domingo, 7 de setembro de 2025

31° Grito dos excluídos e excluídas e mobilizações do 7 de setembro

 


Cartazes da militância que participou do Grito dos excluídos e excluídas e do 7 de setembro.


A Praça da Sé foi o local de mais um Grito dos excluídos e excluídas, e o ato começou com a distribuição do café da manhã a centenas de pessoas em situação de rua. 


A partir das 9 horas, lideranças de movimentos populares se revezaram em discursos potentes sobre as questões de moradia, alimentação e direitos básicos da cidadania da população de rua e o descaso e abandono das autoridades governamentais, da cidade de São Paulo e do estado de SP.


A Catedral da Sé fechou suas portas ao Grito dos excluídos e excluídas... essa é a gestão higienista do momento. 


Dança popular de matriz africana no Grito dos excluídos e excluídas.


Viva a África!!! Viva os povos do continente africano! Viva os povos que vivem no Brasil! O povo brasileiro precisa ter seus direitos respeitados!

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ATO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA PRAÇA DA REPÚBLICA

Após o ato na Praça da Sé, saímos em passeata para somar com a mobilização das centrais e partidos e movimentos organizados em defesa da soberania do Brasil, e com pautas centrais como o fim da jornada 6x1, isenção de imposto para quem ganha até 5 mil reais e cobrança de impostos dos mais ricos. E, lógico, punição para os golpistas do 8 de janeiro de 2023. SEM ANISTIA!

Foto feita por Malu.

Encontrei diversos companheiros e companheiras do movimento sindical do qual fiz parte por décadas de lutas. Para fechar o dia de participação nos atos do 7 de setembro, almocei com a turma do Sindicato.

William


Post Scriptum: ao chegar em casa e ver as notícias sobre as mobilizações do segmento de brasileiros vira-latas, apoiadores do crime organizado, o bolsonarismo lesa-pátria e canalha, fiquei estupefato ao ver a que nível chegou essa gente traidora da pátria brasileira: os vendilhões tiveram a coragem de desfilar no dia da Independência do Brasil com bandeiras dos Estados Unidos e de Israel! A de Israel a gente sabe que boa parte é porque esses bolsonaristas são burros e ignorantes, se dizem "cristãos" e desfilam bandeiras de Israel por serem mentecaptos... mas a dos EUA é porque são traidores da pátria mesmo! É duro!

sábado, 6 de setembro de 2025

Leitura: Artigo "Capitalismo financeiro digital, crise e desigualdade social", de Adilson Marques Gennari



Refeição Cultural

Artigo: "Capitalismo financeiro digital, crise e desigualdade social", de Adilson Marques Gennari. Revista Fim do Mundo, Marília, SP, número 8, 2023. O articulista é economista, doutor em Sociologia, Professor da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP Araraquara.

Leitura para reflexão antes de uma aula sobre o tema (em 06/09/25)

Aula VII (manhã) - Donald Trump, Misérias e Ideias para adiar o fim do mundo

Objetivo: textos de apoio para o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas", organizado e ministrado por IBEC, Unesp e demais parcerias

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A postagem é uma espécie de fichamento feito pelo autor do blog. Qualquer interpretação divergente do texto original é de responsabilidade deste leitor que comenta o texto.

Abaixo algumas palavras-chave ou ideias que gostei no referido texto.

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Resumo do artigo que vamos ler:

A sociedade capitalista global vem experimentando transformações determinadas, de um lado pela própria crise estrutural do capital que já vem se desenvolvendo desde o final do século passado na forma de crise econômica, crise ambiental, crise nas relações sociais (do emprego) e até crise de legitimidade; e de outro lado, pelos impulsos causados por revoluções tecnológicas que avançam para sua quarta fase (grundrissização), no contexto de uma fase de desglobalização do capitalismo e mudanças significativas nas relações internacionais com a emergência da Eurásia e dos países dos BRICS, em um novo contexto multipolar e pós-pandemia. O objetivo deste paper é contribuir ao debate sobre as contradições deste processo em relação a crise estrutural e seu impacto na pobreza e desigualdade social.

- O prof. Adilson começa o artigo citando os principais fatores que demonstram a atual fase do capitalismo e a crise estrutural na qual ele se encontra, com destaque para a decadência do império norte-americano e ascensão da Eurásia e BRICS, a destruição acelerada da natureza e a produção de lixo em escala que coloca em risco a vida na Terra

- Muito interessante a separação em lados antagônicos das forças que estão em disputa no momento: os contrarrevolucionários têm tipos como neonazistas e fascistas, burguesias decadentes urbanas, donos de terras e classes médias ressentidas... e do lado de cá, do meu lado, as forças sociais da revolução, onde cabem comunistas, socialistas, anarquistas, socialdemocratas, feministas...

- Duas crises marcam o fim da fase globalizada do capitalismo: a crise de 2008 do subprime e os movimentos de Trump da atualidade

- No entanto, o articulista nos explica que não é tão simples assim se desfazer no século XXI da cadeia global de produção capitalista como quer Trump

- O "capitalismo da globalização neoliberal" transitou para o "capitalismo global em crise estrutural"

- No trabalho, o autor questiona se há saídas para economias ex-colonizadas e escravizadas para além da subordinação aos centros econômicos hegemônicos do capital

- Celso Furtado é referência do prof. Adilson para explicar nossa desigualdade histórica desses cinco séculos de superexploração


Capital financeiro

- O articulista explica no texto o papel central do capital financeiro na atua crise estrutural do capital

- A mais-valia global vem se concentrando nas mãos dos donos do capital através da financeirização da economia

- Segundo Adilson, "A economia do capital é uma economia financeira"

- Comentário do blog: tenho achado o conjunto dos textos e aulas dos professores e professora marxistas excepcionais no sentido de trazer para nós a atualidade dos textos de Marx, principalmente de sua obra máxima, O Capital

- Adilson explica em seu artigo a materialidade da teoria de Marx já em início de funcionamento desde o financiamento dos holandeses ao negócio colonial com exploração da mão de obra dos povos africanos e originários das Américas por portugueses e ingleses e suas corporações

- Vemos ali o que já seria o papel do capital financeiro desde sempre nesse modo de produção e exploração que seria definido mais adiante como capitalismo (p. 7 do meu pdf)


A crise estrutural do capital

- Diferente das crises cíclicas, crises NO sistema, a crise estrutural é uma crise DO sistema capitalista

- Em outras dimensões categoriais, pode-se dizer que a "crise estrutural" é uma crise do próprio modo de produção capitalista

- O autor nos cita István Mészáros para elencar os motivos da crise estrutural do capital (obra "Para além do capital"), na p. 8 do pdf

- A destruição acelerada da natureza, a produtividade tecnológica e não necessidade de mão de obra humana e gastos crescentes na área militar com redução nos gastos sociais (subdesenvolvimento forçado) são exemplos claros da crise estrutural do capital

- Está em jogo o papel do trabalho no universo do capital na sociedade humana

- A quarta revolução tecnológica em andamento é tão impactante quanto a primeira lá no século XVIII e suas consequências também (p. 10 do pdf)

- "Chamamos essas mudanças e impactos de grundrissização da sociedade em uma referência direta a Fragmento sobre máquinas do clássico texto de Karl Marx (2011)"

- A máquina do capital possuía 3 partes, mas agora na quarta revolução tecnológica, teria o 4ª órgão (Bacchi), o órgão de controle (a máquina programável)

- Nesta fase científica e tecnológica, se torna cada vez menor a participação do trabalho vivo no processo produtivo das mercadorias


O Brasil nos BRICS na nova fase da (des) globalização multipolar

- O autor nos explica origem e atualidades dos BRICS

- Neste subitem, o prof. Adilson apresenta os novos desafios para o Brasil e demais membros dos BRICS e do movimento Sul-Sul frente ao colapso da velha ordem econômica e política hegemonizada por Estados Unidos e Europa


O trágico legado do Governo de Jair Bolsonaro (2019 - 2022)

- O inominável conseguiu realizar a façanha de derrubar o IDH do país após 3 décadas de governos brasileiros, ou seja, piora das condições de vida do povo como nunca visto

- O Brasil voltou também ao Mapa da Fome, tendo a metade da população vivendo sob insegurança alimentar e 33 milhões passando fome (p. 43 do artigo)

- Entre as causas o articulista cita 8 motivos para tal resultado no período: enviamos 28 bilhões de dólares a remunerar juros, lucros, royalties etc

- Outras causas: concentração de renda, redução de gastos sociais e da transferência de renda, arrocho salarial e no benefício dos aposentados, a inflação do desgoverno Bolsonaro com a reforma trabalhista, a militância bolsonarista com a morte de brasileiros durante a pandemia mundial, e a destruição da natureza e dos biomas, os números citados demonstram a tragédia do período bolsonarista


Considerações finais

- Inexiste a tão falada "concorrência de mercado" na realidade do sistema capitalista, principalmente na fase atual de capitalismo financeiro

- Urge o desenvolvimento de novas formas de produzir os bens úteis aos seres humanos como, por exemplo, as formas cooperativas da economia solidária

- A produção social humana deve focar o valor de uso e não a mais-valia, desenvolvendo forças produtivas em busca de uma sociedade mais solidária e sustentável

- Rússia e China saem na frente em relação à produção social contemporânea, já o Brasil precisa sair do modelo exportador de commodities que o mantém atrelado ao passado na produção mundial econômica

- A desigualdade social no Brasil segue altíssima e um dos motivos é sua forma de produção social atrelada ao passado como colônia exportadora e baixos direitos sociais

- O governo Bolsonaro fez o Brasil regredir em todos os índices que se têm notícias em décadas de história do país

- O autor afirma, observando os processos em andamento no mundo: "nunca a utopia de Marx de uma 'sociedade livre de homens livres conscientemente organizada' esteve tão distante do mundo real"

- A atual crise estrutural do capital é dupla: em Marx vemos a explicação da queda das taxas de lucros e em Mészáros vemos a destruição das relações sociais e do próprio planeta, ameaçando a existência humana

- Adilson levanta questões de difícil resposta em relação aos BRICS e seus membros estendidos, no que concerne às contradições do capitalismo sendo o modo de produção social dessas nações

- Por fim, sem a distribuição dos meios de produção e sem a mudança de relação entre os seres humanos e a natureza, não será fácil mudar a tendência de perspectivas sombrias para as gerações futuras.

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Leitura feita por 

William Mendes

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Instantes (13h13)



Refeição Cultural

A saída pela manhã tinha duas prioridades: meu trote de 2K em percurso com subida e adquirir o remédio para pressão arterial na Farmácia Popular, direito à saúde existente em governos de esquerda como no de Lula e quase extinto nos governos de direita como nos de Bolsonaro, Tarcísio et caterva.

Na farmácia, iria adquirir um medicamento receitado para lavar meus olhos por causa de irritações nas glândulas lacrimais. Ao ouvir o valor do remédio, fiquei estupefato... 185 reais! Francamente... lavo os olhos com sabonete neutro. Sou um privilegiado por ter o recurso para adquirir essa mercadoria, mas o preço disso é um assalto! Vai pro inferno esse capitalismo e essa porra de indústria da "saúde".


Ao voltar para casa, refletia sobre como é bom ainda caminhar e enxergar, o instante é único e não sei do amanhã (a natureza me mudou). Ao namorar as árvores floridas, me emocionei com o ipê branco que resiste fragilmente aos homens do capitalismo. Seu instante é tão único como o meu. Não sabemos do amanhã. 

Não pude resistir àquela potência da natureza. Atravessei a rua, fui ao encontro do ipê. Toquei em seu tronco, agradeci sua existência, sua resistência. Falei com ele. Que ser espetacular aquele ipê branco no meio da barbárie capitalista dos animais humanos!

Me despedi do ipê. Voltei para o concreto de minha moradia. Pensei até em fazer algo único para aproveitar meus olhos, minha existência frágil e instantânea.


A natureza para quem a vê e a percebe nos dá uma humildade incrível ao nos lembrar da finitude de tudo. A florada de um ipê branco tem a duração de horas, horas de uma beleza deslumbrante. Depois são galhos secos e a normalidade do viver cotidiano.

A vida também é assim, pouco mais, pouco menos de existência. Algumas estações do ano não são quase nada para um animal humano se comparadas ao tempo de um outro elemento da natureza, que pode durar centenas ou milhares de anos.

O instante...

William 

05/09/25

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Vendo filmes (XXXI)



Refeição Cultural

Lemon Tree (2008)

Direção: Eran Riklis e co-direção de Ira Riklis.

Com: Hiam Abbass, Ali Suliman, Danny Leshman, Rona Lipaz-Michael, Tarik Kopty, Amos Lavi, Lana Zreik e Amnon Wolf. 

Produção: Israel, Alemanha e França 


Sinopse: 

Uma viúva palestina, Salma (Hiam Abbass), vê seus limoeiros ameaçados quando o ministro da defesa de Israel, Navon, e sua esposa, Mira Navon, se mudam para a casa ao lado do pomar de Salma. A força de segurança israelense logo declara que os limoeiros colocam em risco a segurança do ministro e informa que eles precisam ser derrubados. Salma terá a ajuda do jovem advogado palestino Ziad Daud para ir até o Tribunal Supremo de Israel com a questão. 

Comentário:

Pelo que me lembro, vi este filme pouco depois de seu lançamento no Brasil. Fiquei impactado à época. Queria revê-lo já fazia um tempo.

Assistir ao filme agora, em pleno processo de genocídio do povo palestino, foi muito mais impactante que antes. 

É impossível não se sentir indignado com a injustiça que significa a ação do imperialismo norte-americano e do governo de Israel em relação ao povo palestino espremido na Faixa de Gaza e Cisjordânia após 1948.

Se já não bastasse todo o processo de ocupação da Palestina por israelenses após o término da 2a Guerra Mundial, expulsando o povo árabe que vivia ali há séculos numa divisão pra lá de controversa, e todos os avanços ilegais da ocupação até hoje, agora o mundo assiste à catástrofe humanitária de eliminação dos palestinos de sua terra. 

O filme se passa na fronteira entre áreas ocupadas por judeus em Israel e a Cisjordânia dos palestinos, em meados da primeira década deste século.

Os espectadores verão a tensão cotidiana na convivência entre judeus e palestinos. Há violências simbólicas nos abusos cometidos contra o povo palestino. E contra as mulheres do mundo...

Salma não aceita pacificamente a decisão monocrática do Estado de Israel de eliminar seu pomar de limões. 

No enredo, vamos perceber a questão da violência contra as mulheres, comum aos dois povos: árabes e judeus. 

Salma e Mira, em lados opostos, terão mais coisas em comum do que se poderia imaginar. 

Enfim, o filme é muito bom! Muito atual! E incomoda a gente, incomoda porque põe o dedo na ferida da causa palestina e das causas das mulheres.

Valeu muito rever Lemon Tree, que nos cativa do início ao fim, inclusive pelas cenas amenas que vemos como os momentos regados a limonadas.

William 


Post Scriptum: para ler comentário anterior sobre filmes é só clicar aqui.


terça-feira, 2 de setembro de 2025

Instantes (19h24)



Refeição Cultural

AMARGO

Acordei com a notícia do falecimento do jornalista Mino Carta, aos 91 anos de idade. Fiquei triste, amargo.

Nesses dias, faleceram Luis Fernando Verissimo e Jaguar. Três grandes jornalistas, escritores, pintores e cartunistas brasileiros. 

Essas perdas me fizeram pensar na morte como uma realidade inevitável a todos nós. Num momento, estamos aqui, noutro, não existimos mais. 

Após a notícia triste, não havia outra coisa a fazer que não fosse fazer a minha parte para alongar a minha permanência na Terra. Fazer uma atividade aeróbica para retardar a bomba-relógio de minha genética. 

(Fazer, fazer, fazer... a aliteração pode ser uma estilística, mas não uma solução...)

Durante a caminhada acelerada, pensei tanta coisa, mas tanta coisa, que nem poderia registrar! Deve ter sido a boa oxigenação no cérebro...

Aí, pensando a respeito da morte, tenho que engolir o fato repugnante de que aquele verme genocida está sendo julgado hoje por outro de seus crimes, por tentativa de golpe de Estado, e não pelo genocídio planejado de centenas de milhares de brasileiros... é muito injusto isso!

Bolsonaro não tem nenhum processo pela morte planejada de centenas de milhares de pessoas ao longo de sua gestão como presidente do Brasil durante a pandemia de Covid-19. O cara nem é mais lembrado por isso, pelos 700 mil mortos sob sua regência...

Amargo... estou amargo.

Todos os corruptos se dão bem no mundo! Todos, com raras exceções. Um tá cumprindo pena num apto de 600 m2. A canalha responsável pelo suicídio do reitor de Santa Catarina está aposentada com proventos integrais de 50 mil dinheiros...

Só pobre, pretos, miseráveis que se fodem nessa sociedade humana de merda!

Tô amargo pra caralho!

Aí quando vejo a notícia da morte do Mino Carta, fiquei pensando no livro dele na estante de casa que queria porque queria ter lido com o autor ainda vivo...

É aquela culpa que carrego como um pecado original por não ter lido um monte de livros e autores que gostaria de ter lido e não li... porra, quando foi pra ser leitor de dezenas de livros, optei por aceitar a missão de ser sindicalista... caralho! Não podia fazer de conta que era sindicalista, tinha que ser de verdade, aí o curso de Letras foi pro saco, pro inferno.

Fazer, fazer, fazer... fiz o que tinha que ser feito. Mas hoje não sou porra nenhuma! Não sou professor, não tenho profissão nenhuma. E como não sou mais sindicalista, não sou nada!

Estou amargo hoje. É muita gente que admiro morrendo, gente que ensinou, educou, politizou, transmitiu valores que estão se perdendo. Fico triste de ver partir intelectuais que dedicaram a vida a evoluir a espécie humana e a sociedade. 

Mino Carta, Verissimo, Jaguar, sempre presentes! Obrigado por tudo! Vocês melhoraram o mundo!

William 

02/09/25

domingo, 31 de agosto de 2025

Diário e reflexões


Uma vida precisa de bases, raízes.
Eu tenho minha base sólida.


Refeição Cultural

Osasco, 31 de agosto de 2025. Domingo. 


AGOSTO 

Lá vou eu registrar sentimentos e acontecimentos relativos ao percurso existencial deste cidadão brasileiro durante o mês de agosto. 

Enquanto escrevo, tenho a companhia da banda Nirvana, tocando o Acústico MTV - Unplugged in New York. Álbum espetacular!

SAÚDE 

O mês começou com o procedimento médico de retirada de uma lesão na língua, lesão descoberta por observação minha mesmo. 

Foram dois meses de consultas e investigações até se chegar ao diagnóstico e retirada da leucoplasia. 

Amig@s leitores, cirurgia na língua é foda! Foi uma semana sem conseguir mastigar e comer alimentos sólidos. Fiquem atentos a manchas brancas na região da boca. Vou ter que acompanhar o caso pelo resto da vida, pois pode voltar.

Sigo sendo um homem de sorte. Já retirei um câncer de pele da cabeça e uma lesão potencialmente perigosa da língua. Com isso, tiro uns pedacinhos do corpo e preservo o corpo todo.

Colesterol e glicose

Somos natureza, animais mamíferos. Somos nossa genética somada ao percurso do viver. A minha genética veio programada com uma bomba-relógio: doenças crônicas que evoluem para infarto, AVC e doenças agravadas por colesterol e glicose alterados.

Sempre pratiquei atividades físicas, principalmente aeróbicas. Aí meu sistema locomotor bichou, o quadril deu problema. E com a redução da corrida, o colesterol vem aumentando insistentemente desde 2018. Dureza! Não gosto de outros esportes aeróbicos. Amo correr!

Decidi insistir nos trotes, vou correr em subidas para ter impacto menor e concentrar muito na pisada. E vou caminhar com ritmo bom e batimento cardíaco maior por pelo menos 40'. Vou planilhar as atividades aeróbicas por seis meses e fazer novo exame de sangue. Vamos ver se estabilizo os níveis de colesterol e glicose.

CULTURA

Terminei a leitura do boneco de meu livro de memórias. Boneco é uma edição para avaliar o conteúdo antes dos acertos finais. Gostei do trabalho feito pela equipe de Cleusa Slaviero, da Editora ComPactos. Agora é fazer algumas unidades e lançar ao mundo um pouco das histórias dos bancários que vivemos juntos nos anos dois mil.

Sigo firme no trabalho cansativo de sistematização de meus textos nos blogs de cultura e sindical, são cerca de seis mil postagens. Um dia eu termino. Estou relendo, diagramando e encadernando. Já tenho vários cadernos prontos. Posso dizer a vocês que tem muito texto que teria valor histórico se os tempos fossem outros.

Como a vida é um instante, tenho avaliado que preciso começar a ler com disciplina livros, livros de literatura, de áreas que gosto, livros clássicos. Não sei até quando vai minha sorte e não poderia passar um dia sem ler meus livros, alguns adquiridos e aguardando minha leitura há décadas, décadas!

Conjugado a uma rotina de leitura diária, enquanto estamos por aqui, posso escrever em minhas páginas para compartilhar gratuitamente o que eu aprendi ou refleti sobre as leituras que tive a oportunidade de fazer. Esse é o objetivo dos blogs desde que os criei.

POLÍTICA

Durante décadas como dirigente nacional da classe trabalhadora, tive o privilégio de aprender política. A consciência política que adquiri me permite ter uma leitura atenta da realidade brasileira e mundial, e dos seres humanos. A situação do mundo está muito séria. Diria que vivemos um momento decisivo para a humanidade e para o planeta Terra.

Se tivesse sido aproveitado no movimento social de onde vim, teria que ler e compreender e repassar toda a leitura que tenho da realidade aos meus companheir@s. Não tendo mais utilidade para o movimento, tenho que me policiar para não "perder" tempo com a política, preterindo meu objetivo de me dedicar à cultura e autoconhecimento.

Se me deixo levar pelo cacoete de décadas de lutas políticas, me pego querendo me meter em temas que não vão me levar a lugar algum, a não ser saber um pouco mais do que já sei alguma coisa de política e sentir mais impotência por não poder mudar a realidade, pois nem na política estou.

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Enfim, tenho que fazer algumas coisas pessoais para continuar por aqui e tenho que ter disciplina e amor-próprio para fazer algo pelo conhecimento, tanto para mim, quanto para as pessoas que lerem as coisas que escrevo.

Seguimos vivendo. Viver é uma oportunidade diária.

Will i am


sábado, 30 de agosto de 2025

O sentido da vida (8)



"Sentia-me três vezes desgraçado: meu pelo era mosqueado, haviam-me castrado e os homens imaginavam que eu não pertencia a Deus nem a mim mesmo, como é próprio de todo ser vivente, e sim, a um cavalariço." (Kolstomer - História de um cavalo, Tolstói, 1886)


As relações sociais dão sentidos ao viver

Qual seria o sentido da vida, se não há nada dessas abstrações inventivas do animal humano, aquele que dominou a natureza, inventou a linguagem e ao final se perdeu acreditando em suas próprias abstrações?

Passou o dia envolvido com um texto extraordinário do século XIX, criado por um dos maiores escritores da Rússia, Leão Tolstói. No enredo, o narrador nos conta a história de Kolstomer, um cavalo que sofreu preconceito, violência e abandono, algo comum na vida de milhões de pessoas neste mundo cruel.

A leitura definitivamente é uma das invenções humanas que podem contribuir para dar significados à vida das pessoas. Ler literatura, ciências e história permite aos leitores se libertarem da triste sina da ignorância, o principal motivo para milhões de animais humanos serem escravos manipulados por espertalhões. 

Naquele dia, refletiu sobre muitas coisas, todas elas ligadas ao sentido da vida: ao parabenizar seu pai pelo aniversário de 83 anos, agradeceu a ele por tudo que fez para todas as pessoas que ele ajudou a se estabelecerem neste mundo cruel e injusto.

Ainda estava pensativo sobre o sentido da vida do personagem Kolstomer... mas o sentido da vida de seu pai, e de sua mãe, e de sua própria vida era mais compreensível àquela altura da existência. 

É notório o sentido de complementaridade e de interdependência que existe na vida da espécie humana na natureza. A vida de seu pai contribuiu para a existência de muitas pessoas da família, assim como sua própria vida naquele momento. 

O ser humano é um ser social por natureza. As relações nos dão sentido.

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sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Instantes (11h20)



Refeição Cultural

Acordei pensando em retomar a leitura do excelente livro de Aline Miglioli, jovem intelectual que se debruçou no estudo da questão da moradia em Cuba. 

É muito gratificante ler um texto que te esclarece diversas dúvidas em relação a um tema de interesse. Admiro Cuba e o povo cubano e a professora Aline me esclareceu muita coisa em algumas dezenas de páginas. 

O olhar de economista dela ampliou minha compreensão sobre a história e a situação de Cuba. Como é bom aprender com pessoas dispostas a compartilhar seus conhecimentos conosco!

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Agora vamos para a rua praticar atividade física aeróbica, pois viver é uma oportunidade de aprender e seguir melhorando como um ser humano que sabe o quanto é incompleto.

A conversa com nossa médica de família ontem foi excelente e devo ter disciplina nas atividades físicas para tentar alongar minha permanência no mundo e com pessoas de minha relação. 

Will i am 

29/08/25

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Livro: Memórias de um trabalhador politizado pelos bancários da CUT - William Mendes



Refeição Cultural

Ler minhas Memórias em formato de livro foi uma experiência bem diferente da leitura dos capítulos no blog. 

O trabalho de equipe da Editora ComPactos tornou a experiência bastante agradável, na minha opinião. 

Escrevi as Memórias entre o final do ano de 2021, auge da pandemia, e agosto de 2023. A base principal de consultas para a confecção dessas Memórias foi os milhares de textos de meu blog sindical: A Categoria Bancária - InFormação e História.

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A importância da História 

Por muito tempo fiquei me perguntando como foi possível as lideranças da República Socialista de Cuba resistirem a décadas de bloqueio e tentativas de mudança de regime por parte do vizinho, os Estados Unidos. 

A compreensão veio após passar a estudar um pouco a respeito da história de Cuba e da Revolução Cubana para visitar o país. Tive a oportunidade de ir a Cuba duas vezes e a experiência me ajudou a formular uma explicação para tamanha resistência: Educação e História.

A educação do povo cubano baseada nos ensinamentos de José Martí há mais de um século e a importância que o governo revolucionário cubano dedica à história são fundamentais para a manutenção do espírito altivo e patriótico das pessoas, geração após geração de cubanos desde 1959. A professora Maria Leite, especialista em Cuba, nos fala de cubanidad e cubanía para expressar esse sentimento que o povo tem de amor à sua pátria.

Sem Educação e sem História um povo não consegue resistir à ideologia do capitalismo e suas ferramentas cada vez mais avassaladoras na captura de corações e mentes. 

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O nascimento da edição impressa das Memórias

Ao aceitar a sugestão de transformar em livro as dezenas de capítulos de memórias que fiz em meu blog sindical durante a pandemia mundial de Covid-19, sugestão da editora Cleusa Slaviero, os textos foram ganhando outra leitura e a sistematização no formato de livro me permitiu ler e reler e reler e fazer textos acessórios para apresentar as minhas Memórias.

Enfim, diria hoje que organizar uma edição de livro é uma oportunidade interessante de manusear e refletir sobre os próprios textos que o autor fez sem aquela intensão inicial de editar um livro.

Um dos motivos para realmente decidir reunir os textos em uma edição impressa é a questão muito atual da guarda de produção cultural da humanidade em "nuvens", em formas digitais e virtuais majoritariamente guardadas nos servidos de poucas big techs que dominaram o planeta Terra em sua área. 

Há tempos venho alertando leitoras e leitores de meus blogs para que não depositem toda a sua produção cultural nessas tais "nuvens" dos inimigos da humanidade, as corporações capitalistas que fizeram da internet e da tecnologia da comunicação uma máquina de manipulação da humanidade.

Imprimir e presentear alguns conhecidos é uma forma de deixar em algumas estantes e locais dispersos do mundo um pouco da história de um militante de uma categoria de trabalhadores que faz parte da luta de classes entre os capitalistas e nós o povo explorado por eles, no Brasil e nos demais pontos geográficos do mundo.

Ao reler pela enésima vez os 39 capítulos e o pequeno livro anexo com a história dos bancários nos primeiros anos do governo do Partido dos Trabalhadores, e com o olhar de estudioso que tenho (não posso negar isso), concluo que ali contém informações relevantes no que diz respeito a um recorte do tempo de nossa categoria bancária, do segmento dos funcionários do Banco do Brasil, da corrente política majoritária no campo cutista e do próprio Brasil durante a fantástica experiência vivida pelo povo brasileiro através dos governos do PT, de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

O trabalho de confecção dessas Memórias, dessas histórias, foi grande. A releitura foi trabalhosa. Mas entendo que foi necessário editar o livro. Os textos não têm só informações históricas, têm momentos de emoção, de alegrias e de tristezas, afinal de contas o autor é um militante, é um ser humano como todos os demais.

Por fim, afirmo a vocês que os textos são sinceros, é o que posso garantir aos leitores que já os leram no blog e aos que por acaso venham a lê-los editados na forma de livro nessas minhas Memórias

O nome comprido do livro é o que tinha que ser, pois o autor realmente é hoje o resultado real de seu mundo do trabalho, um trabalhador que passou a ser outra pessoa depois do convívio com os bancários da maior central sindical do país, a nossa querida Central Única dos Trabalhadores e Trabalhadoras.

Agora que reli o boneco final do livro, é imprimir algumas unidades e lançá-las ao mundo.

William Mendes

Dia dos Bancários

Aniversário da CUT

28/08/25

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Instantes (10h24)



Refeição Cultural

Acordei pensando nas reflexões do personagem Winston, do clássico livro de George Orwell, "1984". Ele refletia sobre o esforço necessário para não se deixar apagar a verdade verdadeira e como resistir à "verdade" de mentira que o regime implantava diariamente, reescrevendo o passado. 

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"Quem controla o passado, controla o futuro;

quem controla o presente, controla o passado."

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Aí pensei no presente do meu tempo. O passado está sendo apagado. O presente está sendo registrado em "nuvens" (dos inimigos) e, com isso, no futuro, não teremos mais nem o passado (o presente), nem perspectivas de futuro. 

Eu fico com dó da gente, dos seres humanos... temos histórias tão bonitas pra contar... a dos bancários, por exemplo, são muitas histórias bonitas da categoria que enfrenta nada mais nada menos do que os donos do capital.

E no meio das lutas de classes diárias, tem as lutas diárias pessoais, dos trabalhadores. Meus blogs e meus registros são isso, memórias de nosso passado coletivo, registros de nossos acertos e erros, sentimentos e ações. 

Onde fui ler que meu pai infartou em fevereiro de 2012, e que o dirigente sindical escreveu um poema na UTI do hospital, decepcionado com as privatizações dos aeroportos brasileiros naquele momento? No meu blog...

Winston reflete sobre a verdade verdadeira e se desespera ao saber que ao morrer, morrerá com ele a verdade, e ficará registrada só a "verdade" mentirosa, reescrita pelo regime. 

Preciso terminar de vez a revisão de meu livro de memórias e imprimir algumas unidades para presentear pessoas conhecidas. Recebi o boneco da edição e relendo os textos me surpreendi com o conteúdo. Não está ruim. São nossas histórias ali, não são só minhas. 

Nosso sindicato e nossas entidades de classe têm histórias bonitas para serem contadas, e devem ser preservadas por nós que as vivemos. Um futuro que não tenha referência no passado coletivo que construímos é um futuro distópico.

Tenho que seguir resgatando o nosso passado, é minha obrigação como ser social, minha e de todos nós da classe trabalhadora explorada e subjugada pelos donos do capital, e dos meios de produção, incluídas as "nuvens" que guardam nosso presente e nosso passado.

William Mendes


Post Scriptum: aqui pode ser lido artigo que fiz em fevereiro de 2012 sobre o tema "1984", de George Orwell.

domingo, 24 de agosto de 2025

O sentido da vida (7)



Buscar e compartilhar o conhecimento

Acordou no domingo bem cedo. O silêncio era tão prazeroso que se negou a bater frutas no liquidificador.  Cortou as frutas no prato e comeu em silêncio. 

Qual o sentido da vida? Da vida humana? Da sua vida? Em termos práticos, ou de forma utilitarista, naquela altura da vida, viver era dar suporte e conviver com pessoas de sua relação familiar.

Que mais? Pensando a respeito disso, o que mais lhe vinha à mente era o amor pelo conhecimento, o desejo de ter sido um intelectual e professor como homens e mulheres admiráveis por dedicarem suas vidas à cultura. 

Pelos motivos do próprio viver, as veredas que foram se abrindo em seu percurso definiram trilhas que o afastaram da realização de se tornar um professor. Não rolou.

Talvez seja por isso que tenham surgido suas páginas de textos na internet, o desejo de compartilhar alguma coisa que tenha aprendido e não possa passar adiante em uma sala de aula.

Enquanto pensava nisso, lágrimas rolavam por seu rosto. A vida acabou sendo do jeito que foi possível.

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sábado, 23 de agosto de 2025

Leitura: Capítulo 1 do livro O que é questão agrária? - Frederico Daia Firmiano



Refeição Cultural

Artigo: leitura do capítulo 1 "Introdução: colocando o problema" do livro O que é questão agrária?, de Frederico Daia Firmiano. Marília: Lutas Anticapital, 2022

Leitura para reflexão antes de uma aula sobre o tema (em 23/08/25)

Aula VI (tarde) - Agronegócio, mineração e produção destrutiva

Objetivo: textos de apoio para o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas", organizado e ministrado por IBEC, Unesp e demais parcerias

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A postagem é uma espécie de fichamento feito pelo autor do blog. Qualquer interpretação divergente do texto original é de responsabilidade deste leitor que comenta o texto.

Abaixo algumas palavras-chave ou ideias que gostei no referido texto.

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- Muito interessante a mensagem da equipe de produção deste e de outros livros através da Editora Lutas Anticapital

- Enquanto os defensores da reforma agrária ainda apostam no discurso que a questão é uma dívida histórica, os apoiadores do capital vendem a ideia de que a expansão capitalista resolveu a questão agrária nacional

- Firmiano cita como exemplo do segmento de entusiastas do agronegócio, Zander Navarro, que cita diversos motivos para achar que não há mais problemas agrários no país, nem necessidade de reforma agrária porque não haveria demanda de terras, o povo do campo migrou para as cidades

- O autor reconhece que os motivos apresentados por Navarro são tendências atuais, sim, mas questiona se motivos como forte urbanização e domínio da produção de commodities não seriam justamente manifestações da questão agrária no Brasil

- Não podemos confundir "tendências" com "leis", as coisas na sociedade humana são consequências das escolhas humanas e não leis naturais (em linhas gerais, é isso que Firmiano está dizendo aos leitores)

"Mas se virmos esse processo como uma tendência – e não como uma lei – provocada por um conjunto complexo de atividades humanas, então teremos muito o que fazer. Trata-se de uma certa postura teórico-metodológica (e ao mesmo tempo política) diante da história." (p. 18)

- Achei interessante a forma como Firmiano apresenta a questão agrária, ele desmascara a forma determinista e de "fim da história" na qual Navarro se coloca. Somos homens e mulheres e fazemos história, não há evoluções "deterministas" como tentam fazer os capitalistas

"Por isso, falar em questão agrária implica em buscar, no tempo e na história, quais são as determinações de sua existência e para a sua superação." (p. 19)

- A questão agrária é determinada pela história: "é possível afirmar que não existe uma questão agrária idêntica no tempo e no espaço, ou mesmo uma questão agrária genérica, abstrata, 'em geral'. Ela possui forma e conteúdo determinados pela história." (p. 20)

- O livro vai percorrer momentos da história do Brasil para encontrar os determinantes da questão agrária em nossa "formação histórico-social", como diz o autor

- Firmiano já nos antecipa que a ditadura civil-militar (1964-1985) pesou na conformação do que hoje conhecemos como "padrão de desenvolvimento dos agronegócios no Brasil":

"a ditadura civil-militar (1964-1985), quando veremos nascer as condições para o surgimento do padrão de desenvolvimento dos agronegócios no Brasil (FIRMIANO, 2016). Sua consolidação, no pós-ditadura civil-militar, delineará a questão agrária atual no Brasil." (p. 21)

- Aviso final de Firmiano para a abordagem que será dada ao livro:

"Dito de outro modo, sem termos nitidez sobre o que é a nossa questão agrária, não é possível falar em reforma agrária, sob o risco de cairmos naquele grupo, que mencionávamos anteriormente, que advoga sua necessidade história mais por razões morais que por força da realidade objetiva e da consciência da classe trabalhadora." (p. 22)

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Leitura feita por

William Mendes

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Professor Frederico Firmiano

Post Scriptum (após a aula):

Aula: A produção destrutiva do agronegócio e da mineração

O professor Fred nos disse que para essa aula pensou em alguns dados para avaliarmos e termos noções reais da questão destrutiva do agro e da mineração... os dados são chocantes! (estamos f... se nada for feito)

Confesso que a apresentação do professor me tomou a atenção de uma forma que quase não anotei nada na hora. Isso já havia acontecido em algumas aulas anteriores. Repito o que venho afirmando: as aulas do curso são extraordinárias!

A apresentação montada por Fred foi com base numa plataforma de dados chamada MapBiomas, uma fonte de pesquisa conhecida na área.

Logo de cara, nos lembramos mais uma vez da história de nosso país, uma terra pensada e organizada de fora para dentro, como colônia de exploração, as elites do país organizam o Brasil para ser um exportador de commodities, de base monocultora, desde a origem há cinco séculos.

Exemplos das monoculturas deste momento da história brasileira: soja, carne ("proteína") e setor sucroalcooleiro. E minérios, claro!

Nossas metrópoles "parceiras" (contém ironia) só foram mudando de endereço ao longo desses séculos. Fred fez uma referência ao "player global" do momento, a China.

Alguns dados do Brasil em 2024 chamam a nossa atenção:

- Agro: 50% da exportação do BR ano passado. Desse montante do agro, 33% são soja, 15,9% são carne, 12% foram do complexo sucroalcooleiro

- China: comprou 73,4% da soja exportada e 70% do minério de ferro

- Os dados apontam que 2805 de 5570 municípios são de alguma forma "mineradores"

Ou seja, é difícil entender por que o setor de agronegócios é tão poderoso em nosso país?

- A questão da linguagem: O Vale do Jequitinhonha (MG) virou "Vale do Lítio", segundo o governador de lá...

- O monopólio corre solto nesses setores dominantes da economia do país. Muitas vezes, a exploração é feita por apenas uma empresa.

- 400 milhões de toneladas de ferro foram exportadas em 2024. Fica a pergunta: quanto foi extraído para se produzir essa tonelagem e qual o tamanho dos rejeitos que ficaram?

- Minerais críticos e terras raras: nenhum país quer "minerais críticos" para fazer carros elétricos... É para fazer mísseis e bombas!

- Pra onde vamos? (a última imagem da apresentação traz o quadro "O grito", do pintor Edvard Munch...

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No bate-papo com o professor, achei legal a reflexão sobre precisarmos definir as questões necessárias e as questões contingentes na vida nacional e em nossas vidas. 

Pensar o futuro do planeta e da sociedade humana é algo necessário e pensar as eleições 2026 no Brasil, por exemplo, é uma questão contingente, não vamos deixar nenhuma delas, são questões da ordem da estratégia

Como as demais aulas, a do professor Fred foi incrível! Muita reflexão a se fazer e atitudes a se pensar e praticar

William

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Leitura: Capítulo 6 do livro Casa à venda: Turismo, mercado de imóveis e transformação sócio-espacial em Havana - Aline Marcondes Miglioli



Refeição Cultural

Artigo: Capítulo 6 do livro Casa à venda: Turismo, mercado de imóveis e transformação sócio-espacial em Havana - Aline Marcondes Miglioli

Leitura para reflexão antes de uma aula sobre o tema (em 23/08/25)

Aula V (manhã) - Cidade neoliberal, reforma urbana e a questão ambiental

Objetivo: textos de apoio para o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas", organizado e ministrado por IBEC, Unesp e demais parcerias

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A postagem é uma espécie de fichamento feito pelo autor do blog. Qualquer interpretação divergente do texto original é de responsabilidade deste leitor que comenta o texto.

Abaixo algumas palavras-chave ou ideias que gostei no referido texto.

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- Ao ler a introdução do texto, já fiquei com vontade de adquirir o livro, que é fruto de uma pesquisa acadêmica para tese de doutorado que estudou a questão habitacional em Havana, Cuba. Estive na Ilha socialista nos últimos dois anos, em 2023 e 2024, e as experiências foram inesquecíveis. A leitura do trabalho de Aline Marcondes Miglioli me permitirá compreender bem melhor o que vi e conheci em Cuba

A TEORIA DA RENDA DA TERRA EM MARX E SUA APLICAÇÃO NO ESPAÇO URBANO

- O início do capítulo 6 já explica bastante a teoria marxista sobre o tema:

"A teoria da renda da terra (TRT), tal como foi desenvolvida por Marx em O Capital (2017), pretendia interpretar o papel da renda da terra no modo de produção capitalista, portanto, levava em conta a existência da Lei do Valor e das classes sociais capitalistas: os capitalistas, os trabalhadores e os proprietários fundiários. Nesse modo de produção, os primeiros são proprietários dos meios de produção; os segundos, da força de trabalho; e os proprietários fundiários detêm a propriedade da terra, e por isso podem cobrar dos capitalistas e trabalhadores um preço sobre ela."

- Para diferenciar resultados diferentes de produções em terras de mesmo tamanho e com o mesmo uso de capital e trabalho, lucro maior que o lucro médio de outros produtores, Marx aponta características específicas da terra como, por exemplo, fertilidade e localização

- A autora diz que, em geral, no capitalismo, o capitalista não detém a propriedade da terra, ele arrenda ela do proprietário fundiário. Ao saber das qualidades de solos mais férteis, seus donos cobram aluguéis maiores, se apropriando de parte do sobrelucro dos capitalistas, é a renda da terra

- Marx explica isso: "Por tratar-se de uma renda originada pelo diferencial de produtividade, Marx a denomina de renda da terra diferencial de tipo 1, pois ela depende da produtividade natural dos terrenos."

- Na renda da terra diferencial de tipo 2, há mais questões além das qualidades originais da terra, pois serão avaliados investimentos consecutivos e respectivos resultados adquiridos

- Temos ainda a renda fundiária absoluta, para aquelas terras que não têm o diferencial de produtividade, mas que não são gratuitas:

"Marx responde essa pergunta através da renda fundiária absoluta, a qual corresponde ao rendimento cobrado pelo proprietário fundiário para que ele coloque seu lote à disposição da produção capitalista. A cobrança da renda absoluta garante que em nenhuma situação o preço da terra seja igual a zero, pois existirá sempre um preço que corresponderá ao preço de integrar a terra à produção capitalista."

- Ainda temos a expressão da renda da terra de proprietário fundiário monopolista (no exemplo, uma vinícola):

"O proprietário fundiário pode cobrar do capitalista parte desse lucro extraordinário através da renda da terra. Nesse caso, a renda não guarda relação alguma com a fertilidade da terra, e resulta tão somente do preço de monopólio daquele vinho (Marx, 2017)."

- Em resumo, a renda da terra é contraditória no capitalismo, mas:

"A renda da terra ocupa, assim, uma posição contraditória no capitalismo, pois ao mesmo tempo que a propriedade privada da terra é necessária ao capitalismo, ela representa barreiras ao capital em sua esfera produtiva (Harvey, 2001)."

- Aline explica as adaptações necessárias para interpretar a realidade presente na questão da renda da terra interpretada por Marx no passado e no contexto urbano atual:

"pois diferentemente dos bens agrícolas, os bens urbanos são consumidos no mesmo local em que são produzidos, e sendo construções, tratam-se de bens de consumo de longa duração. Ademais, enquanto na terra agrícola a renda é extraída no momento de realização da produção, nas cidades a renda da terra aparece em dois momentos: quando a produção urbana se realiza, por exemplo, na venda de um imóvel; e quando comercializa-se valores de uso do solo — o residencial, comercial e industrial (Jaramillo, 2003) —, transformando as possibilidades e formas de obtenção de lucro-excedente em cada espaço."

- A autora nos explica o conceito de "construibilidade", que equivale a renda diferencial do tipo 1, pois importa as características do terreno para estabelecer os custos de produção

- A renda diferencial do tipo 2 teria relação com a verticalização nos centros urbanos. A cada pavimento superior, aumentam-se os custos de produção, em linhas gerais

- A renda absoluta nas cidades teria a mesma característica que na produção agrícola ao incorporar-se a produção no espaço urbano

- Por fim, sobre a renda monopolista, Aline nos explica que:

"No que diz respeito à renda monopolista, no espaço urbano encontramos preços de monopólio nas construções localizadas em bairros prestigiados pela burguesia, as quais são vendidas por preços superiores aos de mercado e de produção com o objetivo de restringir o acesso do restante da população àquele imóvel."

- Comércio não gera valor, nos explica Marx. Vejamos a nota da autora:

"De acordo com Marx, o comércio não produz valor, pois não gera-se mais-valia. O que torna-se o lucro comercial nesse caso é a captura, por parte dos capitalistas comerciais, de parte da mais-valia produzida nos setores produtivos. Ainda assim, apesar do comércio não gerar mais-valor, na medida em que contribuem para a abreviação do tempo de circulação das mercadorias, ele pode contribuir para aumentar o mais-valor gerado pelo capital industrial, o que lhes garante o direito a uma parcela do mais-valor gerado pelo capital industrial (Marx, 2017)."

- Aline conclui nesta parte o seguinte:

"Por fim, destacamos que três aspectos da concepção de renda da terra de Marx serão fundamentais para o debate sobre o mercado de imóveis cubano: a necessidade de existir propriedade privada dos meios de produção para garantir o direito de apropriação da renda da terra por uma classe social; a conceitualização da renda da terra enquanto uma parte do sobrelucro gerado em uma atividade produtiva; e a existência da renda da terra no meio urbano em duas formas, pelos diferenciais de “construibilidade” e pelo valor de uso do espaço."

RENDA DA TERRA NO MERCADO DE IMÓVEIS CUBANO

- A autora começa a seção explicando que muitos estudos já foram realizados em relação às possibilidades de haver ou não os efeitos da Teoria da Renda da Terra nas sociedades em transição para o socialismo como URSS, China e outros países

- "Sendo assim, investigar a existência da renda da terra em Cuba significa responder a um conjunto de perguntas: existe um sobrelucro sendo apropriado enquanto renda da terra? De que forma ele é apropriado? Quem o recebe? Qual o seu uso econômico, ou seja, qual seu papel na organização da produção na transição socialista? Qual a consequência da apropriação de sobrelucro sob a forma de renda da terra? Nesta seção buscaremos responder essas perguntas nos baseando na dinâmica do mercado de imóveis havaneiro exposta no Capítulo 5."

- Aline explica que há mais-valia ou mais-valor nas sociedades em transição do capitalismo para outra forma de produção. No caso, caberia ao Estado se apropriar desse valor e distribui-lo:

"Nesse período, ainda que indesejavelmente, segue vigente a produção de mais-valor, mesmo nos casos em que ela se realiza de forma coletiva através da estatização dos meios de produção. Logo, cabe ao Estado apropriar-se desse mais-valor e distribuí-lo 'a cada qual segundo seu aporte'."

- O parágrafo seguinte é importante destacar aqui na resenha, pois explica bem o que compreendi nas duas vezes em que estive em Cuba e conversei com os cubanos:

"Vimos também que é teoricamente possível admitir a propriedade privada dos meios de produção durante a transição socialista, desde que a produção seja centralmente planejada e socialmente distribuída. Em Cuba, a propriedade dos meios de produção esteve historicamente concentrada no Estado, no entanto, nas últimas três décadas houve uma desconcentração para a propriedade privada na tentativa de recuperar e estimular determinados setores econômicos. Ainda assim, o controle sobre a produção do setor privado é realizado de maneira indireta pelo Estado, seja através de seu monopólio sobre as licenças para o trabalho autônomo e privado, ou da reapropriação de parte da produção privada através dos impostos, com os quais busca-se estatizar parte do mais-valor gerado privadamente para distribuí-lo socialmente na forma de bens e serviços públicos."

- A autora também considera a existência do sobrelucro nas relações de produção social em Cuba

- Quem são os agentes proprietários dos meios de produção no setor de turismo em Cuba?

"o Estado cubano; as empresas internacionais, que operam em associação com o Estado; e os trabalhadores cuentapropia, que praticam as mesmas atividades dos outros dois agentes de forma privada e autônoma."

- Os cubanos que trabalham por conta própria são os TCP, na descrição do texto

- Esses três agentes possuem a propriedade privada dos meios de produção: o Estado possui os imóveis e as autorizações onde se instalam os hotéis, os hotéis possuem a marca e a técnica da hotelaria e os cubanos possuem suas casas-negócio, carros, instrumentos musicais etc

- A explicação seguinte de Aline é muito esclarecedora para compreender a economia cubana: quando fico na casa de um cubano, fico lá por motivos turísticos, localização e outras benesses que o local vai me oferecer. Então, não estão todos os cubanos em condições igualitárias para aquele processo de produção social:

"No caso cubano, se analisarmos o mercado de imóveis, não iremos encontrar a exclusividade da propriedade da terra, uma vez que os terrenos são públicos e não há cubanos excluídos do direito a uma moradia. No entanto, a indústria do turismo é uma atividade econômica cuja principal fonte de rendimento é o próprio consumo do espaço. Sendo assim, por mais que todos os cubanos possuam uma moradia, nem todos possuem uma moradia que cumpre o papel de um meio de produção, como fazem as moradias em localização turística. Concluímos, portanto, que frente à propriedade privada das casas-negócio é que emerge a possibilidade de apropriação da renda da terra."

- No caso da instalação do negócio "hotel" o local exótico pesa nesse processo de produção. "Traduzindo para os termos cunhados por Marx, trata-se da captura de um sobrelucro que deriva do monopólio de uma característica específica do espaço, ou seja, da renda da terra de monopólio (Harvey, 2013; Silva, 2010)."

- Aline explica muito claramente as relações de produção na Cuba atual que tive a oportunidade de conhecer. Ao ficarmos numa boa casa-negócio em Havana, entende-se perfeitamente a processo de "renda da terra de monopólio"

- Seguindo com as explicações que Aline fornece aos leitores, fica bem mais fácil entender processos sociais na República Socialista de Cuba como, por exemplo, a canasta básica fornecida pelo Estado ao conjunto da população. Quem financia esse direito social ao alimento na Ilha? Os impostos nas suas diversas formas de arrecadação:

"Com relação à disputa pelo excedente entre o Estado e os TCP, como disposto no Capítulo 4, inicialmente o trabalho autônomo era uma forma provisória de prestação dos serviços não atendidos pelo Estado. Aos poucos, o segmento foi ganhando espaço e protagonismo em outros setores econômicos, e a política tributária passou a servir como limite à acumulação de capital e como forma de recuperar parte dos rendimentos gerados pelos trabalhadores autônomos para distribuí-los socialmente. Com o fortalecimento econômico dessa categoria, Cuba está deixando o modelo de organização econômica no qual o Estado promove diretamente a produção e distribuição do produto social, e avançando para um modelo em que o Estado reúne as contribuições sociais através dos impostos e as distribui socialmente atendendo ao critério da equidade."

- No avançar do texto, a autora nos apresenta as movimentações na última década, entre 2011 e 2021, dos investidores internacionais, no que diz respeito ao interesse de adquirir propriedade na Ilha e obterem lucros com a atividade econômica do turismo

- Fica clara a importância do setor de turismo em Cuba para a manutenção da economia e para a capacidade do Estado de realizar a redistribuição dos recursos econômicos na forma de benefícios sociais ao conjunto da população da ilha caribenha

- Como resumo desta parte do capítulo seis, temos:

"Em suma, o que demonstrou-se no trecho anterior é a emergência de dois fenômenos. Primeiro, evidenciou-se que a forma primária de disputa pelo excedente em Cuba se dá através dos impostos. É no campo da legislação tributária que o Estado controla sua participação nos lucros das empresas internacionais e nos rendimentos dos trabalhos autônomos. Essa conclusão condiz com o novo modelo de socialismo cubano, que pretende financiar as políticas sociais através dos rendimentos da atividade estatal produtiva e de parte das atividades privadas, que é apropriada pelo Estado na forma de imposto.

e

"Em segundo lugar, evidenciou-se que parte desses rendimentos é atualmente apropriada na forma de renda da terra, o que leva à disputa por parte desses sobrelucros através do mercado de imóveis e da tributação. Internamente, o Estado e os proprietários de casas-negócio disputam parte dessa renda através dos impostos: enquanto o primeiro aumenta a quantidade de impostos incidentes sobre as operações de compra e venda, os segundos ampliam e diversificam as formas de evasão fiscal. Destacamos que, apesar do fenômeno apresentar-se como uma disputa, esta não ocorre entre classes sociais, pois se dá internamente na classe de trabalhadores, opondo os trabalhadores proprietários de casas-negócio ao Estado proletário. Trata-se de uma disputa entre estratos de classe: o estatal, representando todos os trabalhadores, inclusive os autônomos, em oposição aos trabalhadores cuentapropia e proprietários de imóveis."

- A seguir, temos um resumo de Aline concluindo a seção em análise:

"Em resumo, retomando as perguntas feitas no início desta seção: 

• Existe um sobrelucro sendo apropriado no mercado de imóveis? Sim, trata-se do sobrelucro correspondente à atividade cuentapropia relacionada ao turismo; 

• De que forma ele é apropriado? Os rendimentos da atividade turística podem ser apropriados primariamente por três agentes: os capitalistas estrangeiros, o Estado e os trabalhadores autônomos. Ao longo do capítulo identificou-se uma apropriação secundária do sobrelucro recebido pelos TCP para os proprietários de casas-negócio através da renda da terra, no momento de venda dos imóveis; 

• Quais as consequências dessa redistribuição de renda para a transição socialista? Ao longo da seção, exploramos a relação contraditória entre a distribuição e redistribuição dos rendimentos do turismo e os propósitos da Revolução. Por um lado, a redistribuição de renda garante a inserção de outros estratos de classe na atividade turística; por outro lado, cria disputas por esses rendimentos entre os estratos de classe. Por fim, também constatamos que a partir da redistribuição secundária desses rendimentos na forma de renda da terra há um novo estrato capaz de ascender socialmente — os proprietários de casas-negócio. Ao mesmo tempo, conforma-se um novo modelo de organização da distribuição dos rendimentos da atividade econômica, baseado na apropriação privada em alguns setores e posterior tributação desses valores."

CONSEQUÊNCIAS URBANAS E HABITACIONAIS

- Um dos problemas antigos em Cuba é o déficit habitacional, fazendo com que muitas vezes resida no mesmo imóvel mais de um núcleo familiar. Com a questão do turismo e as oportunidades de um imóvel residencial se tornar meio de produção de valores, a situação se agrava

- Sobre as migrações internas no país, Aline nos conta que nos primeiros 30 anos da Revolução, não havia migrações importantes do interior para a capital Havana. Na atualidade, há, por causa das oportunidades de trabalho, seja como TCP ou a serviço das empresas que operam na região

- Durante o período especial, nos anos noventa, houve mais controle do governo. Já após os anos dois mil, as migrações das regiões orientais - Santiago de Cuba, Granma e Guantánamo - rumo a Havana aumentaram consideravelmente

- Achei bem interessante conhecer as movimentações migratórias em Cuba, em especial em Havana. Conhecendo um pouco a cidade e a região, é possível visualizar o que a autora nos explica:

"Em suma, apesar das tentativas de manter a população local no Centro Histórico e recuperar as construções históricas sem mudar a função do bairro, inevitavelmente há um processo de remoção dos moradores, os quais são deslocados para os bairros onde encontram-se os principais conjuntos habitacionais estatais. Não é possível conhecer o volume da população deslocada, no entanto, de acordo com o Censo de 2012, havia naquele ano 4.775 moradias temporárias, o que corresponde a 1% do total de moradias da cidade (ONEI, 2012)."

- As consequências do turismo nas partes centrais de Havana, principalmente La Habana Vieja e Centro Habana, no centro histórico da cidade, são as dificuldades para os moradores locais sobreviverem ali, pensando a inflação da região pelo acesso e demanda dos turistas:

"No que diz respeito aos motivos para saída de moradores do Centro Histórico, Gonzales (2019) cita o encarecimento dos produtos nas lojas de produtos importados; a diminuição das lojas estatais de distribuição de alimentos, chamadas de bodegas; e a diminuição dos espaços culturais e esportivos em relação aos espaços comerciais e turísticos."

- A autora informa até que há suspeitas do fenômeno da gentrificação como causa das migrações de cubanos para fora do casco histórico de Havana, onde é maior o fluxo de turistas

- Por outro lado, parte da população, inclusive local, entende que é necessário o processo de reforma e investimento na recuperação dos imóveis locais para favorecer o turismo que, por sinal, é central para a economia e para que o governo possa realizar as ações sociais como distribuição da canasta básica, educação e saúde públicas, lazer e emprego

- Enfim, seria um processo de gentrificação o que acontece em Cuba? A autora diz:

"A partir dessa sucinta explanação sobre o processo de gentrificação tal como foi desenvolvido para explicar o fenômeno em países do capitalismo central, e considerando as diversas especificidades da sociedade cubana, seria possível nomear o fenômeno urbano em Cuba de gentrificação? Para responder essa pergunta é preciso, em primeiro lugar, avaliar as razões da deterioração das moradias cubanas. Vimos no Capítulo 1 que ela é resultado de um plano econômico e social que por um longo período priorizou investir no campo — principalmente para o desenvolvimento da indústria sucroalcooleira — e em políticas sociais universais. Sendo assim, a ausência de investimentos estatais para habitação não corresponde à lógica capitalista de acumulação de capital, e sim à dificuldade cubana de superar o subdesenvolvimento, o que impôs a priorização de outros gastos frente à manutenção e reforma das moradias."

- E tem mais, Aline afirma que:

"Ao contrário, ela vem do Estado e, como argumentamos anteriormente, parece que a possibilidade de incluir trabalhadores autônomos e proprietários de imóveis nesse circuito de renda representa uma tentativa de contornar a falta de postos de emprego estatais, apresentando-se como um instrumento indireto de distribuição de renda. Sendo assim, diferentemente do que acontece nos países capitalistas, em Cuba, a apropriação do rent-gap pelo Estado tem um destino claro: fomentar as políticas sociais da Revolução Cubana, e um objetivo secundário de incluir nesse circuito de renda novos agentes sociais."

- Após Aline deixar claro que não ocorreu em Cuba o processo de gentrificação que ocorre nos países capitalistas, algumas consequências inevitáveis acabam ocorrendo:

"Apesar das diferenças entre a definição de gentrificação — tal como foi elaborada para descrever os processos nos países capitalistas centrais — e o fenômeno que observou-se neste trabalho, é possível dizer que o último compartilha de alguns dos efeitos típicos da gentrificação capitalista. Por exemplo, na atuação da OHCH, apesar da sua preocupação com a preservação da população local, podemos considerar que devido à necessidade de liberar espaço para empreendimentos turísticos, ocorre o deslocamento da população local e a atração de outros grupos sociais para o território — majoritariamente os trabalhadores autônomos. Ademais, após a autorização para a compra e venda de moradias, podemos assumir a existência de rent-gaps, considerando que parte do preço dos imóveis nessas regiões corresponde ao potencial de ganho com a conversão de seu uso residencial para o comercial. Ou seja, apesar das diversas particularidades do caso cubano, existe rent-gap e ocorrem deslocamentos, inclusive com a saída da população local dos bairros reformados para abrigar o turismo."

- Caminhando para as conclusões do estudo, a autora diz que é melhor avaliar o processo urbano e social em Cuba considerando o histórico e estudo que ela apresentou nos capítulos iniciais do livro e não baseado no processo de gentrificação frequente nos sistemas urbanos capitalistas

- Uma das conclusões que Aline apresenta é o efeito real no imaginário das pessoas derivado dos preconceitos e situações sociais em Cuba anteriores à Revolução de 1959, das décadas iniciais do século XX:

"A primeira camada, e mais profunda, é a das estruturas herdadas do sistema anterior, ou seja, as desigualdades territoriais próprias do capitalismo dependente cubano anterior a 1959. Nessa camada encontram-se, por exemplo, as diferentes apreciações sobre o espaço urbano, as impressões e as valorações dos bairros no imaginário coletivo, ou seja, os elementos que ocupam o campo das subjetividades e que tornam os antigos bairros burgueses imageticamente mais aprazíveis e os antigos bairros de trabalhadores os menos desejados."

- Como a capacidade de consumo determina os processos de ascensão social na Ilha, os espaços geográficos pesam nessa questão. Aline explica isso como uma segunda camada em suas conclusões:

"Em resumo, foi sobreposto à estrutura universal de educação e de saúde uma camada de acessos desiguais ao consumo através das diferentes possibilidades de emprego em cada bairro ou município. Essa seria a segunda camada das desigualdades territoriais, em que o território condiciona as possibilidades de mobilidade social."

- Milton Santos criou metáfora usada por Iñiguez para descrever o fenômeno em Cuba como "bairros luminosos" e "bairros opacos", os que oferecem e os que não oferecem oportunidades aos moradores cubanos:

"Estudando esse processo, Luisa Iñiguez (2014) emprega a metáfora criada por Milton Santos (2006) para diferenciar os dois perfis de bairros que emergiram após o Período Especial: os luminosos são aqueles onde instalaram-se os novos empreendimentos turísticos e neles os moradores podem ascender socialmente através do emprego no turismo ou no setor privado; os territórios opacos são aqueles que comportam majoritariamente o setor estatal e que têm pouca capacidade de atender às demandas de emprego e consumo de seus moradores."

- Por fim, a autora cita uma terceira camada de desigualdades em Cuba:

"A terceira camada de desigualdades do território, e a mais recente, foi inaugurada com a abertura do mercado de imóveis, evento que, como expressado anteriormente, marca um novo padrão de mobilidade da população, que reforça os fluxos migratórios e aprofunda a especialização produtiva baseada nos diferentes usos do solo de cada região da cidade. Nesse novo cenário, que iniciou-se em 2011, o perfil de renda e de ocupação dos cubanos passou a determinar o bairro ou município em que se localizariam. Ou seja, pela primeira vez desde a Revolução, o espaço está se reorganizando de acordo com as possibilidades de ascensão social dos seus moradores. O preço dos imóveis é uma evidência dessa nova etapa, pois ele restringe o uso de alguns imóveis — e, portanto, do espaço — a alguns estratos específicos."

- Efeitos da legislação de 2011 que criou o mercado de imóveis em Cuba: realocação da população de acordo com subgrupos sociais:

"Nesse aspecto, identificamos duas tendências: a concentração de TCP no centro de Havana e dos trabalhadores estatais na periferia, composta por municípios com padrões de ocupação e capacidade de consumo semelhantes. Consideramos o mercado de imóveis como responsável por esse fenômeno, pois em primeiro lugar permitiu que os grupos sociais se reorganizassem pela cidade através da compra e venda de moradias e, em seguida, que os preços desses imóveis se transformassem em sinalizadores — e barreiras — para a ocupação de certas localizações por outros estratos de classe."

- Sobre o poder político em Cuba é importante reforçar o que a autora nos demonstra: 

"Cuba possui um sistema de representação política que não corresponde à hierarquia da estratificação socioclassista. Ou seja, as pessoas que pertencem aos grupos sociais identificados como “mais vantajosos” — TCP, empregados no setor emergente e recebedores de remessas — não detêm a maioria do poder político."

- Algumas conclusões do capítulo:

"No caso cubano, vimos a partir do estudo sobre Havana, que a renda da terra corresponde ao sobrelucro das atividades comerciais e de serviço voltadas ao turismo realizadas nas moradias pelos TCP. Concluímos que esse sobrelucro é apropriado por quatro agentes: o Estado, as empresas internacionais, os trabalhadores autônomos e os proprietários de casas-negócio."

- Camadas de desigualdades constatadas na questão urbana em Cuba:

"pudemos distinguir entre três camadas de desigualdade que se avolumam sobre o espaço urbano: 

• Primeira camada: corresponde às desigualdades territoriais herdadas da história cubana pré-revolucionária e que fazem com que bairros e municípios sejam diferentes entre si em termos de infraestrutura urbana e apreciação no imaginário popular; 

• Segunda camada: após o Período Especial criam-se condições de ascensão social que relacionam-se com o espaço. Nesse sentido, alguns bairros e localizações permitem aos seus moradores trabalharem no setor turístico e com isso garantir melhores padrões de consumo; 

• Terceira camada: depois do estabelecimento do mercado de imóveis, o acesso a esses bairros e, como consequência, às oportunidades de trabalho que eles oferecem, passou a depender também da posição da pessoa na estrutura social. Aqueles que possuem família no exterior ou que conseguiram juntar dinheiro para a compra de uma moradia nessas localizações passaram a poder ter acesso a elas."

- A autora conclui no capítulo:

"Em suma, essa nova desigualdade urbana é a expressão territorial da reestratificação social que está em curso desde os anos 1990 e que se apresenta como um desafio a ser equacionado dentro do novo modelo do socialismo cubano."

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Texto lido por

William Mendes

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Professores Aline Miglioli e Ivan Jacob

Post Scriptum (após a aula):

Aula: Cidade neoliberal, reforma urbana e a questão ambiental

A professora Aline nos proporcionou uma aula muito dinâmica, dialogada e demonstrou didática inclusiva e leve. Foi uma aula bem legal. As aulas que estamos tendo neste curso de extensão - "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas" - são oportunidades extraordinárias de novos conhecimentos e reflexões.

Aline nos falou a respeito do estudo de Engels sobre moradias e os motivos pelos quais as moradias eram tão caras na região de estudo, na Inglaterra.

A moradia é uma das necessidades básicas dos trabalhadores e um dos motivos para que ele se submeta à exploração capitalista. Sem vender sua força de trabalho, não há moradia.

Esquema de reprodução de mercadoria de Marx (em linhas gerais e bem resumidamente):

D ($) inicial -- fatores de produção M (Trabalho, Terra, ferramentas etc) -- gera M' (mercadoria) -- D' ($) valor maior final ao ser vendida a mercadoria

No caso da moradia

T (Terra) + MO (mão de obra, materiais etc) = M (casa) -- M' ($) valor maior ao ser vendida a mercadoria casa

Comentário do blog: repito, esquema bem simplificado só para destacar linhas gerais

Ainda no caso das moradias, cujo valor da mercadoria é alto, não é valor que se tenha facilmente como coisas do cotidiano, para realizar esta mercadoria (vender a casa) é necessário outro agente, o banco que financia o imóvel ao comprador.

A professora Aline nos explica a Teoria da Renda da Terra, de Karl Marx: há uma certa disputa entre o proprietário da terra, que arrenda, e o produtor. Quem fica com o sobrelucro? (renda diferencial)

Nos são explicadas as formas de renda: a renda diferencial, a renda absoluta e a renda de monopólio, como está citado na resenha do capítulo 6, que fiz acima.

Temos além da renda diferencial, a renda absoluta, que os proprietários e os herdeiros da terra cobram por disponibilizar a terra e ainda tem a renda de monopólio, quando o domínio do espaço diferenciado por suas características é um privilégio desse proprietário.

A professora cita o famoso vídeo do empresário Silvio Santos reunido com o querido Zé Celso, em tentativa de solução para o terreno do Teatro Oficina. 

Eu avalio que ali tem uma mescla de dois tipos de renda do imóvel do Silvio Santos, poderia ser um exemplo de renda de monopólio e uma renda absoluta. 

Por fim, Aline abordou a questão da gentrificação no mercado de imóveis na lógica capitalista, suas causas e consequências, e citou como exemplo atual o mercado dos apps do tipo Airbnb, que tem causado a expulsão da classe trabalhadora de regiões importantes das cidades.

Aula excelente!

Comprei o livro da professora Aline e já estou lendo. Estou gostando bastante da leitura.

William Mendes

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