMAÇÃO E EDUCAÇÃO

Uma coisa que fiquei pensando durante a leitura do livro com essa temática é o quanto a mente humana é flexível, maleável e possível de se influenciar. Somos animais altamente influenciáveis, mesmo aquela parcela que acha que não é. Bobagem se achar isento de influências das ideias do meio ao qual se está interagindo! 

Somos seres de cultura e o que somos é fruto de todas as formas de interação que temos com o meio ambiente no qual vivemos.

Eu cresci numa família católica. Minha visão de mundo foi a visão de mundo de meus pais, das pessoas com as quais interagia na infância, depois na adolescência, depois na maturidade. 

Minha forma de ver o mundo foi uma quando o acesso ao conhecimento de mundo que tinha era, por exemplo, as ideias dominantes da casa-grande passadas a mim pelos meios de manipulação de massas. E minha visão de mundo foi mudando à medida que novas fontes de informação e conhecimento foram sendo disponibilizadas para mim.

Em cinco décadas de vida, já acreditei em diversas abstrações da mente e cultura humanas e desacreditei de várias coisas também. 

Se hoje uma ficção do gênero terror e suspense não me afeta como afetava em outras épocas - me causando medo e me deixando impressionado -, mesmo assim a experiência nos mostra que as diversas formas de cultura nos trazem reflexões. 

Eu posso não acreditar mais em deuses e demônios, mas o mundo do século XXI foi altamente influenciado por essas abstrações de religiões conjugadas com política para tomada de poder e o mundo vive tempos terríveis novamente por causa disso.

As pessoas ao meu redor estão sendo manipuladas com ferramentas e técnicas nunca antes desenvolvidas ao longo dos milhares de anos de história do homo sapiens

As big techs criaram redes sociais utilizadas por bilhões de pessoas e os algoritmos das máquinas influenciam o comportamento em escalas nunca vistas na história. Mentiras (fake news) têm velocidade de circulação 6 vezes mais rápida que outros tipos de informações, segundo um testemunho do documentário "O dilema das redes" (2020). A Pós-verdade criou mundos paralelos que alteraram o mundo real.

É isso. Foi interessante rever uma ficção como Horror em Amityville tendo mudado minha visão de mundo como ser humano. O tema traz diversas abstrações da mente humana. 

Existir ou não demônios, fenômenos poltergeists e outras abstrações humanas não é a questão central. A questão que merece reflexão é o poder de influenciar pessoas e o mundo que essas abstrações têm.

O acesso à alteridade, à educação e a formas variadas de cultura mudaram minhas possibilidades de visão do mundo. Sigo aberto a novos conhecimentos.

William


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