domingo, 16 de junho de 2024

Natais - 1974



Refeição Cultural 

Estou em Uberlândia, cidade onde moram meus pais, irmã e sobrinhos, onde moram diversos familiares, cidade onde passei minha adolescência complicada. 

Entendi que preciso vir com mais frequência à cidade, para estar com a família daqui.

Nesta série de textos sobre os natais de minha família, venho refletindo sobre nossa história familiar e, de forma simples, abordando algum contexto geral da época, local e ou internacional, para situar aquela gente simples em meio à multidão humana. 

Comecei pelo ano de 1968, quando meus pais ficaram grávidos de mim. Meus pais já tinham a Telma, com um ano e meio de idade. Aquele foi o ano do recrudescimento da ditadura brasileira, pois em 13 de dezembro o ditador Artur da Costa e Silva emitiu o Ato Institucional n° 5 (AI.5).

De certa forma, nos seis primeiros textos, expressei minha leitura da sociedade humana atual e anotei preocupações sobre o presente e o futuro da humanidade. 

Por fim, também tenho refletido sobre as mudanças em nossa família, reflexo das mudanças no comportamento humano em geral, na minha opinião, e pelo que posso observar da sociedade ocidental da qual faço parte. 

Nós todos estamos mudando rapidamente, sendo mudados na verdade, e a cada dia será um desafio maior a manutenção de qualquer relação baseada em laços de família, amor e amizade. 

Essas relações dificilmente resistirão a qualquer divergência de ideias e opiniões. As relações humanas serão cada dia mais episódicas e utilitárias. É o que avalio.

Dito isso, sigamos refletindo e olhando para o passado, lutando pelo presente e tentando alterar as tendências de fim das relações humanas que não estejam vinculadas a interesses egoístas, de valores materiais e de poder.

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NATAL DE 1974

No Natal, eu já estava com quase seis anos de idade. Como será que foi o nosso Natal em família?

Naquele ano, um incêndio de grandes proporções atingiu o Edifício Joelma em São Paulo, matando 189 pessoas e ferindo 293. Crescemos ouvindo o pai falar sobre essa tragédia. 

No mundo, tivemos em abril uma vitória popular importante: A Revolução dos Cravos, em Portugal, depôs a ditadura do Estado Novo que já durava décadas. As colônias portuguesas estavam em luta aberta por suas independências também. 

Por aqui, eu morava naquele sobradinho alugado no Rio Pequeno e não me lembro de nada em específico daquele período. 

Conversando com minha mãe, ela me contou como eles se viravam para pagar as contas e criar os dois filhos. Meu pai era taxista e minha mãe era uma costureira de mão cheia, como se dizia. E mesmo assim, com duas rendas, a vida deles era difícil. A ditadura era boa para a elite, os ricos.

Quanto a mim, o menino de cinco para seis anos, era quase um "privilegiado", pois só brincava.

Tenho em casa carrinhos de ferro em miniaturas fabricados no ano de 1974. Talvez tenha ganhado eles nesse ano ou pouco depois, quiçá no Natal. 

São da marca Matchbox, da série Superfast: um Mustang amarelo e um Renaut laranja. Eu brincava com eles no tapete da sala e na frente do sobrado onde morávamos. Tenho os carrinhos na estante até hoje.

Brasil afora, muitas crianças da minha idade não tinham o que comer e, ao invés de brincarem, trabalhavam... 

Só fui conhecer essa realidade de trabalhar com uns onze anos de idade, quando saímos de São Paulo e fomos para Minas Gerais...

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Na foto da postagem, apresento três carrinhos que alegraram a minha infância. Na época, as crianças de nossa geração tinham habilidades manuais. Não era um mundo digital.  Alteravámos e criávamos coisas com cinco, seis, sete anos de idade. Antes dos dez, eu fazia pipas, cerol, carrinho de rolemã etc.

William 


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