sábado, 30 de julho de 2022

Diário e reflexões (30/07/22)


Refeição Cultural

Osasco, 30 de julho de 2022. Sábado.

Enquanto ouço as mesmas músicas de sempre neste exato momento, fico pensando o que poderia registrar neste diário, quais reflexões poderia anotar aqui no blog que se compromete a compartilhar conhecimentos, opiniões e demais coisas do mundo humano.

Ao encontrar o Henrique, que vive pelas ruas aqui do bairro onde moro, perguntei a ele como estava e ele me disse que esteve mal nos últimos dias, comeu algo que não lhe caiu bem e como já tem gastrite, passou maus bocados esses dias. Ele está muito magro e conversar com ele sempre que o encontro me deixa muito mal também, me deixa arrasado e desanimado com a sociedade humana. O que eu poderia fazer por ele? O que poderia fazer por centenas de henriques? Por que nós não fazemos nada para que situações como a do Henrique não aconteçam?

Ao conversar com o Pedro, um dos entregadores de refeições aqui da região, fiquei pensando nas explicações que Jessé Souza dava dias atrás sobre a elite do atraso aqui do Brasil. Jessé abordava a escravidão moderna. Os entregadores dos aplicativos precisam trabalhar todos os dias, os dias inteiros, os meses inteiros e o tempo todo para conseguirem alguns trocados para sobreviverem. Esses trabalhadores não fazem outra coisa da vida a não ser trabalharem e não têm direito a nada. Décadas atrás, quando eu trabalhava em serviços braçais - eram os serviços mais baixos do mercado de trabalho -, pelo menos o dia acabava no final da tarde e nós íamos esgotados para a escola noturna. Eu até lia alguma coisa nas horas de folga. Hoje isso é impossível para os milhões que trabalham sem direitos e sem descanso... Por que nós não fazemos nada para que situações como a do Pedro não aconteçam?

Pelo que vale a pena viver? Pelo que vale a pena lutar? A gente está aqui escrevendo numa página de blog e de repente tem um infarto fulminante e a vida se acaba. O que fizemos de bom? E se fizemos algo bom, foi bom pra quem? O que fizemos em benefício da humanidade, da coletividade, da melhoria da espécie humana e do mundo ao qual pertencemos enquanto seres humanos?

Neste momento de minha vida é inevitável ficar me perguntando coisas assim. Estou de barriga cheia, acabei de comer um lanche. Estou no conforto de casa e lá fora tá um frio da porra, imaginem o Henrique como está... ontem fiquei aos berros reclamando de coisas cotidianas que não deram certo e olha como a minha situação é exponencialmente melhor que a de dezenas de milhões de pessoas que pertencem à mesma classe social a qual pertenci a vida toda: a classe trabalhadora. Tenho convivido com sentimentos complexos e esquisitos. Não consigo me convencer dessas lorotas da elite do atraso manipulando e idiotizando o povo com esse papo ladrão de meritocracia (quem rouba a verdade é ladrão!)... meritocracia o caralho!

Por que não fazemos nada para defender a natureza dos desgraçados que estão destruindo todos os biomas só porque entendem que podem destruir tudo e que ninguém vai impedir eles? Por que não fazemos nada?

Após décadas estudando, indo e voltando nas ideias ora pacifistas ora de olho por olho dente por dente, após décadas, não consigo acreditar em mudanças ou melhoria da vida humana e do planeta por processos de paz. A vida vai acabar em guerra, guerra total. Talvez eu devesse ter morrido muito mais cedo lutando em alguma causa que me colocasse frente a frente com os desgraçados que eu considero o lado mau da sociedade humana.

Chega por enquanto. Fiz coisas úteis coletivamente durante as duas décadas nas quais representei meus pares da classe trabalhadora. Mas isso é passado. Não estou sendo útil para quase nada neste momento da história humana.

William


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