domingo, 4 de dezembro de 2011

OTELO, O MOURO DE VEZENA

Tragédias, de Shakespeare
OTELO, O MOURO DE VENEZA - William Shakespeare
“O ciúme de Otelo”
Acordei neste domingo com a intenção de começar a enumerar os clássicos que já li. É por causa da minha lista de coisas a realizar, lista feita faz uns quinze anos.
Naquela época, listei que tinha o objetivo de ler cem clássicos da literatura mundial. Nunca parei para contar quantos já li.
Mas na verdade, o que pretendo fazer é escrever algo a respeito de cada obra. Pode ser uma impressão que tenha ficado na época da leitura, um aprendizado ou lição de vida. Também vale reler e ver qual a nova impressão captada por este novo velho leitor.
Então, acabei de reler “Otelo” de Shakespeare.

HISTÓRIA DE MINHA LEITURA – O ciúme de Otelo
Terminei a primeira leitura de Otelo em 8/2/05. O porquê daquela leitura é para mim inesquecível, pois foi um ato de leitura daqueles que considero ideal: o descobrimento das intertextualidades.
Eu estava lendo “Irmãos Karamázov” de Dostoiévisk quando cheguei a um momento da leitura que citou o “ciúme de Otelo”. Eu fiquei na hora indignado de minha ignorância por não ter lido a obra referida e não saber a intensidade do tal “ciúme de Otelo”.
Na hora, fechei o livro de Dostoiévisk e fui até minha estante pegar e ler a tragédia citada de Shakespeare. Li de uma sentada só e voltei aos Irmãos Karamázov sabendo exatamente - que diabos! - queria dizer “ciúme de Otelo”.

A RELEITURA
Lida a obra quase sete anos depois, digo que ela continua chocante e assustadora. Não é à toa que a peça segue sendo interpretada há quase cinco séculos. De certa forma, a obra também faz intertextualidade com “Medeia” de Eurípides. Pela temática da ira incontrolável gerada pelo ciúme e pela traição.
A tragédia se dá em cinco atos e conta a história do mouro Otelo e de sua bela esposa Desdêmona. A história se passa em Veneza e Chipre.
Pude perceber nela muito dos problemas sociais que enfrentamos na atualidade: preconceitos vários como raça, gênero, condição social.
A questão mais chocante e atemporal é a lembrança de como as pessoas podem ser manipuláveis por outras pessoas a ponto de cometerem barbaridades. Aliás, o ser humano tem a capacidade de orquestrar grandes trapaças e sacanagens para alcançar seus objetivos não se importando em prejudicar a tantos quanto forem necessários.

A TRAMA
“IAGO – E quem se atreverá a dizer que meu papel é o de vilão quando esse conselho dou de graça e de coração, um conselho bastante plausível, e, na verdade, o caminho para reconquistar o Mouro? Pois é muito fácil para a graciosa, obsequiosa Desdêmona empenhar-se em qualquer pedido honesto. Ela é de constituição que frutifica como os elementos da natureza. E assim, para ela obter algo do Mouro, mesmo que fosse ele renunciar ao próprio batismo, às garantias e símbolos de seus pecados redimidos, tem ele sua alma tão agrilhoada ao amor dela que ela pode fazer, desfazer, inventar o que lhe aprouver, mesmo brincando de deus os apetites dela com as enfraquecidas faculdades dele. Como, então, posso eu ser vilão ao aconselhar Cássio nesse caminho paralelo, o mais curto para o seu próprio bem? Divindades do inferno! Quando o desejo dos demônios é vestir os mais negros pecados, eles insinuam-se primeiro com vestimentas angelicais, como eu faço agora. Enquanto esse honesto otário importuna Desdêmona com seus pedidos para que ela conserte seu destino, e, enquanto ela, por ele, implora clemência ao Mouro, eu estarei vertendo esta pestilência nos ouvidos de nosso general: que ela o quer de novo nas boas graças de seu superior para apaziguar a luxúria de seu corpo. E, quanto mais ela se esforçar por ajudá-lo, ela estará perdendo crédito junto ao esposo. Assim, transformarei eu a virtude dela em piche, e, da própria bondade de Desdêmona, tecerei a malha que os enredará a todos”

O CIÚME
“IAGO – Acautele-se, meu senhor, contra o ciúme. É ele o monstro de olhos verdes que zomba da carne com que se alimenta. Vive feliz o corno que, certo de seu destino, não ama a quem o ofende. Mas, ah, que minutos desgraçados passa aquele que adora, porém duvida, suspeita, porém ama com intensidade!”

“EMÍLIA – Reze aos céus para que sejam assuntos de Estado, como a senhora pensa, e não pura fantasia, não um ciúme inventado que lhe diga respeito.
DESDÊMONA – Nesse dia, ai de mim, que nunca lhe dei motivos para ciúme!
EMÍLIA – Mas almas ciumentas não funcionam assim. Elas nunca são ciumentas porque há uma causa, mas sim porque são ciumentas. Este é um monstro gerado em si mesmo e de si mesmo nascido.
DESDÊMONA – Que os céus mantenham esse monstro longe dos pensamentos de Otelo!”

Bibliografia:
SHAKESPEARE, William. Tragédias. Editora Nova Cultural, 2003.

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