quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O objeto das relações internacionais - três enfoques

Citando:

"O vasto campo de estudo das relações internacionais não é definido de forma consensual. Diferentes autores encaram de modo divergente - e muitas vezes conflitante - o objeto das relações internacionais. Grosso modo, é possível identificar três tradições divergentes que informam a produção acadêmica de teorias sobre as relações internacionais".

ESCOLA IDEALISTA
Sua fonte é baseada na noção do direito natural e implica a questão de justiça nas relações entre os Estados.

"All nations are... under a strict obligation to cultivate justice towards each other, to observe it scrupulously, and carefully to abstain from every thing that may violate it" (Jurista suíço Emmerich de Vattel 1714-1767 - autor de The Law of Nations)

Tradição que se desenvolveu no entre-guerras mundiais e ainda hoje assenta-se na ideia iluminista de sociedade perfeita.

A política do apaziguamento de Chamberlain e Daladier foi tributária dessa corrente de ideias.

Os realistas diziam que os EUA e Grã-Bretanha defendiam esta linha porque eram países insulares ou continentes. Era muito cômodo para eles.

"Enjoying the luxury of relative security provided by the English Channel in one case and the Atlantic Ocean in the other, British and American thinkers could offer prescriptions for reform of the international system that were perhaps less compelling for states surrounded by potential enemies" (Phil Williams e outros, Classic Readings of International Relations, Belmont, Cal., Wadsworth, 1993, p.7).

Vocabulário:
luxury (ious) = luxo\luxuoso
não confundir com
lust = luxúria
lust after\lust for cobiçar algo, alguém

ESCOLA REALISTA
Hans Morgenthau, autor de Politics Among Nations, é considerado o fundador do pensamento realista contemporâneo.

A Escola Realista enfatiza o potencial conflitivo entre as nações.

"Maquiavel sublinhou a importância da força na prática política liberta dos constrangimentos morais e conferiu legitimidade aos interesses do soberano. No seu pensamento, os fins condicionam os meios. O inglês Hobbes, como o italiano Maquiavel, nutria profundo pessimismo em relação à natureza humana"

Os realistas avaliavam haver uma ausência de um poder soberano e imperativo nas relações internacionais.

"Substituindo a meta moral da reforma do sistema internacional pela análise das condições objetivas que determinam o comportamento dos Estados, os pensadores realistas ancoraram a sua argumentação nas noções da anarquia inerente ao sistema e da tendência ao equilíbrio de poder como contraponto a essa anarquia"

ESCOLA RADICAL
Baseada na escola marxista, cujo objeto é o conflito entre as classes sociais - mas Marx não produziu uma teoria do sistema internacional.

Como o Estado é um elemento marginal no pensamento marxista, "o comportamento dos Estados, quando enfocado, surge apenas como veículo para interesses econômicos, políticos ou ideológicos de outros atores (classes sócio-econômicas, corporações industriais e financeiras etc)".

Também é baseada na teorização leninista sobre o imperialismo. O argumento original de Lenin abordava a ligação entre a prática imperialista e a guerra entre potências.


Bibliografia:
MAGNOLI, Demétrio. Questões Internacionais Contemporâneas - manual do candidato. Funag, IRBr. Brasília, 1995.

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