terça-feira, 15 de novembro de 2011

Refeição Cultural - Ansiedade Nauseante


Capa francesa:
La Nausée by Jean-Paul Sartre

A NÁUSEA – JEAN-PAUL SARTRE, 1938
Trouxe dias atrás, alguns livros de meu primo Jorge Luiz. Ele iria desfazer-se deles e perguntou-me se não queria dar uma olhada e pegar aqueles que eu quisesse.
Dentre vários volumes que peguei por afinidade e valor afetivo, haja vista que foram livros que marcaram minha iniciação ao mundo da literatura, trouxe também alguns que nunca li, mas que os nomes ou os autores sempre ficaram a martelar em minha cabeça.
A NÁUSEA de Sartre era um deles. Como pode um livro chamar-se A Náusea! Não é possível que qualquer pessoa, mesmo que não seja amante da leitura, não fique ao menos instigada a folhear ou saber do que se trata um livro com um nome desses.
A minha história da leitura é marcada por várias situações de nomes que ficaram martelando em minha cabeça por longo tempo até o dia em que se deu o momento da apresentação entre aquele nome martelado e a minha pessoa.
Um dos nomes mais apaixonantes da minha vida foi CEM ANOS DE SOLIDÃO! Obra magistral de Gabriel García Márquez. Só de escrevê-lo aqui neste momento de enunciação, eu me arrepiei. Aliás, lembrando agora da história daquela família - os Buendía -, e de Macondo, continuo arrepiado. Essa é a típica declaração de amor à literatura. Meu corpo declara amor à literatura. Além do arrepio, meus olhos se umedeceram.
Ainda em relação aos nomes que viveram martelando em minha cabeça, assisti na sexta-feira ao filme O CÉU QUE NOS PROTEGE, de 1990, de Bernardo Bertolucci. Também é um nome que me emociona. Tanto a ideia de solidão do livro, quanto a ideia do céu que nos protege, me remetem automaticamente ao que fico pensando naquelas longas noites que passo uma vez por ano na minha caminhada de 85 quilômetros lá em Minas Gerais e que já viraram uma necessidade em minha vida. Só eu mesmo para saber a síntese da minha caminhada com a ideia daquela solidão e com aquele céu que encontro tão estrelado e, às vezes, com a Lua-sol, às vezes, no breu total.
Tenho vivido com grande dificuldade de tempo para ler. Com o passar dos anos e o avanço do tempo de existência, percebo que passei a começar vários livros que acalento o desejo de ler e leio um tanto e acabo não finalizando a leitura. É a ansiedade do tempo passando e de ver que não avancei nas leituras que sempre desejei.
A ansiedade se repetiu neste feriado. Eu poderia ter lido um livro nestes quatro dias e, no entanto, fiquei olhando na estante e nas pilhas espalhadas por todos os lados e as horas passaram, os dias passaram e iniciei várias coisas e não acabei nenhuma. 

No sábado de manhã, peguei MEMORIAL DE AIRES, de Machado de Assis. À tarde, após achar em uma banca de revistas um mangá sobre O CAPITAL, de Marx, o li de uma sentada.
No domingo, peguei FAUSTO, de Goethe, o volume antigo que trouxe de meu primo Jorge Luiz. Na segunda-feira, não li dezenas de páginas de nada, porque liguei o computador para trabalhar. Minto: à tarde, após o trabalho, achei um volume que nem me lembrava de tê-lo e comecei a ler. Tratava-se de O QUE É IDEOLOGIA, de Marilena Chauí, da coleção “Primeiros Passos”. Por fim, hoje, catei o volume de Sartre e já li mais de setenta páginas.
Essa ansiedade em ler tudo que gostaria e não conseguir, com o passar do tempo, virou um ciclo vicioso e negativo para mim.
Para finalizar essa ansiedade da minha incompletude nauseante, assisti ontem na TV à primeira parte do filme CHE, de 2009, de Soderbergh. Por sinal, tenho o DVD em minha estante, mas também nunca peguei para assistir de uma sentada só.

É isso!


Post Scriptum (31/1/16):

Interessante e triste. O drama em relação à dificuldade de leituras literárias segue exatamente o mesmo cinco anos depois. E enquanto isso, a idade da existência vai aumentando, a visão já não é mais a mesma... mas o desejo de leitura continua do mesmo tamanho, imenso!

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