segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

BB - Nunca antes na história do Brasil...


Maria Rita Serrano, Lula, Tarciana Medeiros e Haddad.

Opinião

Osasco, 16 de janeiro de 2023. Uma segunda-feira diferente na história do Brasil e do maior banco público do país.


A bancária Tarciana Medeiros assumiu hoje a presidência do Banco do Brasil, indicada pelo presidente Lula, do Partido dos Trabalhadores


A posse da bancária Tarciana na presidência do BB marca um dia importante em nossa história. Nosso banco público mais antigo - são 214 anos de apoio ao desenvolvimento do país - tem uma longa história de machismo. O presidente Lula mais uma vez acerta na indicação e na simbologia que vem empreendendo em seu 3º governo, um governo de frente ampla e reconstrução nacional.

Quando falo da longa história de machismo em nosso banco público, falo pensando por exemplo no pouco tempo que faz que a empresa passou a permitir que mulheres pudessem ser admitidas como bancárias na instituição (1970). Imaginem vocês, as brasileiras conquistaram o direito ao voto (CF 1934) bem antes de conquistarem o direito de prestarem concursos públicos para serem funcionárias do BB.

Dias atrás, a bancária Maria Rita Serrano assumiu a presidência da Caixa Econômica Federal, uma empresa pública com 162 anos de atuação em benefício do Brasil e dos brasileiros. Rita não é a primeira presidenta da Caixa, é a quarta mulher a dirigir a estatal. 

Desejo uma boa gestão para a nossa presidenta do BB, Tarciana Medeiros, e desejo uma boa gestão para a nossa presidenta da Caixa, Maria Rita Serrano.

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O Brasil e nossas empresas brasileiras precisam muito da inteligência e das capacidades múltiplas que as mulheres têm


Eu me lembro dessa questão incômoda do machismo no Banco do Brasil e em tudo quanto é espaço social brasileiro - machismo devido à nossa história e constituição como terra de exploração -, me lembro de quando ainda era estagiário do Banco do Brasil na agência do Ceagesp (0663), no ano de 1992.

Como havia começado a fazer faculdade de Ciências Contábeis em 1991 pude estagiar no BB e me lembro de ter me desligado do estágio numa sexta-feira para tomar posse no cargo de escriturário no banco na segunda-feira seguinte, 09/09/1992, na agência Rua Clélia (3326).

No Ceagesp, eu estagiava no suporte e nós tínhamos um chefe muito machista. Certa vez, o cara me mandou aprender diversos serviços do setor e disse na cara dura que não iria passar os serviços para a funcionária C. porque ela era mulher... Ainda no início dos anos 90, o banco público respirava um ar bem autoritário que vinha das décadas da ditadura de 1964-85.

Já funcionário do banco, na agência Rua Clélia, era sabido pelo funcionalismo que os primeiros gestores das dependências do BB eram inevitavelmente homens. E isso não tinha relação alguma com critérios técnicos de competência. É inegável que temos homens e mulheres competentes, e também o inverso, homens e mulheres com menos competência para determinadas tarefas.

Eu tive o privilégio de trabalhar com muitas mulheres que colocavam os caras no chinelo quando o assunto era competência. Tenho uma recordação carinhosa de diversas colegas da agência Rua Clélia, meu primeiro local de trabalho como funci. Laura, Magaly, Ana Lúcia são algumas das colegas que me lembro com saudades. Quando foram minhas chefes na gerência média, elas tiveram uma paciência infinita com o jovem bancário que fui (brigão, contato do sindicato etc). A mesma competência e acolhimento encontrei nas colegas bancárias nas demais dependências onde trabalhei.

Já no movimento sindical, pude me politizar e obter uma consciência bem maior sobre a questão da discriminação e do preconceito em todas as suas formas perversas e injustas, incluindo aí a questão de gênero e raça. Tive o privilégio de ser diretor de um dos maiores e mais importantes sindicatos de bancários do país, e já no 1º mandato pude participar da Diretoria Executiva da entidade, experiência central em minha formação e, felizmente, a metade das lideranças era composta por mulheres.

Acompanhei por praticamente duas décadas a questão central dos temas identitários e de igualdade de oportunidades. Nunca me esqueço das lições da companheira Deise Recoaro ao explicar em palestras e seminários que preconceito gera discriminação, discriminação gera falta de oportunidades e falta de oportunidades gera desigualdade social. Estão aí os números vergonhosos da baixa representação de pessoas pretas e de mulheres nos mais diversos espaços de poder na sociedade brasileira.

Como coordenador da comissão de empresa dos funcionários do Banco do Brasil (CEBB) e negociador nacional representando a Contraf-CUT entre 2012 e 2014, tive a oportunidade de conviver com grandes lideranças femininas no Comando Nacional dos Bancários e registro também a excelência das representações do banco na figura das duas gerentes executivas do BB responsáveis pelas negociações durante meu período de coordenador, me refiro às colegas Sandra Navarro e Áurea F. Martins. 

Por fim, tive a oportunidade de ser gestor eleito de uma grande associação da comunidade Banco do Brasil, a nossa Caixa de Assistência (Cassi), uma autogestão em saúde. Fizemos tudo que esteve ao nosso alcance no que se referia a colocar em prática aquilo que defendíamos nas lutas por igualdade nos espaços de gestão e poder da classe trabalhadora. 

Na questão da igualdade de gênero, das 35 posições de gerência que estavam sob nossa responsabilidade na estrutura organizacional da Cassi, tivemos ao final do mandato a seguinte composição de poder: 16 homens, 15 mulheres e quatro vagas em aberto para o gestor seguinte nomear. Essa informação consta em um dos textos de balanço de gestão que fiz (ver aqui). 

Finalizo o registro desse dia importante e histórico na política brasileira e na luta por igualdade em todos os sentidos. O presidente Lula e sua equipe de governo, incluindo homens e mulheres nas principais posições de comando, têm a nossa torcida e o nosso apoio quando entendermos que as decisões estão no caminho correto em prol do projeto que ajudamos a eleger.

William Mendes


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