segunda-feira, 17 de julho de 2023

Diário e reflexões (17/07/23)



Refeição Cultural

Osasco, 17 de julho de 2023. Segunda-feira. 


"Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.

Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.

(...)

Andar... Perder o seu passo
na noite, também perdida.

(...)

Porque o poeta, indiferente,
anda por andar - somente.
Não necessita de nada.
"

(Canção de alta noite, Cecília Meireles)


Tenho andado e corrido sempre que posso. Já não tenho mais ilusões e objetivos a alcançar com corridas e caminhadas, meu quadril desgastado me tirou esse pequeno prazer que tinha na vida. Corro e ando com dores porque essa atividade aeróbica é necessária para me manter vivo. Pedalo também, mas pedalar é minha terceira opção: gosto menos. Sem ilusões de correr uma maratona, até uma meia-maratona já era... Corri 10 provas da São Silvestre, mas não sei se volto a participar dela algum dia.

Hoje andei 20 Km entre o fim da tarde e a noite. Foi um teste pra ver qual tênis é melhor para andar longas distâncias, pra ver como o meu quadril se comporta, como meu corpo se comporta, energia vital etc. A caminhada foi tranquila. Cansei um pouco, mas dentro do esperado. O tênis não me deu bolha, mas minhas unhas dos dedões dos pés doeram bastante. Parece que minhas unhas já não suportam a carga de longas distâncias. É a natureza, sou natureza e tudo mudou. Me parece que minhas romarias de dezenas de quilômetros já eram também.

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Não li nem escrevi como gostaria nos últimos dias. Estou com um monte de textos iniciados e não finalizados, leituras em andamento e textos meus em produção.

"O mistério do meu canto,
Deus não soube, tu não viste.
Prodígio imenso do pranto:
- todos perdidos de encanto,
só eu morrendo de triste!

(A doce canção, Cecília Meireles)

Alguns textos no mundo das ideias não foram feitos porque tenho dúvidas se os faço ou não. Um deles, por exemplo, é sobre a destruição das pessoas pelo excesso de consumo de bebidas alcoólicas. Eu morro por dentro todas as vezes em que vejo pessoas queridas se destruindo com bebidas.

Textos sobre política, sobre acontecimentos de nosso governo, textos sobre a entidade de saúde que geri tempos atrás, textos sobre livros e cultura e linguagem. Tenho tido uma dúvida incômoda sobre escrever ou não escrever. Tem dia que tenho vontade de deletar as redes sociais que tenho e parar de escrever. Depois reflito e concluo que se fizer isso, morro... de alguma forma morro.

Sobre os livros a ler tenho dilemas também, dúvidas semelhantes sobre ler ou não ler isso ou aquilo. História, política, literatura, poesia, crônica, ciência, filosofia etc. Como a natureza é a mudança, eu mudei e mudo a todo instante. O que acumulei pra ler perdeu o sentido porque tudo mudou. Evidente que tenho que buscar sentidos e significados para estar no mundo, mas a materialidade e minha percepção de mundo estragaram um calhamaço de ilusões que me moviam: histórias a se criar. Não tenho ilusões como antes.

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Pra fechar o registro escrito nesta página virtual da rede mundial, tem a percepção de que a injustiça e a impunidade vencem quase sempre. Ao longo da vida a pessoa talvez tenha relações diversas com as injustiças que presencia. Na primeira fase, ela se incomoda e se move no sentido de se engajar de alguma forma para mudar o mundo e as injustiças do mundo. Depois a vida vai seguindo e a pessoa ora vê avanços ora vê retrocessos. Chega uma hora na qual a pessoa percebe que o mal e a injustiça fizeram parte da história da sociedade humana desde sempre. As formas de luta para mudar a realidade a gente vê que estão desgastadas ou não funcionam mais. A maldade e a impunidade seguem. Fazer justiça com as próprias mãos não rola. Se engajar numa revolução contra aquela casta que está sempre impune, não rola porque parece que nem rola mais esse papo de revolução. E a natureza já te cobrou o seu tempo por aqui.

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É isso. Registro de reflexões do momento. Já se passaram 7 anos do golpe de 2016. Todas as desgraças dos dois governos golpistas seguem impunes. Todas sim! Ser inelegível um deles não é justiça. Os caras não estão presos, nem o vice traidor, nem o clã ladrão, nem trocentos parlamentares e juízes e procuradores e delegados e delegadas que destruíram o país e mataram mais de meio milhão de pessoas estão presos. Nem os "empresários" fdp (depois que FHC criou a lei de "empresário" não pagar impostos em 1995 qualquer fdp se diz empresário... que me perdoem os honestos, mas ô raça do caralho!). Estão todos e todas de boa por aí, nas redes sociais, nos fancy restaurants etc.

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William


Post Scriptum: os poemas da poeta Cecília Meireles chegaram depois do instante das minhas ideias registradas. As poesias são assim, sintetizam em imagens o que nos vai dentro d'alma.


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