segunda-feira, 1 de junho de 2009

Leitura: Todos os nomes - José Saramago



Refeição Cultural

AQUI, ACHO QUE O CHEFE TEM RAZÃO 

(em discurso aos seus funcionários da Conservatória Geral) 

 "(...) se não houvessem ocorrido recentemente certos outros factos e se eles não tivessem suscitado em mim certas outras reflexões, nunca eu teria chegado a compreender a dupla absurdidade que é separar os mortos dos vivos. Em primeiro lugar, é uma absurdidade do ponto de vista arquivístico, considerando que a maneira mais fácil de encontrar os mortos seria poder procurá-los onde se encontrassem os vivos, posto que a estes, por vivos serem, os temos permanentemente diante dos olhos, mas, em segundo lugar, é também uma absurdidade do ponto de vista memorístico, porque se os mortos não estiverem no meio dos vivos acabarão mais tarde ou mais cedo por ser esquecidos, e depois, com perdão da vulgaridade da expressão, é o cabo dos trabalhos para conseguir descobri-los quando precisamos deles, como também mais tarde ou mais cedo sempre vem a acontecer" p. 208 (grifos meus)


REFLEXÃO: O QUE FAZ NOSSA EXISTÊNCIA REAL?

Por onde começar a reflexão sobre este livro? 

A ideia de imortalidade me vem à cabeça. 

O que faz com que eu exista para o mundo real e objetivo? 

É a minha certidão de nascimento, registro geral, carteira de trabalho e previdência social? Meu cadastro de pessoa física, meu certificado de reservista, minha matrícula funcional, meu registro sindical, meu título de eleitor? Seria minha conta no banco? (se eu fosse um abonado, é claro!) 

São estes cadastros? Ou são as pessoas e meus atos que fazem minha existência? 

Se é esta absurdidade de registros, quer dizer que pode ser "não existência" a existência daquele ser humano que está sempre sentado em frente à porta do Complexo São João do Banco do Brasil em São Paulo, no frio, no calor, sob a chuva ou sob o sol, com aquele olhar absorto e distante, envolto em uma coberta e com forte cheiro (de ser humano)... E aí, quer dizer então que pode ser que ele não exista?

Apesar disso, eu o vejo ali há cerca de cinco anos como o vi hoje pela manhã fria.

Como eu não acredito possuir uma alma, espírito ou coisa do gênero, a minha mortalidade ou imortalidade será construída por mim e pelos outros, por acaso ou por ação própria e voluntária. 

Minha avó Deolinda, que faleceu em 2006, será imortal enquanto alguém de minha família ou de sua relação a mantiver viva na memória ou nos guardados. 

Minha bisavó Ana, acho que é esse o nome, já está quase morrendo para sempre. Deve durar mais alguns anos. 

Eu talvez dure algumas décadas. Com sorte um século ainda, apesar de não sabermos o dia de amanhã no mundo. 

Alguns humanos já duram alguns milhares de anos. São uma mistura de todos os nomes com diversas ações e diversas invenções, ou invencionices. 

E aí, Who wants to live forever?

William Mendes

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