Veredas uspianas. Foto de William Mendes. |
Refeição Cultural
Os tempos são de capitalismo selvagem. Cada vez mais, menos homens têm toda a riqueza existente no planeta, e mais gente não tem nada, sequer para se manter viva. A ciência e tecnologia não foram usadas para o bem comum, e sim para concentrar bens nas mãos de uns poucos.
Os tempos são de tristeza, tempo de desemprego para a classe trabalhadora; tempo de retirada dos direitos da cidadania; tempo de desfazimento de um país de futuro promissor que foi colônia e buscava sua independência e se viu entregue novamente a outro império - sem sequer haver resistência.
Os tempos são de constrangimentos, tempo em que todo aquele que se importa com o outro se sente mal ao ver um pai que não pode pagar um pastel de feira a sua filha; tempo em que a miséria geral faz você se sentir um privilegiado por ter coisas básicas como casa, carro, comida, contas em dia.
Parte de nós é gente anacrônica, fora de seu tempo. Gente que defende distribuição de renda; que preferiria investimento em educação pública ao invés de armas e presídios; que acredita na inclusão do pobre no orçamento do Estado como parte da solução para a economia do país; que defende a tributação maior dos mais abastados.
Em alguns espaços, sei que estou meio fora de meu tempo. Noutros, minhas ideias e sentimentos carregam a certeza do acerto, em meio a uma onda de pestilência que invadiu o organismo social.
Retomar os estudos acadêmicos aos 50 anos faz você se sentir meio deslocado nos espaços juvenis. Fazer o que? Nos 20 anos anteriores dediquei cem por cento de minha vida a representação dos trabalhadores. Neste instante, não consigo me concentrar para fazer um trabalho escolar com prazo dado porque minha cabeça não desliga dos acontecimentos do país. Talvez tenha errado em querer voltar.
Por outro lado, em tempos de trumpismo, bolsonarismo, ascensão do fascismo, fake news como notícia e informação, ódio e intolerância enquanto regras de convivência social, cada um por si e dane-se o outro, e outras merdas do tipo, eu pertenço ao grupo de seres humanos que se situa no espectro político da esquerda, que defende a liberdade, a igualdade, a fraternidade, que é contra o preconceito e a discriminação de qualquer segmento social, que deseja o fim do modo de produção capitalista e que quer um mundo mais inclusivo e sustentável, mais cooperativo, com respeito ao ser humano e à natureza (enfim, mais comunista e socialista).
Ando me sentindo bem deslocado no mundo. Tem hora que dá vontade de pedir para o trem parar e saltar do vagão. Mas o trem é a vida e eu não desisto dela não. Mudemos a rota do trem, então.
William
Post Scriptum:
Caixa de Assistência (Cassi) - Hoje, fui ao terminal de autoatendimento do Banco do Brasil e depositei o meu voto como cidadão da comunidade de associados da Cassi e Previ, entidades de saúde e previdência dos trabalhadores da ativa e aposentados do maior banco público do país. Está havendo uma consulta sobre mudanças estatutárias na Caixa de Assistência. Foi uma sensação estranha. Depois de quase 20 anos de representação deste segmento social, onde participei da construção de quase todas as questões de direitos dos bancários da ativa e aposentados desta comunidade, foi a primeira vez que votei em algo que não participei da construção, não opinei, não decidi durante o processo. Após passar quatro anos lutando pelos associados, pela Cassi e seu modelo assistencial e por seus funcionários - lutando como uma mãe que defende a vida de seu filho -, e pelo respeito a escolha dos associados no processo eleitoral de 2018, decidi desde então não mais me manifestar publicamente sobre essa entidade tão querida por todos nós. Desejo que os associados e suas entidades representativas, a Caixa de Assistência e o patrocinador encontrem o caminho do fortalecimento e perenidade da autogestão mais importante do país, e que ela continue sendo uma Caixa de Assistência que acolha a tod@s.
William, reconhecimento em seu texto. Resistimos. Existimos. Grande abraço. Lu.
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