sexta-feira, 19 de março de 2021

Moby Dick - Crepúsculo



Refeição Cultural

"Sinto uma secura na fronte? Oh! Houve tempo em que, do mesmo modo que o nascer do sol me estimulava nobremente, o crepúsculo me aplacava. Não é mais assim. Essa luz adorável já não me ilumina. Toda beleza é para mim uma angústia, desde que não a posso gozar. Tenho o privilégio da alta percepção; falta-me a humilde capacidade de gozar. Sou maldito da maneira mais sutil, maldito no meio do paraíso. Boa noite, boa noite!" (p. 203)


Meus sentimentos são semelhantes aos sentimentos descritos pelo capitão Acab ao ver o crepúsculo no mar. Não consigo gozar as possibilidades das belezas da vida no contexto em que nos encontramos. Nós brasileiros estamos vivendo no inferno mesmo podendo estar no paraíso.

Como disse o linguista Gustavo Conde em sua transmissão na noite passada ou retrasada (não me lembro bem), não tem como uma pessoa normal não estar mal, triste, sofrendo, frente à realidade de mortes diárias por Covid-19, mortes evitáveis se não estivéssemos sob o comando de um regime fascista e genocida. 

Hoje ouvi uma entrevista do professor e cientista Miguel Nicolelis ao DW Brasil (de 17/3/21) e num certo momento ele comenta que viu um estudo que diz que 4 em cada 5 mortes poderiam ter sido evitadas no Brasil se o governo tivesse seguido as recomendações da ciência e das autoridades mundiais sobre formas de lidar com a pandemia mundial de Covid-19. Isso quer dizer que 232.251 vidas poderiam ser poupadas da morte até agora caso não estivéssemos sob um regime genocida (morreram 290.314 pessoas no país).

Está muito difícil ler o clássico Moby Dick (1851) porque a concentração na leitura é dificultada pelas notícias ininterruptas das desgraças que se abateram sobre o Brasil após o golpe de Estado e após as eleições fraudulentas de 2018 que colocaram no poder os genocidas que governam e que apoiam o governo no parlamento (além dos canalhas apoiadores em outras instâncias da burocracia do Estado brasileiro). 

LER É PRECISO, MANTER A CULTURA É NECESSÁRIO: apesar de não ser fácil, eu me esforço para ler e vou seguir lendo. É importante para mim e para a humanidade manter a cultura e a inteligência humana vivas. Outros tempos virão. Se conseguir atravessar essa fase da história brasileira sem morrer terá sido com o esforço de aprender um pouco todos os dias, sairei dessa um pouco menos ignorante.

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MOBY DICK

"E ainda hoje não se extinguiu na mente dos baleeiros, em geral, o prestígio original do cachalote, classificado especialmente pelo terror entre todas as outras espécies de leviatãs." (p. 218)

Li menos que o desejado neste 8º dia de leitura, mas li o que foi possível. Foram cinco capítulos, sendo o último deles bem interessante. O capítulo se chamava "Moby Dick".

O narrador Ismael nos conta o que é ser marinheiro de um baleeiro e viver lidando com os maiores monstros da terra. Ele vai descrever a fama das baleias brancas, os cachalotes. Amigos leitores, estamos lendo um romance de meados do século XIX, é bem interessante a composição narrativa de Melville.

"(...) embora os outros leviatãs pudessem ser perseguidos com êxito, apontar a lança a uma aparição tal como a do cachalote não era tarefa para um homem mortal; tentar fazer isso equivalia inevitavelmente a ser despedaçado e atirado de súbito na eternidade. Sobre esse ponto podem-se consultar documentos notáveis." (p. 219)

O narrador segue descrevendo a caça às baleias brancas e falando da fama de Moby Dick, considerado por muitos como um ser imortal e sobrenatural, que podia até estar em mais de um lugar ao mesmo tempo.

Ficamos sabendo também do embate mortal entre o capitão Acab e Moby Dick, evento em que o leviatã lhe arrancou a perna.

"(...) uma vez um capitão, agarrando a faca para cortar a linha do inimigo, arremessou-se contra a baleia, como um duelista de Arkansas que avançasse procurando loucamente, com uma lâmina de seis polegadas, chegar até à profundidade da vida do cachalote. Este capitão era Acab. E foi então que, subitamente, fazendo deslizar a sua mandíbula interior em forma de foice, Moby Dick ceifou a perna de Acab, assim como um segador corta a relva num pasto." (p. 221)

E assim temos neste capítulo um resumo do que estamos fazendo no baleeiro Pequod, sob o comando do capitão Acab e tripulação, em busca de vingança, da caça do cachalote conhecido nos Mares do Sul como Moby Dick, o mais terrível leviatã daqueles tempos.

Amig@s, leiam! Leiam a ajudem a mantermos a mente humana para as gerações futuras. Caso haja interesse em ver as outras postagens sobre Moby Dick, aqui está a mais recente delas.

William


Bibliografia:

MELVILLE, Herman. Moby Dick. Tradução de Berenice Xavier. São Paulo: Publifolha, 1998.


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