domingo, 18 de abril de 2021

23. Serafim Ponte Grande - Oswald de Andrade



Refeição Cultural - Cem clássicos

"Fatigado
Das minhas viagens pela terra
De camelo e táxi
Te procuro
Caminho de casa
Nas estrelas
Costas atmosféricas do Brasil
Costas sexuais
Para vos fornicar
Como um pai bigodudo de Portugal
Nos azuis do clima
Ao solem nostrum
Entre raios, tiros e jaboticabas
"

(Serafim Ponte Grande, O. A.)


Entre minhas leituras engajadas do momento, os dois livrões que estou lendo nestes dias - Moby Dick (1851), do romancista norte-americano Herman Melville e O verdadeiro criador de tudo (2020), do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, eu descanso lendo algo leve ou revejo leituras que já fiz.

Foi em uma dessas pausas de descanso dos livros lidos como desafios novos, que li neste domingo (18/4) o 3º livro do modernista Oswald de Andrade. Na verdade, foram releituras das obras dele estudadas por mim há duas décadas, quando entrei na faculdade de Letras da USP.

E com a leitura de hoje de Serafim Ponte Grande (1933), de Oswald de Andrade, encerro a trilogia do autor. Li Memórias sentimentais de João Miramar (1924) e Pau-Brasil (1924) dias atrás. Postagens aqui e aqui, respectivamente.

Gostei mais da leitura de Serafim Ponte Grande do que da leitura de João Miramar. A linguagem de ambos os romances é inovadora, lógico, mas no Serafim o escritor está mais maduro naquilo que queria desenvolver. O prefácio de 1933 feito por Oswald de Andrade é forte, é de ruptura com uma fase do modernismo que ele e seus colegas vivenciaram. Vejam o que ele diz:

"Publico-o no seu texto integral, terminado em 1928. Necrológio da burguesia. Epitáfio do que fui." (p. 39)

Nas minhas releituras e leituras de descobertas de personagens da literatura brasileira, pretendo identificar o esforço de nossos autores mais conhecidos e clássicos em representar os tipos brasileiros, os caracteres de nossa gente na visão desses autores.

João Miramar e Serafim Ponte Grande são, na minha opinião, personagens literários que ocupam essas tentativas autorais de descrever tipos sociais de nossa gente. Sei que O. A. apresentou nesses romances toda uma concepção de linguagem, de críticas a outras formas de linguagem poética e literária anterior ao movimento ao qual ele estava engajado, o Modernismo Brasileiro.

Enfim, mais um clássico contabilizado nas minhas metas literárias.

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MEMÓRIAS E REFLEXÕES

Os livros trazem muita história, falo aqui em relação aos livros físicos, os volumes que temos em mãos quando lemos. Minhas edições de Oswald de Andrade foram adquiridas há duas décadas. Nelas, tomei contato com o autor no momento que comecei uma faculdade de Letras. Estava tendo aulas fantásticas sobre Literatura Brasileira e Modernismo.

O livro que li hoje, dia 18 de abril de 2021, tem uma marcação que me deixou pensando na vida. Lá na página 161, a página do fim do romance, anotei o dia que acabei a leitura em 2002: dia 2 de agosto. Na hora vieram diversas memórias e pensamentos sobre a minha vida nestas duas décadas.

Dia 2 de agosto de 2002 foi meu último dia atendendo clientes da agência Vila Iara - Osasco, no Banco do Brasil, foi uma sexta-feira. Após ser eleito diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região, alguns meses antes, eu começaria meu trabalho de representação dispensado do local de trabalho a partir do dia 5 de agosto, uma segunda-feira. Tudo mudou na minha vida a partir dessa data.

Aliás, as coisas mudaram tanto que neste domingo de 2021 eu não liguei o celular, não entrei em rede social alguma, não quis ler notícias. Preferi me isolar e ler. Com a leitura e sem ser pescado, fisgado, capturado pela Matrix, pude refletir sobre tanta coisa, do presente e do passado, que foi um dia de muitas memórias e reflexões sobre a vida.

Estamos no pior momento da história do Brasil. Um governo genocida, psicopata e lesa-pátria desmancha nosso país e nossas vidas. A pandemia mundial de Covid-19 contamina, sequela e mata milhares de pessoas todos os dias, aqui com o apoio do regime de morte. As pessoas não têm direitos sociais mínimos após a retirada do Partido dos Trabalhadores do poder por golpe de Estado. 

É tudo muito triste hoje em dia. Bem diferente do que iríamos viver no Brasil a partir daquele dia que li Serafim Ponte Grande, dia 2 de agosto de 2002. Lula seria eleito e o povo viveria os melhores anos de suas vidas, o Brasil viveria o melhor momento de sua história.

É isso!

William


ANDRADE, Oswald de. Serafim Ponte Grande. 8ª ed. - São Paulo: Globo, 2001.


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