sábado, 23 de agosto de 2025

Leitura: Capítulo 1 do livro O que é questão agrária? - Frederico Daia Firmiano



Refeição Cultural

Artigo: leitura do capítulo 1 "Introdução: colocando o problema" do livro O que é questão agrária?, de Frederico Daia Firmiano. Marília: Lutas Anticapital, 2022

Leitura para reflexão antes de uma aula sobre o tema (em 23/08/25)

Aula VI (tarde) - Agronegócio, mineração e produção destrutiva

Objetivo: textos de apoio para o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas", organizado e ministrado por IBEC, Unesp e demais parcerias

---

A postagem é uma espécie de fichamento feito pelo autor do blog. Qualquer interpretação divergente do texto original é de responsabilidade deste leitor que comenta o texto.

Abaixo algumas palavras-chave ou ideias que gostei no referido texto.

---

- Muito interessante a mensagem da equipe de produção deste e de outros livros através da Editora Lutas Anticapital

- Enquanto os defensores da reforma agrária ainda apostam no discurso que a questão é uma dívida histórica, os apoiadores do capital vendem a ideia de que a expansão capitalista resolveu a questão agrária nacional

- Firmiano cita como exemplo do segmento de entusiastas do agronegócio, Zander Navarro, que cita diversos motivos para achar que não há mais problemas agrários no país, nem necessidade de reforma agrária porque não haveria demanda de terras, o povo do campo migrou para as cidades

- O autor reconhece que os motivos apresentados por Navarro são tendências atuais, sim, mas questiona se motivos como forte urbanização e domínio da produção de commodities não seriam justamente manifestações da questão agrária no Brasil

- Não podemos confundir "tendências" com "leis", as coisas na sociedade humana são consequências das escolhas humanas e não leis naturais (em linhas gerais, é isso que Firmiano está dizendo aos leitores)

"Mas se virmos esse processo como uma tendência – e não como uma lei – provocada por um conjunto complexo de atividades humanas, então teremos muito o que fazer. Trata-se de uma certa postura teórico-metodológica (e ao mesmo tempo política) diante da história." (p. 18)

- Achei interessante a forma como Firmiano apresenta a questão agrária, ele desmascara a forma determinista e de "fim da história" na qual Navarro se coloca. Somos homens e mulheres e fazemos história, não há evoluções "deterministas" como tentam fazer os capitalistas

"Por isso, falar em questão agrária implica em buscar, no tempo e na história, quais são as determinações de sua existência e para a sua superação." (p. 19)

- A questão agrária é determinada pela história: "é possível afirmar que não existe uma questão agrária idêntica no tempo e no espaço, ou mesmo uma questão agrária genérica, abstrata, 'em geral'. Ela possui forma e conteúdo determinados pela história." (p. 20)

- O livro vai percorrer momentos da história do Brasil para encontrar os determinantes da questão agrária em nossa "formação histórico-social", como diz o autor

- Firmiano já nos antecipa que a ditadura civil-militar (1964-1985) pesou na conformação do que hoje conhecemos como "padrão de desenvolvimento dos agronegócios no Brasil":

"a ditadura civil-militar (1964-1985), quando veremos nascer as condições para o surgimento do padrão de desenvolvimento dos agronegócios no Brasil (FIRMIANO, 2016). Sua consolidação, no pós-ditadura civil-militar, delineará a questão agrária atual no Brasil." (p. 21)

- Aviso final de Firmiano para a abordagem que será dada ao livro:

"Dito de outro modo, sem termos nitidez sobre o que é a nossa questão agrária, não é possível falar em reforma agrária, sob o risco de cairmos naquele grupo, que mencionávamos anteriormente, que advoga sua necessidade história mais por razões morais que por força da realidade objetiva e da consciência da classe trabalhadora." (p. 22)

---

Leitura feita por

William Mendes

---
Professor Frederico Firmiano

Post Scriptum (após a aula):

Aula: A produção destrutiva do agronegócio e da mineração

O professor Fred nos disse que para essa aula pensou em alguns dados para avaliarmos e termos noções reais da questão destrutiva do agro e da mineração... os dados são chocantes! (estamos f... se nada for feito)

Confesso que a apresentação do professor me tomou a atenção de uma forma que quase não anotei nada na hora. Isso já havia acontecido em algumas aulas anteriores. Repito o que venho afirmando: as aulas do curso são extraordinárias!

A apresentação montada por Fred foi com base numa plataforma de dados chamada MapBiomas, uma fonte de pesquisa conhecida na área.

Logo de cara, nos lembramos mais uma vez da história de nosso país, uma terra pensada e organizada de fora para dentro, como colônia de exploração, as elites do país organizam o Brasil para ser um exportador de commodities, de base monocultora, desde a origem há cinco séculos.

Exemplos das monoculturas deste momento da história brasileira: soja, carne ("proteína") e setor sucroalcooleiro. E minérios, claro!

Nossas metrópoles "parceiras" (contém ironia) só foram mudando de endereço ao longo desses séculos. Fred fez uma referência ao "player global" do momento, a China.

Alguns dados do Brasil em 2024 chamam a nossa atenção:

- Agro: 50% da exportação do BR ano passado. Desse montante do agro, 33% são soja, 15,9% são carne, 12% foram do complexo sucroalcooleiro

- China: comprou 73,4% da soja exportada e 70% do minério de ferro

- Os dados apontam que 2805 de 5570 municípios são de alguma forma "mineradores"

Ou seja, é difícil entender por que o setor de agronegócios é tão poderoso em nosso país?

- A questão da linguagem: O Vale do Jequitinhonha (MG) virou "Vale do Lítio", segundo o governador de lá...

- O monopólio corre solto nesses setores dominantes da economia do país. Muitas vezes, a exploração é feita por apenas uma empresa.

- 400 milhões de toneladas de ferro foram exportadas em 2024. Fica a pergunta: quanto foi extraído para se produzir essa tonelagem e qual o tamanho dos rejeitos que ficaram?

- Minerais críticos e terras raras: nenhum país quer "minerais críticos" para fazer carros elétricos... É para fazer mísseis e bombas!

- Pra onde vamos? (a última imagem da apresentação traz o quadro "O grito", do pintor Edvard Munch...

---

No bate-papo com o professor, achei legal a reflexão sobre precisarmos definir as questões necessárias e as questões contingentes na vida nacional e em nossas vidas. 

Pensar o futuro do planeta e da sociedade humana é algo necessário e pensar as eleições 2026 no Brasil, por exemplo, é uma questão contingente, não vamos deixar nenhuma delas, são questões da ordem da estratégia

Como as demais aulas, a do professor Fred foi incrível! Muita reflexão a se fazer e atitudes a se pensar e praticar

William

Nenhum comentário:

Postar um comentário