domingo, 31 de julho de 2022

Formação Econômica do Brasil - Celso Furtado (XX)

Quarta parte

Economia de transição para o trabalho assalariado (século XIX)

XX. Gestação da economia cafeeira

O impasse naquela primeira metade do século poderia ser resumido nesse excerto do capítulo:

"O problema brasileiro consistia em encontrar produtos de exportação em cuja produção entrasse como fator básico a terra. Com efeito, a terra era o único fator de produção abundante no país." (p. 117)

O açúcar brasileiro já era em relação ao preço e comércio internacional, havia muita concorrência. O algodão idem. Fumo, couros, arroz e cacau eram mercados menores. Só o café poderia salvar as exportações do país. 

O Brasil tinha dois milhões de escravos africanos ociosos ou em usos domésticos e de subsistência no período, nos conta Furtado. Na região central do país, a ociosidade da mão de obra escrava era pelo declínio da mineração.

Diferença entre produção de cana de açúcar e café: "Se bem que seu capital também esteja imobilizado - o cafezal é uma cultura permanente - suas necessidades monetárias de reposição são muito menores, pois o equipamento é mais simples e quase sempre de fabricação local." (p. 119)

A partir do terceiro quartel do século XIX o café passa a dominar a economia. O Rio de Janeiro e regiões ao redor são os principais consumidores da produção dos núcleos de população rural.

Furtado aponta diferenças entre as classes dominantes do setor de produção de açúcar e café. Os ruralistas do açúcar tinham o comando de fora, de Portugal e da Holanda. Os do café, não. Ali formaram-se as classes dirigentes que tinham interesses próprios:

"Em toda a etapa da gestação os interesses da produção e do comércio estiveram entrelaçados. A nova classe dirigente formou-se numa luta que se estende em uma frente ampla: aquisição de terras, recrutamento de mão-de-obra, organização nos portos, contatos oficiais, interferência na política financeira e econômica." (p. 120)

Furtado termina o capítulo dizendo que agora faltava às classes dirigentes do setor do café resolver a questão da mão de obra.

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COMENTÁRIO

Ver a história econômica do Brasil contada por Celso Furtado faz a gente entender de forma clara porque as coisas são como são no Brasil do agro "pop" no século XXI, no pós golpe de 2016 que nos levou para o passado, a tal "ponte para o futuro" do golpista traidor da pátria Temer e corruptos agregados.

Que canseira! Por mim, esses caras da casa-grande iriam tudo pra forca em praça pública.

William


Clique aqui para ler comentário do capítulo seguinte.


Bibliografia:

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Grandes nomes do pensamento brasileiro. 27ª ed. - São Paulo. Companhia Editora Nacional: Publifolha, 2000.


sábado, 30 de julho de 2022

Diário e reflexões (30/07/22)


Refeição Cultural

Osasco, 30 de julho de 2022. Sábado.

Enquanto ouço as mesmas músicas de sempre neste exato momento, fico pensando o que poderia registrar neste diário, quais reflexões poderia anotar aqui no blog que se compromete a compartilhar conhecimentos, opiniões e demais coisas do mundo humano.

Ao encontrar o Henrique, que vive pelas ruas aqui do bairro onde moro, perguntei a ele como estava e ele me disse que esteve mal nos últimos dias, comeu algo que não lhe caiu bem e como já tem gastrite, passou maus bocados esses dias. Ele está muito magro e conversar com ele sempre que o encontro me deixa muito mal também, me deixa arrasado e desanimado com a sociedade humana. O que eu poderia fazer por ele? O que poderia fazer por centenas de henriques? Por que nós não fazemos nada para que situações como a do Henrique não aconteçam?

Ao conversar com o Pedro, um dos entregadores de refeições aqui da região, fiquei pensando nas explicações que Jessé Souza dava dias atrás sobre a elite do atraso aqui do Brasil. Jessé abordava a escravidão moderna. Os entregadores dos aplicativos precisam trabalhar todos os dias, os dias inteiros, os meses inteiros e o tempo todo para conseguirem alguns trocados para sobreviverem. Esses trabalhadores não fazem outra coisa da vida a não ser trabalharem e não têm direito a nada. Décadas atrás, quando eu trabalhava em serviços braçais - eram os serviços mais baixos do mercado de trabalho -, pelo menos o dia acabava no final da tarde e nós íamos esgotados para a escola noturna. Eu até lia alguma coisa nas horas de folga. Hoje isso é impossível para os milhões que trabalham sem direitos e sem descanso... Por que nós não fazemos nada para que situações como a do Pedro não aconteçam?

Pelo que vale a pena viver? Pelo que vale a pena lutar? A gente está aqui escrevendo numa página de blog e de repente tem um infarto fulminante e a vida se acaba. O que fizemos de bom? E se fizemos algo bom, foi bom pra quem? O que fizemos em benefício da humanidade, da coletividade, da melhoria da espécie humana e do mundo ao qual pertencemos enquanto seres humanos?

Neste momento de minha vida é inevitável ficar me perguntando coisas assim. Estou de barriga cheia, acabei de comer um lanche. Estou no conforto de casa e lá fora tá um frio da porra, imaginem o Henrique como está... ontem fiquei aos berros reclamando de coisas cotidianas que não deram certo e olha como a minha situação é exponencialmente melhor que a de dezenas de milhões de pessoas que pertencem à mesma classe social a qual pertenci a vida toda: a classe trabalhadora. Tenho convivido com sentimentos complexos e esquisitos. Não consigo me convencer dessas lorotas da elite do atraso manipulando e idiotizando o povo com esse papo ladrão de meritocracia (quem rouba a verdade é ladrão!)... meritocracia o caralho!

Por que não fazemos nada para defender a natureza dos desgraçados que estão destruindo todos os biomas só porque entendem que podem destruir tudo e que ninguém vai impedir eles? Por que não fazemos nada?

Após décadas estudando, indo e voltando nas ideias ora pacifistas ora de olho por olho dente por dente, após décadas, não consigo acreditar em mudanças ou melhoria da vida humana e do planeta por processos de paz. A vida vai acabar em guerra, guerra total. Talvez eu devesse ter morrido muito mais cedo lutando em alguma causa que me colocasse frente a frente com os desgraçados que eu considero o lado mau da sociedade humana.

Chega por enquanto. Fiz coisas úteis coletivamente durante as duas décadas nas quais representei meus pares da classe trabalhadora. Mas isso é passado. Não estou sendo útil para quase nada neste momento da história humana.

William


sexta-feira, 29 de julho de 2022

O bolsonarismo que existe em nós


Refeição Cultural (indigesta)

Outro dia, a jornalista Dhayane Santos (TV 247) perguntava ao professor Pedro Serrano qual a explicação que ele teria para ainda hoje um terço do povo brasileiro ser apoiador e se ver representado pelo ser mais repugnante que já chegou a um cargo eletivo no Brasil. Dhayane fez referência a um artigo recente de Serrano na revista CartaCapital sobre o circuito afetivo no autoritarismo...

Serrano começa a responder assim: "Política é afeto, afeto não é emoção..." e depois diz que "afeto não é divorciado da razão, razão e afetividade atuam juntas, uma interfere na outra..." 

Na sequência da explicação, Serrano vai abordar a questão da tirania sob a ótica de Étienne de la Boétie, um filósofo do iluminismo que fez uma obra clássica abordando os motivos pelos quais as pessoas se submetiam à tirania. 

Uma das respostas de Boétie e que Serrano faz uma analogia com o Brasil e os apoiadores do tirano daqui é que as pessoas o apoiam para poderem exercer suas pequenas tiranias.

"As pessoas apoiam os tiranos para poderem ser pequenos tiranos em seu cotidiano", diz Pedro Serrano pensando sobre os bolsonaristas. Então, os homens brancos da elite, por exemplo, se sentiriam ressentidos de não poderem mais bater nas mulheres, estuprarem as mulheres, privilégios dos homens que constavam no código de direito civil de 1916...

É uma verdadeira aula que o ouvinte teve com o professor Serrano.

Ou seja, aquele sujeito representa os valores dos homens brancos das casas-grandes e dos colonizadores, essa gente que barbarizou por aqui nos últimos séculos. Os valores dessa gente que via mulheres e filhos como propriedade, escravos como animais de carga e objetos de prazer e sarro, a coisa pública como extensão de suas propriedades privadas, a igreja como sua subalterna no domínio local etc.

Isso tem muito sentido. Esse homem que representa o mal em sua forma mais básica representa também toda essa gente que não gostou de se ver contestada, freada em seus impulsos mais primitivos e repulsivos como o estupro, o assassinato, a violência, a opressão por poder oprimir. 

Talvez esse sujeito na presidência dessa terra opressora chamada Brasil, sujeito que virou uma palavra da língua portuguesa, um qualitativo pejorativo de pessoas e comportamentos, talvez ele represente um pouco do que existe dentro de cada um de nós.

José Saramago, no Ensaio sobre a cegueira, disse num momento duríssimo do romance que "Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos". Não paro de pensar nisso quando olho e vejo o que somos algumas vezes...

Mas por que então parcelas de mulheres, pretos e pobres, gays e oprimidos em geral também apoiam esse ser opressor e demoníaco? Porque todo oprimido também tem o seu espaço de opressor dentro da família, do trabalho etc. Deter a opressão significa também coibir os pequenos opressores nos cotidianos de nossa vida em sociedade.

Eu achei a explicação de uma coerência nunca imaginada por mim. Essa gente que se identifica com o criminoso no poder tem um sentimento afetivo com ele. De certa forma, elas sabem que com ele no poder e dando a linha das normas na sociedade na qual vivemos, elas têm a liberdade de seguirem fazendo as suas pequenas barbaridades diárias, nos seus espaços de opressão.

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E o bolsonarismo que existe em nós?

Após essa aula de Serrano ressoando sem parar em meu cérebro como as badaladas de um sino gigante me peguei nervoso e falando alto em casa... após um momento de decepção e de intolerância com um evento cotidiano, lá estava eu gritando em casa... Que merda! Fiquei tão arrasado, tão decepcionado comigo mesmo que não sabia onde enfiar a cabeça... 

Dessa decepção comigo mesmo, fiquei um tempão relembrando meu passado e minha vida ao longo de décadas. Aquelas palavras de Serrano ressoando na cabeça... os pequenos tiranos...

Fiquei pensando em mim e nos homens de minha família, nos homens intolerantes das gerações de meu pequeno mundo miserável em todos os sentidos, no início miserável por falta de quase tudo, depois miserável pelo que fomos ou somos nos momentos das pequenas tiranias cotidianas...

Qual diferença haveria entre mim e entre nós que nos apresentamos como pessoas contrárias ao que representa o bolsonarismo e os chamados bolsonaristas raízes, que nada mais seriam que pessoas que pertencem a esse circuito de afetos que une o que eles são e o que o sujeito no poder representa?

Como extirpar esse bolsonarismo que talvez exista dentro de cada um de nós, de alguns de nós, nascidos, criados e aculturados nessa terra com o passado bárbaro que tem?

Percebi que não tenho a resposta...

William


Formação Econômica do Brasil - Celso Furtado (XIX)

Quarta parte

Economia de transição para o trabalho assalariado (século XIX)

XIX. Declínio a longo prazo do nível de renda: primeira metade do século XIX

Neste capítulo, Furtado demonstra a situação ruim na qual o Brasil se viu com a queda dos preços internacionais das commodities da época: açúcar, algodão, couros e minerais. O que salvou um pouco a economia foi o café, que já se desenvolvia na região próxima à corte no Rio de Janeiro.

"Mesmo deixando de lado a consideração de que uma política inteligente de industrialização seria impraticável num país dirigido por uma classe de grandes senhores agrícolas escravistas, é necessário reconhecer que a primeira condição para o êxito daquela política teria sido uma firme e ampla expansão do setor exportador. A causa principal do grande atraso relativo da economia brasileira na primeira metade do século XIX foi, portanto, o estancamento de suas exportações." (p. 112)

A renda per capita caiu muito nessa primeira metade do século XIX. O que salvou o povo foi o aumento da produção do setor de subsistência.

"O que houve, muito provavelmente, foi um aumento relativo do setor de subsistência, na forma a que já nos referimos em capítulo anterior. Sendo a economia de subsistência de produtividade bem inferior à do setor exportador, o aumento de sua importância relativa, numa etapa em que o setor exportador estava estacionário, teria necessariamente que traduzir-se em redução da renda per capita do conjunto da população..." (p. 113)

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COMENTÁRIO

O contato com a produção e opinião de grandes intelectuais como Celso Furtado nos ajuda a compreender o mundo ao nosso redor.

Ontem, ao ouvir Pedro Serrano por alguns minutos num programa da TV 247 falei isso para minha esposa. Esses caras de uma inteligência e conhecimento enciclopédico nos fazem compreender o mundo, isso já é uma coisa importante, principalmente numa época na qual a ignorância é incentivada pelo regime nazifascista e negacionista que está no poder do país.

Seguimos estudando e buscando sermos menos ignorantes...

William


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Bibliografia:

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Grandes nomes do pensamento brasileiro. 27ª ed. - São Paulo. Companhia Editora Nacional: Publifolha, 2000.


terça-feira, 26 de julho de 2022

Formação Econômica do Brasil - Celso Furtado (XVIII)

Quarta parte

Economia de transição para o trabalho assalariado (século XIX)

XVIII. Confronto com o desenvolvimento dos EUA

Neste capítulo de minha estanteflix, Furtado aborda a pergunta antiga que nos fazemos: por que os EUA se deram bem e a gente se ferrou na questão do desenvolvimento entre os séculos XVIII e XIX? Uma das respostas (com o meu tom amargurado) é afirmar que foi por causa do tipo de gente que tinha lá e que tinha cá... infelizmente, só tivemos gente idiota na "elite" dessa colônia desde sempre, uma gente vira-lata.

"(...) por que se industrializaram os EUA no século XIX, emparelhando-se com as nações europeias, enquanto o Brasil evoluía no sentido de transformar-se no século XX numa vasta região subdesenvolvida?" (p. 106)

No final do capítulo anterior, vimos como era o cenário do fim do século XVIII e início do XIX em todas as américas e Caribe (ler comentário aqui). As guerras de independência das colônias inglesas, francesas e espanholas pautaram o mundo. Tivemos o arranjo da "independência" do Brasil (rsrs), quando viramos colônia da Inglaterra... A revolução industrial também estava em andamento. As guerras napoleônicas idem. O mercado mundial de açúcar e ouro estava em baixa - commodities do Brasil agro "pop" da época - e a inflação ferrava o povão por aqui, menos as casas-grandes por terem escravos na produção de tudo. Enfim. era esse o cenário.

Apesar de ser uma citação um pouco longa, vale a pena ler uma das explicações de Furtado:

"Para compreender o desenvolvimento dos EUA no período imediato à independência, é necessário ter em conta as peculiaridades dessa colônia que indicamos nos capítulos V e VI (comentários aqui e aqui). À época de sua independência, a população norte-americana era mais ou menos da magnitude da do Brasil. As diferenças sociais, entretanto, eram profundas, pois enquanto no Brasil a classe dominante era o grupo dos grandes agricultores escravistas, nos EUA uma classe de pequenos agricultores e um grupo de grandes comerciantes urbanos dominava o país. Nada é mais ilustrativo dessa diferença do que a disparidade que existe entre os dois principais intérpretes dos ideais das classes dominantes nos dois países: Alexander Hamilton e o Visconde de Cairu. Ambos são discípulos de Adam Smith, cujas ideias absorveram diretamente e na mesma época na Inglaterra. Sem embargo, enquanto Hamilton se transforma em paladino da industrialização, mal compreendida pela classe de pequenos agricultores norte-americanos, advoga e promove uma decidida ação estatal de caráter positivo - estímulos diretos às indústrias e não apenas medidas passivas de caráter protecionista - Cairu crê supersticiosamente na mão invisível e repete: deixai fazer, deixai passar, deixai vender." (pgs. 106 e 107)

Entenderam por que aqui temos um vício de origem? Idiotas, imbecis e vira-latas nos conduziram para o subdesenvolvimento desde o início da invasão europeia.

Além dos norte-americanos transformarem suas florestas em barcos através de uma grande indústria naval, a plantação de algodão passou a ser fundamental com a revolução industrial que se iniciou na Inglaterra, substituindo a lã por algodão para a confecção de tecidos.

"A primeira etapa da revolução industrial apresenta, na verdade, duas características básicas: a mecanização dos processos manufatureiros da indústria têxtil e a substituição nessa indústria da lã pelo algodão, matéria-prima esta última cuja produção se podia expandir facilmente. Se à Inglaterra coube a tarefa de introduzir os processos de mecanização, foram os EUA que se incumbiram da segunda: fornecer as quantidades imensas de algodão que permitiram, em alguns decênios, transformar a fisionomia da oferta de tecidos em todo o mundo." (p. 108)

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COMENTÁRIO FINAL

Enfim, é conhecendo a história que podemos ao menos refletir sobre o materialismo histórico e por que as coisas são como são.

É isso!

William


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Bibliografia:

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Grandes nomes do pensamento brasileiro. 27ª ed. - São Paulo. Companhia Editora Nacional: Publifolha, 2000.


segunda-feira, 25 de julho de 2022

Formação Econômica do Brasil - Celso Furtado (XVII)

Quarta parte

Economia de transição para o trabalho assalariado (século XIX)

XVII. Passivo colonial, crise financeira e instabilidade política

Ler este livro de Celso Furtado em 2022 é como ver um documentário denunciando o que o Brasil se transformou após o golpe de Estado em 2016 e a ascensão do crime organizado ao poder central após as eleições fraudulentas de 2018. A "grande agricultura de exportação" como diz Furtado (o agro "pop") e o "Centrão" assumiram o poder junto com as milícias e máfias do Rio de Janeiro, antiga Corte portuguesa.

O Brasil do bolsonarismo hoje é o que Furtado nos descreve do Brasil da primeira metade do século XIX, dos coronéis da grande agricultura...

"Por último cabe referir a eliminação do poder pessoal de Dom Pedro I, em 1831, e a consequente ascensão definitiva ao poder da classe colonial dominante formada pelos senhores da grande agricultura de exportação." (p. 99)

Furtado nos explica como esse arranjo dos senhores do agro "pop" facilitou as conversações com a potência Inglaterra para organizar de forma tranquila a "independência" do Brasil em 1822, assumindo um pagamento gigante de indenização a Portugal e virando o Brasil um pasto dos ingleses durante muito tempo, abrindo mão do desenvolvimento econômico do país.

O capítulo é muito interessante. Não vou resumi-lo aqui.

Em poucas palavras, diria assim:

Na virada do século, as commodities da colônia - açúcar e ouro - estavam em baixa no mercado internacional. Com isso, internamente, as coisas iam mal para o povão, inclusive para a parcela que dependia da indústria do gado e couro. Os filhos da puta da casa-grande se viravam porque lá se produzia de tudo, eram autossustentáveis por causa dos escravos. O governo tinha que cobrar impostos pra sobreviver, e a inflação trouxe uma miséria absurda pro povão, que passava fome. Esse caos gerou diversas revoltas de Norte a Sul do país.

(Uai, essa descrição poderia se parecer com o momento atual... não fosse a passividade do povão na miséria sem se revoltar... mas naquela época não havia tanta ferramenta de manipulação e lavagem cerebral como hoje... na época os revoltosos sequestraram e mataram os caras das casas-grandes como diz a nota 82...)

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Enfim, repito, a leitura deste livro de pouco em pouco se parece com uma série de documentário sobre a desgraceira que somos por causa desses caras da casa-grande, do agro "pop" etc.

Seguimos vendo o Brasil em capítulos, ontem e hoje, as merdas de ontem se parecem tanto com as de hoje que dá até enjoo...

William


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Bibliografia:

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Grandes nomes do pensamento brasileiro. 27ª ed. - São Paulo. Companhia Editora Nacional: Publifolha, 2000.


domingo, 24 de julho de 2022

Formação Econômica do Brasil - Celso Furtado (XVI)

Quarta parte

Economia de transição para o trabalho assalariado (século XIX)

XVI. O Maranhão e a falsa euforia da época colonial

Sobre os últimos 25 anos do século XVIII:

Celso Furtado inicia a 4ª parte de seu "esboço" explicando que havia 3 centros econômicos relevantes na colônia, um no Nordeste, outro na região Centro-Sul do país e o Maranhão:

"Os três principais centros econômicos - a faixa açucareira, a região mineira e o Maranhão - se interligavam, se bem que de maneira fluida e imprecisa, através do extenso hinterland pecuário." (p. 96)

ALGODÃO E ARROZ DO MARANHÃO

Furtado nos conta que esse período foi bom para a região porque Pombal investiu nos colonos locais, e como as guerras de independência das colônias inglesas na América do Norte interromperam o fluxo comercial de arroz e algodão no mercado internacional, o Maranhão viveu um boom de exportação desses produtos tropicais.

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DECADÊNCIA INTERNA DA COLÔNIA COMPENSADA PELA VINDA DA COROA

O final do século XVIII e início do XIX foi de depressão nos sistemas econômicos de açúcar e minerais. A vinda da coroa portuguesa foi um fator político que alterou a situação de alguma forma.

"O último quartel do século XVIII e os primeiros dois decênios do seguinte estão marcados por uma série de acontecimentos políticos que tiveram grandes repercussões nos mercados mundiais de produtos tropicais. O primeiro desses acontecimentos foi a guerra de independência dos EUA, a cujos reflexos indiretos na região maranhense já nos referimos. O segundo foi a Revolução Francesa e os subsequentes transtornos nas suas colônias produtoras de artigos tropicais. Por último vieram as guerras napoleônicas, o bloqueio e o contrabloqueio da Europa, e a desarticulação do vasto império espanhol da América." (p. 97)

HAITI

A revolução do meio milhão de escravos africanos que libertou o Haiti dos franceses foi um marco na época e acabou beneficiando a indústria do açúcar da colônia portuguesa.

Outros fatores que influenciaram os produtos tropicais brasileiros foram os processos de independências das colônias espanholas na América.

Essas benesses provisórias do mercado mundial só durariam um certo tempo e o Brasil se veria em dificuldades já nas primeiras décadas do século XIX.

"Entretanto, essa prosperidade era precária, fundando-se nas condições de anormalidade que prevaleciam no mercado mundial de produtos tropicais. Superada essa etapa, o Brasil encontraria sérias dificuldades nos primeiros decênios de vida como nação politicamente independente, para defender sua posição nos mercados dos produtos que tradicionalmente exportava."  (p. 97)

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COMENTÁRIO

Pois é, o que mudou de lá pra cá?

Após algumas tentativas de industrializar o país nos governos de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e no período recente de Lula e Dilma, o golpe de Estado em 2016 fez o país regredir aos primeiros séculos de colônia de exploração de produtos primários. Tudo igualzinho... mineração destruidora na região amazônica, assassinato dos povos originários, monoculturas devastadoras (hoje mecanizadas) em benefício de alguns filhos da puta do agro "pop" e em prejuízo de 200 milhões de pessoas brasileiras.

Que merda tudo isso!

Mas a luta segue porque enquanto há seres humanos, há história a ser feita no dia a dia. Amig@s leitores, vamos nos libertar de vez dessa porcaria de casa-grande brasileira e seguir construindo um futuro melhor para nós tod@s?

William


Leiam aqui os comentários do capítulo seguinte.


Bibliografia:

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Grandes nomes do pensamento brasileiro. 27ª ed. - São Paulo. Companhia Editora Nacional: Publifolha, 2000.


sábado, 23 de julho de 2022

Diário e reflexões (23/07/22)


Refeição Cultural

Osasco, 23 de julho de 2022. Sábado, 23 horas.


Que fiz das coisas que tenho que fazer? Se considerar o mês, cumpri alguns compromissos: levei meus pais ao Mato Grosso em visita aos nossos familiares de lá; fiz algumas coisas que tinha que fazer de carro, esforço meu porque não gosto de dirigir. Não desfiz de nada que tenho que me desfazer, essa é uma das pendências de minha vidinha besta atual. Algumas coisas empacaram minha vida...

Tinha um artigo para ser feito e também consegui confeccioná-lo. Isso foi importante. Fui convidado para contribuir com um texto para um projeto muito interessante de livros coletivos. Já havia participado de um volume, depois me comprometi e não fiz o texto para o livro seguinte e desta vez cumpri o compromisso e já está tudo certo.

Ontem, tive um dia fora da rotina da vidinha doméstica que estou levando. Infelizmente, tivemos um falecimento na família. Por vias tortas, tivemos que rever familiares para aquele momento de solidariedade e conforto na perda de uma pessoa querida. Foi bom termos ido e podermos estar ao lado de pessoas que não víamos e não contatávamos faz muito tempo. Nossa sociedade brasileira está cindida, estamos apartados de quase todo mundo por causa de uma política de governo feita para dividir as famílias e grupos de amigos e conhecidos. Foi importante o esforço do reencontro.

Ainda no dia de ontem, tive um momento raro de cultura, estive no espaço cultural Lélia Abramo, da regional Paulista do Sindicato, para ver o show "Aquelas canções", do Duo Camaleão. Foi muito bom, e ainda revi alguns amig@s do movimento sindical. A cantora Talitha é filha de uma grande companheira, Deise, e a dupla canta e toca maravilhosamente. Me senti num sarau como gostava de ir tempos atrás.

Em termos de compromissos, tenho ainda um áudio de poema para fazer para um amigo professor, Luciano, que tem um projeto muito legal de vídeos trabalhados no YouTube para incentivar jovens e pessoas a gostarem de poesia. Estou me familiarizando com o poema para tentar fazer uma boa declamação.

Tenho ainda duas viagens a fazer de carro. Uma para o interior de São Paulo. Outra para Minas Gerais. Estou vendo quando será possível fazer as duas viagens.

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O difícil mesmo é se desfazer das coisas que acumulamos na vida... isso é foda! Como avançar nessa questão? História não interessa pra mais ninguém. Coisas que não usamos são coisas inúteis pra nós, talvez inúteis pra qualquer pessoa. 

O que sei ainda e pra que serviriam meus conhecimentos de gestão em saúde em autogestões, meus saberes sobre a Cassi, minhas vivências e contribuições para a luta dos trabalhadores bancários e suas estruturas... serviu pro momento. Só. Fim. Passou. 

Quem vivia de passado eram os museus e as bibliotecas, que estão queimando por aí ou deteriorando sob a ação implacável do tempo.

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Aliás, pensando sobre o desfazer-se das coisas, hoje fiquei pensando sobre o efeito implacável do tempo sobre qualquer coisa, viva ou sem vida. Tudo, absolutamente tudo, vai sofrer a ação do tempo. Tudo muda, tudo cambia, tudo acaba. Me lembrei de uma série que vi certa vez chamada "O mundo sem ninguém" (2010). Tudo acaba, tudo!

Concreto, aço, madeira, plástico, borracha, couro, tecido, papel... estrelas, planetas, sóis... músculos, memórias, histórias, sentimentos... tudo muda, tudo acaba.

Ou seja, por que é tão difícil a gente se desfazer das coisas? Sei lá! Talvez porque somos humanos, e não somos só razão. Somos matéria, é verdade, mas somos uma coisa única em cada bilhão que se tem por aí... Somos quase que só abstrações criadas pelo cérebro de 86 bilhões de neurônios. Ainda somos únicos, ainda não somos vacas, pombas, galinhas... talvez o homo digitalis seja isso, mas ainda somos sapiens.

Enfim, chega por hoje.

Vou dormir.

William

terça-feira, 19 de julho de 2022

Diário e reflexões (19/07/22)


Refeição Cultural

Osasco, 19 de julho de 2022. Terça-feira.


"Preciso reencontrar minhas atitudes perdidas. Tenho alguns lugares pra ir. Preciso ver algumas pessoas. Tenho coisas a desfazer. Tenho uma imensidão de coisas pra conhecer, estudar, saber. Cultura pode nos salvar. Como sei que não sei nada! Quero aprender muita coisa ainda. Estou aberto ao novo, ao mundo.

Sigo buscando, procurando..." (no blog, em 11/6/22)


Fazer o que tem que ser feito...

Estive ausente do blog por algumas semanas. Ausente de redes sociais. Saí em viagem de carro para cumprir um compromisso com minha mãezinha, que queria ver seu irmão no Mato Grosso. Meu tio está com problemas de saúde e nós queríamos ir até Barra do Garças visitar a família e dar o nosso abraço e conforto a tod@s. Foi uma longa viagem, ao menos para mim que nem tenho o hábito de dirigir. Foi um momento de atitude recuperada, tive que tomar coragem e fazer o que tinha que ser feito.

"Tenho alguns lugares pra ir"... 

Viajei por mais de duas semanas, dirigi 3.100 Km por estradas boas e ruins, acertei caminhos, errei caminhos, mesmo sem querer acabei viajando à noite por estradas desconhecidas, mas chegamos em todos os lugares que queríamos chegar. Entreguei em casa todas as pessoas sob minha responsabilidade de condução. Foi importante essa viagem, refleti sobre muitas coisas da vida.

"Preciso ver algumas pessoas"...

Rever pessoas queridas que não via há anos foi algo muito bom. Durante muitos anos em minha vida, eu ia para Barra do Garças e lá ficava alguns dias. Tantos anos depois, o retorno ao Mato Grosso e à casa de meus tios foi uma oportunidade de introspecção que eu não imaginava. Reflexões sobre o envelhecimento, sobre nossas atitudes e idiossincrasias como seres humanos, sobre as distâncias forçadas e até espontâneas que impomos a nós mesmos por causa da política, enfim, a viagem foi uma experiência sobre as relações sociais neste momento político dramático que vivemos no Brasil.

Após reencontrar familiares que não via faz tempo por causa de visões políticas diferentes, fiquei com um sentimento de que devo procurar trabalhar meu Eu e visitar mais familiares que não vejo há anos. A distância não ocorreu por ter havido alguma ruptura formal entre nós, não houve, mas porque eu me afastei por avaliar que minha militância social no campo da esquerda impedia uma convivência mínima entre nós. 

Isso aconteceu no Brasil inteiro, principalmente após o regime do Mal chegar ao poder, regime que tem como política de governo dividir as pessoas e famílias, criar o medo e o ódio entre todos, apostar no que há de pior em cada um de nós. É política de governo incentivar a violência, a intolerância e a mentira como hábitos cotidianos. Essa gente que chegou ao poder nos envenenou e nos adoeceu, e temos que reverter essa situação e reconstruir a sociabilidade do povo brasileiro e o próprio país.

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Depois de tanto tempo sem escrever e registrar reflexões e experiências, está bom por hoje. "Sigo buscando, procurando..."

William