domingo, 7 de setembro de 2025
31° Grito dos excluídos e excluídas e mobilizações do 7 de setembro
sábado, 6 de setembro de 2025
Leitura: Artigo "Capitalismo financeiro digital, crise e desigualdade social", de Adilson Marques Gennari
Refeição Cultural
Artigo: "Capitalismo financeiro digital, crise e desigualdade social", de Adilson Marques Gennari. Revista Fim do Mundo, Marília, SP, número 8, 2023. O articulista é economista, doutor em Sociologia, Professor da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP Araraquara.
Leitura para reflexão antes de uma aula sobre o tema (em 06/09/25)
Aula VII (manhã) - Donald Trump, Misérias e Ideias para adiar o fim do mundo
Objetivo: textos de apoio para o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas", organizado e ministrado por IBEC, Unesp e demais parcerias
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Resumo do artigo que vamos ler:
A sociedade capitalista global vem experimentando transformações determinadas, de um lado pela própria crise estrutural do capital que já vem se desenvolvendo desde o final do século passado na forma de crise econômica, crise ambiental, crise nas relações sociais (do emprego) e até crise de legitimidade; e de outro lado, pelos impulsos causados por revoluções tecnológicas que avançam para sua quarta fase (grundrissização), no contexto de uma fase de desglobalização do capitalismo e mudanças significativas nas relações internacionais com a emergência da Eurásia e dos países dos BRICS, em um novo contexto multipolar e pós-pandemia. O objetivo deste paper é contribuir ao debate sobre as contradições deste processo em relação a crise estrutural e seu impacto na pobreza e desigualdade social.
sexta-feira, 5 de setembro de 2025
Instantes (13h13)
Refeição Cultural
A saída pela manhã tinha duas prioridades: meu trote de 2K em percurso com subida e adquirir o remédio para pressão arterial na Farmácia Popular, direito à saúde existente em governos de esquerda como no de Lula e quase extinto nos governos de direita como nos de Bolsonaro, Tarcísio et caterva.
Na farmácia, iria adquirir um medicamento receitado para lavar meus olhos por causa de irritações nas glândulas lacrimais. Ao ouvir o valor do remédio, fiquei estupefato... 185 reais! Francamente... lavo os olhos com sabonete neutro. Sou um privilegiado por ter o recurso para adquirir essa mercadoria, mas o preço disso é um assalto! Vai pro inferno esse capitalismo e essa porra de indústria da "saúde".
Ao voltar para casa, refletia sobre como é bom ainda caminhar e enxergar, o instante é único e não sei do amanhã (a natureza me mudou). Ao namorar as árvores floridas, me emocionei com o ipê branco que resiste fragilmente aos homens do capitalismo. Seu instante é tão único como o meu. Não sabemos do amanhã.
Não pude resistir àquela potência da natureza. Atravessei a rua, fui ao encontro do ipê. Toquei em seu tronco, agradeci sua existência, sua resistência. Falei com ele. Que ser espetacular aquele ipê branco no meio da barbárie capitalista dos animais humanos!
Me despedi do ipê. Voltei para o concreto de minha moradia. Pensei até em fazer algo único para aproveitar meus olhos, minha existência frágil e instantânea.
A natureza para quem a vê e a percebe nos dá uma humildade incrível ao nos lembrar da finitude de tudo. A florada de um ipê branco tem a duração de horas, horas de uma beleza deslumbrante. Depois são galhos secos e a normalidade do viver cotidiano.
A vida também é assim, pouco mais, pouco menos de existência. Algumas estações do ano não são quase nada para um animal humano se comparadas ao tempo de um outro elemento da natureza, que pode durar centenas ou milhares de anos.
O instante...
William
05/09/25
quarta-feira, 3 de setembro de 2025
Vendo filmes (XXXI)
Refeição Cultural
Lemon Tree (2008)
Direção: Eran Riklis e co-direção de Ira Riklis.
Com: Hiam Abbass, Ali Suliman, Danny Leshman, Rona Lipaz-Michael, Tarik Kopty, Amos Lavi, Lana Zreik e Amnon Wolf.
Produção: Israel, Alemanha e França
Sinopse:
Uma viúva palestina, Salma (Hiam Abbass), vê seus limoeiros ameaçados quando o ministro da defesa de Israel, Navon, e sua esposa, Mira Navon, se mudam para a casa ao lado do pomar de Salma. A força de segurança israelense logo declara que os limoeiros colocam em risco a segurança do ministro e informa que eles precisam ser derrubados. Salma terá a ajuda do jovem advogado palestino Ziad Daud para ir até o Tribunal Supremo de Israel com a questão.
Comentário:
Pelo que me lembro, vi este filme pouco depois de seu lançamento no Brasil. Fiquei impactado à época. Queria revê-lo já fazia um tempo.
Assistir ao filme agora, em pleno processo de genocídio do povo palestino, foi muito mais impactante que antes.
É impossível não se sentir indignado com a injustiça que significa a ação do imperialismo norte-americano e do governo de Israel em relação ao povo palestino espremido na Faixa de Gaza e Cisjordânia após 1948.
Se já não bastasse todo o processo de ocupação da Palestina por israelenses após o término da 2a Guerra Mundial, expulsando o povo árabe que vivia ali há séculos numa divisão pra lá de controversa, e todos os avanços ilegais da ocupação até hoje, agora o mundo assiste à catástrofe humanitária de eliminação dos palestinos de sua terra.
O filme se passa na fronteira entre áreas ocupadas por judeus em Israel e a Cisjordânia dos palestinos, em meados da primeira década deste século.
Os espectadores verão a tensão cotidiana na convivência entre judeus e palestinos. Há violências simbólicas nos abusos cometidos contra o povo palestino. E contra as mulheres do mundo...
Salma não aceita pacificamente a decisão monocrática do Estado de Israel de eliminar seu pomar de limões.
No enredo, vamos perceber a questão da violência contra as mulheres, comum aos dois povos: árabes e judeus.
Salma e Mira, em lados opostos, terão mais coisas em comum do que se poderia imaginar.
Enfim, o filme é muito bom! Muito atual! E incomoda a gente, incomoda porque põe o dedo na ferida da causa palestina e das causas das mulheres.
Valeu muito rever Lemon Tree, que nos cativa do início ao fim, inclusive pelas cenas amenas que vemos como os momentos regados a limonadas.
William
Post Scriptum: para ler comentário anterior sobre filmes é só clicar aqui.
terça-feira, 2 de setembro de 2025
Instantes (19h24)
Refeição Cultural
AMARGO
Acordei com a notícia do falecimento do jornalista Mino Carta, aos 91 anos de idade. Fiquei triste, amargo.
Nesses dias, faleceram Luis Fernando Verissimo e Jaguar. Três grandes jornalistas, escritores, pintores e cartunistas brasileiros.
Essas perdas me fizeram pensar na morte como uma realidade inevitável a todos nós. Num momento, estamos aqui, noutro, não existimos mais.
Após a notícia triste, não havia outra coisa a fazer que não fosse fazer a minha parte para alongar a minha permanência na Terra. Fazer uma atividade aeróbica para retardar a bomba-relógio de minha genética.
(Fazer, fazer, fazer... a aliteração pode ser uma estilística, mas não uma solução...)
Durante a caminhada acelerada, pensei tanta coisa, mas tanta coisa, que nem poderia registrar! Deve ter sido a boa oxigenação no cérebro...
Aí, pensando a respeito da morte, tenho que engolir o fato repugnante de que aquele verme genocida está sendo julgado hoje por outro de seus crimes, por tentativa de golpe de Estado, e não pelo genocídio planejado de centenas de milhares de brasileiros... é muito injusto isso!
Bolsonaro não tem nenhum processo pela morte planejada de centenas de milhares de pessoas ao longo de sua gestão como presidente do Brasil durante a pandemia de Covid-19. O cara nem é mais lembrado por isso, pelos 700 mil mortos sob sua regência...
Amargo... estou amargo.
Todos os corruptos se dão bem no mundo! Todos, com raras exceções. Um tá cumprindo pena num apto de 600 m2. A canalha responsável pelo suicídio do reitor de Santa Catarina está aposentada com proventos integrais de 50 mil dinheiros...
Só pobre, pretos, miseráveis que se fodem nessa sociedade humana de merda!
Tô amargo pra caralho!
Aí quando vejo a notícia da morte do Mino Carta, fiquei pensando no livro dele na estante de casa que queria porque queria ter lido com o autor ainda vivo...
É aquela culpa que carrego como um pecado original por não ter lido um monte de livros e autores que gostaria de ter lido e não li... porra, quando foi pra ser leitor de dezenas de livros, optei por aceitar a missão de ser sindicalista... caralho! Não podia fazer de conta que era sindicalista, tinha que ser de verdade, aí o curso de Letras foi pro saco, pro inferno.
Fazer, fazer, fazer... fiz o que tinha que ser feito. Mas hoje não sou porra nenhuma! Não sou professor, não tenho profissão nenhuma. E como não sou mais sindicalista, não sou nada!
Estou amargo hoje. É muita gente que admiro morrendo, gente que ensinou, educou, politizou, transmitiu valores que estão se perdendo. Fico triste de ver partir intelectuais que dedicaram a vida a evoluir a espécie humana e a sociedade.
Mino Carta, Verissimo, Jaguar, sempre presentes! Obrigado por tudo! Vocês melhoraram o mundo!
William
02/09/25
domingo, 31 de agosto de 2025
Diário e reflexões
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Uma vida precisa de bases, raízes. Eu tenho minha base sólida. |
Refeição Cultural
Osasco, 31 de agosto de 2025. Domingo.
AGOSTO
Lá vou eu registrar sentimentos e acontecimentos relativos ao percurso existencial deste cidadão brasileiro durante o mês de agosto.
Enquanto escrevo, tenho a companhia da banda Nirvana, tocando o Acústico MTV - Unplugged in New York. Álbum espetacular!
SAÚDE
O mês começou com o procedimento médico de retirada de uma lesão na língua, lesão descoberta por observação minha mesmo.
Foram dois meses de consultas e investigações até se chegar ao diagnóstico e retirada da leucoplasia.
Amig@s leitores, cirurgia na língua é foda! Foi uma semana sem conseguir mastigar e comer alimentos sólidos. Fiquem atentos a manchas brancas na região da boca. Vou ter que acompanhar o caso pelo resto da vida, pois pode voltar.
Sigo sendo um homem de sorte. Já retirei um câncer de pele da cabeça e uma lesão potencialmente perigosa da língua. Com isso, tiro uns pedacinhos do corpo e preservo o corpo todo.
Colesterol e glicose
Somos natureza, animais mamíferos. Somos nossa genética somada ao percurso do viver. A minha genética veio programada com uma bomba-relógio: doenças crônicas que evoluem para infarto, AVC e doenças agravadas por colesterol e glicose alterados.
Sempre pratiquei atividades físicas, principalmente aeróbicas. Aí meu sistema locomotor bichou, o quadril deu problema. E com a redução da corrida, o colesterol vem aumentando insistentemente desde 2018. Dureza! Não gosto de outros esportes aeróbicos. Amo correr!
Decidi insistir nos trotes, vou correr em subidas para ter impacto menor e concentrar muito na pisada. E vou caminhar com ritmo bom e batimento cardíaco maior por pelo menos 40'. Vou planilhar as atividades aeróbicas por seis meses e fazer novo exame de sangue. Vamos ver se estabilizo os níveis de colesterol e glicose.
CULTURA
Terminei a leitura do boneco de meu livro de memórias. Boneco é uma edição para avaliar o conteúdo antes dos acertos finais. Gostei do trabalho feito pela equipe de Cleusa Slaviero, da Editora ComPactos. Agora é fazer algumas unidades e lançar ao mundo um pouco das histórias dos bancários que vivemos juntos nos anos dois mil.
Sigo firme no trabalho cansativo de sistematização de meus textos nos blogs de cultura e sindical, são cerca de seis mil postagens. Um dia eu termino. Estou relendo, diagramando e encadernando. Já tenho vários cadernos prontos. Posso dizer a vocês que tem muito texto que teria valor histórico se os tempos fossem outros.
Como a vida é um instante, tenho avaliado que preciso começar a ler com disciplina livros, livros de literatura, de áreas que gosto, livros clássicos. Não sei até quando vai minha sorte e não poderia passar um dia sem ler meus livros, alguns adquiridos e aguardando minha leitura há décadas, décadas!
Conjugado a uma rotina de leitura diária, enquanto estamos por aqui, posso escrever em minhas páginas para compartilhar gratuitamente o que eu aprendi ou refleti sobre as leituras que tive a oportunidade de fazer. Esse é o objetivo dos blogs desde que os criei.
POLÍTICA
Durante décadas como dirigente nacional da classe trabalhadora, tive o privilégio de aprender política. A consciência política que adquiri me permite ter uma leitura atenta da realidade brasileira e mundial, e dos seres humanos. A situação do mundo está muito séria. Diria que vivemos um momento decisivo para a humanidade e para o planeta Terra.
Se tivesse sido aproveitado no movimento social de onde vim, teria que ler e compreender e repassar toda a leitura que tenho da realidade aos meus companheir@s. Não tendo mais utilidade para o movimento, tenho que me policiar para não "perder" tempo com a política, preterindo meu objetivo de me dedicar à cultura e autoconhecimento.
Se me deixo levar pelo cacoete de décadas de lutas políticas, me pego querendo me meter em temas que não vão me levar a lugar algum, a não ser saber um pouco mais do que já sei alguma coisa de política e sentir mais impotência por não poder mudar a realidade, pois nem na política estou.
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Enfim, tenho que fazer algumas coisas pessoais para continuar por aqui e tenho que ter disciplina e amor-próprio para fazer algo pelo conhecimento, tanto para mim, quanto para as pessoas que lerem as coisas que escrevo.
Seguimos vivendo. Viver é uma oportunidade diária.
Will i am
sábado, 30 de agosto de 2025
O sentido da vida (8)
"Sentia-me três vezes desgraçado: meu pelo era mosqueado, haviam-me castrado e os homens imaginavam que eu não pertencia a Deus nem a mim mesmo, como é próprio de todo ser vivente, e sim, a um cavalariço." (Kolstomer - História de um cavalo, Tolstói, 1886)
As relações sociais dão sentidos ao viver
Qual seria o sentido da vida, se não há nada dessas abstrações inventivas do animal humano, aquele que dominou a natureza, inventou a linguagem e ao final se perdeu acreditando em suas próprias abstrações?
Passou o dia envolvido com um texto extraordinário do século XIX, criado por um dos maiores escritores da Rússia, Leão Tolstói. No enredo, o narrador nos conta a história de Kolstomer, um cavalo que sofreu preconceito, violência e abandono, algo comum na vida de milhões de pessoas neste mundo cruel.
A leitura definitivamente é uma das invenções humanas que podem contribuir para dar significados à vida das pessoas. Ler literatura, ciências e história permite aos leitores se libertarem da triste sina da ignorância, o principal motivo para milhões de animais humanos serem escravos manipulados por espertalhões.
Naquele dia, refletiu sobre muitas coisas, todas elas ligadas ao sentido da vida: ao parabenizar seu pai pelo aniversário de 83 anos, agradeceu a ele por tudo que fez para todas as pessoas que ele ajudou a se estabelecerem neste mundo cruel e injusto.
Ainda estava pensativo sobre o sentido da vida do personagem Kolstomer... mas o sentido da vida de seu pai, e de sua mãe, e de sua própria vida era mais compreensível àquela altura da existência.
É notório o sentido de complementaridade e de interdependência que existe na vida da espécie humana na natureza. A vida de seu pai contribuiu para a existência de muitas pessoas da família, assim como sua própria vida naquele momento.
O ser humano é um ser social por natureza. As relações nos dão sentido.
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sexta-feira, 29 de agosto de 2025
Instantes (11h20)
Refeição Cultural
Acordei pensando em retomar a leitura do excelente livro de Aline Miglioli, jovem intelectual que se debruçou no estudo da questão da moradia em Cuba.
É muito gratificante ler um texto que te esclarece diversas dúvidas em relação a um tema de interesse. Admiro Cuba e o povo cubano e a professora Aline me esclareceu muita coisa em algumas dezenas de páginas.
O olhar de economista dela ampliou minha compreensão sobre a história e a situação de Cuba. Como é bom aprender com pessoas dispostas a compartilhar seus conhecimentos conosco!
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Agora vamos para a rua praticar atividade física aeróbica, pois viver é uma oportunidade de aprender e seguir melhorando como um ser humano que sabe o quanto é incompleto.
A conversa com nossa médica de família ontem foi excelente e devo ter disciplina nas atividades físicas para tentar alongar minha permanência no mundo e com pessoas de minha relação.
Will i am
29/08/25
quinta-feira, 28 de agosto de 2025
Livro: Memórias de um trabalhador politizado pelos bancários da CUT - William Mendes
Refeição Cultural
Ler minhas Memórias em formato de livro foi uma experiência bem diferente da leitura dos capítulos no blog.
O trabalho de equipe da Editora ComPactos tornou a experiência bastante agradável, na minha opinião.
Escrevi as Memórias entre o final do ano de 2021, auge da pandemia, e agosto de 2023. A base principal de consultas para a confecção dessas Memórias foi os milhares de textos de meu blog sindical: A Categoria Bancária - InFormação e História.
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A importância da História
Por muito tempo fiquei me perguntando como foi possível as lideranças da República Socialista de Cuba resistirem a décadas de bloqueio e tentativas de mudança de regime por parte do vizinho, os Estados Unidos.
A compreensão veio após passar a estudar um pouco a respeito da história de Cuba e da Revolução Cubana para visitar o país. Tive a oportunidade de ir a Cuba duas vezes e a experiência me ajudou a formular uma explicação para tamanha resistência: Educação e História.
A educação do povo cubano baseada nos ensinamentos de José Martí há mais de um século e a importância que o governo revolucionário cubano dedica à história são fundamentais para a manutenção do espírito altivo e patriótico das pessoas, geração após geração de cubanos desde 1959. A professora Maria Leite, especialista em Cuba, nos fala de cubanidad e cubanía para expressar esse sentimento que o povo tem de amor à sua pátria.
Sem Educação e sem História um povo não consegue resistir à ideologia do capitalismo e suas ferramentas cada vez mais avassaladoras na captura de corações e mentes.
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O nascimento da edição impressa das Memórias
Ao aceitar a sugestão de transformar em livro as dezenas de capítulos de memórias que fiz em meu blog sindical durante a pandemia mundial de Covid-19, sugestão da editora Cleusa Slaviero, os textos foram ganhando outra leitura e a sistematização no formato de livro me permitiu ler e reler e reler e fazer textos acessórios para apresentar as minhas Memórias.
Enfim, diria hoje que organizar uma edição de livro é uma oportunidade interessante de manusear e refletir sobre os próprios textos que o autor fez sem aquela intensão inicial de editar um livro.
Um dos motivos para realmente decidir reunir os textos em uma edição impressa é a questão muito atual da guarda de produção cultural da humanidade em "nuvens", em formas digitais e virtuais majoritariamente guardadas nos servidos de poucas big techs que dominaram o planeta Terra em sua área.
Há tempos venho alertando leitoras e leitores de meus blogs para que não depositem toda a sua produção cultural nessas tais "nuvens" dos inimigos da humanidade, as corporações capitalistas que fizeram da internet e da tecnologia da comunicação uma máquina de manipulação da humanidade.
Imprimir e presentear alguns conhecidos é uma forma de deixar em algumas estantes e locais dispersos do mundo um pouco da história de um militante de uma categoria de trabalhadores que faz parte da luta de classes entre os capitalistas e nós o povo explorado por eles, no Brasil e nos demais pontos geográficos do mundo.
Ao reler pela enésima vez os 39 capítulos e o pequeno livro anexo com a história dos bancários nos primeiros anos do governo do Partido dos Trabalhadores, e com o olhar de estudioso que tenho (não posso negar isso), concluo que ali contém informações relevantes no que diz respeito a um recorte do tempo de nossa categoria bancária, do segmento dos funcionários do Banco do Brasil, da corrente política majoritária no campo cutista e do próprio Brasil durante a fantástica experiência vivida pelo povo brasileiro através dos governos do PT, de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
O trabalho de confecção dessas Memórias, dessas histórias, foi grande. A releitura foi trabalhosa. Mas entendo que foi necessário editar o livro. Os textos não têm só informações históricas, têm momentos de emoção, de alegrias e de tristezas, afinal de contas o autor é um militante, é um ser humano como todos os demais.
Por fim, afirmo a vocês que os textos são sinceros, é o que posso garantir aos leitores que já os leram no blog e aos que por acaso venham a lê-los editados na forma de livro nessas minhas Memórias.
O nome comprido do livro é o que tinha que ser, pois o autor realmente é hoje o resultado real de seu mundo do trabalho, um trabalhador que passou a ser outra pessoa depois do convívio com os bancários da maior central sindical do país, a nossa querida Central Única dos Trabalhadores e Trabalhadoras.
Agora que reli o boneco final do livro, é imprimir algumas unidades e lançá-las ao mundo.
William Mendes
Dia dos Bancários
Aniversário da CUT
28/08/25
terça-feira, 26 de agosto de 2025
Instantes (10h24)
Refeição Cultural
Acordei pensando nas reflexões do personagem Winston, do clássico livro de George Orwell, "1984". Ele refletia sobre o esforço necessário para não se deixar apagar a verdade verdadeira e como resistir à "verdade" de mentira que o regime implantava diariamente, reescrevendo o passado.
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"Quem controla o passado, controla o futuro;
quem controla o presente, controla o passado."
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Aí pensei no presente do meu tempo. O passado está sendo apagado. O presente está sendo registrado em "nuvens" (dos inimigos) e, com isso, no futuro, não teremos mais nem o passado (o presente), nem perspectivas de futuro.
Eu fico com dó da gente, dos seres humanos... temos histórias tão bonitas pra contar... a dos bancários, por exemplo, são muitas histórias bonitas da categoria que enfrenta nada mais nada menos do que os donos do capital.
E no meio das lutas de classes diárias, tem as lutas diárias pessoais, dos trabalhadores. Meus blogs e meus registros são isso, memórias de nosso passado coletivo, registros de nossos acertos e erros, sentimentos e ações.
Onde fui ler que meu pai infartou em fevereiro de 2012, e que o dirigente sindical escreveu um poema na UTI do hospital, decepcionado com as privatizações dos aeroportos brasileiros naquele momento? No meu blog...
Winston reflete sobre a verdade verdadeira e se desespera ao saber que ao morrer, morrerá com ele a verdade, e ficará registrada só a "verdade" mentirosa, reescrita pelo regime.
Preciso terminar de vez a revisão de meu livro de memórias e imprimir algumas unidades para presentear pessoas conhecidas. Recebi o boneco da edição e relendo os textos me surpreendi com o conteúdo. Não está ruim. São nossas histórias ali, não são só minhas.
Nosso sindicato e nossas entidades de classe têm histórias bonitas para serem contadas, e devem ser preservadas por nós que as vivemos. Um futuro que não tenha referência no passado coletivo que construímos é um futuro distópico.
Tenho que seguir resgatando o nosso passado, é minha obrigação como ser social, minha e de todos nós da classe trabalhadora explorada e subjugada pelos donos do capital, e dos meios de produção, incluídas as "nuvens" que guardam nosso presente e nosso passado.
William Mendes
Post Scriptum: aqui pode ser lido artigo que fiz em fevereiro de 2012 sobre o tema "1984", de George Orwell.
domingo, 24 de agosto de 2025
O sentido da vida (7)
Buscar e compartilhar o conhecimento
Acordou no domingo bem cedo. O silêncio era tão prazeroso que se negou a bater frutas no liquidificador. Cortou as frutas no prato e comeu em silêncio.
Qual o sentido da vida? Da vida humana? Da sua vida? Em termos práticos, ou de forma utilitarista, naquela altura da vida, viver era dar suporte e conviver com pessoas de sua relação familiar.
Que mais? Pensando a respeito disso, o que mais lhe vinha à mente era o amor pelo conhecimento, o desejo de ter sido um intelectual e professor como homens e mulheres admiráveis por dedicarem suas vidas à cultura.
Pelos motivos do próprio viver, as veredas que foram se abrindo em seu percurso definiram trilhas que o afastaram da realização de se tornar um professor. Não rolou.
Talvez seja por isso que tenham surgido suas páginas de textos na internet, o desejo de compartilhar alguma coisa que tenha aprendido e não possa passar adiante em uma sala de aula.
Enquanto pensava nisso, lágrimas rolavam por seu rosto. A vida acabou sendo do jeito que foi possível.
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sábado, 23 de agosto de 2025
Leitura: Capítulo 1 do livro O que é questão agrária? - Frederico Daia Firmiano
Refeição Cultural
Artigo: leitura do capítulo 1 "Introdução: colocando o problema" do livro O que é questão agrária?, de Frederico Daia Firmiano. Marília: Lutas Anticapital, 2022
Leitura para reflexão antes de uma aula sobre o tema (em 23/08/25)
Aula VI (tarde) - Agronegócio, mineração e produção destrutiva
Objetivo: textos de apoio para o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas", organizado e ministrado por IBEC, Unesp e demais parcerias
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"Mas se virmos esse processo como uma tendência – e não como uma lei – provocada por um conjunto complexo de atividades humanas, então teremos muito o que fazer. Trata-se de uma certa postura teórico-metodológica (e ao mesmo tempo política) diante da história." (p. 18)
"Por isso, falar em questão agrária implica em buscar, no tempo e na história, quais são as determinações de sua existência e para a sua superação." (p. 19)
"a ditadura civil-militar (1964-1985), quando veremos nascer as condições para o surgimento do padrão de desenvolvimento dos agronegócios no Brasil (FIRMIANO, 2016). Sua consolidação, no pós-ditadura civil-militar, delineará a questão agrária atual no Brasil." (p. 21)
"Dito de outro modo, sem termos nitidez sobre o que é a nossa questão agrária, não é possível falar em reforma agrária, sob o risco de cairmos naquele grupo, que mencionávamos anteriormente, que advoga sua necessidade história mais por razões morais que por força da realidade objetiva e da consciência da classe trabalhadora." (p. 22)
sexta-feira, 22 de agosto de 2025
Leitura: Capítulo 6 do livro Casa à venda: Turismo, mercado de imóveis e transformação sócio-espacial em Havana - Aline Marcondes Miglioli
Refeição Cultural
Artigo: Capítulo 6 do livro Casa à venda: Turismo, mercado de imóveis e transformação sócio-espacial em Havana - Aline Marcondes Miglioli
Leitura para reflexão antes de uma aula sobre o tema (em 23/08/25)
Aula V (manhã) - Cidade neoliberal, reforma urbana e a questão ambiental
Objetivo: textos de apoio para o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas", organizado e ministrado por IBEC, Unesp e demais parcerias
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"A teoria da renda da terra (TRT), tal como foi desenvolvida por Marx em O Capital (2017), pretendia interpretar o papel da renda da terra no modo de produção capitalista, portanto, levava em conta a existência da Lei do Valor e das classes sociais capitalistas: os capitalistas, os trabalhadores e os proprietários fundiários. Nesse modo de produção, os primeiros são proprietários dos meios de produção; os segundos, da força de trabalho; e os proprietários fundiários detêm a propriedade da terra, e por isso podem cobrar dos capitalistas e trabalhadores um preço sobre ela."
"Marx responde essa pergunta através da renda fundiária absoluta, a qual corresponde ao rendimento cobrado pelo proprietário fundiário para que ele coloque seu lote à disposição da produção capitalista. A cobrança da renda absoluta garante que em nenhuma situação o preço da terra seja igual a zero, pois existirá sempre um preço que corresponderá ao preço de integrar a terra à produção capitalista."
"O proprietário fundiário pode cobrar do capitalista parte desse lucro extraordinário através da renda da terra. Nesse caso, a renda não guarda relação alguma com a fertilidade da terra, e resulta tão somente do preço de monopólio daquele vinho (Marx, 2017)."
"A renda da terra ocupa, assim, uma posição contraditória no capitalismo, pois ao mesmo tempo que a propriedade privada da terra é necessária ao capitalismo, ela representa barreiras ao capital em sua esfera produtiva (Harvey, 2001)."
"pois diferentemente dos bens agrícolas, os bens urbanos são consumidos no mesmo local em que são produzidos, e sendo construções, tratam-se de bens de consumo de longa duração. Ademais, enquanto na terra agrícola a renda é extraída no momento de realização da produção, nas cidades a renda da terra aparece em dois momentos: quando a produção urbana se realiza, por exemplo, na venda de um imóvel; e quando comercializa-se valores de uso do solo — o residencial, comercial e industrial (Jaramillo, 2003) —, transformando as possibilidades e formas de obtenção de lucro-excedente em cada espaço."
"De acordo com Marx, o comércio não produz valor, pois não gera-se mais-valia. O que torna-se o lucro comercial nesse caso é a captura, por parte dos capitalistas comerciais, de parte da mais-valia produzida nos setores produtivos. Ainda assim, apesar do comércio não gerar mais-valor, na medida em que contribuem para a abreviação do tempo de circulação das mercadorias, ele pode contribuir para aumentar o mais-valor gerado pelo capital industrial, o que lhes garante o direito a uma parcela do mais-valor gerado pelo capital industrial (Marx, 2017)."
"Por fim, destacamos que três aspectos da concepção de renda da terra de Marx serão fundamentais para o debate sobre o mercado de imóveis cubano: a necessidade de existir propriedade privada dos meios de produção para garantir o direito de apropriação da renda da terra por uma classe social; a conceitualização da renda da terra enquanto uma parte do sobrelucro gerado em uma atividade produtiva; e a existência da renda da terra no meio urbano em duas formas, pelos diferenciais de “construibilidade” e pelo valor de uso do espaço."
- "Sendo assim, investigar a existência da renda da terra em Cuba significa responder a um conjunto de perguntas: existe um sobrelucro sendo apropriado enquanto renda da terra? De que forma ele é apropriado? Quem o recebe? Qual o seu uso econômico, ou seja, qual seu papel na organização da produção na transição socialista? Qual a consequência da apropriação de sobrelucro sob a forma de renda da terra? Nesta seção buscaremos responder essas perguntas nos baseando na dinâmica do mercado de imóveis havaneiro exposta no Capítulo 5."
"Nesse período, ainda que indesejavelmente, segue vigente a produção de mais-valor, mesmo nos casos em que ela se realiza de forma coletiva através da estatização dos meios de produção. Logo, cabe ao Estado apropriar-se desse mais-valor e distribuí-lo 'a cada qual segundo seu aporte'."
"Vimos também que é teoricamente possível admitir a propriedade privada dos meios de produção durante a transição socialista, desde que a produção seja centralmente planejada e socialmente distribuída. Em Cuba, a propriedade dos meios de produção esteve historicamente concentrada no Estado, no entanto, nas últimas três décadas houve uma desconcentração para a propriedade privada na tentativa de recuperar e estimular determinados setores econômicos. Ainda assim, o controle sobre a produção do setor privado é realizado de maneira indireta pelo Estado, seja através de seu monopólio sobre as licenças para o trabalho autônomo e privado, ou da reapropriação de parte da produção privada através dos impostos, com os quais busca-se estatizar parte do mais-valor gerado privadamente para distribuí-lo socialmente na forma de bens e serviços públicos."
"o Estado cubano; as empresas internacionais, que operam em associação com o Estado; e os trabalhadores cuentapropia, que praticam as mesmas atividades dos outros dois agentes de forma privada e autônoma."
"No caso cubano, se analisarmos o mercado de imóveis, não iremos encontrar a exclusividade da propriedade da terra, uma vez que os terrenos são públicos e não há cubanos excluídos do direito a uma moradia. No entanto, a indústria do turismo é uma atividade econômica cuja principal fonte de rendimento é o próprio consumo do espaço. Sendo assim, por mais que todos os cubanos possuam uma moradia, nem todos possuem uma moradia que cumpre o papel de um meio de produção, como fazem as moradias em localização turística. Concluímos, portanto, que frente à propriedade privada das casas-negócio é que emerge a possibilidade de apropriação da renda da terra."
"Com relação à disputa pelo excedente entre o Estado e os TCP, como disposto no Capítulo 4, inicialmente o trabalho autônomo era uma forma provisória de prestação dos serviços não atendidos pelo Estado. Aos poucos, o segmento foi ganhando espaço e protagonismo em outros setores econômicos, e a política tributária passou a servir como limite à acumulação de capital e como forma de recuperar parte dos rendimentos gerados pelos trabalhadores autônomos para distribuí-los socialmente. Com o fortalecimento econômico dessa categoria, Cuba está deixando o modelo de organização econômica no qual o Estado promove diretamente a produção e distribuição do produto social, e avançando para um modelo em que o Estado reúne as contribuições sociais através dos impostos e as distribui socialmente atendendo ao critério da equidade."
"Em suma, o que demonstrou-se no trecho anterior é a emergência de dois fenômenos. Primeiro, evidenciou-se que a forma primária de disputa pelo excedente em Cuba se dá através dos impostos. É no campo da legislação tributária que o Estado controla sua participação nos lucros das empresas internacionais e nos rendimentos dos trabalhos autônomos. Essa conclusão condiz com o novo modelo de socialismo cubano, que pretende financiar as políticas sociais através dos rendimentos da atividade estatal produtiva e de parte das atividades privadas, que é apropriada pelo Estado na forma de imposto.
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"Em segundo lugar, evidenciou-se que parte desses rendimentos é atualmente apropriada na forma de renda da terra, o que leva à disputa por parte desses sobrelucros através do mercado de imóveis e da tributação. Internamente, o Estado e os proprietários de casas-negócio disputam parte dessa renda através dos impostos: enquanto o primeiro aumenta a quantidade de impostos incidentes sobre as operações de compra e venda, os segundos ampliam e diversificam as formas de evasão fiscal. Destacamos que, apesar do fenômeno apresentar-se como uma disputa, esta não ocorre entre classes sociais, pois se dá internamente na classe de trabalhadores, opondo os trabalhadores proprietários de casas-negócio ao Estado proletário. Trata-se de uma disputa entre estratos de classe: o estatal, representando todos os trabalhadores, inclusive os autônomos, em oposição aos trabalhadores cuentapropia e proprietários de imóveis."
"Em resumo, retomando as perguntas feitas no início desta seção:
"Em suma, apesar das tentativas de manter a população local no Centro Histórico e recuperar as construções históricas sem mudar a função do bairro, inevitavelmente há um processo de remoção dos moradores, os quais são deslocados para os bairros onde encontram-se os principais conjuntos habitacionais estatais. Não é possível conhecer o volume da população deslocada, no entanto, de acordo com o Censo de 2012, havia naquele ano 4.775 moradias temporárias, o que corresponde a 1% do total de moradias da cidade (ONEI, 2012)."
"No que diz respeito aos motivos para saída de moradores do Centro Histórico, Gonzales (2019) cita o encarecimento dos produtos nas lojas de produtos importados; a diminuição das lojas estatais de distribuição de alimentos, chamadas de bodegas; e a diminuição dos espaços culturais e esportivos em relação aos espaços comerciais e turísticos."
"A partir dessa sucinta explanação sobre o processo de gentrificação tal como foi desenvolvido para explicar o fenômeno em países do capitalismo central, e considerando as diversas especificidades da sociedade cubana, seria possível nomear o fenômeno urbano em Cuba de gentrificação? Para responder essa pergunta é preciso, em primeiro lugar, avaliar as razões da deterioração das moradias cubanas. Vimos no Capítulo 1 que ela é resultado de um plano econômico e social que por um longo período priorizou investir no campo — principalmente para o desenvolvimento da indústria sucroalcooleira — e em políticas sociais universais. Sendo assim, a ausência de investimentos estatais para habitação não corresponde à lógica capitalista de acumulação de capital, e sim à dificuldade cubana de superar o subdesenvolvimento, o que impôs a priorização de outros gastos frente à manutenção e reforma das moradias."
"Ao contrário, ela vem do Estado e, como argumentamos anteriormente, parece que a possibilidade de incluir trabalhadores autônomos e proprietários de imóveis nesse circuito de renda representa uma tentativa de contornar a falta de postos de emprego estatais, apresentando-se como um instrumento indireto de distribuição de renda. Sendo assim, diferentemente do que acontece nos países capitalistas, em Cuba, a apropriação do rent-gap pelo Estado tem um destino claro: fomentar as políticas sociais da Revolução Cubana, e um objetivo secundário de incluir nesse circuito de renda novos agentes sociais."
"Apesar das diferenças entre a definição de gentrificação — tal como foi elaborada para descrever os processos nos países capitalistas centrais — e o fenômeno que observou-se neste trabalho, é possível dizer que o último compartilha de alguns dos efeitos típicos da gentrificação capitalista. Por exemplo, na atuação da OHCH, apesar da sua preocupação com a preservação da população local, podemos considerar que devido à necessidade de liberar espaço para empreendimentos turísticos, ocorre o deslocamento da população local e a atração de outros grupos sociais para o território — majoritariamente os trabalhadores autônomos. Ademais, após a autorização para a compra e venda de moradias, podemos assumir a existência de rent-gaps, considerando que parte do preço dos imóveis nessas regiões corresponde ao potencial de ganho com a conversão de seu uso residencial para o comercial. Ou seja, apesar das diversas particularidades do caso cubano, existe rent-gap e ocorrem deslocamentos, inclusive com a saída da população local dos bairros reformados para abrigar o turismo."
"A primeira camada, e mais profunda, é a das estruturas herdadas do sistema anterior, ou seja, as desigualdades territoriais próprias do capitalismo dependente cubano anterior a 1959. Nessa camada encontram-se, por exemplo, as diferentes apreciações sobre o espaço urbano, as impressões e as valorações dos bairros no imaginário coletivo, ou seja, os elementos que ocupam o campo das subjetividades e que tornam os antigos bairros burgueses imageticamente mais aprazíveis e os antigos bairros de trabalhadores os menos desejados."
"Em resumo, foi sobreposto à estrutura universal de educação e de saúde uma camada de acessos desiguais ao consumo através das diferentes possibilidades de emprego em cada bairro ou município. Essa seria a segunda camada das desigualdades territoriais, em que o território condiciona as possibilidades de mobilidade social."
"Estudando esse processo, Luisa Iñiguez (2014) emprega a metáfora criada por Milton Santos (2006) para diferenciar os dois perfis de bairros que emergiram após o Período Especial: os luminosos são aqueles onde instalaram-se os novos empreendimentos turísticos e neles os moradores podem ascender socialmente através do emprego no turismo ou no setor privado; os territórios opacos são aqueles que comportam majoritariamente o setor estatal e que têm pouca capacidade de atender às demandas de emprego e consumo de seus moradores."
"A terceira camada de desigualdades do território, e a mais recente, foi inaugurada com a abertura do mercado de imóveis, evento que, como expressado anteriormente, marca um novo padrão de mobilidade da população, que reforça os fluxos migratórios e aprofunda a especialização produtiva baseada nos diferentes usos do solo de cada região da cidade. Nesse novo cenário, que iniciou-se em 2011, o perfil de renda e de ocupação dos cubanos passou a determinar o bairro ou município em que se localizariam. Ou seja, pela primeira vez desde a Revolução, o espaço está se reorganizando de acordo com as possibilidades de ascensão social dos seus moradores. O preço dos imóveis é uma evidência dessa nova etapa, pois ele restringe o uso de alguns imóveis — e, portanto, do espaço — a alguns estratos específicos."
"Nesse aspecto, identificamos duas tendências: a concentração de TCP no centro de Havana e dos trabalhadores estatais na periferia, composta por municípios com padrões de ocupação e capacidade de consumo semelhantes. Consideramos o mercado de imóveis como responsável por esse fenômeno, pois em primeiro lugar permitiu que os grupos sociais se reorganizassem pela cidade através da compra e venda de moradias e, em seguida, que os preços desses imóveis se transformassem em sinalizadores — e barreiras — para a ocupação de certas localizações por outros estratos de classe."
"Cuba possui um sistema de representação política que não corresponde à hierarquia da estratificação socioclassista. Ou seja, as pessoas que pertencem aos grupos sociais identificados como “mais vantajosos” — TCP, empregados no setor emergente e recebedores de remessas — não detêm a maioria do poder político."
"No caso cubano, vimos a partir do estudo sobre Havana, que a renda da terra corresponde ao sobrelucro das atividades comerciais e de serviço voltadas ao turismo realizadas nas moradias pelos TCP. Concluímos que esse sobrelucro é apropriado por quatro agentes: o Estado, as empresas internacionais, os trabalhadores autônomos e os proprietários de casas-negócio."
"pudemos distinguir entre três camadas de desigualdade que se avolumam sobre o espaço urbano:
"Em suma, essa nova desigualdade urbana é a expressão territorial da reestratificação social que está em curso desde os anos 1990 e que se apresenta como um desafio a ser equacionado dentro do novo modelo do socialismo cubano."