terça-feira, 26 de julho de 2022

Formação Econômica do Brasil - Celso Furtado (XVIII)

Quarta parte

Economia de transição para o trabalho assalariado (século XIX)

XVIII. Confronto com o desenvolvimento dos EUA

Neste capítulo de minha estanteflix, Furtado aborda a pergunta antiga que nos fazemos: por que os EUA se deram bem e a gente se ferrou na questão do desenvolvimento entre os séculos XVIII e XIX? Uma das respostas (com o meu tom amargurado) é afirmar que foi por causa do tipo de gente que tinha lá e que tinha cá... infelizmente, só tivemos gente idiota na "elite" dessa colônia desde sempre, uma gente vira-lata.

"(...) por que se industrializaram os EUA no século XIX, emparelhando-se com as nações europeias, enquanto o Brasil evoluía no sentido de transformar-se no século XX numa vasta região subdesenvolvida?" (p. 106)

No final do capítulo anterior, vimos como era o cenário do fim do século XVIII e início do XIX em todas as américas e Caribe (ler comentário aqui). As guerras de independência das colônias inglesas, francesas e espanholas pautaram o mundo. Tivemos o arranjo da "independência" do Brasil (rsrs), quando viramos colônia da Inglaterra... A revolução industrial também estava em andamento. As guerras napoleônicas idem. O mercado mundial de açúcar e ouro estava em baixa - commodities do Brasil agro "pop" da época - e a inflação ferrava o povão por aqui, menos as casas-grandes por terem escravos na produção de tudo. Enfim. era esse o cenário.

Apesar de ser uma citação um pouco longa, vale a pena ler uma das explicações de Furtado:

"Para compreender o desenvolvimento dos EUA no período imediato à independência, é necessário ter em conta as peculiaridades dessa colônia que indicamos nos capítulos V e VI (comentários aqui e aqui). À época de sua independência, a população norte-americana era mais ou menos da magnitude da do Brasil. As diferenças sociais, entretanto, eram profundas, pois enquanto no Brasil a classe dominante era o grupo dos grandes agricultores escravistas, nos EUA uma classe de pequenos agricultores e um grupo de grandes comerciantes urbanos dominava o país. Nada é mais ilustrativo dessa diferença do que a disparidade que existe entre os dois principais intérpretes dos ideais das classes dominantes nos dois países: Alexander Hamilton e o Visconde de Cairu. Ambos são discípulos de Adam Smith, cujas ideias absorveram diretamente e na mesma época na Inglaterra. Sem embargo, enquanto Hamilton se transforma em paladino da industrialização, mal compreendida pela classe de pequenos agricultores norte-americanos, advoga e promove uma decidida ação estatal de caráter positivo - estímulos diretos às indústrias e não apenas medidas passivas de caráter protecionista - Cairu crê supersticiosamente na mão invisível e repete: deixai fazer, deixai passar, deixai vender." (pgs. 106 e 107)

Entenderam por que aqui temos um vício de origem? Idiotas, imbecis e vira-latas nos conduziram para o subdesenvolvimento desde o início da invasão europeia.

Além dos norte-americanos transformarem suas florestas em barcos através de uma grande indústria naval, a plantação de algodão passou a ser fundamental com a revolução industrial que se iniciou na Inglaterra, substituindo a lã por algodão para a confecção de tecidos.

"A primeira etapa da revolução industrial apresenta, na verdade, duas características básicas: a mecanização dos processos manufatureiros da indústria têxtil e a substituição nessa indústria da lã pelo algodão, matéria-prima esta última cuja produção se podia expandir facilmente. Se à Inglaterra coube a tarefa de introduzir os processos de mecanização, foram os EUA que se incumbiram da segunda: fornecer as quantidades imensas de algodão que permitiram, em alguns decênios, transformar a fisionomia da oferta de tecidos em todo o mundo." (p. 108)

---

COMENTÁRIO FINAL

Enfim, é conhecendo a história que podemos ao menos refletir sobre o materialismo histórico e por que as coisas são como são.

É isso!

William


Clique aqui para ler comentário do capítulo seguinte.


Bibliografia:

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Grandes nomes do pensamento brasileiro. 27ª ed. - São Paulo. Companhia Editora Nacional: Publifolha, 2000.


Nenhum comentário: