sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

A importância do ato de ler para se criar uma disciplina intelectual




"Parece importante, contudo, para evitar uma compreensão errônea do que estou afirmando, sublinhar que a minha crítica à magicização da palavra não significa, de maneira alguma, uma posição pouco responsável de minha parte com relação à necessidade que temos, educadores e educandos, de ler, sempre e seriamente, os clássicos neste ou naquele campo do saber, de nos adentrarmos nos textos, de criar uma disciplina intelectual, sem a qual inviabilizamos a nossa prática enquanto professores e estudantes" (Paulo Freire, início dos anos 80)


Entre ontem e hoje, sexta-feira, 7 de dezembro, reli ensinamentos do professor e mestre Paulo Freire, em um livro que traz 3 palestras dele no início dos anos oitenta - A importância do ato de ler - em três artigos que se completam. Eu li estes artigos há uma década.

É impressionante o quanto as coisas mudam, o quanto o mundo como o conhecemos pode se alterar radicalmente de tempos em tempos. 

Paulo Freire é uma personalidade reconhecida e respeitada no mundo todo quando o assunto é pedagogia e educação. 

No cataclismo que inunda e chacoalha toda a estrutura brasileira, até Paulo Freire passou a ser caçado e difamado por certos grupos de poder político, que dizem estarem dispostos a eliminá-lo da história. 

Felizmente, lá fora, ele segue sendo uma referência mundial em educação. O "ensaio sobre a cegueira" só atingiu até agora parte da geografia mundial (ufa!)

Um ensinamento de Freire em relação a educação e poder nos dá a compreensão exata dos debates acerca da política partidária da "escola sem partido":

"Do ponto de vista crítico, é tão impossível negar a natureza política do processo educativo quanto negar o caráter educativo do ato político"

Todo grupo social ou segmento político que está no poder instituído vai atuar de forma a estabelecer sua visão no sistema formativo-educativo. No entanto, por mais influência que esse grupo de poder tenha, não será simples essa tarefa porque o sistema é dinâmico, ocorrem reações e as idiossincrasias vão atuar para impedir uma submissão total do sistema ao status quo momentâneo.

Cito mais um trecho de suas reflexões a respeito do que afirmo acima:

"Mas se, do ponto de vista crítico, não é possível pensar a educação sem que se pense a questão do poder; se não é possível compreender a educação como uma prática autônoma ou neutra, isto não significa, de modo algum, que a educação sistemática seja uma pura reprodutora da ideologia dominante. As relações entre a educação enquanto subsistema e o sistema maior são relações dinâmicas, contraditórias e não mecânicas. A educação reproduz a ideologia dominante, é certo, mas não faz apenas isto. Nem mesmo em sociedades altamente modernizadas, com classes dominantes realmente competentes e conscientes do papel da educação, ela é apenas reprodutora da ideologia daquelas classes. As contradições que caracterizam a sociedade como está sendo penetram a intimidade das instituições pedagógicas em que a educação sistemática está se dando e alteram o seu papel ou o seu esforço reprodutor da ideologia dominante"

Amig@s leitores, eu recomendo a leitura desse pequeno livro de Paulo Freire, de cerca de 80 páginas. É muito esclarecedor para os tempos que vivemos e que viveremos no próximo período da vida brasileira.

Tento achar esperanças nas palavras grávidas de mundo de Paulo Freire, ao ver tantas, tamanhas contradições por parte do agrupamento que vai assumir o poder do país a partir de janeiro de 2019. E não importa a visão política de cada um agora. Todos somos brasileiros e as consequências dos atos políticos cairão sobre todos nós.

Esse período pós resultado eleitoral e anterior à posse já se mostrou tão absurdo ao nomear um ministério de gente envolvida com sérios problemas legais ou morais, ao acabar com as relações diplomáticas com o mundo, ao aparecerem indícios fortes de fraudes e evidências de que as eleições foram irregulares que, talvez, nem as fake news das bolhas onde estão os eleitores dos candidatos de direita e toda a mídia empresarial amiga dê conta de manter o povo quieto, na paz dos cemitérios.

Abraços e vamos incentivar a leitura e o estudo dos autores clássicos e dos bons autores contemporâneos para ampliar o saber e a cultura com o intuito de ampliar na sociedade humana o amor, a amizade e a solidariedade para se alcançar a justiça, a igualdade e a liberdade, em um mundo mais sustentável.

William

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