quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

John J. Rambo, o personagem


Personagem John J. Rambo.
Imagem do primeiro filme 1982.


John J. Rambo, O Personagem


REFEIÇÃO CULTURAL – SOMOS O QUE SOMOS

10/01/13


INTRODUÇÃO

CONTRA ESTEREÓTIPOS

Começo este texto explicitando que eu detesto estereótipos e desde que adquiri um pouco mais de conhecimento com a idade adulta, passei a me vigiar para não me pegar utilizando de estereótipos para desqualificar pessoas e/ou coisas e reduzir e/ou eliminar um bom debate com uma saída clássica de utilizar uma imagem ou conceito estereotipado. Via de regra, isso é feito com frequência por pessoas que se consideram melhores que as outras.

Feito esse alerta, comento com tranquilidade o personagem Rambo. Como estou em férias, estou assistindo e lendo tudo quanto é coisa. Muitas dessas coisas vêm ao sabor do dia. Ou porque fucei na estante, ou porque reli meu blog ou porque deu vontade de ver, ler, ouvir algo ao olhar para o horizonte a partir da janela de meu apartamento.

A vista de meu horizonte, a partir 
da sacada de meu apartamento.

Certos livros, personagens e coisas dos anos setenta e oitenta poderiam ser consideradas vulgares e fúteis hoje pela geração anos noventa e dois mil. Só tem um problema: nada mudou em relação aos enlatados do mundo do entretenimento nessas décadas todas.

Os “Conan”, “Rocky”, “Rambo”, “Braddock” de ontem são os “Van Diesel”, “Jason Stathan”, os “Marvel” de hoje, que sozinhos salvam o mundo; os livros do Stephen King, do Morris West e outros do tipo “Best Sellers” são os livros de vampiros de hoje que vendem milhões para os atuais “jovens” até 35 anos; aliás, os vampiros só fizeram piorar, pois eles não morrem com luz, dão beijo na boca e se apaixonam; quem pode falar mal dos romances “Sabrina” que as meninas liam nos oitenta? Qual a diferença daqueles para todos os “tons” que vendem agora?

Vamos fazer uns comentários sobre o personagem John Rambo e os quatro filmes da série. Os três primeiros filmes relembram a minha adolescência e os tempos duros da gente de quarenta e cinquenta anos que precisava trabalhar desde os dez ou onze anos para comer e ter alguma coisa em casa.

Hoje as crianças brasileiras perdem os amigos vizinhos porque a família comprou o segundo apartamento ou casa ou então comprou uma residência maior e melhor. (Que bom!)

Nos anos oitenta e noventa a gente mudava todo ano porque o aluguel ficava impossível de pagar com o salário baixo e vivíamos pra lá e pra cá. Era uma merda e uma miséria só. Foi nesse Brasil que eu e milhões de quarentões da classe trabalhadora crescemos.

Creio que personagens ficcionais duram décadas porque de alguma forma espelham ou realidades de pessoas e/ou sociedades, ou porque espelham imaginários populares ou também de sociedades.

Cartaz do primeiro filme, 1982.


RAMBO, PROGRAMADO PARA MATAR – 1982 (First Blood)

Este é o melhor dos filmes da série, na minha opinião. A história tem verossimilhança no que diz respeito ao tratamento que foi e é dado aos ex-combatentes norte-americanos.

Os Estados Unidos insistiram em uma guerra no Vietnã entre os anos sessenta e setenta que só fez vitimar os povos de lá e os soldados americanos. Foi uma carnificina geral.

Neste primeiro filme, não tem como não simpatizar e torcer para que Rambo detone os policiais que o torturaram na cadeia. Infelizmente, essa é a coisa mais comum em qualquer departamento de polícia do mundo: espancarem cidadãos inocentes ou bandidos.

A fala final de Rambo é comovente. Na guerra, os soldados lidam com armamentos e veículos de milhões de dólares e quando voltam a ser civis não lhes dão emprego nem de guardadores de carros. Sem contar ele descrevendo a cena do aeroporto na volta do Vietnã, com as pessoas xingando os soldados de assassinos.

É um filme que aborda a questão dos traumas da guerra e das consequências dela para os ex-soldados e para o país que não sabe o que fazer com cidadãos que foram transformados em pessoas treinadas para matar outras pessoas.

Cartaz do 2º filme, 1985.


RAMBO II, A MISSÃO - 1985 (Rambo: First Blood part II)

Nesta sequência da série, o ex-boina verde Rambo parte em uma missão ao Vietnã, para procurar prisioneiros de guerra americanos ainda em poder dos vietnamitas.

A ação da estória também se passa em 1985 e o filme conta com toda aquela construção ideológica americana de que os inimigos são do mal e fazem barbaridades e eles americanos são os melhores sujeitos do Planeta.

Eu era um trabalhador braçal adolescente quando o filme foi feito e lançado. Revendo-o nos dias atuais, fico imaginando o que Mikhail Gorbachev e os soviéticos acharam da sacanagem de um filme de guerra norte-americano colocar os russos ao lado dos vietnamitas em plena era da Glasnost e Perestroika, torturando soldado americano com choque elétrico, facas incandescentes etc. Deve ter sido uma ofensa à inteligência da pequena parcela melhor informada de telespectadores e cinéfilos.


O TRAUMA DOS PRISIONEIROS DE GUERRA AMERICANOS

Eu não sabia disso. Pesquisando um pouco na Wikipedia sobre a história do conflito e a questão dos prisioneiros de guerra norte-americanos (Vietnam War POWS/MIA issue, ou seja, prisioners of war e missing in action), foi possível entender o rebuliço que o filme Rambo II causou nos Estados Unidos.

O povo americano tem ainda hoje um verdadeiro trauma e toda uma cultura alimentada pelas famílias de mais de mil soldados que foram considerados mortos ou desaparecidos na guerra sem os corpos retornarem. Houve até comissões investigando o caso. Uma grande parte dos desaparecidos seria da brigada de paraquedistas e não se sabe se morreram em combate ou aos montes ao saltarem dos aviões.

(Interessante, porque até isso acontece com Rambo quando tenta saltar a baixa altitude do avião no filme...)

Só nos anos noventa é que Estados Unidos e Vietnã finalizaram os acordos sobre a questão dos prisioneiros.

Julia Nickson no filme Rambo II, 1985.


MELHORES MOMENTOS: Finalizando o comentário sobre o filme, uma das melhores partes é durante a presença da bela Julia Nickson que interpreta a agente vietnamita Co Bao.

Também é o maior barato quando o soldado sacaneado Rambo (sob tortura) fala pelo rádio com o marechal Murdock (que o deixou lá) com toda a raiva do mundo dizendo: “Murdock, Murdock, estou indo pegá-lo!”.


Cartaz do 3º filme, 1988.


RAMBO III – 1988 (Rambo III)

Se já era um absurdo colocar os soviéticos como maníacos sanguinários em 1985 no segundo filme da série, imaginem neste em 1988.

Pesquisando um pouco sobre a invasão soviética no Afeganistão, entre 1979 e 1989, foi possível ver que realmente as maldades e massacres de civis ocorreram, como usam ocorrer em qualquer porcaria de guerra.

Como os soviéticos tinham muita dificuldade para enfrentar em solo e nas cavernas do deserto os afegãos guerrilheiros mujahedin, a maneira de obter vantagem momentânea durante a década de guerra era bombardear as cidades e os acampamentos afegãos.


OBSERVAÇÃO: Fui adolescente durante a década de oitenta, período final da chamada guerra fria entre o lado capitalista do mundo e o lado comunista. Tenho vagas lembranças do período.

Comparando o filme do Rambo III nos anos oitenta em missão “humanitária” no Oriente e um filme atual como “Mercenários” (2010), ainda prefiro o dos anos oitenta.

É isso.

DETALHE: Assisti aos três filmes do Rambo em videocassete com fitas VHS gravadas há mais de dez anos. É mole como sou antiquado? Como costumo dizer, as fitas serviram para aquilo que são. Vi os filmes normalmente.


Cartaz do 4º filme, 2008.


RAMBO IV – 2008 (John Rambo)

Quando assisti a esse filme no ano do lançamento, foi mais porque havia visto antes o bom fechamento que Stallone deu à série Rocky, em 2006.

Uma coisa no filme Rambo IV me chamou a atenção: o quanto aumentou o poder letal das armas de guerra manuseadas pelos exércitos, paraexércitos, mercenários e bandidos em geral.

Diferente do esforço do Rambo III, que buscou dar verossimilhança ao enredo sobre a invasão soviética no Afeganistão, não encontrei nada sobre massacres parecidos ao que o filme retrata naquele país, atual República da União de Myanmar. Não estou dizendo com isso que não possa ter ocorrido. Eu não encontrei informação a respeito. Deve ser só ficção do enredo mesmo.

Era uma ditadura de fato que governava Myanmar na época em que o filme foi rodado, mas aparentemente com o mesmo grau repulsivo de violência que toda ditadura tem. Aliás, violência muito semelhante à praticada pelos americanos nos países onde eles invadem.


REFLEXÕES FINAIS

COMO PROTEGER E SALVAR AS VIDAS HUMANAS? COM PRECE? NA BALA? NA DIPLOMACIA?

Chamou minha atenção no quarto filme (2008) o debate entre Rambo e os missionários quando eles foram contratá-lo para levá-los pelo Rio Salween até as aldeias que estavam sofrendo massacres. Rambo pergunta com que armamento os transmissores da palavra de deus estão indo para a região que sofre genocídio e execuções em massa. Eles dizem que são contra armas e contra violência.

Fala sério! Tá na cara que quem pratica atrocidades está pouco se lixando para palavra de deuses ou pacifistas. Ontem e hoje, matar pessoas e tirar a vida humana se tornou algo tão banal que não sabemos onde vamos parar. Os valores das sociedades capitalistas e do dinheiro e das coisas materiais chegou num ponto que será preciso uma grande inversão de valores para a vida em sociedade continuar no planeta. Aliás, o pouco valor da vida foi o mesmo nas ditaduras de Stalin e outras por aí. (o lugar-comum é só falar das ditaduras de direita e fascistas como as de Hitler e Mussolini)

O pior de tudo é que não estou vendo nos jovens com suas caras enfiadas nas redes e nos jogos, com seus fones de ouvido, uma chama de mudança voltando a dar valor à vida humana. Parece que a vida humana é igual às vidas nos videogames.


A foice e o martelo. Símbolo de 
revoluções proletárias no mundo.


OS TRABALHADORES TERIAM ARMAMENTO PARA A REVOLUÇÃO?

Nos anos oitenta, eu era adolescente e o mundo era completamente diferente do que é hoje nos anos dois mil do século XXI. Hoje sou sindicalista, eleito pelos trabalhadores e tenho muito mais consciência política do que nos anos oitenta.

Lembro-me de um debate que travei com um companheiro do PSTU em uma assembleia dos bancários em 2008 ou 2009. Falávamos sobre as possibilidades reais de revoluções socialistas como foram aquelas na Rússia, na China e em Cuba nas décadas primeiras do século XX.

Na minha tese, que fica mais evidente à medida que vejo o quanto avança o poder de morte e destruição das armas em poder dos capitalistas, seria muito difícil a tomada de poder da classe trabalhadora através de revolução armada.

Cada dia que passa, fica mais desproporcional o poder de fogo e destruição de quem é financiado pelo capital e de quem quer se insurgir contra os exércitos do capital. Hoje, os Estados Unidos vivem em função dessas empresas de guerra.

A hora que eles virarem suas miras contra nós latino-americanos, por exemplo, fodeu! 

Não há exército nenhum aqui para proteger nossas águas, terras, petróleo, nações e povos contra invasões dos americanos imperialistas.

De que valem organizações como ONU, OEA, OTAM, OIT etc? Nada!


O MUNDO E OS GRUPOS PRECISAM DE PESSOAS COM ALGO A MAIS

Na verdade, apesar da história das sociedades e das mudanças sociais passarem por grandes eventos a envolverem as massas e grandes contingentes humanos, as decisões e os rumos dos acontecimentos partiram e partem de pessoas ou pequenos grupos.

É aí que fazem diferença aqueles que têm um algo a mais, seja para a direita, seja para a esquerda, seja a favor do status quo, seja contrário a ele.

Olhemos para trás e olhemos ao nosso redor. Quando um lado da batalha entre campos ideológicos antagônicos está melhor, faltam lideranças e pessoas com algo a mais do outro lado. E quando a coisa se inverte, idem.

Segue sendo uma missão de qualquer grupo, identificar e preparar pessoas para serem grandes líderes e terem algo a mais que possa fazer a diferença nos momentos mais decisivos da vida e da história. É preciso dar base sólida a grandes homens e mulheres. É preciso que se tenham princípios sólidos que não caiam com a dor e o risco de morte.

Nós da esquerda estamos fazendo isso para mudar e salvar o mundo da destruição total em andamento através do capitalismo voraz e do fetiche da matéria e consumismo?

Creio que não. Faltam muitos líderes como... (eu ia citar alguns líderes, mas deixo por conta de cada um elencar os seus).

É isso. Já refleti bastante pra mim mesmo em meu blog após assistir aos quatro filmes sobre o personagem John J. Rambo.

Valeu a diversão e as pesquisas que fiz...

William Mendes

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