sexta-feira, 18 de abril de 2025

Livro: A morte de Ivan Ilitch - Lev Tolstói



Refeição Cultural 

"'Aí está, morreu; e eu não' - pensou ou sentiu cada um. Quanto aos conhecidos mais próximos, os assim chamados amigos de Ivan Ilitch, pensaram então involuntariamente também que precisavam, agora, cumprir umas obrigações muito cacetes, ir às exéquias, e também fazer uma visita de pêsames à viúva." (A morte de Ivan Ilitch, Lev Tolstói, 2015, p. 9)


Peguei Lev Tolstói para ler novamente a história de Ivan Ilitch.

Estou me sentindo meio Ivan Ilitch. Deve ser por isso que peguei Lev Tolstói. 

---

O primeiro capítulo já começa contando aos leitores que Ivan Ilitch morreu. Deu no jornal. 

As pessoas da relação cotidiana no trabalho de Ivan Ilitch souberam da notícia e tiveram que fazer as exéquias ao morto e família. 

---

No segundo capítulo, conhecemos a história de Ivan Ilitch: 

"um homem capaz, alegre, bonachão, comunicativo, mas um severo cumpridor daquilo que considerava seu dever; e considerava como seu dever tudo aquilo que consideravam como tal as pessoas mais altamente colocadas. Não era um adulador quer quando menino, quer já homem feito..." (p. 18)

Ivan Ilitch cresceu profissionalmente, casou-se, formou família. 

---

"(...) Quando a instalação ia em meio, já superava a sua expectativa. Compreendeu o caráter comme il fault, elegante, nada vulgar, que tudo assumiria depois de pronto. (...) De uma feita, subiu numa escadinha, a fim de mostrar ao forrador de paredes, que não o estava compreendendo, como ele queria o serviço, tropeçou e caiu, mas, sendo forte e ágil, conseguiu segurar-se e chocou-se apenas de lado com o ressalto de uma moldura. O machucado lhe doeu, mas a dor passou logo. Durante todo esse tempo, Ivan Ilitch sentia-se particularmente alegre e com saúde..." (p. 30/31)

E então, certo dia, Ivan Ilitch sofre um pequeno acidente doméstico, uma queda. Aparentemente, sem consequências, deixando nele um pequeno hematoma na região. 

---

Os prazeres 

"(...) Quanto aos prazeres de Ivan Ilitch, consistiam nos pequenos jantares, para os quais ele convidava senhoras e cavalheiros de elevada posição social, e essa maneira de passar o tempo com eles assemelhava-se à maneira habitual pela qual estes o passavam, de tal modo como a sua sala de visitas assemelhava-se a todas as salas de visitas." (p. 34)

---

As alegrias 

"(...) As alegrias no serviço eram alegrias do amor-próprio; as alegrias em sociedade eram alegrias da vaidade; mas as verdadeiras alegrias de Ivan Ilitch eram as do uíste..." (p. 34/35)

---

A doença 

"- Nós, doentes, provavelmente fazemos ao senhor muitas vezes perguntas inconvenientes. Num sentido genérico, é uma doença perigosa ou não?...

O médico olhou-o com severidade, com um olho só, por trás dos óculos, como se dissesse: acusado, se o senhor não se mantiver nos limites das perguntas que lhe são apresentadas, serei obrigado a tomar providências para o seu afastamento da sala das sessões..." (p. 38)

Com o passar do tempo, Ivan Ilitch se torna uma pessoa irritadiça, com certo gosto amargo na boca e indisposição às refeições. 

Isso afeta as relações de todos na família. 

Ivan Ilitch sente na consulta com o médico famoso o que imagina (agora na condição subalterna) sentir as pessoas sob seu crivo quando está exercendo sua autoridade de juiz: um bosta.

Saiu da consulta sem saber se era grave ou não o que tinha.

---

Caio é mortal... mas Ivan também?

"O exemplo do silogismo que ele aprendera na Lógica de Kiesewetter: Caio é um homem, os homens são mortais, logo Caio é mortal, parecera-lhe, durante toda a sua vida, correto somente em relação a Caio, mas de modo algum em relação a ele. Tratava-se de Caio-homem, um homem em geral, e nesse caso era absolutamente justo; mas ele não era Caio, não era um homem em geral, sempre fora um ser completa e absolutamente distinto dos demais, ele era Vânia (diminutivo de Ivan), com mamãe, com papai..." (p. 49)

Os médicos divergiam quanto ao diagnóstico da doença de Ivan Ilitch (lembrando que estamos na década de 1880).

Segundo alguns diagnósticos, o problema poderia ser no ceco. 

O ceco é uma das partes do intestino grosso, órgão composto pelos cólons ascendente, transverso, descendente, sigmoide, reto e ânus. O ceco fica ao lado do apêndice. Imaginem o tratamento do sistema digestório no século XIX...

---

Acolhido pelo mujique Guerássim

"(...) via que ninguém haveria de compadecer-se dele, porque ninguém queria sequer compreender a sua situação. Guerássim era o único a compreendê-la e a compadecer-se dele..." (p. 56)

---

O silêncio constrangedor (e o blá blá blá da mentira)

"No meio da conversa, Fiódor Pietróvitch lançou um olhar a Ivan Ilitch e calou-se. Os demais olharam o doente e calaram-se também. Ivan Ilitch dirigia para frente os seus olhos brilhantes, provavelmente indignação com todos. Precisava-se consertar isto, mas não havia nenhum jeito de consegui-lo. Devia-se de algum modo romper aquele silêncio. Ninguém se decidia, e todos estavam com medo de que de repente fosse rompida a mentira decente, e se tornasse claro a todos aquilo que na realidade existia..." (p. 64)

---

O fim

A novela caminho para o fim, ou seja, o início: a morte de Ivan Ilitch. 

O ser humano moribundo vivência seus últimos momentos na Terra. 

Tolstói descreve de maneira única e sensível os últimos dias de um moribundo. 

Eu fico por aqui na postagem. A riqueza de detalhes fica para cada leitor(a).

Foi minha terceira leitura de "A morte de Ivan Ilitch" (1886).

Ando me sentindo meio Ivan Ilitch... espero viver bastante e ter um fim diferente do fim do personagem clássico.

William 


Bibliografia:

TOLSTÓI, Lev. A morte de Ivan Ilitch. Tradução, posfácio e notas de Boris Schnaiderman. Texto em apêndice: Paulo Rónai. São Paulo: Editora 34, 2009 (2a edição).

Nenhum comentário:

Postar um comentário