terça-feira, 7 de maio de 2024

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 07 de maio de 2024. Terça-feira.


FREI BETTO, CRISTIANISMO E MARXISMO

Conheci pessoalmente Frei Betto neste ano, por ocasião da 32ª Feira Internacional do Livro de Havana, Cuba. Por estar em um grupo com uma amiga do dominicano, tive a oportunidade de estar em eventos com ele por três dias. Foram momentos de muita aprendizagem e reflexão.

Ainda em Cuba, li rapidamente um dos livros de Frei Betto, um livro didático sobre a validade do marxismo nos dias de hoje. O intelectual consegue usar uma linguagem coloquial e dar leveza de forma excepcional a um texto com tema complexo. Reli o livro dias atrás. Vale a pena! (ler comentário aqui)

Também comecei a ler ainda durante os dias intensos de viagem a Cuba o livro de Américo Freire e Evanize Sydon sobre a biografia de Frei Betto. O livro foi lançado em 2016 e a edição que ganhei em Havana tem prólogo de Fidel Castro Ruz. Prólogo emocionante e iluminador.

Após semanas com muita dificuldade de leitura por questões diversas, retomei a leitura do livro da biografia do encantador intelectual religioso, um homem da teoria e da prática ao longo de sua vida, um homem que optou por estar sempre ao lado daqueles que lutam por igualdade e justiça social, um homem cuja opção de vida é pelos pobres e necessitados.

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COMO FREI BETTO CONHECEU FIDEL CASTRO

Logo no início do livro, os leitores conhecem a história de como o dominicano conheceu o líder revolucionário Fidel Castro, ainda nos anos oitenta.

O sindicalista metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva e o dominicano Frei Betto haviam sido convidados a participarem da celebração do primeiro aniversário da Revolução Sandinista na Nicaragua, em julho de 1980. O principal orador do evento seria o revolucionário cubano Fidel Castro.

Foi então que Frei Betto e Lula puderam se encontrar e conversar com o Comandante Fidel Castro numa madrugada. Aproveitando a oportunidade, o católico fez duas perguntas ao revolucionário que mudaram a vida de ambos e a história deles. O dominicano sabia das divergências entre a igreja católica e o Estado cubano. Uma das perguntas foi sobre um país ser ou não ser um estado laico:

"La primera: '¿Por qué el Estado y el Partido Comunista cubanos son confesionales?', a lo que Fidel replicó: '¿Cómo confesionales?'. Betto le respondió: 'Sí, comandante, tanto la afirmación como la negación de la existencia de Dios son manifestaciones confesionales, contrarias a la laicidad que les imprime la modernidad a las instituciones políticas'." (p. 23)

O que mais me chamou a atenção na história foi a atitude do líder revolucionário Fidel Castro ao responder a pergunta do brasileiro católico, dizendo que nunca havia parado para pensar nisso. O comandante disse que não tinha avaliado a questão sob aquela ótica e que talvez a Revolução estivesse equivocada com relação à Igreja Católica.

A atitude de Fidel Castro é o que se espera de alguém com a responsabilidade de liderar mudanças nas comunidades humanas: estar aberto a ouvir o outro e refletir a respeito de novas ideias e visões sobre as coisas.

Eu me lembrei de quando entrei para o movimento sindical após os trinta anos de idade. De alguma forma, acabei trabalhando minha personalidade para aceitar ouvir as outras pessoas e expor as minhas visões de maneira a tentar construir consensos e caminhos. É o que chamamos de fazer política, de conciliar, de negociar. 

Dei sorte de ter vivido um tempo no qual fazer política era possível. Isso foi antes do fenômeno dos últimos anos, as big techs e as redes sociais que, na minha opinião, fizeram experimentos com os seres humanos, principalmente na última década, e alteraram nossas mentes e nossos comportamentos. 

Somos outras pessoas hoje, nossos cérebros e reações ao mundo exterior mudaram. Sendo seres sem paciência, sem disposição de ouvir e conviver com a diferença, somos animais pouco afetos à política, à concessão e à conciliação sem a guerra.

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CONSEGUIREMOS INTERROMPER O FIM DO MUNDO COM OS HUMANOS QUE TEMOS HOJE?

De pensar em Frei Betto, em Fidel Castro, na República Socialista de Cuba, que enfrenta um embargo criminoso do imperialismo e capitalismo norte-americano, não tem como não interligar as reflexões com a emergência climática...

As consequências climáticas no mundo são consequências da forma como os seres humanos estão ocupando e consumindo os recursos naturais do planeta, são consequências do capitalismo, forma hegemônica de organização humana na Terra.

Estamos vivendo uma extinção em massa das formas de vida na Terra, estamos destruindo de forma acelerada as condições de vida em todos os biomas terrestres e com os humanos da atualidade, alterados nas últimas duas décadas, tenho dúvidas se conseguiremos interromper e alterar a tendência de destruição acelerada do mundo.

O que está acontecendo nestes dias no Rio Grande do Sul é um exemplo do que será comum acontecer em todos os lugares do mundo. Mas se a canalhice dos seres humanos continuar se sobrepondo aos poucos que tentam frear o fim do mundo e a lógica dos poucos humanos que dominam tudo continuar prevalecendo... estaremos todos fodidos.

Até quando vamos aceitar esses canalhas bolsonaristas, essa extrema-direita nojenta, esses bilionários e milionários egoístas de merda, dominarem a pauta e a agenda de nossas vidas com mentiras, com ódio, com manipulação de uma multidão de gente, parte inocente e desinformada, parte vil e adepta da maldade e da coisa errada?

O que está acontecendo no Rio Grande do Sul é um fenômeno de características apocalípticas, mas com causadores humanos e não divinos, é a consequência da barbárie do capitalismo, do chamado Estado mínimo, da ausência de Estado, política implantada pelos governos neoliberais e extremistas de direita. 

O governador do Estado do RS tem todos os dedos e as mãos enfiadas na lama das inundações, e os prefeitos e parlamentares também.

O capitalismo é a barbárie. É o fim da vida na Terra. Mas não esperem que capitalistas e gente desesperada entendam ou reconheçam isso. 

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SOCIALISMO OU BARBÁRIE

Comecei falando de Frei Betto, cristianismo e marxismo...

Terminei falando de apocalipse, capitalismo e barbárie...

Todas as coisas no mundo estão imbricadas, tem tudo a ver uma coisa com a outra. No caso em questão, são caminhos possíveis e antagônicos a seguirmos, ou acabamos com a vida no capitalismo ou seguiremos na Terra lutando contra a lógica do capitalismo.

O capitalismo não é cristão, não pode ser. O apocalipse atual é consequência do capitalismo. O marxismo demonstra as consequências de modos de produção das sociedades. O modo de produção capitalista é devorador da Terra e da vida na Terra. 

Para mim está claro: socialismo ou barbárie!

William


Bibliografia:

BETTO, Frei. Frei Betto, una biografía. Traducción: Esther Pérez. Editorial José Martí, 2016.


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