segunda-feira, 20 de maio de 2019

200519 - Diário e reflexões - Visão do Paraíso


Natureza morta - adormecida  - e céu azul.
Foto de William Mendes, 03/7/16, DF.

Refeição Cultural

"Não se quis, com efeito, mostrar o processo de elaboração, ao longo dos séculos, de um mito venerando, senão na medida em que, com o descobrimento da América, pareceu ele ganhar mais corpo até ir projetar-se no ritmo da História..." (sobre o mito de um suposto Paraíso Terreal, Holanda explicando sua obra)


Li o prefácio à segunda edição, de 1968, e o primeiro capítulo "Experiência e fantasia", da obra "Visão do Paraíso", de Sergio Buarque de Holanda, publicado pela primeira vez em 1959. Estou coletando informações para escrever um trabalho de faculdade sobre as manifestações e pontos de vista dos ibéricos, sobretudo os espanhóis, em relação ao período de conquista das Américas.

Texto muito interessante o de Holanda. Para mim, foram esclarecidas algumas dúvidas. Eu achava que Colombo não havia feito referências textuais em seus escritos de viagens a um suposto Éden ou Paraíso Perdido na terra. É que não acabei de ler ainda os textos relativos às quatro viagens. O primeiro é gigante e de leitura meio chata e repetitiva. Holanda diz que na terceira viagem Colombo faz referência a esse Paraíso das escrituras sagradas da fé católica.

"Ao chegar diante da costa do Pária, esse pressentimento, que aparentemente animara ao genovês desde que se propusera alcançar o Oriente pelas rotas do Atlântico, acha-se convertido para ele, e talvez para os seus companheiros, numa certeza inabalável que trata de demonstrar com requintes de erudição. Assim, na carta onde narra aos Reis Católicos as peripécias da terceira viagem ao Novo Mundo - 'outro mundo', nas suas próprias expressões, propõe-se seriamente, logo que tenha mais notícias a respeito, mandar reconhecer o sítio abençoado onde viveram nossos primeiros pais."

O ensaio de Holanda é muito interessante em diversas questões como, por exemplo, ao explicar a relação mais pragmática dos navegadores e escritores portugueses em relação ao maravilhoso, ao suposto evento metafísico. Os portugueses já tinham no século XV longa experiência em se lançarem ao mar rumo ao desconhecido, sendo os continentes africano e asiático os objetivos daquelas décadas do século XV.

"O gosto da maravilha e do mistério, quase inseparável da literatura de viagens na era dos grandes descobrimentos marítimos, ocupa espaço singularmente reduzido nos escritos quinhentistas dos portugueses sobre o Novo Mundo. Ou porque a longa prática das navegações do Mar Oceano e o assíduo trato das terras e gentes estranhas já tivessem amortecido neles a sensibilidade para o exótico, ou porque o fascínio do Oriente ainda absorvesse em demasia os seus cuidados, sem deixar margem a maiores surpresas, a verdade é que não os inquietam, aqui, os extraordinários portentos, nem a esperança deles..."

Enfim, conhecimentos interessantes adquiridos nessas leituras que estou fazendo nesta semana.

William

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