quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sebastianismo - Estudos de Literatura Portuguesa


(atualizado em 8/11/15)


Bandeira Portuguesa

FLC0383 - Literatura Portuguesa IV - Bloco I do programa


- Mensagem - de Fernando Pessoa

- Do sebastianismo ao socialismo - de Joel Serrão

- A nau de Ícaro - de Eduardo Lourenço


JOEL SERRÃO

O sebastianismo - origem e metamorfoses do mito

"É fácil de persuadir ao coração a aquelas coisas que deseja" (D. Francisco Manuel de Melo, Alterações de Évora, 1637)


1. O sebastianismo como objecto de reflexão histórica

Joel Serrão começa o texto enaltecendo alguns autores que muito refletiram acerca do sebastianismo ou messianismo, tão arraigados à ideia de patriotismo português. Cita Oliveira Martins com sua "História de Portugal" de 1879, Sampaio Bruno em "O Encoberto" de 1904 e outros autores do início do século XX.

Certo autor, Antonio Sérgio, afirma que esse fenômeno do sebastianismo teria relação com uma sociologia cultural e que seria fruto de dadas condições bem concretas na história: a iminência da perda da independência nacional e a morte de D. Sebastião (1578).

Diz Antonio Sérgio: “o messianismo terá vida (ou poderá tê-la) enquanto se impuser a este povo, a contrapor à sua fictícia e tão efêmera grandeza, o espetáculo persistente da sua lúgubre decadência”.

Quando chega a virada do século XIX e pelas primeiras décadas do XX, os poetas portugueses remoçam a ideia do sebastianismo. Fernando Pessoa prega confessadamente o “nacionalismo místico, sebastianismo racional”.

Conclusão interessante podemos ver na fala do historiador João Lúcio de Azevedo sobre o sebastianismo: “nascido da dor, nutrindo-se da esperança, é na história o que é na poesia a saudade, uma feição inseparável da alma portuguesa”.

O desfecho de Joel Serrão a esta introdução ao sebastianismo e messianismo nos mostra a importância que ele dá ao tema para a análise da história de Portugal:

Cremos, na verdade, que de poucos problemas como este dependerá, na esfera das motivações ideológicas, a compreensão do nosso presente, assim como a legitimidade ou a inanidade das esperanças postas no porvir de todos nós”.


Viu só a afirmação?!


2. Sobre as origens e as metamorfoses do mito

As origens desses mitos são antigas. Temos como exemplos Nostradamus (1503-66), temos Sto. Isidoro de Sevilha (século VII) e temos o sapateiro de Trancoso, ou seja, Bandarra e suas Trovas (1530-40).

Causas que poderiam ajudar na fixação desses mitos, aqui no caso português: “Simplesmente, as circunstâncias nacionais, a partir dos meados do século – a viragem da estrutura (1545-52), a morte de D. Sebastião em Alcácer Quibir (1578) e a anexação de Portugal por Filipe II (1580) -, soprariam cinzas, não de todo apagadas, em que jazia a esperança mística da revelação do Encoberto. É que o Encoberto seria, afinal, o jovem rei, pretensamente sumido nas plagas marroquinas! Mais ou menos popularizadas, as Trovas, com a sua linguagem de teor anfibológico, adaptavam-se à maravilha aos anseios de todos quantos desejavam travar acontecimentos que, de outra forma, se diriam, logicamente, inelutáveis”.

Depois, as trovas de Bandarra foram dando vazão a outras interpretações. Em 1640, os portugueses associaram a restauração do reino com D. João IV às Trovas de Bandarra.

Para ajudar, o jesuíta P. Antônio Vieira seguiu pregando a ideia messiânica do Quinto Império, que não veio com D. João IV, que morreu antes.

Mas, “E, falecido o rei (1656) sem que o sonho imperial principiasse a tomar corpo, a intermerata dialéctica do jesuíta não se sentiu peada nos seus voos: é que D. João IV ressuscitaria!”.

O profetismo e o messianismo lusitanos de Antônio Vieira assinalam o momento mais alto da metamorfose da crença sebástica que em torno da Restauração se articulou e se desenrolou”.

O Sebastianismo poderia ser uma estratégia que envolveria o populacho na tese da Restauração, de natureza evidentemente aristocrática.

Lá pelo século XVIII, essas teses messiânicas não tiveram muita vez não, pois o poderoso Marquês de Pombal, como esclarecido, não permitia isso.

O que poderia ser o fim do sebastianismo, com a internação em manicômios no século XIX dos sebastianistas remanescentes, acaba não sendo, pois os literatos acabariam por ressuscitar o fenômeno.

Vários autores poetas viriam a modular tons diversos do tema: “Que El-Rei Menino não tarda a surgir”.

Tivemos entre 1912/16 a Renascença Portuguesa, que “buscou, mediante o saudosismo, uma fundamentação poético-religioso-filosofante da lusitanidade republicana”.


Fernando Pessoa seria a própria encarnação de El-Rei regressado à Pátria quando escreve em primeira pessoa do singular quando a D. Sebastião se refere:


Terceira Parte:

O Encoberto

PAX IN EXCELSIS


I. Os Símbolos

D. Sebastião


’Sperai! Caí no areal e na hora adversa

Que Deus concede aos seus

Para o intervalo em que esteja a alma imersa

Em sonhos que são Deus.


Que importa o areal e a morte e a desventura

Se com Deus me guardei?

É O que eu me sonhei que eterno dura,

É Esse que regressarei.



(aulas seguintes...)


3. O sebastianismo, fenômeno sociocultural

4. Em jeito de conclusão provisória

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