sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Escrever pra quem? Com a predominância da imagem e vídeo, quem lê hoje em dia?




Refeição Cultural - Cadê os leitores?

Hoje é sexta-feira, 30 de novembro de 2018. Estamos no primeiro quarto do século 21, início do 3º milênio, considerando o calendário gregoriano da era cristã.

Ao folhear o livro "Os leitores de Machado de Assis" (2004), de Hélio de Seixas Guimarães, fiquei pensando a respeito da questão dos leitores de ontem e de hoje. Eu não li o livro ainda, mas tenho bastante interesse na leitura porque sou um apaixonado por Machado. Já li todos os seus romances e dezenas de contos seus.

Chama atenção a informação de Valentim Facioli, na aba de apresentação do livro, que "Na passagem do século 19 para o 20, apenas 18% da população brasileira seriam alfabetizados. E capazes de ler livros seriam 2% desses 18%. Então, para quem Machado de Assis escrevia, e quem seriam de fato seus leitores?".

Em rápida pesquisa na internet, vi que o Brasil tinha cerca de 15 milhões de pessoas na virada do século. Pelas porcentagens acima chegamos a cerca de 54 mil possíveis leitores de livros naquele Brasil de 1.900. E reais leitores, quantos seriam?

Será que avançamos no número de leitores de livros, mais de um século depois, tendo hoje no Brasil 210 milhões de pessoas? Estou em dúvidas.

Outra coisa que chama atenção nos textos de Machado é que ele sempre dialoga com os leitores e leitoras através das personagens e dos narradores. Isso teria um papel formador de leitores críticos e que refletissem a respeito das coisas.

Eu tive uma experiência nos últimos anos bastante interessante durante um período que atuei como gestor eleito na área de autogestão em saúde. Quando comecei o trabalho de informação aos associados, através de textos publicados no blog Categoria Bancária, eu tinha um pequeno número de leitores, algumas dezenas nos primeiros meses.

Com a persistência em escrever para prestar contas, falar a respeito do modelo de saúde da entidade, suas vantagens e dificuldades, sobre a importância do pertencimento e do empoderamento por parte de seus associados, o número de leitores foi ampliando com o passar dos meses. Quando terminamos o mandato, os textos eram lidos por centenas ou milhares de leitores.

Me parece que o processo que vivi na criação de um grupo de leitores para a temática que trabalhei foi um pouco parecido com o esforço que Machado empreendeu em criar um público leitor de literatura naquela época.

Não posso me alongar no texto de reflexão sobre leitores porque textos longos neste momento da história afastam os leitores... louco isso!

São grandes os desafios neste milênio para mantermos viva a história da leitura e dos leitores. Mas acredito que vale a pena lutar para criarmos os novos leitores e resgatarmos os antigos leitores do mundo.

Abraços aos meus atuais leitores e leitoras, que são poucos, voltei às dezenas, mas são leitores que considero e respeito muito.

William Mendes
https://twitter.com/Blog_do_William

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Sócrates, Jesus, Lula, condenados por fake news




"Mais sábio do que esse homem eu sou; é bem provável que nenhum de nós saiba nada de bom, mas ele supõe saber alguma coisa e não sabe, enquanto eu, se não sei, tampouco suponho saber. Parece que sou um pouquinho mais sábio que ele justamente em não supor que saiba o que não sei" (In: Apologia de Sócrates, 480-399 a.C.)


Condenação por "fatos indeterminados"

"O que me condenará, se eu for condenado, não é Meleto, nem Ânito (acusadores), mas a calúnia e o rancor de tanta gente; é o que arruinou muitos outros homens de bem e ainda os há de arruinar, pois não é de esperar que pare em mim."

Nos séculos seguintes a Sócrates, vieram várias outras vítimas de mentiras, fake news e intolerâncias do status quo por enfrentarem o sistema de dominação social: Jesus, Gandhi, Mandela, Lula...


Sócrates não se humilha perante juízes, só informa os fatos

"À parte a questão da honra, senhores, não me parece justo pedir e obter dos juízes a absolvição, em vez de informá-los. O juiz não toma assento para dispensar o favor da justiça, mas para julgar segundo as leis. Nós não vos devemos habituar ao perjúrio, nem vós deveis contrair esse vício; seria impiedade nossa e vossa."

Ele confiava no sistema judiciário, assim como fez nosso ex-presidente Lula, encarcerado numa masmorra sem provas, sem crimes. Erro fatal! Nos dois casos.


Aos que o condenaram injustamente

"Não se tenha por difícil escapar à morte, porque muito mais difícil é escapar à maldade; ela corre mais ligeira que a morte. Neste momento, fomos apanhados, eu, que sou um velho vagaroso, pela mais lenta das duas, e os meus acusadores, ágeis e velozes, pela mais ligeira, a malvadez. Agora, vamos partir; eu, condenado por vós à morte; eles, condenados pela verdade a seu pecado e a seu crime. Eu aceito a pena imposta; eles igualmente. Por certo, tinha de ser assim e penso que não houve excessos."


Comentário do blog sobre a leitura de "Apologia de Sócrates" na versão de Platão

Reli neste domingo, 25 de novembro de 2018, o julgamento e a condenação injusta do filósofo grego Sócrates. O que se sabe sobre ele na história humana é através de outros escritores como Platão, Xenofonte e Aristófanes. Sócrates não deixou nada escrito.

Prezad@s leitores, é impressionante como a história humana é feita de repetições! Sistemas de poder que caçam e eliminam aqueles que ousam desafiar o status quo local.

Sócrates foi acusado de corromper a juventude. Ele foi condenado à morte por fake news, acusações tipo "power point" (por analogia, isso é descrito no texto por Platão) e não aceitou penas mais brandas como, por exemplo, o exílio, pois estava com 70 anos e diz que se nem seu povo o acolhia, que iria ele querer aceitando ser expulso de seu mundo.

No século 21, apesar dos avanços tecnológicos seguirem com velocidade alucinante, os seres "sociais" humanos estão voltando a serem reles mamíferos bípedes, abrindo mão de várias facetas do conhecimento, da reflexão filosófica, do uso intensivo do cérebro e se deixando levar por manipulações de máquinas e sistemas (na mão de poucos).

Eu não posso me alongar no texto porque o cérebro humano não lê se o texto passar de uma página. A síntese da história de Sócrates é que ele tinha como objetivo de vida comprovar ou desfazer o que os deuses disseram a um amigo dele, Querefonte, que ele Sócrates era o mais sábio dos homens. Sócrates saiu CONVERSANDO com todo mundo desde então, buscando mais as VIRTUDES que as posses materiais de cada um. E foi percebendo pela prática que as pessoas não sabiam sequer o que deveriam saber em suas profissões e funções. Os jovens que o acompanhavam (de graça) passaram a questionar também a tudo e todos... Aí já viu, deu merda!

Enfim, a leitura de 35 páginas da "Apologia de Sócrates" vale a pena para aqueles que não aceitaram continuar na ignorância (não saber) e não se deixaram levar pelo emburrecimento sistêmico. Existem duas versões do julgamento de Sócrates, uma de Platão e outra de Xenofonte.

Tenho comigo que toda a desgraça que aí está sobre o povo e que virá é culpa de cada um de nós mesmos, humanos. Conheço muita gente, da família por exemplo, que nunca leu sequer meia dúzia de livros na vida: aí fica fácil se deixar levar por sistemas complexos de influência no comportamento humano. Aos compatriotas brasileiros (aff) que fizeram a escolha pelo desfazimento da soberania do país e de todos os seus direitos históricos nestas eleições de 2018, digo o seguinte: 

- será que os norte-americanos estão com dó dos brasileiros por escolhermos a submissão a eles por parte do novo governo entreguista brasileiro? Será que serão mais simpáticos a nós por optarmos em ser novos colonizados do império de Trump? Os norte-americanos mal sabem que o brazil existe, somos lixos, baratas para eles. Um zoológico para explorar e passear, como os demais países latino-americanos, sempre vitimados por interferências daquele governo do norte.

Se a ignorância brasileira é uma escolha, suas consequências são merecidas. Parece-me que a maioria não pode parar algumas horas por dia para essa tarefa humana do estudo para ser mais que um reles animal.

Abraços, William


sábado, 24 de novembro de 2018

Da realidade ninguém acorda




"(...) Foi um pesadelo e depois dos pesadelos a gente acorda... - e a seguir disse de si para si, sem saber se engolir ou soltar as lágrimas - a gente acorda dos pesadelos, mas da realidade, não. Da realidade ninguém acorda.

(Ocelotle 33, conto do livro "Week-end na Guatemala", de 1956, de Miguel Ángel Asturias)


Personagem de uma mãe guatemalteca, conversando com os filhos. No conto, eles sobreviveram à invasão dos mercenários e traidores da pátria que derrubaram o governo eleito do presidente Jacobo Árbenz Guzmán, em um golpe de Estado promovido pelos Estados Unidos, através da CIA, em favor dos interesses da empresa La frutera (United Fruit), e baseado na justificativa de "libertar" o país da América Central do "comunismo". 

Árbenz (1951-54) realizou uma importante reforma agrária, distribuindo terras aos trabalhadores índios e campesinos e desagradou latifundiários locais e a multinacional americana. Qualquer semelhança com a nova colônia americana brazil 2018 não é mera coincidência.

Ocelote é um felino de tamanho pequeno, da família de leopardos e jaguatiricas, e vive nas Américas.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Lula e as flores na Primavera




#LulaLivre - Apesar das flores estarem abertas na Primavera, e estarmos do lado certo da História, temos que libertar Lula!

domingo, 18 de novembro de 2018

Carta Maior - Campanha de assinaturas solidárias




Olá prezad@s amig@s e leitores do blog Refeitório Cultural,

Uma das fontes de conhecimento onde busquei informação desde o início dos anos dois mil (faz quase duas décadas), o site de esquerda Carta Maior, precisa de nós para continuar produzindo textos de alto nível nas mais diversas áreas de conhecimento.

Eu peço encarecidamente que vocês leiam o pedido de ajuda de Carta Maior, que reproduzo abaixo, e peço para aqueles que puderam que façam a assinatura solidária e conversem com seus amigos, familiares e conhecidos para que também apoiem esse importante veículo de informação.

Eu fiz minha assinatura mensal e isso é solidariedade e compromisso com o direito humano à informação e à liberdade de expressão, pois sem a contribuição dos próprios trabalhadores e cidadãos não haverá uma comunicação que de visibilidade às nossas demandas e visões de sociedade e de mundo.

Hoje, dos 700 mil leitores do site, cerca de 1.300 são parceiros-doadores, mas é necessário chegarmos a 2.000 assinantes para a manutenção das atividades. Faltam mais ou menos 700 pessoas. O leitor pode ser assinante mensal como também fazer doações anuais.

Vamos ajudar Carta Maior a seguir contribuindo com os textos excelentes que produz para nós que optamos por sermos pessoas conscientes politicamente e dispostas a lutar por um mundo mais justo, livre, igualitário e solidário.

Abraços, William

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(reprodução do site)

Carta Maior precisa de você

Por: Joaquim Ernesto Palhares
Diretor de Carta Maior

Meus queridos,

Em primeiro lugar, agradeço a todos que, compreendendo os desafios que temos pela frente, tornaram-se parceiros da Carta Maior nas últimas semanas. Graças a vocês, passamos de 1.239 para 1.297 parceiros-doadores. Uma resposta que traz ânimo e força à luta que travamos diariamente neste espaço. 

Nos últimos trinta dias, Carta Maior conseguiu alcançar a marca de 751 mil visitantes únicos (google analytics). Para quem já teve 1,8 milhão em 2014, este número é um desastre; porém, diante de todas as dificuldades, da crise e do golpe, e considerando que chegamos, no final de 2016, a 250 mil visitantes únicos, posso afirmar que os números de hoje são um extraordinário sucesso.

Você conhece a Carta Maior, não somos um veículo de guerrilha, não disputamos notícias, não cobrimos o dia a dia da política. A nossa especialidade é a análise profunda, sistemática e ideológica da política, da economia, dos direitos humanos, da mídia, notadamente da área internacional com nossas Cartas do Mundo, o Clipping Internacional e a editoria de Poder e Contrapoder.

Você sabe que para nós a informação nunca foi uma mercadoria, mas sim um bem público. Graças à consciência política de nossos colaboradores e parceiros, Carta Maior vem cumprindo a missão que a anima há mais de 17 anos: divulgar o pensamento da esquerda nacional e internacional, dotando seus leitores de argumentos sólidos junto à opinião pública.

Concebendo a informação como bem público, Carta Maior vem garantido um conteúdo de altíssima qualidade e fortemente crítico à narrativa neoliberal disseminada pelos veículos de comunicação da chamada “grande mídia”.

Na prática, veículos que elegeram o capitão à presidência do Brasil, promovendo desde sempre a criminalização da política e da esquerda; a naturalização do golpe e do austericídio econômico que interdita ao povo brasileiro qualquer oportunidade de ascensão econômica e social, de melhoria de vida, e direitos básicos como saúde, educação e trabalho.

Não tenhamos dúvidas: somente o esclarecimento, o livre pensamento, o debate e o diálogo poderão construir uma efetiva resistência contra os ataques do neoliberalismo e das novas formas de fascismo. 

Importante destacar que Carta Maior sobrevive exclusivamente da doação de seus leitores. Desses 751 mil leitores únicos mês, apenas 1.297 são parceiros doadores da Carta Maior. Esse número inviabiliza qualquer atividade nossa. Na prática, 1.297 pessoas estão pagando para que mais de 700 mil leiam o nosso conteúdo. Isso é inviável. 

Em nome da manutenção do site no ar, fui obrigado a suspender as traduções de textos do espanhol, francês e inglês. A partir de agora, eles serão publicados em sua língua original. Isso significa, em primeiro lugar, que três colaboradores perderam emprego. Em segundo, que rompemos com uma tradição de 17 anos, a de traduzir para o português textos de extrema relevância.

Há mais de dois anos, venho lutando para não encerrar as atividades da Carta Maior e para manter nosso conteúdo aberto para todos. A guerra está em curso e as condições de luta são completamente desfavoráveis para a Mídia Alternativa. 

Lutamos contra um aparato de comunicação que tem garantidas suas fontes de financiamento, inclusive, a publicidade estatal, interditada aos veículos progressistas já nas primeiras semanas do governo Temer.

O que fazer?


Frente ao fato de que todas as nossas atividades são 100% financiadas por nossos leitores, só vejo uma alternativa: multiplicar o número de doadores parceiros, para não ver esse lindo projeto desmoronar até encerrar definitivamente as suas atividades. 

Aliás, isso já aconteceu com outros veículos de esquerda. No passado, tiveram o mesmo destino o jornal Opinião, o Pasquim e, mais recentemente, a revista Caros Amigos que foi publicada por mais de vinte anos.

No ano de 2004, a Carta Maior tinha uma redação em São Paulo, com 22 jornalistas; uma sucursal em Brasília com seis jornalistas; correspondentes em Porto Alegre e Rio de Janeiro. A crise do mensalão que levou as estatais a suspenderem a publicidade na CM, nos fez reduzir 70% de tamanho e, a crise de 2016, nos fez trabalhar em home office com uma equipe muito reduzida que, agora, perde mais três colaboradores.

Não quero tomar essa decisão isoladamente, até porque o compromisso da Carta Maior não é somente com seus parceiros doadores, mas também com seus leitores. Ou encerramos ou prosseguimos. 

Como já alertei várias vezes, 2019 será um dos piores anos para o Brasil, em particular, para o nosso campo. Nunca foi preciso tanta união como neste momento. E como todos sabemos, sem comunicação, não vamos a lugar algum. 

Mas é preciso decidir: ou fechamos ou prosseguimos.

Se você acha que devemos prosseguir, ajude-nos a continuar fazendo o tipo de jornalismo que 2019 exige. Venha conosco nessa luta: torne-se um parceiro da Carta Maior. Com apenas R$1,00 por dia (R$30,00/mês) você garantirá a continuidade desse trabalho. 

Se puder DOE MAIS (clique aqui e confira opções de doação), possibilitando que o nosso conteúdo continue aberto e disponível para todos. Caso não consigamos, seremos obrigados a transformar a Carta Maior um veículo com conteúdo aberto apenas para seus parceiros-doadores.

Pedimos também aos leitores já parceiros que compartilhem este texto junto a seus contatos, redes, parentes, amigos, colegas e camaradas para que possamos fortalecer essa campanha de doação. 

Nossa meta é chegar a 2.000 parceiros doadores de Carta Maior. Ajude-nos a alcançá-la. 

E não se esqueça de se cadastrar no nosso site (clique aqui) para receber nossos boletins. Neste momento, é fundamental que estejamos conectados frente a qualquer eventualidade.

Sigamos juntos,

Joaquim Ernesto Palhares
Diretor da Carta Maior

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Post Scriptum (26/09/22):

Infelizmente, o nosso principal site da esquerda, Carta Maior, saiu do ar no primeiro semestre de 2022. Fui parceiro até o fim, mas perdemos essa batalha.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Estamos doentes, e todos sofreremos as consequências




Opinião

Todos estamos adoecendo com a destruição do país, e não haverá médicos nem remédios, nem para pobres nem para remediados. É o fim do país que fomos, inclusive considerando o passado colonial

Não estou com nenhum entusiasmo para escrever. Depois de mais de quatro décadas de existência buscando me libertar da ignorância, do desconhecimento, do analfabetismo funcional, dos preconceitos que carreguei comigo, depois de lutar anos e anos para me libertar de todo o ódio que senti do mundo, da vida, da sociedade, das injustiças sociais, dos ricos e bilionários responsáveis pelas desgraças dos pobres e do povo, depois desse percurso tentando ser uma pessoa melhor, vem o retrocesso civilizatório que estamos presenciando dia após dia no mundo e no novamente brazil-colônia neste início de século e milênio.

Por que escrever algo, registrar sentimentos e reflexões, descrever eventos e fatos que ficarão marcados na história pessoal, social e humana? Acho que a resposta seria simples: porque as pessoas que virão depois de nós têm o direito de saber como foram as coisas no passado, e por que as coisas aconteceram como aconteceram. 

Que saberíamos sobre o nazismo se não houvesse relatos de pessoas da época, tanto olhando de fora quanto de dentro daquilo? 

Os leitores do filólogo judeu-alemão Victor Klemperer não saberiam sobre a linguagem do Terceiro Reich se ele não tivesse, de forma abnegada, se agarrado aos seus diários durante anos e anos de observação e de sobrevivência ao regime de Hitler, Goebbels e lixos humanos assemelhados. Que saberíamos sobre os pensamentos, sonhos e pontos de vista de uma jovem judia escondida com a família entre paredes falsas e sótãos na Holanda ocupada, fugindo do ódio exterminador nazista, se Anne Frank não tivesse registrado isso em seu diário?

Enfim, está difícil encontrar energia para escrever. Até porque os textos produzidos com grande trabalho de pesquisa e dedicação de horas de concentração, acabam por serem lidos cada vez por menos leitores, e os alfabetizados funcionais parecem estar rareando por aí, neste momento da história humana.

As coisas que me incomodaram muito nesses dias, que amarguraram meu coração e adoeceram meu ser, física e psicologicamente, foram os temas ligados às consequências do golpe de Estado aplicado no Brasil, com a retirada do Partido dos Trabalhadores do poder por uma nova técnica de golpe - o lawfare

O impeachment sem crime de responsabilidade de Dilma, a prisão política de Lula sem crime algum (inclusive com a morte de sua companheira de toda a vida, Dona Marisa, morte por tortura psicológica e humilhação a ela e família), e a provável morte de Lula pelo mesmo mecanismo de tortura psicológica (é difícil este homem de 73 anos continuar resistindo a tanta violência contra sua honra), têm abalado a saúde de muita gente brasileira, muita mesmo, mas como as doenças crônicas são invisíveis e sem sintomas, poucos farão associação com a desgraça estatística do adoecimento que vem por aí.

Uma metade da população está adoecendo violentamente com as tristezas que estamos passando ininterruptamente pela destruição acelerada do país após o golpe de 2016, após a retirada dos direitos do povo e com a destruição do patrimônio nacional em benefício de agentes externos ao país. A doença tristeza e desesperança no amanhã se soma à doença desemprego ou subemprego para destruir a saúde dessa geração.

A outra metade da população está adoecendo, e também não sabe disso. Está doente crônica com todo o ódio, preconceito e cinzentice que carrega em si (me lembrei do prefeito do tudo cinza), com toda a virulência nauseabunda que carrega em seu cotidiano contra os imaginários comunistas, bolivarianos, doente de ódio contra petistas (petralhas), gays, sindicalistas, negros, nordestinos, professores do mal, estudantes do mal, corruptos alheios do mal (eles não são corruptos, hahaha). Doente crônica essa outra metade de brasileiros ricos, remediados e também os pobres-coitados de direita alimentados pelas máquinas de ódio que nos lembram as Teletelas do Grande Irmão, no distópico "1984", de Orwell. (ai geração cara na tela...)

Essa metade doente vibra e comemora qualquer idiotice ou tragédia como "Escola sem partido", o fim do convênio Cuba-Brasil no programa "Mais Médicos" e o consequente fim do atendimento a mais de 30 milhões de seres humanos em quase dois mil municípios do país. Comemoram a nomeação de uma equipe de governo escolhida cada ministro entre os piores de seu segmento, enfim, essa outra metade, "vencedora" nas eleições, está tão doente quanto a outra metade 'perdedora", mas esse adoecimento do Brasil não será facilmente captado pelas estatísticas da tragédia brasileira.

A saúde do povo brasileiro, mais os pobres que só têm o SUS, mas também os remediados, aquele povo que acha que é classe média porque tem plano de saúde por causa de sua relação empregatícia, a saúde brasileira vai degenerar de forma irrecuperável. Seremos um subproduto humano na nova experiência da guerra pela hegemonia política e econômica do planeta. Nenhum país, nenhum povo, foi tão cachorro, tão miserável e tão estúpido de se entregar para os Estados Unidos como o povo de meu país, sem lutar, sem resistência alguma, só com a docilidade e ignorância histórica de ser manipulado sempre pela casa-grande.

Estamos doentes, crônicos do corpo e da alma. As perspectivas do que vem por aí são terríveis. Mas podemos inverter esse quadro a qualquer momento, porque a história humana é feita de imponderáveis... (que venha um logo!)

William

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Por que o fascismo prevaleceu após a 1a Guerra Mundial?


Historiador Eric Hobsbawm.

Frases que nos colocam a pensar:

"O que deu ao fascismo sua oportunidade após a Primeira Guerra Mundial foi o colapso dos velhos regimes, e com eles das velhas classes dominantes e seu maquinário de poder, influência e hegemonia. Onde estas permaneceram em boa ordem de funcionamento, não houve necessidade de fascismo...." (Pág. 129)

(HOBWBAWM, Eric. Era dos Extremos. In: Capítulo 4 - A queda do liberalismo, Companhia das Letras, 2ª Edição, 33ª reimpressão)


Pergunto aos amigos leitores: seriam Trump e Bolsonaro consequências de processos semelhantes um século depois? 


(Além, é claro, das fraudes nos processos "democráticos", pois lá no Norte os sistemas de algoritmos influenciando comportamentos e fake news via Cambridge Analytica foram denunciados após as eleições em 2016 e, aqui no Sul, as castas golpistas de 2016 impediram por zilhões de fraudes processuais o ex-presidente Lula de disputar e vencer as eleições no primeiro turno, e as fake news de Bolsonaro, financiadas por caixa 2, via empresários apoiadores do B17, conforme denúncia da Folha de São Paulo, pesaram decisivamente no resultado do processo eleitoral)


Post Scriptum (pouco depois da postagem inicial):

Vejam aqui mais uma análise de Hobwbawm sobre aquela época que, na minha opinião, muito se assemelha ao contexto dos anos 2016-2018 do século seguinte à 1ª GM:

"As condições ideais para o triunfo da ultradireita alucinada eram um Estado velho, com seus mecanismos dirigentes não mais funcionando; uma massa de cidadãos desencantados, desorientados e descontentes, não mais sabendo a quem ser leais; fortes movimentos socialistas ameaçando ou parecendo ameaçar com a revolução social, mas não de fato em posição de realizá-la; e uma inclinação do ressentimento nacionalista contra os tratados de paz de 1918-20. Essas eram as condições sob as quais as velhas elites governantes desamparadas sentiam-se tentadas a recorrer aos ultra-radicais, como fizeram os liberais italianos aos fascistas de Mussolini em 1920-22, e aos alemães aos nacional-socialistas de Hitler em 1932-3. Essas, pelo mesmo princípio, foram as condições que transformaram movimentos da direita radical em poderosas forças organizadas e às vezes uniformizadas e paramilitares (squadristi; as tropas de assalto), ou, como na Alemanha durante a Grande Depressão, em maciços exércitos eleitorais. Contudo, em nenhum dos dois Estados fascistas o fascismo 'conquistou o poder', embora na Itália e na Alemanha se explorasse muito a retórica de se 'tomar as ruas' e 'marchar sobre Roma'. Nos dois casos, o fascismo chegou ao poder pela conivência com, e na verdade (como na Itália) por iniciativa do velho regime, ou seja, de uma forma 'constitucional'." (Pág. 130)


Comentário do blog - Há semelhanças impressionantes com o contexto da tragédia farsesca que ocorreu no Brasil nas eleições de 2018.


sábado, 10 de novembro de 2018

Rumo ao abismo econômico e a uma era de extremos



Texto de opinião:

"Mas, à medida que crescia a maré do fascismo com a Grande Depressão, tornava-se cada vez mais claro que na Era da Catástrofe não apenas a paz, a estabilidade social e a economia, como também as instituições políticas e os valores intelectuais da sociedade liberal burguesa do século XIX entraram em decadência ou colapso..."

(Era dos Extremos, Eric Hobsbawm)


O historiador Hobsbawm sempre nos alertou sobre a necessidade que os políticos e economistas teriam de ouvir os historiadores para se evitar as tragédias do passado. Mas não tem jeito. Quase ninguém liga para história.

Eu reli o capítulo "Rumo ao abismo econômico" em 2016, na época da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e do golpe de Estado no Brasil. Depois eu reli o capítulo em 2017, vendo a destruição dos direitos sociais e econômicos dos trabalhadores brasileiros. Hoje reli o capítulo, após a tragédia na forma de farsa das eleições brasileiras.

"(...) embora se deva dizer logo que a quase simultânea vitória de regimes nacionalistas, belicosos e agressivos em duas grandes potências militares - Japão (1931) e Alemanha (1933) - constituiu a consequência política mais sinistra e de mais longo alcance da Grande Depressão. Os portões para a Segunda Guerra Mundial foram abertos em 1931."

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A comparação hoje valeria mais ou menos para Trump - tudo pra nós e dane-se o resto -, mas não para Bolsonaro, que é só belicoso e agressivo, mas entreguista da soberania nacional e que bate continência à bandeira americana, além de o Brasil não ter capacidade de enfrentamento militar com país algum no mundo.
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O capítulo é muito, muito bom. Ele fala de economia, e fala das consequências das decisões políticas e econômicas em relação ao comércio mundial. Fala do entre guerras e a depressão econômica (Crash de 1929). Fala da ascensão do fascismo. A concentração de renda nos anos 20 e 30 às custas de ataques aos sindicatos e direitos dos trabalhadores que impactou muito na depressão econômica e na quebra da bolsa de Nova Iorque, dentre outros panoramas gerais da época.

Amig@s leitores, são cerca de vinte páginas. À medida que vamos lendo, vamos vendo os dias de hoje - Crise do subprime, Trump e a destruição do comércio mundial com mega protecionismo americano; o lawfare chamado de impeachment da presidenta brasileira e a questão da encomenda de destruição da Petrobras e entrega do Pré-sal; as consequências dramáticas aos direitos dos trabalhadores e patrimônio público com a ascensão de Temer e Bolsonaro; o gigante mundial China e a sempre sempre Rússia; o Brexit na Inglaterra e a ameaça de ruptura da comunidade europeia; as "primaveras árabes" para derrubar governos e colocar empresas de petróleo no poder etc.

As questões econômicas dos anos 20 e 30 da Era das Catástrofes são idênticas às das duas primeiras décadas do século XXI. Mama mia! Isso vai dar merda! Sempre deu. A falácia do "livre mercado" que se ajusta sozinho destruiu tanto a economia americana, potência única após a 1ª Guerra Mundial, quanto a economia dos demais países exportadores de commodities do comércio mundial daquela época. 

Foi difícil colocar na cabeça dos economistas e políticos da época as ideias relevantes do Keynesianismo (Teoria geral do emprego, juro e dinheiro), que teria influência por décadas após o Crash de 1929, ideias que contribuíram para os anos dourados da economia mundial até início dos anos setenta.

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É necessário que as pessoas compreendam o que significam as ideias ultraliberais absurdas do suposto futuro super ministro de Bolsonaro -, o que significa o fim dos direitos trabalhistas e da previdência pública, olhando o que aconteceu lá no passado e que levou ao fascismo, ao nazismo e à 2ª Guerra Mundial.
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Eu sugiro que as lideranças populares e cientes da gravidade do momento reúnam as pessoas em sindicatos e movimentos sociais, nos partidos do campo popular e democrático, nas comunidades acadêmicas e leiam juntos este capítulo de Hobsbawm para debate estratégico após tomada de consciência do que está colocado diante de nós e que caminha para uma nova catástrofe social e humana.

Abraços a tod@s, e me coloco à disposição para lermos juntos esse texto. Nos cursos de formação que fizemos por mais de cinco anos na Contraf-CUT, em parceria com a equipe do Dieese, nós fazíamos leitura de textos como esse em voz alta e juntos. É muito bom!

Amig@s progressistas e democratas, nós precisamos salvar o mundo da demência coletiva que tomou conta de nossa época.

William