quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Diário e reflexões - Cuba VIII (01/02/23)



Refeição Cultural - Cuba (VIII)

Osasco, 01 de fevereiro de 2023. Noite de quarta-feira.


Li mais um capítulo do livro do escritor cubano Leonardo Padura, O homem que amava os cachorros. O capítulo 10 se passa nos anos trinta e nele vemos Liev Davidovitch, Trótski, exilado de um lugar pra outro. Após uns 4 anos numa ilha em Istambul, Turquia, ele vai para uma pequena cidade da França e termina o período abordado no capítulo na Noruega.

O livro vai alternando períodos e personagens e locais da história. A cada capítulo o leitor vai aos anos 30, aos anos 70, aos anos 2000. Vai à União Soviética, vai a Barcelona, na Catalunha, e a Madri, vai aos países por onde Trótski viveu exilado, vai a Cuba no passado e no presente da narrativa. 

É um livro de ficção e de história, é um enredo fenomenal. Como disse, é uma leitura de fôlego. Quis ler 3 capítulos hoje, umas 50 páginas... Não é tão simples assim! Foi difícil ler um capítulo inteiro, esse com o foco em Trótski.

No capítulo anterior, o nono, o foco foi em Cuba nos anos 70. Também foi uma leitura concentrada. O leitor começa a conhecer mais a respeito do "homem que amava os cachorros", apelido dado por Iván ao estranho que ele conheceu na praia, que andava com dois cachorros belíssimos, galgos borzóis, Ix e Dax.

No capítulo 10, sentimos a tristeza de Trótski ao enterrar sua borzói Maya, que morreu aos 9 anos de idade. O revolucionário russo vinha de uma sequência de perdas pessoais terríveis. 

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Momentos de leitura

No capítulo 9, com foco no personagem cubano Iván, ficamos sabendo que ele tinha um irmão, William, que sofreu consequências severas em sua vida por ser homossexual. Ele era universitário e ao assumir sua orientação sexual foi apenado pelo Estado. O estudante tinha uma relação com seu professor.

"Mas William, depois de rejeitar durante semanas e com enorme veemência aquela acusação, lançou mão de uma coragem que eu desconhecia, revoltou-se contra uma clandestinidade desgastante e repressiva e disse que sim, que era homossexual, que desde os treze anos agia como tal, ativa e passivamente, embora tenha se recusado a confessar com quem tinha realizado semelhante atividade porque esse era um assunto privado que só interessava a ele e a mais ninguém. Ainda que não tenha sido possível relacionar as inclinações sexuais dos processados com suas atitudes como professor e estudante, apesar de os resultados laborais e docentes de cada um serem notáveis, a sentença estava decidida de antemão, e a comissão de representantes aplicou suas medidas: o professor seria expulso indefinidamente do Partido e do sistema nacional de ensino, e William seria afastado por dois anos da universidade, mas definitivamente dos estudos de Medicina." (p. 147/148)

Que foda! E pensar que a esquerda agiu assim por décadas!

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No capítulo 10, num certo momento, Trótski fica indignado ao saber que os comunistas apoiaram o partido nazista. A história se passa em meados dos anos trinta, Hitler já encaminhava seus projetos de poder.

"A indignação de Liev Davidovitch explodiu quando soube que o Executivo da Internacional Comunista tinha emitido uma declaração vergonhosa de apoio ao Partido alemão, qualificando sua estratégia política como irrepreensível e repetindo que a vitória dos nazis era apenas uma conjuntura transitória, da qual as forças progressistas sairiam vitoriosas. O mais preocupante era o fato de os domesticados alemães, tal como o restante dos partidos filiados ao Comintern, terem acatado em silêncio aquele documento, revelador de um suicídio político de consequências previsíveis..." (p. 155)

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BRASIL, 1º/02/23. 

ELEIÇÃO DAS MESAS DO CONGRESSO NACIONAL

Naquela hora da leitura, de manhã, fiquei pensando na votação no Congresso Nacional do Brasil para eleger o presidente da Câmara no dia de hoje, 1º de fevereiro. 

O governo Lula e quase todo mundo apoiou a reeleição do tal deputado bolsonarista Arthur Lira, o cara que comandou o orçamento secreto por anos, o cara que só está com mandato por liminar da justiça, acusado de ser ficha-suja, o cara que foi o braço direito do governo fascista dos milicianos do clã Bolsonaro até dias atrás. O cara que junto com Eduardo Cunha derrubou a presidenta Dilma e o governo do Partido dos Trabalhadores. 

É assustador! Lira foi eleito com 90% dos votos da Câmara para presidente (464 votos em 513 possíveis). 

É assustador! Isso não vai acabar bem para nós, não pode acabar bem! Tá na cara!

Sem mais comentários...

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Sigo estudando história, literatura, linguagens humanas; sigo conhecendo um pouco mais sobre Cuba e os cubanos. E, claro, sobre a história das experiências socialistas e alternativas ao capitalismo, essa desgraça que vai acabar com a humanidade.

As postagens anteriores a respeito de leituras cubanas podem ser lidas a partir daqui.

William


Bibliografia:

PADURA, Leonardo. O homem que amava os cachorros. Tradução de Helena Pitta. 2ª ed. - São Paulo: Boitempo, 2015.


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