domingo, 11 de junho de 2023

Leitura: A bíblia em crônicas livres - Roberto Buzzo



Refeição Cultural

Osasco, 11 de junho de 2023. Domingo.


Opinião

Ao saber da publicação do novo livro do Roberto Buzzo - A bíblia em crônicas livres (2023), soube na hora que viria coisa boa por aí. O cara é muito bom com as palavras, com os textos e com a forma de expor e narrar causos. Basta ler seus textos de olhares cotidianos - crônicas - em seu perfil de rede social para ver o quanto o escritor é bom. 

No finalzinho do livro, Buzzo nos conta que anda uns 10 Km por dia em São Paulo... demais isso! Bem característico de um andarilho e de um cronista dos bons.

O tema do livro é um tema bem delicado de se abordar - a bíblia -, por tudo que significam as religiões e as crenças ao longo da história de todas as sociedades humanas do passado e do presente. É foda falar sobre religiões e fé. E o Buzzo decidiu ler a bíblia inteira, o Antigo e o Novo Testamento, mais de 2.200 páginas, para nos contar de forma humorada passagens clássicas deste clássico dos clássicos.

Quando ele disse em sua rede social durante a pandemia que iria ler a bíblia assim como nós leitores e leitoras estávamos lendo livros e mais livros - eu li dezenas de obras durante a pandemia -, fiquei imaginando a empreitada ousada que o Buzzo iria fazer... me deu até vontade de incluir a bíblia entre os ulisses, moby dicks e os decamerãos da vida (rsrs). Mas não fui tão ousado assim.

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"Fico pensando. Como fazer esse povo incréu acreditar em Deus sem deixá-lo com medo? Aliás, isso é mais fácil do que chuchu na serra. Porque coisa mais fácil é amedrontar ignorante. E a nossa ignorância do mundo é incrível. Incrível de admirável, de notória. Assim como é notória nossa incredulidade." (from: "A BÍBLIA EM CRÔNICAS LIVRES" by: Roberto Buzzo)

Aliás, ousadia é a primeira impressão que temos ao pegar pra ler o livro do Buzzo. O cara é corajoso! Eu não sei se teria coragem de narrar com ironia e humor os textos sagrados como ele faz... não, não teria coragem. 

Se não teria coragem hoje que não acredito em religião alguma, imagina se teria coragem quando tinha muita fé e medo mortal dos pecados todos que nos freiam na religião... já estaria me persignando só de ter pensado nisso.

Neste mundo no qual vivemos hoje, em que não se sabe quase nada e não se separa mais ficção de realidade, que não se sabe mais o que é referência científica e histórica e o que não é, ficou difícil a vida de escritores em geral, já que a desinformação fez com que seja comum humanos de verdade acharem que é mentira que voamos até o espaço, que a Terra não é plana e que a gravidade nos segura nela quando estamos de "cabeça pra baixo" etc.

Eu fui muito religioso durante a metade de minha vida humana. Conhecia bastante a parte da bíblia mais usada na religião dos cristãos católicos apostólicos romanos: os Evangelhos, os Salmos, Atos dos Apóstolos, Cartas de São Paulo, e também conhecia o principal do Antigo Testamento, os livros do Pentateuco, por exemplo. 

Ainda sobre religiões e mitos da fé, li livros sobre Paulo de Tarso e Lucas - o médico, e um dos livros de ficção - que o autor jura não ser ficção - que mais me encantaram até hoje foram os livros da série Operação Cavalo de Tróia, do J. J. Benítez, li até o 4º volume. 

Enfim, chegando aos trinta anos de idade, as abstrações mentais e culturais que coordenam nossas vidas humanas foram mudando para mim. Outras referências de vida passaram a balizar minha caminhada pela existência. Cada pessoa tem seu tempo e seu percurso. Deixei de acreditar nesses mitos da religião e passei a ter outras abstrações humanas como balizadoras da vida e do mundo. 

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PASSAGENS

Exemplos de passagens de leitura que me fizeram refletir, rir, me incomodaram, me trouxeram memórias do passado etc.

"A primeira coisa que Iahweh fez foi apartar o povo para fazer seu proselitismo sossegado, levando-o para longe dos opositores, do outro lado do Mar Vermelho. Estacionou o rebanho aos pés de um vulcão, para ele ficar amedrontado e aderir com entusiasmo. Então, chamou Moisés lá em cima, só ele, que aquilo não era democracia direta, era teocracia representativa, Ele comandava Moisés, que falava para o povo." (from: "A BÍBLIA EM CRÔNICAS LIVRES", by: Roberto Buzzo)

Em várias passagens, Buzzo faz sua leitura do regime político envolvido na passagem bíblica: democracia, teocracia, ditadura, comunismo, socialismo, liberalismo etc.

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"Até que algum ou muitos gaiatos começaram a questionar: “que que adianta a gente observar direitinho todas as leis de deus se, só por causa de alguns infiéis, que ficam por aí adorando aos ídolos, todos nós nos fodemos?

Nessa passagem do capítulo "O pessimista" os judeus começam a perceber que esse negócio de socializar as consequências das merdas dos outros é uma roubada, que o melhor seria ser julgado individualmente por Iahweh...

Daí a conclusão:

"Foi, portanto, simples acabar com o pessimismo. Foi só trocar o socialismo pelo individualismo."

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"Um detalhe tardio. Gostoso. Fatal. Dalila era linda. Bem, isto não está na história, é dedução minha. É que acho que uma mulher com o nome de Dalila só pode ser linda.

Cara, ri muito nessa passagem! Fala sério!

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"Jesus, além de não ser bobo, era sagaz. Porque, às vezes, a gente não é bobo, mas também não é esperto, sabe como é? Quase todos somos assim, a gente não faz grandes besteiras, só pequenas… Jesus não fazia besteira nenhuma, aí que está a diferença. E, por isso, preencheu os 12 cargos com gente da sua laia, entenderam? (Tudo bem, Paulo tinha instrução e posição social, mas só entrou no partido depois que Jesus morreu. E, vai saber, pode ser que a Igreja resultou mais parecida com Paulo do que com Jesus).

Jesus foi o cara!

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"Acontece que Jesus, sentado à direita do Pai, lá de cima acompanhava a caravana e havia decidido levar Saulo para seu time. Ora, se tá cheio de palmeirense que, mediante um bom contrato, faz muitos gols pelo Corinthians, era possível fazer aquele craque jogar para Ele. Porque craque é craque, não importa a posição nem a agremiação.

Nos dois livros que li sobre Saulo de Tarso que se converteu em Paulo, o evangelista, pude perceber o quanto esse homem foi importante para a expansão do Cristianismo por todas as regiões da antiguidade.

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"Antioquia, então capital da Síria, província romana, às margens do rio Orontes, hoje é a moderna Antáquia, território da Turquia. Era a terceira cidade do Império Romano, depois de Roma e Alexandria. Situava-se no vértice norte do fundão do mar Mediterrâneo, enquanto Alexandria, no delta do Nilo, dominava o vértice sul.

Vejam a erudição e o cuidado com a geografia que o autor tem.

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"Tem fiel que todo domingo pinga na sacola de coleta uma reles nota de dois reais e aí, na hora da precisão, quer exigir. Dá dois reais por semana e, na hora do pedido, pensa como todo pequeno-burguês: “Tô pagando, tenho direito!” Claro que tem direito! Tem direito ao retorno equivalente a dois reais. Não, quatro reais. É que Deus sempre dá em dobro…"

Demais essa passagem! (rsrs)

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"Acontece que no território de Pedro só tinha judeu, enquanto no território de Paulo só tinha gentio. Na época, gentio era tudo que não fosse judeu. Até aí tudo bem, acho que Pedro – assim como Fidel Castro – não botava muita fé no estrangeiro, não estava muito interessado em implantar o comunismo no mundo inteiro e aquele arranjo de manter Paulo fora de Cuba foi bem providencial, aquele chato…

Olha aí a erudição do homem! Conhece a história de Fidel Castro, a Revolução Cubana etc. A todo momento no livro, Buzzo faz diversas referências sobre os mais diversos assuntos do passado e do presente. É de se admirar!

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O PRAZER DA LEITURA

Já na leitura da primeira parte - Antigo Testamento - Buzzo me fez rir várias vezes. E assim se seguiu até o fim.

Amig@s leitores, isso não é uma tarefa fácil! Sou uma pessoa pouco humorada, e tenho um coração amargurado por viver no mundo no qual vivemos. Eu não consigo ser feliz em meio à miséria social que vivemos. Sou um ranzinza.

Mesmo sendo de pouco riso, o autor nos presenteia com uma forma de contar causos de personagens bíblicos de maneira engraçada e diferente daquilo que estamos acostumados.

Outra qualidade que salta aos olhos é a erudição do autor. Mesmo imaginando o quanto deve ter sido difícil a empreitada de ler 2.200 páginas da bíblia para escrever crônicas de algumas passagens, sem dúvida, a erudição do Buzzo deve ter tornado a tarefa mais palatável. Nós que ganhamos com isso.

Fecho a leitura com essa sacada do Buzzo em relação ao Pai e ao Filho, duas figuras centrais da Bíblia, Iahweh e Jesus Cristo. Sempre achei o Deus do Antigo Testamento uma divindade tensa, vingativa, de dar medo. Já Jesus, como não simpatizar com essa figura humana, parceira, compreensível, que transmite bondade e amor?

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"Pelo que vi até agora, o Pai era partidário dos ricos e poderosos, admirava as pessoas bem-sucedidas aqui na Terra e, se preciso, fazia até guerra para conquistar um pedaço de terra. Já o Filho gostava dos pobres e humildes, compreendia os fracassados e não gostava de violência. Se alguém lhe chutava a canela, ele só ficava olhando, com aquele olhar de tristeza. Preferia morrer a fazer uma guerra. Mas mandava Simão Pedro anotar todos os desaforos num caderninho, para cobrar lá na porta do Céu." (from: "A BÍBLIA EM CRÔNICAS LIVRES" by: Roberto Buzzo)

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É isso! É um livro para se abrir e ler trechos sempre que se desejar dar uma descontraída nas tensões vividas e tentar ver a vida de forma mais leve e engraçada.

Roberto Buzzo é um refinado cronista e contador de causos, para nossa sorte.

Este foi meu 15º livro lido no ano. Ler é fundamental para a manutenção e desenvolvimento de nosso cérebro e nossas capacidades humanas.

William


Bibliografia:

BUZZO, Roberto. A bíblia em crônicas livres. 1ª edição. São Paulo, 2023. Livro digital.


2 comentários:

  1. Putz, William, brigadu pelo abrangente comentário. (Roberto Buzzo)

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  2. Prezado Buzzo, nós leitores é que te agradecemos por essa contribuição ao prazer de se sentar e ler um bom livro! Abração!

    Esperamos o próximo livro!

    William

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