Refeição Cultural - Cem clássicos
Sigo na avaliação e contagem dos clássicos da literatura mundial que já tive o privilégio de ler. Ter contato com textos referenciais e ler os grandes autores e suas obras é um desejo antigo, desde que era adolescente e trabalhador braçal. Entre os best sellers que li naquela época, acertei na escolha de algumas obras importantes...
Ainda na adolescência fiz uma daquelas listas de metas na vida e um dos itens da lista era ler ao menos cem clássicos. O tempo passou e pouca coisa pude ler nessas décadas de vida, pouca coisa se for comparar minhas leituras de proletário com as leituras dos grandes leitores, esses eruditos que são enciclopédias ambulantes.
O interessante neste trabalho de avaliar minhas experiências com os clássicos é poder aproveitar a oportunidade para revisitar a obra, o autor, o momento de surgimento do texto e suas ideias, o contexto histórico da obra e que tais. Tenho duas referências no assunto clássicos e leituras: Italo Calvino e sua obra Por que ler os clássicos (2007) e Alberto Manguel e sua fantástica obra Uma história da leitura (1997).
Olhando na estante de casa, vi lá 4 livros do intelectual modernista Oswald de Andrade. Soube a respeito dele basicamente na ocasião em que comecei a fazer faculdade de Letras na Universidade de São Paulo, em 2001. Achei muito legal estudar as vanguardas e o Modernismo Brasileiro e assistir às aulas do professor José Miguel Wisnik. Foi uma honra para o estudante aqui manter o contato com a sabedoria do Wisnik por um semestre.
Em 2002 li 3 vezes o livro, para ter uma compreensão melhor do romance. João Miramar é um típico representante da casa-grande paulistana. Foi interessante reler o clássico agora aos 52 anos de idade. Tudo muda com o passar do tempo, mas a elite paulistana continua a mesma merda!
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O romance é composto por 163 fragmentos, como se fossem cenas de um filme. O autor usa poucos verbos e as frases são construídas com sequências de substantivos e adjetivos. E tem também muito neologismo, muita invenção de palavras.
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"42. SORRENTO
Velhas velas cigarras
Brumais no mar vesuviano
Com jardins lagartixos e douradas mulheres..." (p. 57)
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"48. CHUVA DE PEDRA
Estiadas amáveis iluminavam instantes de céus sobre ruas molhadas de pipilos nos arbustos dos squares. Mas a abóbada de garoa desabava os quarteirões.
E um dia o dinheiro chegou demais dentro dum telegrama com resposta paga de minha rápida volta." (p. 60)
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"132. OBJETO DIRETO
Ao longo do longo Viaduto bandos de bondes iam para as bandas da Avenida.
O poente secava nuvens no céu mal lavado.
No Triângulo começado de luz bulhenta antes da perdida ocasião de ir para casa entramos numa casa de joias." (p. 91)
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"146. VERBO CRACKAR
Eu empobreço de repente
Tu enriqueces por minha causa
Ele azula para o sertão
Nós entramos em concordata
Vós protestais por preferência
Eles escafedem a massa
Sê pirata
Sede trouxas
Abrindo o pala
Pessoal sarado.
Oxalá que eu tivesse sabido que esse verbo era irregular." (p. 97/98)
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Mais um clássico da literatura a contar nas minhas leituras e na busca por conhecimento.
William
Bibliografia:
ANDRADE, Oswaldo de. Memórias sentimentais de João Miramar. 13ª edição - São Paulo: Globo, 2001.
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