sábado, 21 de novembro de 2020

211120 - Diário e reflexões


Lembranças do Amapá. Marco Zero do Equador.

Cenas cotidianas

Uma pessoa declama o poema Navio negreiro de Castro Alves e envia para um grupo de pessoas: fui um dos felizardos a receber o presente, o gesto. Que leitura! Que emoção ao ouvir o poema declamado. Que emoção ao sentir a emoção compartilhada! Que gesto nobre da amiga! Obrigado pelo presente, companheira!

Uma declaração de amor registrada em rede social. Uma declaração linda, rara de se ver. Uma declaração ousada porque confessa até a visão de mundo sem crença em deuses. Uma declaração de amor compartilhada pela recíproca do amor correspondido. Desejo tudo de bom ao casal, e que o amor seja eterno enquanto dure, posto que é chama, como dizia o poeta.

O Amapá é um Estado do Brasil. Os amapaenses são cidadãos brasileiros. Assim como o Acre, o Amapá existe, apesar de parcela dos políticos e instituições do país não respeitarem essas unidades federativas e ignorá-las cotidianamente. Desde o dia 3 de novembro, a população do Amapá sofre com a falta de energia elétrica. São 18 dias numa condição desumana. A barbárie é resultado da privatização do setor. Conheço o Amapá e estive lá 3 vezes durante meu mandato de gestor de saúde em uma autogestão, a Cassi. Deixo aqui minha solidariedade aos amapaenses e lamento por tudo que está ocorrendo com vocês.

E por falar em autogestão em saúde, a gente acaba se lembrando de modelos de sistemas de saúde, e de doenças e de pandemias. Vivemos uma crise mundial na saúde provocada por falta de financiamento dos sistemas de saúde e pela transformação da saúde em negócio, produto, serviço, e não em direito humano (parabéns aos que acham que estão dentro do sistema!). E como o capitalismo consegue idiotizar os seres humanos, pautar a agenda de acordo com seus interesses e invisibilizar os temas que não lhe interessam, agora vivemos a paz dos cemitérios em relação ao sucateamento do Sistema Único de Saúde e temas centrais não são mais passíveis de debates. A panaceia do momento é uma invenção para resolver todos os males da humanidade: a "telemedicina", seja lá que diabos isso signifique verdadeiramente... (deve ser o emplasto Brás Cubas...)

O Dia da Consciência Negra no Brasil foi marcado por ser mais um dia comum de assassinatos de pessoas em sua maioria de cor preta, parda ou descendentes de pessoas não brancas. João Alberto foi espancado até a morte por seguranças de um supermercado que tem longa ficha de casos de racismo e violência contra seus "clientes". Como o assassinato ocorreu no dia 19 poderíamos ter tido o dia 20 de novembro de 2020 como o início de um movimento que ficaria registrado no futuro como o dia que o Brasil deu um basta no racismo secular. Poderia ter iniciado uma guerra civil, uma queda de bastilha, um movimento de secessão, um movimento de independência... pára de sonhar! Não gerou nada além do comum. Manifestações indignadas de gente progressista (e de gente hipócrita), manifestações estapafúrdias e provocadoras como a de uma das maiores autoridades do país que disse que "não há racismo no Brasil" (teu cu que não tem!). Enfim, dias de inconsciência negra, inconsciência feminina, inconsciência de classe... afinal de contas as "eleições" locais do último domingo tiveram como maiores vitoriosos os representantes da casa grande e donos da colônia.

Chega! São tantas cenas cotidianas... a pandemia de Covid-19 segue contaminando e matando, tem uma tal segunda onda fodendo o mundo e no país das jabuticabas está tudo bem, não há mais dados confiáveis, não temos mais fiscalização em nada, está tudo aberto, as pessoas estão comemorando até o que não conseguimos saber, tem rodada do Brasileirão no fim de semana, mengo, mengo, curintia, curintia... tem samba, tem pagode, tem funk, e as mortes são porque deus quis. Viva os golpistas! Vocês venceram! Estamos cada um por si.

William


Nenhum comentário:

Postar um comentário