sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Memorial de Aires - Machado de Assis (5)



Refeição Cultural 

"8 de abril

Papel, amigo papel, não recolhas tudo o que escrever esta pena vadia. Querendo servir-me, acabarás desservindo-me, porque se acontecer que eu me vá desta vida, sem tempo de te reduzir a cinzas, os que me lerem depois da missa de sétimo dia, ou antes, ou ainda antes do enterro, podem cuidar que te confio cuidados de amor." (p. 28)


Amigas e amigos leitores do blog, sou um fã e admirador de Machado de Assis. Como é gostoso ler textos do mestre! A construção das frases, a ironia dos personagens... tudo é encantador em Machado. 

Este romance é organizado em forma de diário, o diário do Conselheiro Aires, um diplomata aposentado. 

Podemos dizer que Machado esboça através do personagem e do enredo a sociedade da época na qual a história é ambientada, o Brasil de 1888 e 1889.

Além das confissões de Aires para seu diário, que "vazaram" para nós leitores, como vemos na citação acima, preocupado ele que alguém ache que ele está amando, duas passagens me chamaram a atenção:

Uma é pelo cenário que o narrador nos apresenta do dia 13 de maio, achei muito interessante. (Páginas 31 e 32 da minha edição)

Outra passagem delicada, lendo o romance ambientado em 1888, publicado em 1908 e lido em 2024, é sobre a condição das mulheres. A opinião do personagem é machista e misógina e temos que refletir com sabedoria sobre isso.

"Maria Rita, já pela minha carta, já pelas notícias de hoje, correu a ter comigo. Senhoras não deviam escrever cartas; raras dizem tudo e claro; muitas têm a linguagem escassa ou escura..." (p. 34)

Quem está falando para si mesmo de forma honesta e espontânea é um diplomata educado do Império do Brasil de 1888. Percebem?

Como leitor em 2024 de um romance de Machado de Assis de 1908, ambientado em 1888, preciso ter noções sobre essa questão. O que acabamos de ler é em linhas gerais o pensamento de época. 

Seria um exagero e até uma ilação se eu começasse aqui a julgar o autor Machado por aquilo que acabamos de ler. Não tenho como julgá-lo por essa passagem de um de seus romances em relação ao que pensava ou não sobre as mulheres.

É isso. Sigamos lendo o mestre Machado de Assis. 

William 


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