segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Minha história com Lula



Refeição Cultural

Parabéns pelos 80 anos, presidente Lula! O senhor é efetivamente o filho do Brasil!

27/10/25


É uma alegria ver nosso presidente Lula completar 80 anos de idade no dia de hoje, com saúde e em plena atividade política, buscando diariamente benefícios para o Brasil e o povo brasileiro e focado em agendas globais como a questão do combate à fome, a preservação ambiental e o fim das guerras.

Eu não tenho uma foto ao lado do presidente Lula, como tem a maioria das pessoas que conheço do meio político. Não tenho! Ao longo das duas décadas de mandatos de representação sindical até tive algumas oportunidades, mas não deu certo fazer a foto com Lula. 

Não tenho foto com Lula, mas Lula é uma referência em minha vida desde quando eu não sabia disso e ele é uma referência política para mim até hoje, após ser politizado pelos bancários da CUT.

Quando fiz 18 anos e tirei meu título de eleitor, votei no Partido dos Trabalhadores pela primeira vez, e ajudei a eleger Luiza Erundina prefeita de São Paulo. No ano seguinte, 1989, votei em Lula pela primeira vez para presidente da república, em primeiro e segundo turno. 

Antes dos votos em Erundina e Lula, eu havia sido trabalhador braçal desde criança. Da maioridade em diante, votei em Lula e no PT como bancário e sempre tive aquela leitura básica que trabalhador vota em trabalhador.

DE BANCÁRIO SINDICALIZADO A DIRIGENTE DO SINDICATO CUTISTA

Entre 1988 e 2002 fui um trabalhador da categoria bancária sem uma formação política mais aprofundada. Eu sabia mais ou menos o que não queria, o que era ruim para mim e meus pares da classe trabalhadora. Votar em candidatos dos patrões e dos ricos era uma certeza do que não deveria fazer.

Ao participar das eleições do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região na chapa cutista em 2002 e ser eleito representante de meus colegas na direção do maior sindicato da categoria, tive a oportunidade de conhecer a nossa história e aí passaria a entender melhor quem era Lula e quem éramos enquanto movimento político da classe trabalhadora.

Ao começar essa nova fase de minha vida de trabalhador brasileiro - ter um mandato de primeiro grau dos colegas bancários - eu já tinha mais de trinta anos, estava com 33 anos de idade. 

Se, por um lado, eu já tinha me envolvido em diversas lutas estudantis desde adolescente, ajudando a organizar movimentos reivindicatórios no ensino médio, na 1ª faculdade (FEAO-FITO), na 2ª faculdade (Náutico Mogiano), que não concluí, e na 3ª faculdade, a FFLCH-USP, por outro, nunca tinha tido formação política orgânica, de correntes políticas.

Notem que o trabalhador sindicalizado há anos ainda não tinha formação política sindical e partidária, e passaria a conhecer e entender melhor a história da luta de classes no Brasil, a categoria bancária, o Novo Sindicalismo surgido após a ditadura de 1964-85, a criação do Partido dos Trabalhadores, a Central Única dos Trabalhadores etc.

LULA, O PT E A CUT

Foram necessários, para mim, vários anos de militância e estudos por interesse próprio para que eu compreendesse melhor quem era essa figura humana extraordinária chamada Luiz Inácio Lula da Silva, o filho de Dona Lindu, retirante nordestino e garoto que se tornou metalúrgico, sindicalista e depois presidente do Brasil.

Mais que conhecer quem era Lula, desde o primeiro dia de diretor do Sindicato, principalmente depois que fui liberado do dia a dia no caixa do Banco do Brasil e passei a fazer trabalho de base e ações sindicais, eu precisava saber quem eu era, quem era o sindicalista que representava os bancários de um sindicato com uma história extraordinária como o nosso.

Eu já estava no movimento sindical há algum tempo quando li o livro "Lula, o filho do Brasil", escrito por Denise Paraná e lançado pela Fundação Perseu Abramo, em 2002. A base da biografia são entrevistas com Lula, familiares e amigos nos anos noventa e depois a autora faz uma espécie de análise sociológica na segunda parte do livro.

E qual é a minha história com Lula e as instituições de classe que ele ajudou a construir?

Desde 2002, vinha buscando conhecer a história dos bancários, as lutas no banco no qual trabalhava, a história da corrente política à qual pertencia no campo cutista - Articulação Sindical -, coisa que fui entender tempos depois de estar no dia a dia do movimento.

As entrevistas contidas no livro de Denise Paraná foram muito esclarecedoras para mim, muito. Óbvio que eu lia muita coisa, jornais antigos do movimento, cartilhas, livros, documentos, tudo que aparecia na minha frente. Mas o livro foi um documento sistematizado para entender o Lula, o PT, a CUT e a Articulação Sindical.

Minha edição é toda rabiscada! Eu lia um trecho e pensava "essa fala é para fazer formação sindical sobre comunicação" ou "caramba, preciso mostrar isso aos companheir@s para eles entenderem melhor a Articulação e a CUT" etc.

Me chamou a atenção algumas falas do Lula nas quais ele explicava o que a gente não queria ser, o que a gente sabia que não queria copiar de outras forças políticas, sindicais, partidárias etc. 

Ao pensar o Partido e a Central, e até o país que queríamos, nossas referências não seriam o que se conhecia no campo da esquerda da época: URSS, China, Cuba e outras experiências socialistas não eram nossas referências.

Lula sempre foi muito enfático ao falar em democracia, em pluralidade sindical e partidária, ao falar em livre pensamento e liberdade de expressão, em direito à oposição, em melhorar a vida da classe trabalhadora não só pensando o futuro (objetivos históricos), mas pensando o cotidiano, os objetivos imediatos da classe.

Sei lá, após ler o livro sistematizando aquelas entrevistas de Lula e seus familiares, e olhando tudo o que vinha estudando, vivendo e experimentando como sindicalista seguindo fielmente as concepções e práticas sindicais da Articulação Sindical e da CUT, compreendi bem melhor quem eu era e passei a lidar melhor com as contradições da política.

Para fechar essa reflexão e minha alegria ao parabenizar Lula por seu aniversário, diria que não tenho uma foto com o companheiro Lula talvez por ter sido disciplinado demais durante minha militância com mandatos.

Uma das vezes nas quais eu poderia ter tirado a minha foto com Lula, ele estava reunido com a direção do Sindicato no Auditório Azul e eu até queria ir àquela reunião.

Mas nós do Banco do Brasil tínhamos uma assembleia um ou dois dias depois e como havíamos ido mal na assembleia anterior, nós da corrente Articulação Sindical da CUT tínhamos que fazer uma convocação muito amarrada com os bancários para ganhar aquela assembleia.

Eu era o responsável pelo Complexo São João do Banco do Brasil, eram 22 dependências e uns dois mil bancários ali. Convocações bem-feitas na região central definiam uma assembleia na Quadra dos Bancários, ao lado da Praça da Sé.

Não deu outra, eu foquei na convocação dentro do prédio e não fui à reunião com o presidente Lula... mas tivemos uma boa assembleia e tenho certeza que esse era o meu papel principal naquele momento.

Presidente Lula, parabéns e felicidades!

William Mendes 


Instantes (16h22)



Refeição Cultural

"Tipo mofino era o velho Quinca Epifânio, ossudo, inquieto, cara de fome, sovina até nas palavras. Guardava a despensa na loja: barricas bem cobertas, defendidas contra os ratos. De manhã um moleque se chegava ao balcão, a cesta pendurada no braço. O avarento destapava os esconderijos, pesava e media longamente a ração miserável: duzentos gramas de charque, dois dedos de toicinho, um pires de feijão. Privava-se disso e despedia o portador, gaguejando." (G. RAMOS. Infância, 1995, p. 49)


A cena me lembrou a infância, mesmo tendo sido criança nos anos setenta e oitenta, quase um século depois da infância do personagem, Graciliano Ramos, na virada do século XIX para o XX.

Antes dos dez anos, vivi numa cidade grande, São Paulo, e a padaria Cinco Quinas, no Rio Pequeno, nos anos setenta, era mais moderna que a mercearia do cenário. 

Ao chegar ao bairro Marta Helena, em Uberlândia, nos anos oitenta, me vi no cenário da infância de Graciliano Ramos: no balcão do Seu Walter ou Seu Pedro, se comprava tudo a granel, pesado na hora; o moleque ia com a listinha da mãe ou da avó e voltava com as compras na cesta.

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"O tilintar de xícaras em pires e o baque suave de pratos com lanches parecem soltar mais os corações e abrir melhor os ouvidos da alma. Ou, ao menos, o fazem em simplicidade e velocidade maiores do que todos os esboços de conselhos que o proprietário da panificadora já experimentara fazer." (S. SEDREZ. Sussurros metropolitanos, 2024, p. 18)


Fechando o primeiro quarto do século XXI, estive dias atrás numa padaria semelhante à descrita por Sandro Sedrez, soltando o coração e abrindo os ouvidos da alma, ao tomar um café com um grande amigo.

A literatura tem dessas belezas: das palavras às imagens, das imagens às memórias, e daí aos sentimentos. A vida!

Sigamos lendo para nos mantermos humanos. 

William 

27/10/25

domingo, 26 de outubro de 2025

Entrevista: Marilena Chaui (2005)



Refeição Cultural

Ao reler a entrevista da filósofa e professora Marilena Chaui, texto que abre a série de entrevistas feitas para o livro Leituras da Crise - Diálogos sobre o PT, a democracia brasileira e o socialismo, de abril de 2006, percebo o quanto a entrevista é seminal e trabalha conceitos que me ajudaram a ser dirigente sindical por mais de uma década no dia a dia da categoria bancária. 

A militância de esquerda vivia naqueles dias as contradições políticas suscitadas com a apelidada "crise do mensalão" e a entrevista de Marilena Chaui foi muito importante para mim.

As postagens de resenhas ou comentários sobre livros dão um trabalhão por causa das citações que faço no texto. 

Como estou relendo a entrevista e não vou fazer longas citações, citarei a página na qual o tema abordado me chamou a atenção. 

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TEMAS FILOSÓFICOS DA POLÍTICA EXPLICADOS POR CHAUI

"O neoliberalismo é a decisão política de cortar a direção dos fundos públicos no polo dos direitos sociais ou do salário indireto, dirigindo a totalidade desses fundos ao capital (que deles precisa para continuar as mudanças tecnológicas) - os direitos sociais se convertem em serviços vendidos e comprados no mercado. É também a decisão de 'enxugar o Estado', privatizando as empresas públicas e 'desregulando' a economia, isto é, permitindo a concentração oligopólica da riqueza social e dando plena liberdade ao capital financeiro (ou ao monetarismo)." (p.37/38)


- Diferença entre a técnica e a práxis, segundo Aristóteles (p. 17)

- Ética pública, na qual a virtude central é a justiça (p. 18)

- Diferença entre a justiça do partilhável ou distributiva, referindo-se a distribuição de bens, e a justiça do participável ou participativa, referindo-se ao exercício do poder e à igualdade política (p. 18 e 19)

- A ética DA política e a ética NA política (p. 20)

- Os princípios da ética pública se encontram na qualidade das instituições republicanas e democráticas, porque os governantes são humanos e têm paixões, segundo Espinosa (p. 21)

- "Só pode haver república e democracia se o que agrada ao governante não tiver força de lei." (p. 22)

- "Ou seja, o partido formulou uma cultura política orientada pelas ideias de igualdade, justiça e participação, portanto, por virtudes políticas ou uma ética DA política." (p. 22)

- Direitos econômicos, sociais e culturais não podem ser convertidos em "serviços" (p. 23)

- Controle social do poder público através da auto-organização da sociedade (p. 23)

- Conceitos sobre liberdade de pensamento e de expressão, opinião pública etc (p. 25)

- Senado brasileiro: foi inchado pela ditadura de forma absurda e desde então nenhum presidente eleito consegue governabilidade por não ter maioria parlamentar (p. 26/27)

- "A indústria política dá ao marketing a tarefa de vender a imagem do político e reduz o cidadão à figura privada do consumidor (p. 28)

- Sobre os efeitos maléficos da burocratização do partido e dos movimentos organizados, Chaui nos dá uma aula espetacular! (p. 34/35)

- A parte sobre o neoliberalismo é tão esclarecedora conceitualmente que até vou pôr uma citação na abertura da resenha (p. 36 e seguintes)

- Chaui toca no assunto da política econômica do 1° governo Lula, o tal equilíbrio fiscal era para ser política de transição e virou permanente (p. 40)

- A filósofa explica o que é totalitarismo (p. 43 e seguintes)

- "Enquanto no absolutismo a fórmula é 'o Estado sou eu' (o 'eu' é o rei), no totalitarismo a fórmula é 'a sociedade sou eu' (o 'eu' é o Estado)." (p. 44)

- A professora explica o que é populismo e caracteriza a sociedade brasileira como uma república oligárquica (p. 49)

- Ao falar das experiências da URSS e China, o chamado "socialismo real", Chaui explica que aquilo não foi socialismo, pois não havia democracia (p. 51)

- Na parte final da entrevista a professora descreve o que é o socialismo do ponto de vista econômico, político, social e esclarece por que socialismo e democracia são inseparáveis (p. 51 a 55)

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Comentário final 

A atualidade da entrevista e os conceitos abordados pela filósofa Marilena Chaui são impressionantes!

Para fechar a releitura do livro, falta agora ler o texto que Chaui disponibilizou na edição sobre democracia e transparência. 

É isso!

É significativo ler essa entrevista no dia que rememoramos o assassinato do jornalista Vladimir Herzog há 50 anos (25/10/75).

Temos o dever de seguir na luta contra o capitalismo e por uma sociedade socialista e democrática. 

William Mendes


Bibliografia:

CHAUI, Marilena; BOFF, Leonardo; STEDILE, João Pedro; DOS SANTOS, Wanderley Guilherme. Leituras da Crise - Diálogos sobre o PT, a democracia brasileira e o socialismo. 1a edição. São Paulo, Editora Fundação Perseu Abramo, 2006.

sábado, 25 de outubro de 2025

Instantes (14h56)



Refeição Cultural

Acordei neste sábado com o corpo moído, cansado. Está claro que meu corpo não acompanha mais meu espírito. Bastou três dias seguidos de atividades políticas para cansar fisicamente. Por décadas, minha resistência não tinha fim... agora tem (risos irônicos).

Sabendo que meus sistemas cardíaco, muscular e endócrino estão sob risco, mantive minha disciplina de tentar fazer atividades físicas e saí para uma corridinha. Corri menos do que queria, mas acolhi o pedido do meu corpo. Sem ele, não seria nem estaria aqui.

HOMENAGEM A VLADIMIR HERZOG 

Se eu ouvisse somente os desejos do espírito (meu cérebro, o verdadeiro criador de tudo), teria um evento político para ir hoje, dia que nos lembra os 50 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, morto pelos trogloditas da extrema-direita que deu um golpe de Estado em 1964. Estarei na Sé presente em pensamento. Vladimir Herzog, presente!

Preciso descansar. Sou novo na idade, mas meu corpo é como um carro de aplicativo: rodou por muitos percursos e trilhas, algumas bem difíceis, e agora o motor está meio capenga.

Sigo como posso.

Will i am 

25/10/25

domingo, 19 de outubro de 2025

Livro: Desafios do Sindicalismo no Brasil Contemporâneo - Luiz Azevedo



Refeição Cultural

Encontrei o companheiro Luizinho Azevedo na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) em 19/09/25, no dia da sessão que relembrou os 40 anos da histórica greve dos bancários em 1985. Luizinho foi um dos líderes protagonistas nessa história. 

Naquele dia, recebi de presente do Luizinho o livro "Desafios do Sindicalismo no Brasil Contemporâneo - Entre Transformações e Resistências", de sua autoria. 

Estudioso das questões do mundo do trabalho e estrategista de primeira linha, Luizinho segue sendo referência para todos nós que lutamos por um mundo mais inclusivo e sustentável. 

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TRANSFORMAÇÕES NO TRABALHO 

"A teoria materialista da história enfatiza as relações sociais como o motor primário do desenvolvimento histórico e da formação das ideias. Segundo Marx, as ideias não surgem de forma isolada ou independente, mas são moldadas e influenciadas pelas condições materiais e sociais em que as pessoas vivem e trabalham." (p. 19)


No primeiro capítulo, Luizinho apresenta um panorama geral das mudanças no mundo do trabalho organizado pelo modo de produção capitalista. 

Relembrou o ludismo do início do século XIX, passou pelo fordismo no início do XX e abordou o toyotismo, que flexibilizou a produção e facilitou as etapas atuais de terceirização, uberização e pejotização.

O movimento sindical tem desafios enormes para organizar e representar os trabalhadores nesse cenário atual, que ainda conta com o avanço tecnológico das IAs, eliminando boa parte do trabalho tradicional humano. 

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A RESISTÊNCIA SINDICAL NO PERÍODO RECENTE 

"As transformações no mundo do trabalho descaracterizaram de tal forma as identidades de categoria e de classe, que grande parte dos trabalhadores não se identifica nem como classe em si, quanto mais avançar para se sentir parte de uma classe para si, fator essencial para a organização sindical e política." (p. 27)


Luizinho apresenta de forma sucinta as causas e consequências da atual situação do mundo do trabalho no Brasil. 

O golpe de Estado contra Dilma Rousseff, a prisão de Lula para darem seguimento ao golpe, as reformas de Temer e Bolsonaro, e até a dificuldade das lideranças sindicais em unificar demandas para fortalecer a classe trabalhadora são fatores analisados pelo autor no 2° capítulo do livro.

Luizinho, no entanto, não perde a esperança no planejamento estratégico para reverter o processo desagregador das classes. Temos que apostar mais na organização de fato dos trabalhadores para depois lutar pela representação de direito, até para questões de financiamento sindical (p. 24)

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HÁ MUITA FORÇA PARA SER DESPERTADA 

Neste capítulo, Luizinho apresenta os desafios atuais do movimento sindical. 

A sindicalização da classe trabalhadora é a menor dos últimos tempos: 8,4% de 100 milhões de pessoas ocupadas. 

"As Centrais Sindicais, e a CUT em particular, precisam se organizar e fazer uma discussão com as direções de cada sindicato, entidade por entidade, sobre a necessidade de romper com o passado, dele aproveitando apenas as forças acumuladas, e iniciar uma operação efetiva de adensamento sindical, buscando valorizar as negociações coletivas e viabilizar financeiramente as entidades sindicais." (p. 33)

Comentário do blog: nas questões analisadas por Luizinho, percebem-se as dificuldades atuais para a autonomia e independência dos sindicatos em relação a partidos e governos, um dos objetivos do novo sindicalismo nascido no final dos anos setenta e início dos oitenta. 

No Brasil e no mundo, na atual conjuntura, todo partido tem relação mais estreita com uma agremiação sindical. (p. 33)

O reconhecimento das Centrais Sindicais em 2008, com a participação nas contribuições sindicais à época (10%), estimulou as divisões políticas no movimento sindical. 

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TENTANDO ROMPER O CERCO NEOLIBERAL 

"Na base, a perda de credibilidade e o crescimento do individualismo dificultam o surgimento de uma nova geração de dirigentes. Ou seja, sem inovar na organização e nas ações não haverá militantes disponíveis para fazer a renovação nas direções." (p. 46)


Neste capítulo, o autor faz diagnósticos dos desafios dos movimentos sindicais e nos atualiza sobre as propostas em debate para fortalecer o sindicalismo. 

Autorregulação no sindicalismo, adensamento sindical e campanhas de sindicalização são alguns dos eixos em debate no movimento. Além, é claro, das formas de sustentação financeira da estrutura sindical. 

Luizinho fala da ideia de organizar "brigadas digitais" na questão de disputa nas redes na internet, mas a adesão até agora foi aquém do ideal por parte dos sindicatos. 

O estudioso Luizinho cita as boas experiências em comunicação que o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região vem fazendo em relação a aplicativos para celular e comunicação virtual com associados. (p. 44)

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APONTAMENTOS FINAIS

Luizinho diz ao final de suas reflexões e sugestões que fazer é mais complexo do que escrever, como ele fez.

Entretanto, o blog lembra aqui que as análises e reflexões do autor devem ser recebidas por todos nós como um esforço honesto e necessário de um grande pensador e alguém que participou de toda a história de nossas lutas desde o final dos anos setenta. 

O livro foi escrito no final de 2024, após o avanço da direita e da representação conservadora nos executivos e legislativos das cidades brasileiras, ou seja, após nossa derrota nas bases da classe trabalhadora. 

Pensar novas estratégias de organização do povo trabalhador é pensar formas de nos sairmos melhor nas eleições de 2026.

"A guerra híbrida atacou a imagem dos sindicatos. A superação deste desgaste depende de muita dedicação, presença na base, compromisso com as reivindicações tal e qual são sentidas pela base. Mas, sem mudanças substanciais nas formas de se organizar, de representar e de se comunicar não conseguirá recuperar ou construir laços de confiança com a base." (p. 55)

Luizinho sugere ousadia para organizar os trabalhadores que não estão na forma tradicional da carteira de trabalho. 

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COMENTÁRIO 

Excelente leitura! 

Luizinho é uma referência para mim e para todos nós que o conhecemos como um militante que congrega em sua vida a prática e a teoria no fazer político, nas lutas de classe. 

Sigamos na luta por um mundo melhor para o povo trabalhador. Um mundo mais sustentável ambientalmente e que supere o capitalismo. 

William Mendes 


Bibliografia:

AZEVEDO, Luiz. Desafios do Sindicalismo no Brasil Contemporâneo - Entre Transformações e Resistência. 1a edição. Florianópolis, SC: Ed. do Autor, 2024.


Instantes (15h36)



Refeição Cultural

LEITURAS


A leitura é um ato humano transformador. É uma das formas de transmissão de conhecimento e de educação. Todas as pessoas no mundo deveriam ter acesso a alfabetização e às diversas opções de meios de leitura. Tive o privilégio de ser um leitor desde muito pequeno. Porém, sei que não li quase nada ainda...

Quando garoto, lendo gibis, aprendi sobre as moscas tsé-tsé que causam a doença do sono. Há 50 anos, começava a ler e aprender...

Mais recentemente, ao ler o livro O verdadeiro criador de tudo, do neurocientista Miguel Nicolelis, compreendi melhor a vida e me livrei de vários questionamentos que fiz por décadas. 

Hoje, sei que muitas coisas são como são. Mas sei que somos sujeitos históricos e podemos mudar o mundo e criar novos mundos.

Leituras... aprendizados...

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ISAAC ASIMOV

"(...) O Sr. Daugherty diz que naqueles dias todos aprendiam a fazer os rabiscos quando eram crianças e como decifrar aquilo, também. Fazer rabiscos era chamado 'escrever' e decodificar os rabiscos 'ler'. Ele diz que havia uma espécie diferente de rabisco para cada palavra e eles costumavam escrever livros inteiros em rabiscos..." (ASIMOV, Isaac. "Um dia" in: Os melhores contos, 2018)


De minhas imensas lacunas culturais, infindáveis, Isaac Asimov era uma delas. Havia chegado a mais de meio século de existência sem ter lido um texto sequer do cientista e escritor.

Neste fim de semana li dois contos de Asimov. Ontem li "Um dia" e hoje "Amor verdadeiro". As estórias são incríveis! Gostei muito!

Seus contos nos apresentam personagens e cenários futurísticos meio impensáveis na vida cotidiana de meados do século passado. Uma máquina eletrônica que cria estórias para contar às crianças ou um computador pessoal inteligente que dialoga com o dono e busca para ele no mundo todo uma namorada ideal.

Perceberam o quanto ele antecipou o que qualquer pessoa tem hoje com essas geringonças de IA?

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GRACILIANO RAMOS

"Ninguém veio, meu pai me descobriu acocorado e sem fôlego, colado ao muro, e arrancou-me dali violentamente, reclamando um cinturão. Onde estava o cinturão? Eu não sabia, mas era difícil explicar-me: atrapalhava-me, gaguejava, embrutecido, sem atinar com o motivo da raiva. Os modos brutais, coléricos, atavam-me; os sons duros morriam, desprovidos de significação." (RAMOS, Graciliano. "Um cinturão" in: Infância, 1995)


Graciliano Ramos é um dos mestres da literatura brasileira para mim, junto com Machado de Assis e João Guimarães Rosa. 

Minha edição do livro Infância (1945) me acompanha há décadas (ela é de 1995), já se mudou comido diversas vezes, e repousa na estante atual de casa.

Li nestes dias os primeiros textos do livro, podemos dizer capítulos, mas são textos independentes, poderíamos chamá-los também de contos porque têm início, meio e fim. Cada texto é uma viagem ao passado de todos nós que fomos crianças no Brasil do século passado.

Os textos são de uma riqueza impressionante! Leio um deles e paro. Aquelas cenas ficam comigo até a próxima leitura.

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MEMÓRIAS DE TODOS NÓS

As leituras devem ser feitas, temos que seguir lendo. Enquanto lemos, aprendemos, conhecemos os mundos, criamos novos mundos.

Até meu livro de Memórias, que está aos poucos indo parar em algumas estantes do mundo, já foi lido por algum leitor ou leitora, e eu mesmo fico relendo os capítulos para me certificar, talvez, de que tenha escrito algo que valesse a pena ser compartilhado.

Cada capítulo é um pequeno conto também, com início, meio e fim, uma lembrança de fazeres sindicais dos trabalhadores da categoria bancária. 

Sigamos lendo e nos esforçando para nos mantermos humanos. A leitura é um ato humano, de humanos e para humanos.

William

19/10/25

Domingo

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Dia das professoras e professores


Obrigado, professores queridos!


Refeição Cultural

Ao ler o relato de um professor amigo de longa data, me entristeci ao refletir que a realidade descrita por ele é a mais comum no cotidiano da categoria profissional mais importante da sociedade humana, na minha opinião. 

Não farei um longo texto a respeito do tema. Não carece. Textos excelentes estarão disponíveis hoje para refletir e homenagear essa profissão e essas pessoas tão importantes em nossas vidas.  

Do pouco que sei neste momento de minha existência aos 56 anos de idade é que uma das poucas chances que temos de salvar a espécie humana e a maior parte da vida no planeta Terra é investindo na educação para preparar pessoas que estejam aptas a mudar o modo de vida e a produção social humana. 

Sou testemunha dos efeitos da educação e de professores e professoras na vida de todos os seres humanos. Os ensinamentos de nossos professores podem mudar a nossa vida daquele instante adiante. 

Compartilhar conhecimento é o que nos faz humanos, o que nos fez sermos os animais que somos, animais que criam e resolvem problemas. A educação abre oportunidades, abre portas e caminhos, prepara caminhantes para criar novos caminhos, novas veredas.

Registro meu amor profundo e minha gratidão a todas as pessoas que dedicaram e dedicam suas vidas a ensinar e transmitir conhecimentos às pessoas-possibilidades. 

Paulo Freire nos ensina que somos seres incompletos, inacabados. A educação vai nos completando e lapidando enquanto estamos aqui em simbiose com a própria natureza à qual pertencemos.

Sigamos aprendendo e valorizando as pessoas que se colocam à disposição de ensinar e compartilhar o saber com o melhor que a pedagogia tem a nos oferecer.

Will i am

15/10/25

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

O sentido da vida (12)



Ser às vezes o ombro amigo

Encontrou uma vizinha no ponto de ônibus. Parou para conversar com ela até que viesse o ônibus. Sempre que se encontram, ele a ouve com atenção. Ela tem mais de oitenta anos. Ela desabafou chorando... ingratidão e falta de respeito familiar. 

Dias atrás, ele ficou um tempão com uma pessoa muito querida ao telefone. Ela também chorou e desabafou... a ingratidão e desrespeito familiar estavam lhe fazendo muito mal.

Ele havia ido aos Correios postar suas Memórias para três amigos. A vida é um instante, seu desejo era deixar algumas unidades daquelas histórias reunidas em livro em alguns cantinhos do mundo.

Ao chegar da rua, soube pelas redes sociais do falecimento de um grande companheiro que viveu com ele muitas daquelas histórias de lutas sindicais no Banco do Brasil e na categoria bancária. Ficou triste demais. 

A vida é um instante. Se pudermos ao menos ser o ombro amigo de alguém por um instante, será um ato de solidariedade, um ato de amor.

José Michelena, presente!

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Entrevista: Leonardo Boff (2005)



Refeição Cultural

A Fundação Perseu Abramo publicou em abril de 2006 o livro "Leituras da crise - Diálogos sobre o PT, a democracia brasileira e o socialismo". À época, a entrevista da filósofa Marilena Chaui foi fundamental para mim, dirigente sindical da categoria bancária. 

Estávamos no ano de eleições presidenciais e o primeiro governo Lula havia enfrentado uma crise política motivada principalmente pelas questões de financiamento de campanhas eleitorais, crise batizada pelos nossos inimigos de classe como crise do "mensalão", uma invenção do deputado Roberto Jefferson (PTB) em entrevista à Folha de S. Paulo, à Renata Lo Prete, em junho de 2005. 

A crise trouxe à público a questão do "caixa dois", prática de uso de recursos não contabilizados formalmente pelos partidos. Dirigentes do PT e aliados tiveram que responder a processos referentes a isso.

Feita a contextualização do momento no qual o livro foi lançado, registro a atualidade dos pensamentos e reflexões de Leonardo Boff, ao rever a entrevista. Mais ainda, a leitura de "A Carta da Terra", aprovada em 14/03/2000 pela Unesco, me fez lembrar o quanto é antigo e urgente o tema do colapso social e ambiental. O documento deveria ser adotado por todas as instituições da sociedade humana. 

Enfim, eu não teria condições de destacar na postagem tudo que considerei relevante, são dezenas de páginas de reflexões e ideias extraordinárias. 

Cito alguma coisa e sugiro aos leitores do blog que leiam na íntegra as 4 entrevistas do livro. Vocês vão se surpreender com a atualidade das reflexões de Chaui, Stedile, Wanderley Guilherme e Boff.

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UTOPIA

"A utopia pertence à realidade. A realidade nunca é apenas o dado empírico. Ela contém dentro de si infindas virtualidades e possibilidades."

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IMPORTÂNCIA DA BASE

"Ligados organicamente às bases, os políticos são continuamente educados, reeducados pelo povo e nele encontram mil razões para continuar a lutar por causas justas que atendam às demandas desse povo."

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INDIVÍDUO E REVOLUÇÃO 

"A revolução, para ser radical (mudança de rumo na história para atender às demandas da população sistematicamente negadas), precisa envolver todo o homem e todos os homens." (A palavra homem está aqui como genérica de homens e mulheres)

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"Cada sujeito deve ser envolvido nesse processo e ele mesmo mudar. Se não mudar, a revolução em algum momento mostrará seu impasse. Foi por não ter tido cuidado com esse processo global, que inclui o sujeito concreto e pessoal, que o socialismo, no meu entender, abortou seu projeto libertador."

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"O sujeito não pode ser entendido nos moldes do liberalismo e da visão burguesa da sociedade, em seu esplêndido isolamento e independência. O sujeito é sempre e concretamente um nó de relações, não apenas sociais (a tendência do pensamento de Marx), mas de relações totais e em todas as direções, até aquelas que incluem o transcendente e a sede de infinito."

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"Não basta que sejam transformadas apenas as relações sociais. Cada sujeito deve ser envolvido nesse processo e ele mesmo mudar."

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"Viva de tal maneira que aquilo que você vive possa ser válido para todos os demais seres humanos." (Kant)

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Sobre o PT 

"Pretendeu, na linha de Paulo Freire, fazer dos pobres e excluídos, uma vez conscientizados e organizados, os sujeitos do processo de libertação."

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TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO 

Nesta parte da entrevista, Boff explica o que é a Teologia da Libertação, fala sobre o papa Wojtyla (João Paulo II, inimigo da Teologia da Libertação) e Ratzinger (Depois Bento XVI), sobre marxismo e socialismo real etc. Muita informação relevante. 

"A Teologia da Libertação é uma teologia militante. Não se contenta em pensar a ortodoxia apenas como se faz normalmente nas faculdades de teologia. Quer a ortopráxis, quer dizer, incentiva uma prática que nasce do capital religioso do cristianismo, mas visa transformar a realidade social por considerá-la dissimétrica (analiticamente), injusta (eticamente) e pecaminosa (teologicamente). Essa libertação tem de ser libertação mesmo, quer dizer, não pode ser assistencialista e paternalista - que faz para os pobres, mas não se dá conta da força histórica dos pobres. Ela somente é libertadora se tiver os oprimidos (que são pobres e simultaneamente cristãos) como sujeitos de sua libertação, libertação com os pobres e a partir dos pobres. A igreja é apenas aliada e fornece os espaços institucionais aos pobres."

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Uma alternativa ao capitalismo 

"No fundo se pensava: o capitalismo não ocupa todo o espaço, há um antipoder, uma alternativa possível de organização das sociedades humanas, com limitações e avanços que não se podem desconhecer. Defendia-se não tanto o socialismo real, mas a oposição ao capitalismo."

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"A derrocada do socialismo atingiu a Teologia da Libertação, pois sabíamos que sem ele começaria a barbárie do capitalismo."

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A Teologia da Libertação e Marx

"A Teologia da Libertação nunca teve Marx como pai nem como padrinho. Ela bebeu primeiramente de sua própria fonte, que é a tradição judeu-cristã, que sempre deu centralidade aos pobres, ao tema da libertação do cativeiro egípcio e babilônico e à prática histórica de Jesus, que foi pobre e disse 'felizes de vocês pobres e ai de vós ricos'. E que não morreu tranquilamente na cama como um piedoso rabino cercado de discípulos, mas na cruz, fruto de um juízo político-religioso que o condenou com o castigo dado a revoltosos sociais."

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"Mas ela encontrou em Marx as boas razões para entender por que o pobre não é pobre, e sim um explorado e injustiçado. Ele é um empobrecido, feito pobre por fatores de ordem econômica, social e cultural, que hoje ganham corpo especialmente no capitalismo."

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Natureza e ambientalismo

"Precisamos de outro paradigma de civilização, que inaugure outro tipo de relação, não contra a natureza, mas em sinergia com ela."

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RETOMAR O CONTATO VIVO COM AS BASES

"Os membros do PT encontrarão mil razões para viver, para continuar no PT, quando se ligarem à vida concreta do povo."

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"A insensibilidade social dos estratos poderosos de nosso país é simplesmente criminosa."

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A LUTA PELA SUPERAÇÃO DAS DESIGUALDADES 

"O que escandaliza no Brasil não é tanto a pobreza mas a desigualdade social, porque ela esconde uma grave distorção política e ética da sociedade. Politicamente, significa que a sociedade não foi pensada para todos, mas fundamentalmente para atender às demandas das elites e dos incluídos no sistema de acumulação. Eticamente, significa uma falta perversa de humanidade, de solidariedade social e de compaixão para com a desgraça dos demais concidadãos."

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"Tudo o que se fizer para salvar vidas que estão sob risco não é assistencialismo nem paternalismo mas humanitarismo básico, em grau zero. Se falto a esse gesto me torno inumano e me faço inimigo de minha própria humanidade."

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Fé-libertação 

"O povo é pobre e religioso. Durante séculos vivia uma fé-resignação. A partir dos anos 1960 começou a viver uma fé-libertação."

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DEMOCRACIA SEM FIM E ÉTICA 

"Em ética não podemos ser ambíguos nem tergiversar. É de sua natureza a inteireza e a transparência."

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"Neste ponto prefiro ser kantiano: 'Age de tal maneira que tua ação possa ser válida para todos'. Se o PT aceitar o jogo da ética dominante, utilitarista e a serviço de interesses não coletivos, ele jamais inaugurará uma ruptura ética na política e perpetuará a sociedade que queremos exatamente superar..."

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CRISE ECOLÓGICA GLOBAL 

"A grande maioria da humanidade não se conscientizou suficientemente da singularidade do momento histórico que estamos vivendo. Nunca uma civilização como a nossa se propôs como meta explorar a Terra e seus recursos de forma ilimitada como no capitalismo..."

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COMENTÁRIO FINAL 

Enfim, amig@s leitores, a resenha ficou grande, e deu trabalho fazê-la. 

Como digo a vocês, leiam a entrevista inteira. Nem parece que foi feita há 20 anos, de tão atual.

Sigamos estudando e compartilhando conhecimento. 

Podemos salvar a humanidade e o planeta através da educação, ciência e cultura. 

William 

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

O sentido da vida (11)



A boa prosa e o pensar junto

Acordou vendo notícias estapafúrdias sobre o mundo. Uma golpista de merda foi premiada com o Nobel da Paz. São os sintomas do mundo capitalista doentio e em colapso rumo ao fim.

Mesmo assim, abstraiu-se da merda toda ao redor e refletiu sobre o dia anterior, que foi cansativo em termos físicos, mas gratificante em termos psicológicos. 

Enviou pelos Correios suas Memórias editadas em livro para alguns amigos. Tomou um café e proseou gostosamente com um casal de amigos. Proseou depois com outro amigo querido e pensaram o mundo.

Ao final do dia, ainda se colocou à disposição de ajudar como fosse possível um jovem amigo do interior do Estado. Foi ao Terminal Rodoviário do Tietê para aguardá-lo.

Dormiu de madrugada. Mas a prosa daquele dia, recheada de livros, literatura, história, política, economia, reflexões sobre as lutas de classe, a vida e o viver, amizade... toda essa riqueza humana deu sentido ao seu dia.

A vida humana também é isso, um dia de convivências e compartilhamentos com pessoas que dignificam a nossa espécie humana. 

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segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Instantes (16h07)



Refeição Cultural

Fiz minha série de exercícios físicos necessários para me manter por aqui. Navegar é preciso, mesmo sabendo que viver não é necessário. 

Antes, bem cedinho, passei por consulta com o médico que me operou e que acompanha meu caso de leucoplasia oral, da Faculdade de Odontologia da USP. 

Viva a ciência e as pessoas que dedicam suas vidas ao bem comum! Viva a educação pública de qualidade e o Sistema Único de Saúde! 

Azaleias.

Preciso fazer um certo planejamento estratégico para um indivíduo só, algo esquisito para alguém que esteve inserido em projetos coletivos de mudanças da realidade social no mundo do trabalho. Planejar é importante para se ter um Norte na vida.

Preciso terminar a sistematização de minha produção textual de duas décadas. Só depois poderei definir outra meta pessoal a perseguir. E a revisão e encadernação dos textos está dando muito trabalho!

Enfim... navegar é preciso!

Will i am 

06/10/25

domingo, 5 de outubro de 2025

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Domingo, 5 de outubro de 2025.


FORMAÇÃO NA UNESP

No sábado, concluímos um curso de extensão universitária que iniciamos em julho. O curso "Como impedir o fim do mundo - Colapso ambiental e alternativas", promovido por IBEC, Unesp e demais parceiros, superou nossas expectativas - minhas e de meu filho.

Como admiro o papel social desempenhado pelas pessoas que se dedicam à educação e cultura! Ensinar e transmitir conhecimentos é uma das funções mais nobres e importantes da espécie humana.

Foram 50 horas de aulas com professoras e professores de altíssimo nível, compartilhando conosco conceitos e conhecimentos das áreas de economia, política e meio ambiente, tendo como referência as obras de Karl Marx e estudiosos marxistas como István Mészáros. Curso espetacular! 

Estou muito reflexivo por causa desse curso.

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ATO CONTRA O GENOCÍDIO DO POVO PALESTINO

Estive em diversas manifestações nas últimas semanas, mas estava muito cansado hoje para participar do ato na Avenida Paulista em defesa da causa palestina e pelo fim do genocídio em Gaza. Minhas energias corporais estão diferentes de outras épocas. 

Todo apoio à causa do povo palestino!

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CADERNOS DOS BLOGS

Não tenho conseguido avançar no trabalho de sistematização de minha produção cultural ao longo das últimas duas décadas. Já fiz bastante coisa, mas estou longe de acabar.

Queria terminar a confecção dos cadernos neste ano, mas não darei conta. São mais de seis mil registros. Pode ser vaidade o desejo de salvar os textos, mas ali contém um pouco de nossa história coletiva também. Tenho dó de deixar se perder tudo que está registrado naquelas páginas digitais. 

MEMÓRIAS

Estava pensando nestes dias: já recebi as unidades que editei de meu livro de memórias sindicais, registros retirados de um dos blogs. Agora que tenho o livro em mãos, estou em dúvida sobre o que fazer com eles. Enviei dois a amigos e presenteei mais dois a pessoas de minhas relações. 

Apesar de conter passagens interessantes da história das lutas da categoria bancária, não sei se alguém perderia tempo lendo isso. Os textos foram escritos no blog durante a pandemia de Covid-19 e uma coisa é disponibilizar minhas memórias num lugar para quem quiser lê-las, outra coisa é dar a alguém um conjunto de textos como se estivesse obrigando a pessoa a ler aquilo...

Enfim, estou cheio de dúvidas meio bestas, que não mudam nada o colapso atual da sociedade humana. 

William 

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Instantes (12h24)



Refeição Cultural


IGNORÂNCIA 

Estava descendo pelo elevador quando percebeu que era tão ignorante quanto a maioria das pessoas que habitavam o mundo naquele momento da história humana. Um igual, lógico! (Os tempos são de ignorância)

O pior é não ver ou ver e não perceber, ou ainda saber de seu não saber sobre quase tudo e não ter a humildade predominando em seus pensamentos e ações cotidianas. Cada vez mais, sabe-se menos das coisas.

Vaidade é uma merda! Vaidosos sequer percebem que são vaidosos, às vezes. A pessoa por saber alguma coisinha já acha que sabe muito... pior são aquelas que por saber algo específico, as pessoas "técnicas", se acham alguma coisa. 

Naquele momento, se lembrou que não sabia nada como todo mundo. 

Sejamos humildes. Menos vaidade. Somos todos ignorantes, não sabemos quase nada, mesmo quando sabemos algumas coisas. O que separa uns ignorantes de outros é o desejo de saber mais e o esforço de estudar e estar aberto ao novo e ao diferente e ao desconhecido.

Will i am

02/10/25

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Terça-feira, 30 de setembro de 2025.


SETEMBRO 

Acordei sem ânimo para correr um pouco como havia planejado. Era só um trotinho para fechar o mês e a planilha de atividades físicas que pensei para fazer a minha parte no alongamento da minha existência. Sinto que meu corpo não quer colaborar comigo nesse intuito de permanência por aqui.

Tenho lido coisas e visto coisas que têm me colocado a pensar bastante sobre a vida e a morte. Aliás, muita gente boa e decente tem morrido, gente que se não deixou feitos importantes para a coletividade, ao menos não fizeram o mal e não causaram prejuízos irreparáveis à sociedade humana e ao planeta Terra*. E percebo mais gente ruim grassando por aí. Gente que só pensa em si e foda-se tudo ao redor.

(*usei o termo gente no singular e no plural, porque achei melhor assim)

Os dilemas existenciais persistem para o pequeno burguês que me tornei neste momento do percurso do viver. Como não tenho feito nada importante, algo útil à coletividade, meu cotidiano é todo preenchido com coisices que mesclam uma certa tentativa de resgate da vaidade (o pecado preferido do diabo), certo senso de consciência política e social, uma vontade de fazer algo pelo mundo e por pessoas queridas, e uma busca de sentidos para ainda estar entre os seres viventes neste belo planeta de bilhões de anos maltratado e sendo destruído faz pouco tempo por uma única espécie: nós. 

No entanto, apesar dessas coisices cotidianas, confesso meu sentimento de impotência que às vezes me dá até ânsia de vômito. Se é verdade que ajudo alguém aqui ou ali, alguma causa coletiva aqui ou acolá, no fundo, no fundo, me sinto um inútil. E isso é foda, muito foda! Minha geração foi impregnada com certo senso de responsabilidade e culpabilidade pelos males do mundo. O mundo é uma merda por culpa nossa, ou nossa também. O que estou fazendo para mudar essa merda toda ao meu redor? Heim?

Que mais registro nesse diário pessoal e público? Palavras palavras palavras... tudo disponível para treinar algoritmos de plataformas de bilionários que fodem o nosso mundo. Milhões de ideias, sentimentos, informações, histórias, textos feitos por nós humanos que escrevemos para uns fdp roubarem tudo neste momento da história humana, do capitalismo mundial. 

Dilemas pequeno burgueses... ler ou trabalhar minha sistematização dos milhares de textos produzidos em duas décadas de existência na melhor fase produtiva do cidadão? A ameaça à existência da produção cultural na internet segue se ampliando. As plataformas e corporações do império decadente do Norte vão vaporizar toda a produção cultural produzida por suas vítimas espalhadas pelo mundo a qualquer momento. As nuvens com a produção humana das últimas três décadas vão desaparecer...

Tudo bem que a minha ou a sua produção textual ou de outras mídias pode não ter importância nenhuma para o sistema ou os donos do poder, mas têm importância para mim e para você. É a minha vida. É a sua vida. São nossas histórias. Tudo que criamos está nas nuvens, nos processadores, de meia dúzia de gente da pior espécie de gente que surgiu no último período da espécie humana. 

Se seguisse a razão do que acabei de refletir, largaria de novo essas leituras que foram aparecendo nos últimos meses e retornaria ao meu trabalho de sistematização de meus textos. É foda! Quando vejo, um curso de extensão que aparece no caminho, mais um livro aqui, outro ali, mais um, mais outro... e gosto de ler para tentar me manter humano, humano decente! Tem cada humano ao meu redor que pqp! Mas e o resgate de meus textos? De minha história registrada nas páginas dos blogs?

Aff! O que fazer?

Fecho o mês com um monte de leitura no meio do caminho, pouco ou quase nada de sistematização da minha produção textual e com um corpo colapsando feito o planeta Terra (o curso com os economistas marxistas me atualizou de forma chocante!).

Ainda estou aqui...

William 

(11h33)


Post Scriptum: ao final do dia, ainda na ânsia de fazer algo por si mesmo, ele saiu para correr um pouco e, dentro do seu limite, correu 5K, percurso que não corria faz tempo. Esforçado e com atitude, ele até que tenta alongar sua estadia no mundo.

sábado, 27 de setembro de 2025

Entrevista: João Pedro Stedile (2005)



Refeição Cultural

A entrevista concedida por João Pedro Stedile, liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), ao professor Juarez Guimarães para a confecção do livro "Leituras da crise - Diálogos sobre o PT, a democracia brasileira e o socialismo" (2006), livro editado pela Fundação Perseu Abramo, é uma aula extraordinária sobre o nosso país e as questões centrais à nossa classe, a classe trabalhadora.

À época, as entrevistas reunidas no livro foram fundamentais para entender melhor a crise do ano de 2005 - apelidada pela oposição e pela imprensa capitalista de "crise do mensalão" -, ocorrida no primeiro mandato do presidente Lula, do Partido dos Trabalhadores. 

Eu estava no começo do segundo mandato de representação de meus colegas bancários e todas as reflexões políticas e filosóficas que li e ouvi me ajudaram no diálogo com a base, e eu estava muito envolvido no trabalho de base da categoria. 

Tanto é verdade o que afirmo que durante o ano de 2005 e 2006 os locais onde me sentia mais acolhido eram nos departamentos e agências do BB, porque os bancários e bancárias conheciam minha atuação em defesa de nossos direitos e demonstravam apoio ao meu trabalho político e organizativo, mesmo sendo um militante petista e cutista, alvos das oposições de direita e conservadoras e das oposições que se diziam "mais à esquerda" que nós (coisa questionável).

O livro foi importante para mim e segue atualíssimo em seu conteúdo neste momento da história brasileira, ano de 2025!

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"O Estado brasileiro é um Estado montado pelas elites para unicamente garantir seus privilégios."

Essa afirmação feita por Stedile em 2006 serve para qualquer período da história do Brasil sob análise. Ela pode ser dita hoje, 2025, e poderia ser dita no passado, em 1968 ou 2016, ou ainda em 1888 ou 1889.

Seguem algumas afirmações de Stedile. 

SAIR DA CRISE COM A ENERGIA DO POVO 

"A verdadeira natureza da crise não era apenas ética; era uma disputa entre as classes dominantes para transformar o governo Lula em refém das políticas neoliberais."

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"A nossa força não está apenas na justeza das nossas ideias, está no contingente que conseguimos organizar para as mudanças."

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"Nós achamos que há uma alternativa para o governo; não basta o governo ficar respondendo se há ou não corrupção - isso é secundário nesta altura da luta de classes. O que é importante é o governo recuperar o debate na sociedade sobre a necessidade de um novo modelo econômico para o país." (o MST disse isso de viva voz a Lula durante a crise)

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O DESAFIO DAS FORÇAS SOCIAIS 

"A sociedade brasileira vive uma crise de destino, uma crise de projeto."

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"Se você parte de uma análise, como certos setores da esquerda, que estão no governo, e das classes dominantes, de que a economia brasileira vai muito bem, a sua leitura é diferente (da) dos movimentos."

Comentário: Stedile explica bem os malefícios do agro e do modelo exportador do Brasil para o povo e o país. 

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Consequências do neoliberalismo 

"Essa crise ideológica de valores talvez seja uma das consequências mais graves do neoliberalismo. E isso vai para dentro dos movimentos também - o dirigente sindical não quer ser presidente para se transformar num líder de massas, ele quer ser presidente porque em algum momento ele vai viver - ele pessoalmente - melhor do que sua categoria, por benesses. Isso é o antivalor: eu quero resolver o meu, e não o da minha categoria."

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Stedile explica que 1964 e 1989 foram dois momentos brasileiros de derrotas dos movimentos populares no país. E quando Lula foi eleito em 2002 era um momento de descenso dos movimentos. 

"Costumo citar uma fala do Eric Hobsbawm em que ele considerou extemporânea a vitória do PT nas condições históricas do Brasil. Por quê? Normalmente a esquerda ganha eleições, ou seja, batalhas eleitorais, como fruto do ascenso do movimento de massas. Nós aqui tivemos uma vitória da batalha eleitoral importante, que foi a vitória do Lula, mas em um momento de descenso."

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"As esquerdas, se quiserem ser consequentes, têm que trabalhar com uma visão de longo prazo."

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Tarefas dos movimentos sociais de esquerda 

1. Formação política da militância: preparar pessoas que interpretem a realidade e tenham capacidade de transformá-la

2. Voltar a fazer trabalho de base, o que significa organizar as pessoas nos seus locais de vivência, seja na fábrica, na comunidade rural, no colégio ou universidade 

3. A necessidade de priorizar o trabalho com a juventude pobre urbana, setor social que representa as reservas e a vontade de mudanças 

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LUTA DE MASSAS

"Quando não se prioriza a luta de massas, abandona-se também a concepção de que o povo é e deve ser o principal ator político das mudanças."

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"O problema não é a via institucional; ela faz parte da vida das pessoas, nós vamos debater sempre, vamos participar sempre. O problema é ter abandonado o outro lado, a luta de massas. Porque são as lutas de massa que acumulam força, que educam as massas; os militantes e os quadros são educados na formação política, mas as massas são educadas na luta. E, quando não se prioriza a luta de massas, abandona-se também a concepção de que o povo é e deve ser o principal ator político para as mudanças."

COMENTÁRIO: aqui cabe um comentário do blog, quando critico o movimento sindical por não fazer mais assembleia presencial: isso é péssimo! Não educa a base! Se o dirigente sindical não tira o trabalhador de seu trabalho sequer para ir a uma reunião para decidir seu salário e direitos, como ele quer que o trabalhador participe de uma manifestação política por democracia ou direitos políticos ou civis?

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"As eleições não transformam o povo em agente de mudança. Nas eleições o povo é um mero ator passivo que vai até a urna e deposita o seu voto e depois não tem controle nenhum, tanto é que nem se lembra em quem votou, para quem ele deu esse poder de representação."

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"Só haverá uma inflexão mais democratizante do governo se houver pressão das bases partidárias, dos movimentos sociais e das mobilizações de massa."

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SOBRE O MST E A LUTA PELA REFORMA AGRÁRIA 

"O neoliberalismo afetou decisivamente a viabilidade da reforma agrária no Brasil."

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O MST é diferente da esquerda ortodoxa 

"Incorporamos no movimento a ideia da autonomia do partido, mas incorporando no movimento social princípios organizativos que os partidos tinham preservado ao longo da luta de classes. Então, a ideia da formação de quadros, de ter os nossos jornais, de ter as nossas escolas, a ideia de núcleo de base, tudo isso aprendemos da luta de classes em geral, ou seja, que os partidos eram os condutores - e nós incorporamos no movimento. Essa é a novidade do MST."

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"A reforma agrária no Brasil não é viável se não for parte de um projeto antineoliberal ou antiimperialista."

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Stedile já avaliava em 2006:

"Hoje estamos vendo que o neoliberalismo no campo, na agricultura, é a subordinação completa das formas de organização da produção agrícola às transnacionais e ao capital financeiro - isso inviabiliza definitivamente a possibilidade de organizar a produção camponesa."

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"Então, os nossos inimigos antes eram o latifúndio atrasado, patrimonialista, que reservava a terra como poder econômico e político. Desde a década de 1990, para a reforma agrária avançar precisamos enfrentar um poder muito maior, o poder do agronegócio, das transnacionais, do capital internacional e suas alianças internas, como a própria mídia."

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Tem uma parte da entrevista na qual Stedile explica as estratégias do MST, é uma espécie de texto "O que fazer". (p. 168 e seguintes)

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"O capitalismo (...) agora, na sua etapa monopolista, não disputa mais a propriedade da terra conosco, ele disputa o controle da produção e da comercialização."

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"E foi aí que fomos nos abastecer não só nas obras clássicas de Marx e dos que procuraram interpretar o capitalismo depois de Marx - e fugimos do reducionismo de 'marxismo-leninismo'; a nossa visão é de que todos os pensadores vão contribuindo numa elaboração permanente da ciência e da reinterpretação da realidade."

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Reforma agrária adequada ao caso brasileiro 

"E chegamos à seguinte síntese, que ainda está em processo de construção: evidentemente não há mais espaço no Brasil para uma reforma agrária do tipo clássico capitalista, a burguesia não precisa distribuir terra, e, ao mesmo tempo, não adianta ficarmos sonhando com uma reforma agrária socialista, a famosa tese de Lenin de nacionalizar a propriedade da terra, isso também não resolve. Temos que construir um projeto de reforma agrária que seja coadunado com um projeto popular de desenvolvimento nacional."

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"Se você não tiver vontade, se não tiver projeto, não constrói força para mudar."

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"O agronegócio é a remaquiagem da velha plantation do colonialismo, não traz nenhum benefício para a sociedade brasileira."

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Stedile nos explica a Lei Kandir (governo FHC), que isenta exportações de produtos primários de ICMS e tem efeito de transferir mais-valia social aos fazendeiros do agro, exportadores e mineradoras. (p. 177/178)

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Princípios do MST

"Que princípios são esses? A ideia da direção colegiada, de não ter presidente, secretário, tesoureiro, embora as divisões de função existam; a ideia de direção coletiva; de formação de quadros; de garantir unidade e disciplina, não disciplina hierárquica ou militar, mas disciplina da democracia - se a maioria decide, é preciso que haja unidade em torno desta decisão; a ideia do trabalho de base; da luta de massas; e a ideia de inserção dos militantes e dirigentes em todo este trabalho."

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Simbologia 

"Ao mesmo tempo, outros sociólogos nos criticam por recuperarmos a cultura, a mística (...) Procuramos em todas as atividades do movimento incorporar essa visão pedagógica de cultivar o nosso projeto com atividades culturais, com atividades lúdicas, com a simbologia."

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"Faz-se isso em jogo de futebol, em tudo o que tiver massa você usa o símbolo, porque ele resume, ele sintetiza e aglutina em torno do projeto, do objetivo coletivo: bandeira, hino, cantos, alegorias, passeatas, palavras de ordem, tudo isso chamamos de mística."

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SOBRE A CONJUNTURA POLÍTICA NACIONAL 

"A classe dominante faz a disputa política e ideológica não pelo partido, mas pelos meios de comunicação."

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"É no meio do povo, da mobilização de massas, que vão se reconstruindo forças e rearticulações de poder real que podem mudar."

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Lição final: está desanimado ou em crise, vá para a base!

"Nós do MST, e aconselho isso a todos os amigos/as, quando desanimamos sempre nos colocamos como tarefa: voltar e passar uma semana no meio do povo, num assentamento, num acampamento, e lá nós recuperamos as energias. Porque, no fundo, é no meio do povo, da mobilização de massas, que vão se reconstruindo forças e rearticulações de poder real que podem mudar."

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Comentário final 

Que entrevista extraordinária! Mais atual que nunca!

Essas lições são de 2006. 

Por esses dias, vi uma entrevista de Stedile à CartaCapital, e aprendi tanta coisa que nem digo aqui. Daria outro textão.

Ouçam as lideranças do MST! É muita sabedoria, amigas e amigos leitores.

William

27/09/25 (22h14)