domingo, 16 de novembro de 2025

Instantes (11h41)



Refeição Cultural


GUERRA

Enquanto concluo que o amor deve ser o foco na relação com as pessoas, instituições e o mundo natural, os Estados Unidos atuam para destruir as pessoas, as instituições e o mundo natural. 

A experiência adquirida por sobreviver nas últimas décadas vivendo no Brasil e sendo quem sou me faz perceber a realidade amarga da proximidade de uma nova longa noite de terror, na América Latina inteira. 

O imperialismo decadente do Ocidente vai barbarizar nossas vidas em todos os países das Américas para tentar manter a hegemonia global que está perdendo.

Dá pena perceber que o amor e seus corolários nas relações sociais tendem a sucumbir diante das armas letais dos EUA e seus apaniguados. E as tecnologias de manipulação de massas são quase impossíveis de se combater na atualidade histórica.

O deep state vai destruir a pouca paz que temos nos países do continente americano.

Talvez a unidade massiva das esquerdas e dos não entreguistas pudesse criar estratégias de resistência às guerras que nos serão impostas. 

No entanto, seja em vida seja estudando a história da esquerda, nunca vi unidade potente o suficiente para impedir que os inimigos donos do poder nos derrotem.

Tempos tenebrosos vêm por aqui.

William Mendes 

16/11/25

sábado, 15 de novembro de 2025

Instantes (18h00)


R. da Consolação, em frente
ao Belas Artes


Refeição Cultural

Opinião 

A maioria dos políticos não tem a menor consideração pelo povo da sua região de representação. Há exceções, mas políticos autênticos são a minoria. 

Vejam a questão do transporte público da maior cidade do país, São Paulo. O sujeito eleito prefeito em 2024, na verdade reeleito, não dá a mínima para o cidadão paulistano. 

Gastei horas para ir e voltar a um local, a Praça Roosevelt. Usei um aplicativo para ver o tempo e a hora que passaria o ônibus no Parque Continental. Não veio o ônibus.

Andei meia hora até a Avenida Corifeu, esperei mais quase meia hora para pegar o ônibus para o Anhangabaú. 

Um trânsito do inferno em pleno sábado me fez chegar ao destino duas horas depois que saí de casa.

Para voltar, o mesmo sacrifício. 

Fiquei observando no ponto de ônibus na Consolação... idosos, gente simples com cara de cansaço. Uma senhora comentou após a demora do ônibus: "- Por isso que todo mundo sai de carro...". Ela tem razão. O sistema é feito para cada um se virar como puder. 

É triste ver tanto descaso com o povo paulistano e brasileiro. É triste! Esses políticos que não respeitam as pessoas, as cidades e os mandatos eletivos deveriam ser banidos da vida pública. Que gente canalha!

Qualquer pessoa com um mandato político deveria ter a ética de fazer o possível e até o que seria quase impossível para melhorar a vida do povo e a polis.

Por isso voto no Partido dos Trabalhadores desde que tirei meu título de eleitor em 1987. Nunca me arrependi de dar meu voto à esquerda. 

A esquerda é, via de regra, o espectro político que busca melhorar a vida do povo. São Paulo foi melhor para o povo com Luiza Erundina, Marta Suplicy e Fernando Haddad. 

Pensem nisso, amig@s leitores. 

William 

15/11/25

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Livro: Garimpeiro do cotidiano - Francisco Ferreira Alexandre



Refeição Cultural


Crônicas de Francisco Alexandre

A leitura das crônicas do companheiro e amigo Francisco Alexandre foi uma atividade cultural bastante agradável. 

Conheço Alexandre há décadas, fomos funcionários do Banco do Brasil e militamos juntos no movimento sindical brasileiro. 

A leitura dos textos era como se eu estivesse vendo o Alexandre em uma de nossas reuniões políticas fazendo a defesa de suas posições sempre firmes e com bases sólidas. 

Os textos foram publicados em sua cidade natal, Bom Conselho, e alguns em Maceió. Estão dispostos em ordem cronológica e abrangem a vida política do país, de sua região e da cidade entre os anos de 1991 e 2018.

Cito como exemplo de texto excelente e reflexivo o artigo sobre "Pena de Morte", de 20/07/91. Esse tema foi um dos que mudei de opinião ao ser politizado pelo movimento sindical cutista. 

Antes, seguia o senso comum de uma parcela importante da sociedade que defendia a ideia ilusória e mentirosa de "justiça", de que se deveria adotar a partir do Estado a pena capital no país, abolida em 1855, segundo Alexandre no artigo. 

Os artigos reunidos em livro nos contam a história do Brasil e da cidade de Bom Conselho (PE). Ao ler cada texto, fui me lembrando daqueles episódios da vida brasileira, do governo Collor (1990/1992), do plebiscito sobre presidencialismo ou parlamentarimo (1993), até da greve dos caminhoneiros em 2018. 

Eu já havia lido outro livro de Alexandre, quando virei dirigente sindical bancário em 2002. Nosso amigo é um estudioso e sua obra "Fim da segurança do emprego no Banco de Brasil", descrevendo a reestruturação produtiva do governo FHC (1995/2002), foi fundamental para mim à época. Tive dados do processo de redução de 50 mil funcionários do banco para meu trabalho em defesa dos colegas.

Aliás, Alexandre foi um dos companheiros que me auxiliou durante o processo de lawfare que sofri durante um mandato de representação em nossa autogestão em saúde. As acusações mentirosas foram arquivadas por falta de provas e sou grato a todos que contribuíram para encerrar aquela tentativa de assassinato político contra mim.

Enfim, estive ontem com Alexandre em uma reunião nacional e foi prazeroso vê-lo inscrito e defendendo suas posições como fez em cada crônica do livro. 

Sigamos lendo, estudando e aprendendo, afinal de contas somos seres incompletos como nos ensina o educador Paulo Freire.

William Mendes 

12/11/25

O sentido da vida (14)



Dar o testemunho que a formação política salva vidas


Ele sobreviveu ao ódio que sentia desde a infância e adolescência. Achava o mundo injusto e as pessoas do poder más. 

Durante muitos anos de sua vida, teve momentos que desejou morrer. Depressão talvez, e não frescura ou fraqueza. 

Olhava a vida de forma egoísta, não pensava no sofrimento das pessoas de sua relação, caso viesse a faltar. 

Teve uma visão determinista da vida até uns quarenta anos de idade. Talvez fruto do ambiente cultural de onde veio: a vida é assim mesmo; foi Deus que quis assim; isso nunca vai mudar...

Então veio a formação sindical e política a partir do mundo do trabalho. A miséria, o ódio, a tristeza e a injustiça social passaram a ser vistas com olhos politizados: não eram naturais.  

A formação política salvou a sua vida. Salvou a vida de outras pessoas. Mudou a realidade. 

Eis um sentido para a vida: testemunhar o resultado da educação libertadora na vida das pessoas e no mundo, um mundo compartilhado com novas mulheres e homens, seres mais conscientes. 

A educação pode mudar as pessoas, que podem mudar o mundo. A formação política salva vidas. 

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segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Instantes (16h05)



Refeição Cultural

UBERLÂNDIA

Hoje, de noite, vou-me embora de Uberlândia. Volto para Osasco, na Grande São Paulo.

Vim à cidade visitar meus pais e família. Como o tempo é o senhor de nossas vidas, tive que priorizar o que fazer. 

Levei meu pai ao médico, não dava mais para protelar a questão de saúde dele. Nisso levei o primeiro dia de estadia na cidade. 

No segundo dia, levei minha mãe para ver a irmã dela, minha tia mora com meu primo. Visita agradável de família. No dia seguinte, almoçamos juntos num lugar legal. 

Dentre as prioridades, ver a irmã querida e o cunhado, sobrinhos e família. Beleza! Minha irmã é uma mulher negra com uma história incrível de superações.

Gostaria de ter ido visitar meu tio, irmão de minha mãe, ele esteve internado, mas já recebeu alta. Não teve como, o tempo acabou e já vou embora. 

Só fui uma vez ao Parque do Sabiá, lugar onde renovo minhas energias em meio à natureza. 

O tempo foi tão escasso, que estou avaliando se ainda corro lá para me despedir. O parque me reconecta com os sentidos da vida.

As relações humanas e os seres humanos estão num momento desafiador da existência de nossa espécie na Terra.

Como seres racionais, sociais e aptos às paixões, não posso me dar ao luxo de desistir dos seres humanos. 

Como seres históricos e inteligentes, é nossa responsabilidade educar as pessoas, salvar o planeta Terra e as formas de vida. 

Sou natureza e tenho clareza do efeito do tempo sobre mim. E dos percursos que trilhei. Meu corpo sentiu a caminhada.

Tudo faz parte da vida.

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Vamos lá no Parque do Sabiá respirar aquele ar, me misturar àquela natureza e fluir, como nos ensina o filósofo Aílton Krenak: fluir, já que a vida não é útil. 

Fluindo... (18h07)

Will i am 

10/11/25

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Livro: Leituras da crise - Diálogos sobre o PT, a democracia brasileira e o socialismo



Refeição Cultural

A leitura atenta e reflexiva das entrevistas de Juarez Guimarães aos intelectuais Marilena Chaui, Leonardo Boff, João Pedro Stedile e Wanderley Guilherme dos Santos e dos textos anexados ao livro permite aos leitores adquirir uma compreensão excelente da sociedade humana em geral e do Brasil em particular.

O livro foi lançado pela Editora Fundação Perseu Abramo em abril de 2006, ainda como instrumento de contribuição aos debates iniciados pela esquerda no calor da crise política vivida pelo primeiro governo Lula (PT), apelidada de "crise do mensalão".

Eu era dirigente sindical da categoria bancária e o livro contribuiu decisivamente para que eu continuasse exercendo minha representação e militância política. Nunca mais me esqueci dos conceitos políticos que aprendi com a leitura dessa obra e desses intelectuais de esquerda. 

Fui reler o livro agora - duas décadas depois e vivenciando o terceiro mandato do presidente Lula - e afirmo a vocês, amig@s leitores, que a atualidade das entrevistas e textos anexos é admirável, principalmente no que diz respeito à parte conceitual e ideológica abordada pelos entrevistados. 

Se tiverem oportunidade, leiam as entrevistas e textos anexos e debatam com amig@s e companheir@s de militância. 

Fiz resenhas das entrevistas em meu blog, mas é evidente que nenhum comentário ou resumo substitui o texto original de cada intelectual ouvido por Juarez Guimarães. 

Reproduzo abaixo só o começo de um texto de Marilena Chaui para vocês perceberem a profundidade conceitual da autora.

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O SURGIMENTO DA POLÍTICA 

A "invenção da política" (expressão cunhada pelo historiador Moses Finley) se dá com a instalação da ideia de poder público, por meio da invenção do direito e da lei (isto é, a instituição dos tribunais) e da criação de instituições públicas de deliberação e decisão (isto é, as assembleias). Esse surgimento só foi possível porque o poder político foi separado em três autoridades tradicionais: a do poder privado ou econômico do chefe de família, a do chefe militar e a do chefe religioso (figuras que nos impérios antigos estavam unificadas numa chefia única, a do rei ou imperador). A política nasceu, portanto, quando a esfera privada da economia, a esfera da guerra e a esfera do sagrado ou do saber foram separadas e o poder político deixou de identificar-se com o governante como pai, comandante e sacerdote, representante humano de poderes divinos transcendentes." (CHAUI, Marilena. Democratização e transparência: a tarefa do PT contra a despolitização e pela construção de uma ética pública. p. 57. In: Leituras da crise, 2006)


Viram o grau de conceitos em apenas um parágrafo, amig@s leitores?

Vocês conheciam todas essas questões abordadas pela filósofa?

É isso. Se possível, leiam o livro "Leituras da Crise" (2006). A obra é uma pedra preciosa que a Perseu Abramo nos presenteou para nossa formação política e militante. 

William Mendes

05/11/25

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Instantes (10h33)



Refeição Cultural

LEITURAS


"A exaltação diminuiu, o pranto correu manso, estancou, e uma vozinha triste confessou-me, entre longos suspiros, que o mundo ia acabar. Estremeci e pedi explicações. Ia acabar. Estava escrito nos desígnios da Providência, trazidos regularmente pelo correio. Na passagem do século um cometa brabo percorreria o céu e extinguiria a criação: homens, bichos, plantas. Riachos e açudes se converteriam em fumaça, as pedras se derreteriam. Antigamente a cólera de Deus exterminara a vida com água; determinava agora suprimi-la a fogo." (RAMOS, Graciliano. "O fim do mundo" in: Infância, 1995)


Esse texto de Graciliano Ramos é bom demais! O personagem é um garoto de poucos anos de idade.

O narrador é ele mesmo anos depois buscando na memória essas lembranças de sua infância no agreste.

Cada capítulo, ou pequeno conto, é completo em si. Um evento marcante, uma imagem, um sentimento. 

E a maestria está por conta dele, o escritor, mestre das palavras e da estética criativa.

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Sigamos lendo, e escrevendo, e salvando a humanidade. 

William 

04/11/25

domingo, 2 de novembro de 2025

O sentido da vida (13)



Compartilhar a experiência vivida

Foi à academia do condomínio fazer sua série de exercícios. Uma disciplina em favor da vida.

Enquanto treinava, refletia sobre o sentido do viver. Olhando para trás, tinha noção clara que havia chegado até aquele momento por causa das oportunidades que teve e pelos exemplos que conheceu.

Seus pais foram exemplos importantes. Gente pobre que sobreviveu ao Brasil violento do século vinte. Família com todas as características do povão brasileiro. 

Ele passou dos cinquenta anos após ter desejado morrer e odiado muita coisa nas primeiras três décadas de vida. A educação, o acesso à formação política e o convívio com pessoas queridas o fizeram chegar até aquele momento. 

Refletiu que talvez seu papel dali adiante seja algo como testemunhar que as oportunidades salvam as pessoas. 

Compartilhar sua experiência com os jovens e ser amoroso pode ser o mais importante a fazer e dar sentido ao existir ainda. 

Viver vale a pena. Ele aprendeu isso vivendo até ali.

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sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 31 de outubro de 2025. Sexta-feira.


OUTUBRO

Um mundo bárbaro! Um mundo em colapso. É o sentimento que sintetiza a realidade que vejo. E com isso não quero dizer que devemos desistir de viver, sequer de lutar para mudar o mundo. Por isso mesmo é que devemos viver e atuar para mudar a realidade, porque viver é bom e a vida vale a pena.

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"O horror, o horror!"

Rio de Janeiro - Toda pessoa humanista ou ao menos com caráter que exista no Brasil deve estar se sentindo triste e compadecida com as famílias das vítimas da chacina policial promovida pelo governador do RJ nesta semana ao realizar uma operação nos complexos da Penha e do Alemão, que resultou no assassinato de mais de uma centena de pessoas (121 vítimas até o momento). Ainda há pessoas desaparecidas.

O horror, o horror!, como disse o personagem Coronel Kurtz no livro "Coração das trevas", de Joseph Conrad.

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Memórias

Meus registros dos fatos e acontecimentos, assim como dos sentimentos sobre as coisas do mundo, vão ganhando importância para mim à medida que o tempo passa e nossas mentes vão se transformando em outra coisa, diferente das mentes que tivemos ao longo de séculos, até milênios. As big techs estão modificando de forma proposital a mente humana e estamos perdendo as qualidades animais que nos fizeram sermos seres humanos inteligentes.

O ser humano está colapsando assim como o planeta Terra está à beira de um colapso por causa dos animais humanos vivendo sob a hegemonia do modo de produção social capitalista, modo focado no lucro e na acumulação de uns poucos em prejuízo do restante das pessoas e formas de vida no ambiente terrestre.

Desde que surgiram as tecnologias de comunicação atuais, a internet e as redes sociais, a lógica de capturar a atenção dos usuários - a economia da atenção -, a utilização de aparelhos eletrônicos com algoritmos e IA que fazem com que as pessoas percam a capacidade de concentração, reflexão, memorização e criação de soluções para a vida cotidiana, há uma preocupação crescente de estudiosos em relação ao risco de o homo sapiens deixar de ser a espécie animal que criou o mundo como nós o conhecemos, para citar uma expressão do neurocientista Miguel Nicolelis, quando fala do cérebro humano, "O verdadeiro criador de tudo".

Por isso acho que as memórias são importantes, o passado coletivo é fundamental para entendermos o presente e definirmos o futuro, e fui convencido que a vida vale a pena através de um processo dialético do viver.

Cadernos dos blogs: estou num longo processo de sistematização de toda a minha produção textual de duas décadas. Dei uma cansada. Mas preciso seguir até terminar o trabalho. Sinto que só vou me sentir livre para iniciar um projeto qualquer após terminar isso.

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Curso de extensão

Terminei o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo - Colapso ambiental e alternativas", com 50 horas de duração e ministrado por professoras e professores excepcionais. O curso foi realizado pela Unesp e IDEC, e organizado através da Coordenadoria de Desenvolvimento Profissional e Práticas Pedagógicas da Unesp (CDeP3).

Tivemos entre julho e outubro 12 aulas com uma equipe de docentes marxistas com temáticas que nos fizeram refletir muito sobre a atual crise estrutural do capitalismo e alternativas para uma nova sociedade global. Relembrei minhas noções de economia e outras áreas do saber humano.

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O alimento cultural

Durante o mês, procurei me alimentar culturalmente com novos conhecimentos nas mais diversas áreas do saber.

Reli e resenhei no blog as entrevistas do livro "Leituras da crise" (2006) com Marilena Chaui (aqui), Leonardo Boff (aqui), João Pedro Stedile (aqui) e Wanderley Guilherme dos Santos (aqui). O livro foi central em minha formação política logo no início de minha jornada como dirigente sindical da categoria bancária.

Ganhei de presente do companheiro Luizinho Azevedo seu livro "Desafios do Sindicalismo no Brasil Contemporâneo" (comentário aqui). Gostei da abordagem do tema. Luizinho foi dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região nos anos oitenta e pertencemos ao mesmo grupo político, o Coletivo BB, da Articulação Sindical da CUT. Fui dirigente do Sindicato entre 2002-2014.

Conheci Isaac Asimov, finalmente. Já li quatro contos dele: "Um dia", "Amor verdadeiro", "Estranho no Paraíso" e "O melhor amigo de um garoto". Os textos compõem o livro "Os melhores contos de Isaac Asimov". Estou gostando dos contos do autor.

Estou lendo lentamente o livro "Infância" (1945), de Graciliano Ramos. Cada capítulo é uma espécie de pequeno conto que aborda um evento ou temática da vida do garoto, personagem da história. Ler Graciliano é um privilégio, o escritor é incrível!

Vi dois filmes antigos muito bons e que me deixaram reflexivo: "O Show de Truman: O Show da Vida" (1998), dirigido por Peter Weir e escrito por Andrew Niccol e "O patriota" (2000), dirigido por Roland Emmerich e escritor por Robert Rodat. 

O filme com Jim Carrey antecipou em décadas o fenômeno dos Reality Show e a forma extremada de propagandas e vendas através de uma transmissão pela televisão. As pessoas são coisas, tudo está em função do like e do lucro... incrível como a história é semelhante ao mundo fake no qual vivemos em 2025. 

O filme estrelado por Mel Gibson é interessante porque aborda uma questão histórica, o processo de independência da ex-colônia inglesa. Óbvio que a narrativa tem toda aquela presepada patriótica enfiada goela abaixo dos povos do mundo pela indústria cinematográfica de Hollywood, mas sabendo filtrar essa questão, é possível assistir às quase 3 horas de filme com olhar crítico. Foi o que fiz ao rever a película.

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Livro de memórias sindicais

Durante o período de isolamento da pandemia mundial de Covid-19 e sobrevivendo no Brasil de Jair Bolsonaro, escrevi memórias sindicais em meu blog A Categoria Bancária. Ao longo de quase dois anos fui escrevendo reminiscências dos tempos de trabalhador da categoria bancária que depois virou representante dos colegas em diversos mandatos sindicais.

Os 39 textos de memórias foram importantes para o autor porque o ajudou a atravessar aquela longa noite de terror que o povo brasileiro viveu durante os anos de governo de destruição, o governo do clã bolsonarista e seus asseclas. Cada texto é independente e completo, trata de alguma questão específica. Em essência, os textos lembram ao autor e às pessoas que leram e que venham a ler as concepções e práticas políticas de sindicatos cutistas. O trabalho de base é central nessa experiência.

Após a exposição dos textos no blog, e as postagens tiveram um acesso surpreendente, surgiu a ideia de editar as memórias em livro, e então fiz uma edição impressa para presentear pessoas que fizeram parte de minha formação política ou que estejam atuando na luta incessante da classe trabalhadora explorada pelos donos do poder, os capitalistas.

O mês de outubro foi diferente em relação ao meu cotidiano. Além das participações em eventos políticos que já realizo normalmente, encontrei algumas pessoas queridas para um café ou almoço para presentear o livro de minhas memórias.

A ansiedade de entregar a alguém um livro que você escreveu é algo que jamais pensei sentir. É estranho, confesso! Fiquei relutante desde o início se deveria fazer um livro de minhas memórias. 

Eu adquiri o hábito de fazer textos dizendo o que sinto, penso ou compartilhando algo que aprendi em meus blogs, mas parei de mandar os textos para pessoas e grupos. É uma forma de ficar na minha, e de respeitar o tempo das pessoas. Se alguém quiser saber o que escrevi é só acessar os textos na internet.

Fazer um livro é voltar ao modo antigo, de quando eu tinha a prática de me manifestar porque entendia ser necessário quando representava pessoas e grupos. Ainda me sinto pouco à vontade com relação ao livro, que por sinal ficou muito bonito e bem editado por Cleusa Slaviero e sua Editora ComPactos.

Tive um contratempo com a gráfica, que fez 20% das unidades com erro de impressão nas primeiras páginas, um transtorno indescritível e irreparável, pois posso ter presenteado alguém com uma edição com erro de impressão... foda isso! Os serviços estão muito ruins atualmente. Não culpo a editora, culpo a gráfica, que deveria ter algum controle de qualidade no que faz.

Enfim, minhas memórias estão ganhando o mundo, viajando no espaço e no tempo, sendo preservadas por aí algum tempo a mais que no mundo virtual, da internet e das nuvens.

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Meu corpo segue integrado à natureza 

Finalizo essas reflexões e registros a respeito de meu mês de outubro. 

Anoto para eu mesmo ler no futuro, ou alguma pessoa de minha relação, que minha saúde não está lá essas coisas. Sigo disciplinado nas atividades físicas, mas meu corpo cansou da jornada extenuante que percorreu. Percebo isso. Sou natureza.

William

(21h31)

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Minha história com Lula



Refeição Cultural

Parabéns pelos 80 anos, presidente Lula! O senhor é efetivamente o filho do Brasil!

27/10/25


É uma alegria ver nosso presidente Lula completar 80 anos de idade no dia de hoje, com saúde e em plena atividade política, buscando diariamente benefícios para o Brasil e o povo brasileiro e focado em agendas globais como a questão do combate à fome, a preservação ambiental e o fim das guerras.

Eu não tenho uma foto ao lado do presidente Lula, como tem a maioria das pessoas que conheço do meio político. Não tenho! Ao longo das duas décadas de mandatos de representação sindical até tive algumas oportunidades, mas não deu certo fazer a foto com Lula. 

Não tenho foto com Lula, mas Lula é uma referência em minha vida desde quando eu não sabia disso e ele é uma referência política para mim até hoje, após ser politizado pelos bancários da CUT.

Quando fiz 18 anos e tirei meu título de eleitor, votei no Partido dos Trabalhadores pela primeira vez, e ajudei a eleger Luiza Erundina prefeita de São Paulo. No ano seguinte, 1989, votei em Lula pela primeira vez para presidente da república, em primeiro e segundo turno. 

Antes dos votos em Erundina e Lula, eu havia sido trabalhador braçal desde criança. Da maioridade em diante, votei em Lula e no PT como bancário e sempre tive aquela leitura básica que trabalhador vota em trabalhador.

DE BANCÁRIO SINDICALIZADO A DIRIGENTE DO SINDICATO CUTISTA

Entre 1988 e 2002 fui um trabalhador da categoria bancária sem uma formação política mais aprofundada. Eu sabia mais ou menos o que não queria, o que era ruim para mim e meus pares da classe trabalhadora. Votar em candidatos dos patrões e dos ricos era uma certeza do que não deveria fazer.

Ao participar das eleições do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região na chapa cutista em 2002 e ser eleito representante de meus colegas na direção do maior sindicato da categoria, tive a oportunidade de conhecer a nossa história e aí passaria a entender melhor quem era Lula e quem éramos enquanto movimento político da classe trabalhadora.

Ao começar essa nova fase de minha vida de trabalhador brasileiro - ter um mandato de primeiro grau dos colegas bancários - eu já tinha mais de trinta anos, estava com 33 anos de idade. 

Se, por um lado, eu já tinha me envolvido em diversas lutas estudantis desde adolescente, ajudando a organizar movimentos reivindicatórios no ensino médio, na 1ª faculdade (FEAO-FITO), na 2ª faculdade (Náutico Mogiano), que não concluí, e na 3ª faculdade, a FFLCH-USP, por outro, nunca tinha tido formação política orgânica, de correntes políticas.

Notem que o trabalhador sindicalizado há anos ainda não tinha formação política sindical e partidária, e passaria a conhecer e entender melhor a história da luta de classes no Brasil, a categoria bancária, o Novo Sindicalismo surgido após a ditadura de 1964-85, a criação do Partido dos Trabalhadores, a Central Única dos Trabalhadores etc.

LULA, O PT E A CUT

Foram necessários, para mim, vários anos de militância e estudos por interesse próprio para que eu compreendesse melhor quem era essa figura humana extraordinária chamada Luiz Inácio Lula da Silva, o filho de Dona Lindu, retirante nordestino e garoto que se tornou metalúrgico, sindicalista e depois presidente do Brasil.

Mais que conhecer quem era Lula, desde o primeiro dia de diretor do Sindicato, principalmente depois que fui liberado do dia a dia no caixa do Banco do Brasil e passei a fazer trabalho de base e ações sindicais, eu precisava saber quem eu era, quem era o sindicalista que representava os bancários de um sindicato com uma história extraordinária como o nosso.

Eu já estava no movimento sindical há algum tempo quando li o livro "Lula, o filho do Brasil", escrito por Denise Paraná e lançado pela Fundação Perseu Abramo, em 2002. A base da biografia são entrevistas com Lula, familiares e amigos nos anos noventa e depois a autora faz uma espécie de análise sociológica na segunda parte do livro.

E qual é a minha história com Lula e as instituições de classe que ele ajudou a construir?

Desde 2002, vinha buscando conhecer a história dos bancários, as lutas no banco no qual trabalhava, a história da corrente política à qual pertencia no campo cutista - Articulação Sindical -, coisa que fui entender tempos depois de estar no dia a dia do movimento.

As entrevistas contidas no livro de Denise Paraná foram muito esclarecedoras para mim, muito. Óbvio que eu lia muita coisa, jornais antigos do movimento, cartilhas, livros, documentos, tudo que aparecia na minha frente. Mas o livro foi um documento sistematizado para entender o Lula, o PT, a CUT e a Articulação Sindical.

Minha edição é toda rabiscada! Eu lia um trecho e pensava "essa fala é para fazer formação sindical sobre comunicação" ou "caramba, preciso mostrar isso aos companheir@s para eles entenderem melhor a Articulação e a CUT" etc.

Me chamou a atenção algumas falas do Lula nas quais ele explicava o que a gente não queria ser, o que a gente sabia que não queria copiar de outras forças políticas, sindicais, partidárias etc. 

Ao pensar o Partido e a Central, e até o país que queríamos, nossas referências não seriam o que se conhecia no campo da esquerda da época: URSS, China, Cuba e outras experiências socialistas não eram nossas referências.

Lula sempre foi muito enfático ao falar em democracia, em pluralidade sindical e partidária, ao falar em livre pensamento e liberdade de expressão, em direito à oposição, em melhorar a vida da classe trabalhadora não só pensando o futuro (objetivos históricos), mas pensando o cotidiano, os objetivos imediatos da classe.

Sei lá, após ler o livro sistematizando aquelas entrevistas de Lula e seus familiares, e olhando tudo o que vinha estudando, vivendo e experimentando como sindicalista seguindo fielmente as concepções e práticas sindicais da Articulação Sindical e da CUT, compreendi bem melhor quem eu era e passei a lidar melhor com as contradições da política.

Para fechar essa reflexão e minha alegria ao parabenizar Lula por seu aniversário, diria que não tenho uma foto com o companheiro Lula talvez por ter sido disciplinado demais durante minha militância com mandatos.

Uma das vezes nas quais eu poderia ter tirado a minha foto com Lula, ele estava reunido com a direção do Sindicato no Auditório Azul e eu até queria ir àquela reunião.

Mas nós do Banco do Brasil tínhamos uma assembleia um ou dois dias depois e como havíamos ido mal na assembleia anterior, nós da corrente Articulação Sindical da CUT tínhamos que fazer uma convocação muito amarrada com os bancários para ganhar aquela assembleia.

Eu era o responsável pelo Complexo São João do Banco do Brasil, eram 22 dependências e uns dois mil bancários ali. Convocações bem-feitas na região central definiam uma assembleia na Quadra dos Bancários, ao lado da Praça da Sé.

Não deu outra, eu foquei na convocação dentro do prédio e não fui à reunião com o presidente Lula... mas tivemos uma boa assembleia e tenho certeza que esse era o meu papel principal naquele momento.

Presidente Lula, parabéns e felicidades!

William Mendes 


Instantes (16h22)



Refeição Cultural

"Tipo mofino era o velho Quinca Epifânio, ossudo, inquieto, cara de fome, sovina até nas palavras. Guardava a despensa na loja: barricas bem cobertas, defendidas contra os ratos. De manhã um moleque se chegava ao balcão, a cesta pendurada no braço. O avarento destapava os esconderijos, pesava e media longamente a ração miserável: duzentos gramas de charque, dois dedos de toicinho, um pires de feijão. Privava-se disso e despedia o portador, gaguejando." (G. RAMOS. Infância, 1995, p. 49)


A cena me lembrou a infância, mesmo tendo sido criança nos anos setenta e oitenta, quase um século depois da infância do personagem, Graciliano Ramos, na virada do século XIX para o XX.

Antes dos dez anos, vivi numa cidade grande, São Paulo, e a padaria Cinco Quinas, no Rio Pequeno, nos anos setenta, era mais moderna que a mercearia do cenário. 

Ao chegar ao bairro Marta Helena, em Uberlândia, nos anos oitenta, me vi no cenário da infância de Graciliano Ramos: no balcão do Seu Walter ou Seu Pedro, se comprava tudo a granel, pesado na hora; o moleque ia com a listinha da mãe ou da avó e voltava com as compras na cesta.

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"O tilintar de xícaras em pires e o baque suave de pratos com lanches parecem soltar mais os corações e abrir melhor os ouvidos da alma. Ou, ao menos, o fazem em simplicidade e velocidade maiores do que todos os esboços de conselhos que o proprietário da panificadora já experimentara fazer." (S. SEDREZ. Sussurros metropolitanos, 2024, p. 18)


Fechando o primeiro quarto do século XXI, estive dias atrás numa padaria semelhante à descrita por Sandro Sedrez, soltando o coração e abrindo os ouvidos da alma, ao tomar um café com um grande amigo.

A literatura tem dessas belezas: das palavras às imagens, das imagens às memórias, e daí aos sentimentos. A vida!

Sigamos lendo para nos mantermos humanos. 

William 

27/10/25

domingo, 26 de outubro de 2025

Entrevista: Marilena Chaui (2005)



Refeição Cultural

Ao reler a entrevista da filósofa e professora Marilena Chaui, texto que abre a série de entrevistas feitas para o livro Leituras da Crise - Diálogos sobre o PT, a democracia brasileira e o socialismo, de abril de 2006, percebo o quanto a entrevista é seminal e trabalha conceitos que me ajudaram a ser dirigente sindical por mais de uma década no dia a dia da categoria bancária. 

A militância de esquerda vivia naqueles dias as contradições políticas suscitadas com a apelidada "crise do mensalão" e a entrevista de Marilena Chaui foi muito importante para mim.

As postagens de resenhas ou comentários sobre livros dão um trabalhão por causa das citações que faço no texto. 

Como estou relendo a entrevista e não vou fazer longas citações, citarei a página na qual o tema abordado me chamou a atenção. 

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TEMAS FILOSÓFICOS DA POLÍTICA EXPLICADOS POR CHAUI

"O neoliberalismo é a decisão política de cortar a direção dos fundos públicos no polo dos direitos sociais ou do salário indireto, dirigindo a totalidade desses fundos ao capital (que deles precisa para continuar as mudanças tecnológicas) - os direitos sociais se convertem em serviços vendidos e comprados no mercado. É também a decisão de 'enxugar o Estado', privatizando as empresas públicas e 'desregulando' a economia, isto é, permitindo a concentração oligopólica da riqueza social e dando plena liberdade ao capital financeiro (ou ao monetarismo)." (p.37/38)


- Diferença entre a técnica e a práxis, segundo Aristóteles (p. 17)

- Ética pública, na qual a virtude central é a justiça (p. 18)

- Diferença entre a justiça do partilhável ou distributiva, referindo-se a distribuição de bens, e a justiça do participável ou participativa, referindo-se ao exercício do poder e à igualdade política (p. 18 e 19)

- A ética DA política e a ética NA política (p. 20)

- Os princípios da ética pública se encontram na qualidade das instituições republicanas e democráticas, porque os governantes são humanos e têm paixões, segundo Espinosa (p. 21)

- "Só pode haver república e democracia se o que agrada ao governante não tiver força de lei." (p. 22)

- "Ou seja, o partido formulou uma cultura política orientada pelas ideias de igualdade, justiça e participação, portanto, por virtudes políticas ou uma ética DA política." (p. 22)

- Direitos econômicos, sociais e culturais não podem ser convertidos em "serviços" (p. 23)

- Controle social do poder público através da auto-organização da sociedade (p. 23)

- Conceitos sobre liberdade de pensamento e de expressão, opinião pública etc (p. 25)

- Senado brasileiro: foi inchado pela ditadura de forma absurda e desde então nenhum presidente eleito consegue governabilidade por não ter maioria parlamentar (p. 26/27)

- "A indústria política dá ao marketing a tarefa de vender a imagem do político e reduz o cidadão à figura privada do consumidor (p. 28)

- Sobre os efeitos maléficos da burocratização do partido e dos movimentos organizados, Chaui nos dá uma aula espetacular! (p. 34/35)

- A parte sobre o neoliberalismo é tão esclarecedora conceitualmente que até vou pôr uma citação na abertura da resenha (p. 36 e seguintes)

- Chaui toca no assunto da política econômica do 1° governo Lula, o tal equilíbrio fiscal era para ser política de transição e virou permanente (p. 40)

- A filósofa explica o que é totalitarismo (p. 43 e seguintes)

- "Enquanto no absolutismo a fórmula é 'o Estado sou eu' (o 'eu' é o rei), no totalitarismo a fórmula é 'a sociedade sou eu' (o 'eu' é o Estado)." (p. 44)

- A professora explica o que é populismo e caracteriza a sociedade brasileira como uma república oligárquica (p. 49)

- Ao falar das experiências da URSS e China, o chamado "socialismo real", Chaui explica que aquilo não foi socialismo, pois não havia democracia (p. 51)

- Na parte final da entrevista a professora descreve o que é o socialismo do ponto de vista econômico, político, social e esclarece por que socialismo e democracia são inseparáveis (p. 51 a 55)

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Comentário final 

A atualidade da entrevista e os conceitos abordados pela filósofa Marilena Chaui são impressionantes!

Para fechar a releitura do livro, falta agora ler o texto que Chaui disponibilizou na edição sobre democracia e transparência. 

É isso!

É significativo ler essa entrevista no dia que rememoramos o assassinato do jornalista Vladimir Herzog há 50 anos (25/10/75).

Temos o dever de seguir na luta contra o capitalismo e por uma sociedade socialista e democrática. 

William Mendes


Bibliografia:

CHAUI, Marilena; BOFF, Leonardo; STEDILE, João Pedro; DOS SANTOS, Wanderley Guilherme. Leituras da Crise - Diálogos sobre o PT, a democracia brasileira e o socialismo. 1a edição. São Paulo, Editora Fundação Perseu Abramo, 2006.

sábado, 25 de outubro de 2025

Instantes (14h56)



Refeição Cultural

Acordei neste sábado com o corpo moído, cansado. Está claro que meu corpo não acompanha mais meu espírito. Bastou três dias seguidos de atividades políticas para cansar fisicamente. Por décadas, minha resistência não tinha fim... agora tem (risos irônicos).

Sabendo que meus sistemas cardíaco, muscular e endócrino estão sob risco, mantive minha disciplina de tentar fazer atividades físicas e saí para uma corridinha. Corri menos do que queria, mas acolhi o pedido do meu corpo. Sem ele, não seria nem estaria aqui.

HOMENAGEM A VLADIMIR HERZOG 

Se eu ouvisse somente os desejos do espírito (meu cérebro, o verdadeiro criador de tudo), teria um evento político para ir hoje, dia que nos lembra os 50 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, morto pelos trogloditas da extrema-direita que deu um golpe de Estado em 1964. Estarei na Sé presente em pensamento. Vladimir Herzog, presente!

Preciso descansar. Sou novo na idade, mas meu corpo é como um carro de aplicativo: rodou por muitos percursos e trilhas, algumas bem difíceis, e agora o motor está meio capenga.

Sigo como posso.

Will i am 

25/10/25

domingo, 19 de outubro de 2025

Livro: Desafios do Sindicalismo no Brasil Contemporâneo - Luiz Azevedo



Refeição Cultural

Encontrei o companheiro Luizinho Azevedo na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) em 19/09/25, no dia da sessão que relembrou os 40 anos da histórica greve dos bancários em 1985. Luizinho foi um dos líderes protagonistas nessa história. 

Naquele dia, recebi de presente do Luizinho o livro "Desafios do Sindicalismo no Brasil Contemporâneo - Entre Transformações e Resistências", de sua autoria. 

Estudioso das questões do mundo do trabalho e estrategista de primeira linha, Luizinho segue sendo referência para todos nós que lutamos por um mundo mais inclusivo e sustentável. 

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TRANSFORMAÇÕES NO TRABALHO 

"A teoria materialista da história enfatiza as relações sociais como o motor primário do desenvolvimento histórico e da formação das ideias. Segundo Marx, as ideias não surgem de forma isolada ou independente, mas são moldadas e influenciadas pelas condições materiais e sociais em que as pessoas vivem e trabalham." (p. 19)


No primeiro capítulo, Luizinho apresenta um panorama geral das mudanças no mundo do trabalho organizado pelo modo de produção capitalista. 

Relembrou o ludismo do início do século XIX, passou pelo fordismo no início do XX e abordou o toyotismo, que flexibilizou a produção e facilitou as etapas atuais de terceirização, uberização e pejotização.

O movimento sindical tem desafios enormes para organizar e representar os trabalhadores nesse cenário atual, que ainda conta com o avanço tecnológico das IAs, eliminando boa parte do trabalho tradicional humano. 

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A RESISTÊNCIA SINDICAL NO PERÍODO RECENTE 

"As transformações no mundo do trabalho descaracterizaram de tal forma as identidades de categoria e de classe, que grande parte dos trabalhadores não se identifica nem como classe em si, quanto mais avançar para se sentir parte de uma classe para si, fator essencial para a organização sindical e política." (p. 27)


Luizinho apresenta de forma sucinta as causas e consequências da atual situação do mundo do trabalho no Brasil. 

O golpe de Estado contra Dilma Rousseff, a prisão de Lula para darem seguimento ao golpe, as reformas de Temer e Bolsonaro, e até a dificuldade das lideranças sindicais em unificar demandas para fortalecer a classe trabalhadora são fatores analisados pelo autor no 2° capítulo do livro.

Luizinho, no entanto, não perde a esperança no planejamento estratégico para reverter o processo desagregador das classes. Temos que apostar mais na organização de fato dos trabalhadores para depois lutar pela representação de direito, até para questões de financiamento sindical (p. 24)

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HÁ MUITA FORÇA PARA SER DESPERTADA 

Neste capítulo, Luizinho apresenta os desafios atuais do movimento sindical. 

A sindicalização da classe trabalhadora é a menor dos últimos tempos: 8,4% de 100 milhões de pessoas ocupadas. 

"As Centrais Sindicais, e a CUT em particular, precisam se organizar e fazer uma discussão com as direções de cada sindicato, entidade por entidade, sobre a necessidade de romper com o passado, dele aproveitando apenas as forças acumuladas, e iniciar uma operação efetiva de adensamento sindical, buscando valorizar as negociações coletivas e viabilizar financeiramente as entidades sindicais." (p. 33)

Comentário do blog: nas questões analisadas por Luizinho, percebem-se as dificuldades atuais para a autonomia e independência dos sindicatos em relação a partidos e governos, um dos objetivos do novo sindicalismo nascido no final dos anos setenta e início dos oitenta. 

No Brasil e no mundo, na atual conjuntura, todo partido tem relação mais estreita com uma agremiação sindical. (p. 33)

O reconhecimento das Centrais Sindicais em 2008, com a participação nas contribuições sindicais à época (10%), estimulou as divisões políticas no movimento sindical. 

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TENTANDO ROMPER O CERCO NEOLIBERAL 

"Na base, a perda de credibilidade e o crescimento do individualismo dificultam o surgimento de uma nova geração de dirigentes. Ou seja, sem inovar na organização e nas ações não haverá militantes disponíveis para fazer a renovação nas direções." (p. 46)


Neste capítulo, o autor faz diagnósticos dos desafios dos movimentos sindicais e nos atualiza sobre as propostas em debate para fortalecer o sindicalismo. 

Autorregulação no sindicalismo, adensamento sindical e campanhas de sindicalização são alguns dos eixos em debate no movimento. Além, é claro, das formas de sustentação financeira da estrutura sindical. 

Luizinho fala da ideia de organizar "brigadas digitais" na questão de disputa nas redes na internet, mas a adesão até agora foi aquém do ideal por parte dos sindicatos. 

O estudioso Luizinho cita as boas experiências em comunicação que o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região vem fazendo em relação a aplicativos para celular e comunicação virtual com associados. (p. 44)

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APONTAMENTOS FINAIS

Luizinho diz ao final de suas reflexões e sugestões que fazer é mais complexo do que escrever, como ele fez.

Entretanto, o blog lembra aqui que as análises e reflexões do autor devem ser recebidas por todos nós como um esforço honesto e necessário de um grande pensador e alguém que participou de toda a história de nossas lutas desde o final dos anos setenta. 

O livro foi escrito no final de 2024, após o avanço da direita e da representação conservadora nos executivos e legislativos das cidades brasileiras, ou seja, após nossa derrota nas bases da classe trabalhadora. 

Pensar novas estratégias de organização do povo trabalhador é pensar formas de nos sairmos melhor nas eleições de 2026.

"A guerra híbrida atacou a imagem dos sindicatos. A superação deste desgaste depende de muita dedicação, presença na base, compromisso com as reivindicações tal e qual são sentidas pela base. Mas, sem mudanças substanciais nas formas de se organizar, de representar e de se comunicar não conseguirá recuperar ou construir laços de confiança com a base." (p. 55)

Luizinho sugere ousadia para organizar os trabalhadores que não estão na forma tradicional da carteira de trabalho. 

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COMENTÁRIO 

Excelente leitura! 

Luizinho é uma referência para mim e para todos nós que o conhecemos como um militante que congrega em sua vida a prática e a teoria no fazer político, nas lutas de classe. 

Sigamos na luta por um mundo melhor para o povo trabalhador. Um mundo mais sustentável ambientalmente e que supere o capitalismo. 

William Mendes 


Bibliografia:

AZEVEDO, Luiz. Desafios do Sindicalismo no Brasil Contemporâneo - Entre Transformações e Resistência. 1a edição. Florianópolis, SC: Ed. do Autor, 2024.


Instantes (15h36)



Refeição Cultural

LEITURAS


A leitura é um ato humano transformador. É uma das formas de transmissão de conhecimento e de educação. Todas as pessoas no mundo deveriam ter acesso a alfabetização e às diversas opções de meios de leitura. Tive o privilégio de ser um leitor desde muito pequeno. Porém, sei que não li quase nada ainda...

Quando garoto, lendo gibis, aprendi sobre as moscas tsé-tsé que causam a doença do sono. Há 50 anos, começava a ler e aprender...

Mais recentemente, ao ler o livro O verdadeiro criador de tudo, do neurocientista Miguel Nicolelis, compreendi melhor a vida e me livrei de vários questionamentos que fiz por décadas. 

Hoje, sei que muitas coisas são como são. Mas sei que somos sujeitos históricos e podemos mudar o mundo e criar novos mundos.

Leituras... aprendizados...

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ISAAC ASIMOV

"(...) O Sr. Daugherty diz que naqueles dias todos aprendiam a fazer os rabiscos quando eram crianças e como decifrar aquilo, também. Fazer rabiscos era chamado 'escrever' e decodificar os rabiscos 'ler'. Ele diz que havia uma espécie diferente de rabisco para cada palavra e eles costumavam escrever livros inteiros em rabiscos..." (ASIMOV, Isaac. "Um dia" in: Os melhores contos, 2018)


De minhas imensas lacunas culturais, infindáveis, Isaac Asimov era uma delas. Havia chegado a mais de meio século de existência sem ter lido um texto sequer do cientista e escritor.

Neste fim de semana li dois contos de Asimov. Ontem li "Um dia" e hoje "Amor verdadeiro". As estórias são incríveis! Gostei muito!

Seus contos nos apresentam personagens e cenários futurísticos meio impensáveis na vida cotidiana de meados do século passado. Uma máquina eletrônica que cria estórias para contar às crianças ou um computador pessoal inteligente que dialoga com o dono e busca para ele no mundo todo uma namorada ideal.

Perceberam o quanto ele antecipou o que qualquer pessoa tem hoje com essas geringonças de IA?

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GRACILIANO RAMOS

"Ninguém veio, meu pai me descobriu acocorado e sem fôlego, colado ao muro, e arrancou-me dali violentamente, reclamando um cinturão. Onde estava o cinturão? Eu não sabia, mas era difícil explicar-me: atrapalhava-me, gaguejava, embrutecido, sem atinar com o motivo da raiva. Os modos brutais, coléricos, atavam-me; os sons duros morriam, desprovidos de significação." (RAMOS, Graciliano. "Um cinturão" in: Infância, 1995)


Graciliano Ramos é um dos mestres da literatura brasileira para mim, junto com Machado de Assis e João Guimarães Rosa. 

Minha edição do livro Infância (1945) me acompanha há décadas (ela é de 1995), já se mudou comido diversas vezes, e repousa na estante atual de casa.

Li nestes dias os primeiros textos do livro, podemos dizer capítulos, mas são textos independentes, poderíamos chamá-los também de contos porque têm início, meio e fim. Cada texto é uma viagem ao passado de todos nós que fomos crianças no Brasil do século passado.

Os textos são de uma riqueza impressionante! Leio um deles e paro. Aquelas cenas ficam comigo até a próxima leitura.

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MEMÓRIAS DE TODOS NÓS

As leituras devem ser feitas, temos que seguir lendo. Enquanto lemos, aprendemos, conhecemos os mundos, criamos novos mundos.

Até meu livro de Memórias, que está aos poucos indo parar em algumas estantes do mundo, já foi lido por algum leitor ou leitora, e eu mesmo fico relendo os capítulos para me certificar, talvez, de que tenha escrito algo que valesse a pena ser compartilhado.

Cada capítulo é um pequeno conto também, com início, meio e fim, uma lembrança de fazeres sindicais dos trabalhadores da categoria bancária. 

Sigamos lendo e nos esforçando para nos mantermos humanos. A leitura é um ato humano, de humanos e para humanos.

William

19/10/25

Domingo