domingo, 27 de abril de 2025

Vendo filmes (XXVIII)


O que somos? Somos pais, tios, irmãos... raízes.

Refeição Cultural

Laços de família, identidade e memórias


Tenho relutado em escrever essas postagens reflexivas sobre filmes que mexem comigo. Elas dão muito trabalho para serem escritas, as pesquisas cansam e mergulho nas minhas ideias para produzir alguns parágrafos a respeito das temáticas que escolho desenvolver.

No entanto, vamos para mais uma postagem sobre bons filmes que assisti recentemente. 

Os três filmes em questão mexeram comigo. Todos abordam questões de laços de família, memórias e as identidades que temos como seres humanos aculturados em ambientes diversos. 

O personagem interpretado por Anthony Hopkins em "The father" (2021) me fez pensar muito no meu pai. Não porque meu pai se pareça com o personagem, mas porque Hopkins brilhou em interpretar muitos idosos com seus trejeitos e comportamentos cotidianos.

O personagem Polidoro, interpretado brilhantemente por José de Abreu em "Antes que eu me esqueça" (2018), também espelhou um tipo característico de idoso. E aí pensamos em nossos idosos e em nós mesmos num provável amanhã. 

A situação vivida pelo casal Cappadora e por seus filhos no filme "Nas profundezas do mar sem fim" (1999), com a minha eterna musa Michelle Pfeiffer, nos faz pensar nas relações familiares mais triviais e cotidianas, justamente aquelas que podem esconder os segredos mais profundos e nefastos.

O que somos nós? Cito dois mestres para responder a questão. 

"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos." (Ensaio sobre a cegueira, José Saramago)

Ao pensar em pequenas maldades ou coisas ruins que fizemos no passado, às vezes em situações-limite ou não, sempre penso nessa frase do Ensaio de Saramago.

Aí, para conseguir suportar o que senti na situação acima, penso no ensinamento do professor Antonio Candido e me consolo:

"O que somos é feito do que fomos, de modo que convém aceitar com serenidade o peso negativo das etapas vencidas." (Formação da Literatura Brasileira, Antonio Candido)

Nos três filmes, pensamos muito em coisas do passado, em situações-limite vividas ou ainda por viver e como se darão as coisas quando for a nossa vez de vivê-las.

Olha, amigas e amigos leitores, todos nós podemos nos pegar nas situações das personagens dos filmes citados abaixo...

Então, é sentar-se, preparar o coração, sentir a imensidão de sentimentos gerados, e estarmos cientes de que talvez estejamos na pele de algum personagem contido nas três histórias. 

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FILMES


Meu pai (2021) - Direção: Florian Zeller. Roteiro de Zeller e Christopher Hampton. Com Anthony Hopkins, Olivia Colman, Mark Gatiss, Imogen Poots, Rufus Sewell, Olivia Williams.

SINOPSE: Um homem idoso (Anthony Hopkins) e bem-sucedido na vida, independente, recusa todo tipo de ajuda de uma de suas filhas (Olivia Colman) à medida que envelhece. Com o passar do tempo, ele passa a ter dificuldades de compreensão da realidade cotidiana e entra num processo de grande confusão mental, dando sinais de que está com algum tipo de doença associada à idade.

COMENTÁRIO: O filme nos causa grande impacto. Após ver a primeira vez, senti necessidade de vê-lo novamente algumas semanas depois. A interpretação de Anthony Hopkins é magnífica, digna do Oscar que ele ganhou. A possibilidade de desenvolver uma das doenças associadas ao avanço da idade - demência, Alzheimer e Parkinson - nos deixa bastante sensibilizados com a história do personagem. O filme é dramático! Nos vemos no lugar do pai, no lugar da filha, no lugar da cuidadora, e a situação é difícil para todos. Grande filme!

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Antes que eu me esqueça (2018) - Direção: Tiago Arakilian. Roteiro de Luísa Parnes. Com: José de Abreu, Letícia Isnard, Danton Mello, Guta Stresser, Mariana Lima e elenco.

SINOPSE: O juiz aposentado Polidoro (José de Abreu) compra uma boate de strip-tease, batendo de frente com a filha Beatriz (Letícia Isnard). filha mais próxima a ele, que acha que o pai não está bem das faculdades mentais. O conflito entre eles acaba na justiça e a consequência é a reaproximação entre o pai e o filho Paulo (Danton Mello), que estavam afastados há tempos.

COMENTÁRIO: O enredo trabalha a temática do envelhecimento e as consequências no cotidiano da pessoa idosa quando aparecem as doenças associadas à idade como, por exemplo, a demência, o Alzheimer e a perda da memória. Polidoro tem as dificuldades normais de reconhecer e aceitar sua nova condição. A direção trata de forma sensível e leve um tema dramático. Gostei do filme e mais uma vez fiquei pensativo sobre o tema das doenças degenerativas na terceira idade.

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Nas profundezas do mar sem fim (1999) - Direção: Ulu Grosbard. Roteiro: Stephen Schiff. Baseado no livro "The Deep End of the Ocean", de Jacquelyn Mitchard. Com: Michelle Pfeiffer, Treat Williams, Whoopi Goldberg e elenco.

SINOPSE: Uma mãe (Pfeiffer) viaja com os filhos pequenos para participar de um encontro com antigos amigos, desses encontros de turma de formatura. Um evento inesperado vai alterar para sempre a vida da família.

COMENTÁRIO: O enredo é daqueles nos quais, na minha opinião, o ideal é o espectador não ler sequer a sinopse que, normalmente, dá algum tipo de spoiler sobre os acontecimentos. Vi o filme sem saber de nada. Com isso, me envolvi bastante com a história da família protagonista. No final, engasguei-me e chorei ao ouvir o que um irmão disse ao outro em relação a acontecimentos do passado.

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É isso!

Mais uma contribuição do blog sobre filmes que valem a pena serem vistos.

Caso queiram ler o comentário anterior dessa série, é só clicar aqui.

William 


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