quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Leituras capitais (2023)



Refeição Cultural - CartaCapital nº 1291, 27/dez/2023


LULA III, ANO I

A leitura desta edição especial da revista comandada por Mino Carta e sua equipe foi uma leitura de fôlego, demorou um pouco, porém foi feita com atenção. Ela traz artigos e entrevistas com pessoas da melhor qualidade dando suas opiniões a respeito do primeiro ano do governo Lula neste conturbado momento da história do Brasil e do mundo.

Se prestarmos atenção no índice da revista, veremos que os temas e as chamadas das matérias fazem uma boa síntese do que aconteceu ou não aconteceu no ano de 2023 nas mais diversas questões da vida nacional. O que gosto em CartaCapital é saber que a revista tem uma transparência incomum nos dias atuais ao se apresentar aos leitores como apoiadora do governo Lula sem deixar de tecer todas as críticas que entender necessárias.

Como ser político, gostei da abordagem dos articulistas e entrevistados nas temáticas desenvolvidas na revista. Sei quase nada das coisas porque não sou especialista de coisa nenhuma. Entretanto, pela experiência de vida, tenho noções boas de algumas coisas.

Durante minha vida de representação política da classe trabalhadora acabei lidando com alguns temas que me fizeram conhecer um pouco mais que a média das pessoas áreas como comunicação, economia, educação, saúde e política. Fui gestor de secretárias de imprensa e formação, negociador nacional de direitos trabalhistas, e gestor de saúde.

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EDUCAÇÃO

A herança maldita de Temer e Bolsonaro na educação - Otaviano Helene

Essa matéria, por exemplo, me deu uma amargura imensa na alma, por ter a noção exata do que o articulista aponta. Se o governo Lula seguir com sua posição de não desfazer a destruição da educação em andamento desde a reforma do desgraçado do Temer - "Uma Ponte para o Futuro" -, o Brasil não terá chance de libertar seu povo da absoluta ignorância na qual está enfiado de forma consciente por parte das classes dominantes. A ignorância do povo é projeto no país.

Nestes dias de descanso na Colônia do Sinpro São Paulo, tive a oportunidade de conversar com professoras e professores que sentem na pele diariamente o que significa o projeto de emburrecimento geral das crianças e jovens brasileiros, o Novo Ensino Médio (NEM). Por fim, aborda a Lei 13.800, que permite que instituições privadas possam definir atividades curriculares em instituições públicas.

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Recomposição de receitas, o fim do Novo Ensino Médio, interferências privadas. Há muito a corrigir

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Otaviano Helene começa descrevendo as reduções drásticas de orçamento nas áreas de pesquisa científica e tecnológica, orçamento das universidades públicas, e depois enumera a tragédia ocorrida com a mudança da lei da educação, implantando o NEM. 

Amig@s leitores, é foda! Lula não comprou a briga com os canalhas por trás deste projeto de emburrecimento dos jovens da classe trabalhadora, seu ministro é porta-voz dessa gente da casa-grande... aí fica difícil!

Durante 2023 estudei um pouco sobre Cuba e o povo cubano e se tem uma coisa que concluí dos estudos, inclusive após visitar a Ilha por duas semanas, é que a educação cubana baseada em princípios e valores que vêm desde José Martí, no século XIX, é a responsável por manter acesa a chama libertária, ativa e altiva do povo em relação aos países imperialistas do mundo.

Sem educação, nunca teremos um povo, uma pátria, patriotas de verdade!

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HUMANIZAR O CAPITALISMO?

No mundo, caminhamos para um Estado de Mal-Estar Social - Luiz Gonzaga Belluzzo

Outra matéria que ilustra bem o que tenho escrito no blog é a questão da tendência atual de desfazimento da sociabilidade humana por causa do capitalismo, esse sistema organizador de um mundo para poucas pessoas com tudo e o restante sem nada.

Belluzzo pergunta:

"Estamos nós e Luiz Inácio, o Lula, a sofrer no mundo uma crise que nega os princípios fundamentais que regem a vida civilizada e democrática? Se isso for verdade, quanto tempo mais a humanidade suportará tamanha regressão?

O articulista começa suas reflexões agradecendo ao capitalismo a aceleração da criação de bens materiais em larga escala, dominando a natureza para isso (e destruindo a natureza, digo eu). No entanto, Belluzzo conclui que mesmo com toda a riqueza produzida, estamos sob uma "escassez de bem-estar" por nossa escolha política "na escassez de comida, de transporte, de saúde, de moradia, de segurança contra a velhice etc" para o conjunto das pessoas no mundo.

O que achei interessante, mas não é surpresa, é que Belluzzo desenvolve no texto o histórico de como chegamos ao "Estado de Bem-Estar Social" após a 2ª GM, mas não cita o Socialismo real que um terço da humanidade escolheu como forma de organização do Estado como o fator que contribuiu naquelas décadas para forçar os países capitalistas a repartir a riqueza com os trabalhadores através de direitos sociais universais. Nesse sentido, ele me pareceu a Globo contando suas narrativas e omitindo os responsáveis pelas coisas.

Belluzzo fala que a partir dos anos setenta o ideário liberal se impõe e a ética da solidariedade é substituída pela ética da concorrência. Depois cita a questão do 1% versus os 99%... mas nosso professor de economia não aponta o capitalismo como o problema. Seria pedir demais!

Solução? O professor termina o texto da forma como tenho visto as discussões no campo dos partidos como o PT e o próprio governo Lula: cita de novo os avanços do capitalismo ao "controlar" a natureza para a produção de bens materiais, mas não aponta solução que questione o próprio sistema causador da miséria dos 99%... 

Opinião minha: com essa postura de não termos coragem de nos levantarmos contra o capitalismo, seguiremos como gado na fila do abatedouro para o fim da vida humana e do planeta Terra.

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SAÚDE

Fortalecer o Complexo Industrial da Saúde é estratégico para o País - José Gomes Temporão

Para finalizar meus comentários sobre a retrospectiva do primeiro ano do terceiro governo Lula, e um balanço de nosso país e de nossa vida nele, comento sobre outro tema que conheço um pouquinho a mais que a média das pessoas, a área de gestão de saúde.

O ex-ministro da saúde, Temporão, definiu o ano como sendo de reconstrução de políticas públicas na área, o que concordo.

É boa notícia o foco do governo em investir no fortalecimento do Complexo Industrial da Saúde, serão 42 bilhões em quatro anos. Não é admissível um país de 200 milhões de pessoas, um dos maiores do mundo, com o SUS sendo um grande comprador, ter que importar absolutamente tudo na área da saúde. 

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Opinião minha: essa terceirização insana da área da saúde é estúpida, burra e quem faz gestão em saúde terceirizando e apostando no "mercado" não é um gestor que mereça a confiança da classe trabalhadora e do povo brasileiro.

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A falta de visão soberana de nossos "administradores" da saúde é tão grande que Temporão cita o caso da exportação brasileira de plasma para importar medicamentos a custo infinitamente maior, baseados em derivados de plasma.

Vejam o poder do SUS caso o Brasil apostasse na produção nacional através de leis como ocorre nos países que têm amor-próprio e soberania:

"No Brasil, o SUS atende 150 milhões de pacientes em todas as suas necessidades de saúde. O Poder Público representa metade do mercado de reagentes para testes diagnósticos, 40% do mercado farmacêutico, 95% do mercado de imunizantes. O país pode usar o imenso poder de compra do SUS para obter acordos de transferência de tecnologia."

Temporão diz que a internalização da produção industrial na área da saúde não se dá no Brasil por causa das visões ideológicas antagônicas.

"De um lado, os economistas ortodoxos, que veem o Brasil como um grande produtor de alimentos e ponto. De outro, há os que acreditam no potencial industrial do País."

Entenderam? Uns querem que o país seja um fazendão - tipo agro pop - com a riqueza ficando concentrada na mão de meia dúzia de pessoas, outros que a gente seja soberano e tenha produção com valor agregado e com produção de empregos de qualidade.

Até os anos 1980, produzíamos 50% dos princípios ativos usados na fabricação de medicamentos, hoje produzimos 5%...

Na parte final da entrevista, Temporão fala da importância da retomada dos programas Mais Médicos e do Farmácia Popular. A questão do envelhecimento da população brasileira é séria e isso terá consequências nos sistemas de saúde - públicos e privados. Estamos preparados para isso?

"Hoje, o câncer é a segunda maior causa de mortes no Brasil, atrás apenas das doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, mas rapidamente se tornará a primeira."

Temporão termina tecendo críticas à redução de 20 bilhões do orçamento da saúde em 2023 através do "jeitinho brasileiro" e achou "lamentável" essa questão.

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E A CASSI/BB? Como disse, entendo um pouquinho de gestão de saúde, fui gestor da diretoria de saúde da autogestão dos funcionários do BB. A associação era focada em um modelo de atenção primária baseada na Estratégia de Saúde da Família com estrutura própria de atendimento primário, as CliniCassi. Tínhamos um modelo de distribuição de medicamentos para crônicos que contribuía para a manutenção da saúde de dezenas de milhares de doentes crônicos mesmo em áreas remotas do país. A Cassi tem o problema do envelhecimento de sua população atendida de forma exponencial em relação aos números da população atendida pelo SUS. E a ESF era um modelo extraordinário de eficiência no acompanhamento dessa população: provamos isso por estudos. Vieram gestões "liberais" e o foco hoje é o "mercado", terceirização de tudo.

Pergunto: das 3 chapas inscritas para as eleições das próximas semanas, alguma delas propõe reverter essa tragédia anunciada de terceirização de tudo, inclusive do modelo de Estratégia de Saúde da Família e as CliniCassi?

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LEITURA CAPITAL

As 24 matérias da revista estão excelentes, valem a pena para quem ler.

Não daria para comentar muitas delas porque senão a postagem ficaria enorme.

Abraços e vamos para um ano de 2024 de grandes definições para a nossa vida e para o planeta Terra.

William


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