Já faz alguns meses que escrevi um texto onde refletia sobre a tristeza e o peso na consciência que senti certa vez que vi um filhote de passarinho na rua, próximo ao meu local de trabalho, em um dia frio e chuvoso, e, apesar de ficar com dó, não fiz nada além de pegá-lo e tirá-lo de uma porta de cafeteria e colocá-lo embaixo de um banco de praça.
Naquele dia eu não fiz a diferença para aquele filhote de passarinho, pois naquela condição ele teria pouca oportunidade de sobrevivência, sem alimento e um cantinho para se desenvolver melhor.
Nesta segunda-feira, tive a oportunidade de me redimir daquela vez em que tive uma atitude pusilânime e sem decisão firme do que fazer para alterar ou criar nova condição a um ser que precisa de ajuda.
A BORBOLETA NA ESTAÇÃO ERRADA
Borboleta Tigre - foto: Luciana Bueno |
Eu estava no trem do metrô, vindo da rodoviária do Tietê. Quando a porta se abriu na estação Armênia, que fica acima do solo, entrou uma bela borboleta dentro do vagão em que me encontrava.
O vagão não estava muito cheio não. Eu até estava sentado. A borboleta entrou e, antes que ela percebesse onde havia se metido, a porta se fechou.
Voou meio desorientada por alguns segundos. Passou próximo de uma senhora que estava sentada em frente a mim. A senhora quase a derrubou com uma mãozada – por sorte ela errou o alvo.
A borboleta foi para o rumo da janela ao meu lado. Ela não teria a menor chance de sobrevivência dentro daquele vagão, ou dentro do túnel, ou ainda dentro de outra estação sob a terra.
Desta vez fui mais determinado em atender meus instintos de amor à natureza e em segundos decidi ajudar aquela borboleta.
RESGATE DA BORBOLETA
Com a mão em concha, consegui pegá-la no vidro, certificando-me de não machucá-la ou danificar suas asas.
O povo dentro do vagão ficou me olhando meio esquisito. Acho que era porque aquilo era meio esquisito mesmo.
Aguardei passar algumas estações pensando em como ajudar aquela borboleta. A única solução para fazer um salvamento bem feito seria levá-la cuidadosamente até o mundo lá fora e soltá-la para seguir sua vida.
SALTANDO NA ESTAÇÃO CERTA
Decidi descer na estação São Bento e levá-la comigo até a rua.
Na hora de sair do vagão, ainda precisei pedir ajuda para por a alça de minha mochila no ombro. Pedi para aquela senhora que quase acertou a borboleta com uma mãozada. A mão dela serviu para ajudar-me a salvar aquela borboleta ao invés de dar-lhe uma bordoada fatal.
Com todo o cuidado, sai do vagão com as mãos em concha andando pelas escadas e corredores da estação São Bento, no contra-fluxo da multidão em fim de tarde, com todos me olhando meio esquisito com aquelas mãos em concha. Havia uma vida nelas.
Assim que saí da estação, achei uma área com plantas e abri as mãos. A borboleta tigre (pelo que pude pesquisar) estava intacta e sem nenhum dano aparente. Ela gastou alguns segundos em minha mão aberta e então levantou vôo e foi-se para a vida, flanando.
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