terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Diário e reflexões - Fevereiro (28/02/23)



Refeição Cultural - Fevereiro de 2023

Osasco, 28 de fevereiro de 2023. Terça-feira. (texto atualizado às 22h55 de 1º de março)


INTRODUÇÃO: REFLEXÕES

É importante que não esqueçamos os ensinamentos que tivemos ao longo da vida, ainda mais quando tivemos a intenção de aprender através dos estudos e da observação, ou seja, podemos aprender mais ou aprender menos de acordo com a vontade e com as oportunidades que se colocam para nós na vida. Percebo que a curiosidade filosófica do querer compreender a vida eu sempre tive. Isso é bom.

Como diz a música Lucky Man da banda The Verve, sou um homem de sorte. Apesar de todos os perrengues do viver nas décadas vividas, tive muitas oportunidades de aprender coisas boas tanto com as convivências dos ambientes por onde passei como também através de leituras e estudos formais. O homem que sou hoje é resultado da cultura que acumulei até aqui, e só assim pude perceber o quanto não sabemos quase nada. Saber isso é um incentivo para estudar mais todo dia, a todo instante.

A Política é uma das dimensões da vida humana, do viver em sociedade, é uma das habilidades do animal homo sapiens, é o que nos faz diferentes das demais espécies animais. Tive a oportunidade de aprender política por ter sido trabalhador de uma categoria organizada nacionalmente. Mas não me politizei só por isso, aprendi política por querer aprender, por vontade, porque me abri para o ensinamento. Muitos conhecidos também foram da categoria bancária e não se politizaram, não adquiriram consciência de classe. Então meu saber teve um esforço. Isso é bom.

A convivência com o ambiente político do movimento sindical e do mundo do trabalho bancário, primeiro em banco privado e depois em banco público, foi uma oportunidade central na minha vida para me politizar e me tornar a pessoa que sou. Desde a adolescência, minha consciência era formatada somente pelos meios hegemônicos da classe dominante, a minha consciência e a de meus familiares e conhecidos. Nós, o povo brasileiro. Após virar trabalhador bancário numa base com sindicato organizado passei a ter a oportunidade de ouvir a gente da minha classe e isso mudou minha trajetória de vida. I'm Lucky Man...

Achei importante registrar essa reflexão hoje, nesse texto sobre o meu mês de fevereiro, e sobre alguma impressão que tive em relação ao governo Lula e ao mundo no qual vivemos, que é um só, uma aldeia global, com os meios materiais de todos nós, que somos natureza como ela em si. Somos terra, água, ar, minerais, microorganismos. Somos só natureza. E por estarmos hegemonizados pelo modo de produção capitalista estamos destruindo as condições de existência de nós mesmos nessa aldeia global. Política... as decisões entre fazer bombas ou pães são sempre políticas e não técnicas...

Aliás, falando de política, tenho uma compreensão bem melhor das coisas da política pela formação que tive. Como diz o historiador Eric Hobsbawm, não é verdade que "tudo compreender, tudo perdoar" (ver citação completa aqui). Hoje consigo compreender bem melhor como as coisas funcionam na política, concorde ou não, apoie ou não as coisas da política, muito do que já vi nos dois primeiros meses do governo Lula, o nosso governo, são coisas compreensíveis para quem é politizado. Se todas as medidas do governo darão o resultado esperado não temos como saber, mas afirmo aqui que estou na torcida, de verdade! É o meu governo!

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FEVEREIRO

Mundo - A guerra entre os Estados Unidos, seus vassalos e a Otan contra a Rússia em solo ucraniano completou um ano em 24 de fevereiro e não temos à vista perspectivas de paz, nem de vitória de um lado ou do outro. Os EUA desejam que a guerra siga para que o sofrimento dos ucranianos e dos russos traga alguma mudança política na Rússia e seus aliados. A indústria armamentista está sendo beneficiada e o capitalismo agradece por isso. Que merda! Me parece que a Ucrânia pode se transformar naquele charco fétido da 1ª Guerra Mundial, a Frente Ocidental, com mortandade absurda por anos até que a Alemanha perdesse a guerra por maior esgotamento de recursos em 1918. Que foda!

Brasil - O governo Lula segue num esforço de unir e reconstruir o país após a catástrofe dos governos Temer e Bolsonaro. As bolsas de iniciação científica foram reajustadas fortemente, em média 40%. Isso é bom! Outra medida importante para o país e o povo é a volta do Minha Casa, Minha Vida, agora com regras melhoradas que incluem prioridades a idosos e a famílias em áreas de risco (tragédias como a do litoral norte paulista serão cada dia mais comuns com o aquecimento global). Lula começou a valorizar o salário mínimo, referência nacional para trabalhadores e milhões de aposentados. Assim como fizemos desde 2004, haverá uma política de valorização anual do salário mínimo. Isso é bom!

Eu estou preocupado e tenho discordância em relação ao voto que o Brasil deu na ONU se posicionando diferente de seus parceiros do BRICS em resolução sobre a guerra na Ucrânia. O texto só responsabiliza a Rússia e sequer cita o que a Otan e o Ocidente fizeram desde os anos noventa ao avançar as fronteiras e incluir países da antiga Cortina de Ferro na Otan. Muito ruim a posição do Brasil na ONU. Também tenho dúvidas em relação ao que a área econômica está fazendo ao taxar os combustíveis sem mudar a regra dos preços que fode o povo brasileiro em benefício de encher o rabo dos acionistas com a maior distribuição de lucros do planeta. Também acho que Lula deve rever completamente a "deforma" do ensino médio e não me parece que isso é consenso no governo.

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MEU FEVEREIRO

Sigo me esforçando para ter uma condição de saúde aceitável. Evito exageros na alimentação e nas bebidas. Tenho um foco numa alimentação saudável e exercito meu cérebro diariamente, a essência do que sou são meus 86 bilhões de neurônios. O viver é uma oportunidade e temos que dar valor à vida, tanto a nossa quanto a de todas as pessoas e demais seres da natureza.

Neste mês eu corri menos, foram 5 corridas, sendo 4 de 5K e uma maior, de 7,5K. Andei, pedalei e fiz musculação também. Vi muitos filmes antigos e estou lendo revistas de corrida também.

Sigo me esforçando para participar de movimentos políticos, fui em reuniões do Partido dos Trabalhadores e atividades de rua.

Em termos de leituras e estudos, estou lendo dois livros grandes sobre Cuba, Fidel Castro, Ernesto Che Guevara, e lendo autores cubanos, Padura e Martí. Defini que neste ano iria conhecer mais sobre esse povo caribenho fantástico.

Assim como li em janeiro dois livros e um volume de mangá (HQ), neste mês de fevereiro li o livro de poesias rio pequeno, de floresta (comentário aqui), indicado por um grande amigo, o professor Gouveia. O poeta constrói seus poemas no cenário onde nasci e vivi até os 10 anos de idade. 

Li também um livro diário muito bom, diário de um bandeirante..., de Roberto Buzzo (comentário aqui). Terminei a leitura em lágrimas, emocionado com o final. 

Li o Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels, em homenagem aos 175 anos de sua publicação em 1848. Mais atual que nunca! Ler comentário aqui.

E também li o 3º volume de Gen Pés Descalços, de Keiji Nakazawa. Imagens fortes e história baseada no lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima. Demais! Vale a pena! Comentário aqui.

Em termos de leitura, estou dentro do planejado, foram 5 livros e 2 volumes de mangá nos dois primeiros meses do ano. Além dos livrões que estou lendo.

Sigamos no esforço de ser uma pessoa em busca de conhecimento e de formas de contribuir para um mundo melhor. É fundamental que as pessoas estudem e que pensem maneiras de salvarmos o mundo e os seres humanos.

William


Post Scriptum: minha reflexão sobre o mês de janeiro pode ser lida aqui.


Leitura: Gen Pés Descalços (III) - Keiji Nakazawa



Refeição Cultural

Gen Pés Descalços - Trigo, é hora de brotar

Volume 3


Aos poucos, vou me familiarizando com a linguagem dos mangás e ampliando meus conhecimentos nas diversas formas de mídias de cultura.

A leitura do volume 3 de Gen Pés Descalços se deu em um único dia. Peguei logo cedo o mangá para ler e consegui terminar o volume no final da noite de ontem. Que dureza a vida dos personagens! Quanto sofrimento suporta a família Nakaoka!

Para escrever esta postagem e minhas impressões, reli o texto de prefácio do volume 1 "Os quadrinhos depois da bomba", de Art Spiegelman. O texto é muito elucidativo sobre os mangás de Keiji Nakazawa, ele próprio sobrevivente da bomba de Hiroshima assim como o personagem Gen.

"O simbolismo evidente é característico dos quadrinhos japoneses. Para Nakazawa, isso toma a forma de um sol que reaparece sem piedade, brilhando implacavelmente ao longo das páginas. É o que marca a passagem do tempo, o que dá a vida, a bandeira do Japão, a lembrança da bomba com o calor de mil sóis, e o instrumento que dá ritmo à história de Gen." (V. 1, Prefácio)

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Gen Pés Descalços conta a história de Gen Nakaoka e sua família, descrevendo o dia a dia do povo japonês desde abril de 1945, meses antes do lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki, e avança para o período posterior à hecatombe nuclear e à derrota na 2ª Guerra Mundial.

O 1º volume foca no período que antecede o lançamento da bomba, de abril até 6 de agosto. O povo estava vivendo sob condição de miséria absoluta, um cotidiano de fome e o clima de intolerância contra qualquer questionamento ao imperador e à guerra era absurdo. A família Nakaoka era contra a guerra e eram considerados antipatriotas e sofreram muita violência e humilhação por causa disso.

No 2º volume, o leitor sofre muito com os personagens os efeitos da bomba atômica. Os desenhos são incríveis, duros, chocantes. O incrível é que o jovem Gen segue sendo um garoto bom, que se mete em apuros toda vez que seu coração se sensibiliza com a desgraça dos outros. Ele acaba deixando as urgências de si próprio e família para ajudar alguém. É tocante! E ao seu redor, é só maldade e indiferença. Como o povo está embrutecido!

No 3º volume, Gen conhece o senhor Keiji, outra vítima da bomba atômica, uma pessoa desprezada pela própria família por estar entre a vida e a morte pelos efeitos da bomba. Gen precisa desesperadamente de um emprego para ajudar a família e aceita cuidar do senhor Keiji. São fortes as cenas que Nakazawa nos apresenta nessa parte da história.

A maldade inunda o cotidiano japonês e é exemplificada a todo instante, seja através da velha sogra de Kiyo, amiga de Kimie (mãe de Gen), que humilha e trama coisas terríveis contra os inquilinos, seja através da família do senhor Keiji, que deseja a morte dele o tempo todo, seja a cada cenário novo por onde passa Gen.

IMPÉRIOS, GUERRAS E CAPITALISMO...

A leitura do clássico Gen Pés Descalços me coloca o tempo todo refletindo sobre o mundo em 2023, a respeito da guerra entre os Estados Unidos e Otan contra a Rússia, usando o povo ucraniano como bucha de canhão através do palhaço presidente da Ucrânia, colocado no poder após um golpe de Estado em 2014, início da desestabilização que gerou a guerra. Quem sofre é sempre o povo... sempre! 

Ainda a guerra na Ucrânia e sua continuidade. É idêntico ao caso do império japonês derrotado na 2ª GM: não importava o povo, o imperador e os militares só pensavam nas consequências políticas da guerra. Os Estados Unidos querem derrotar economicamente o inimigo russo e prejudicar a potência econômica China, obrigando a Rússia a colocar seus recursos na guerra em detrimento das necessidades de seu povo. 

PAZ? Nem o imperador japonês queria em 1945, nem os Estados Unidos querem hoje. Os EUA irão alongar a guerra para ver se o povo russo depõe o governo Putin. E o povo ucraniano? Vocês acham que o império norte-americano liga pra eles? As indústrias de armas estão vendendo como nunca...

O lastro da moeda norte-americana é a bomba, as armas, a ameaça de morte a quem não se submete.

Enfim, vamos para o próximo volume do mangá, serão 10 volumes e quase duas mil páginas.

William


Post Scriptum: para ler os comentários sobre o 2º volume é só clicar aqui.


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

51. Manifesto do Partido Comunista - Marx e Engels



Refeição Cultural - Cem clássicos

Osasco, 27 de fevereiro de 2023. Segunda-feira.


Reli o Manifesto do Partido Comunista (1848), de Karl Marx e Friedrich Engels, nesta semana que passou, quando o Manifesto completou 175 anos de existência. 

Que documento atual! Ao longo da leitura, cada parágrafo, cada afirmativa, cada diagnóstico da condição da classe trabalhadora é como se o Manifesto tivesse sido feito a partir da condição atual de nossa classe.

O Manifesto é dividido em 4 partes: I. Burgueses e proletários, II. Proletários e comunistas, III. Literatura socialista e comunista, IV. Posição dos comunistas diante dos diversos partidos de oposição.

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O FANTASMA DO COMUNISMO

"Um espectro ronda a Europa: o espectro do comunismo. Todas as potências da velha Europa se uniram em uma santa campanha difamatória contra ele: o papa e o tsar, Metternich e Guizot, radicais franceses e policiais alemães."

Que começo empolgante, não é?! Se os autores à época viam realmente o que afirmam sobre uma união geral das classes dominantes para combater os comunistas, hoje vemos uma extrema-direita organizada internacionalmente para combater qualquer avanço social em benefício das classes proletárias e subalternas.

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UMA VERDADE INQUESTIONÁVEL

"A história de todas as sociedades até agora tem sido a história das lutas de classe."

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O ESTADO BURGUÊS

"O poder do Estado moderno não passa de um comitê que administra os negócios da classe burguesa como um todo."

Nós já conhecíamos como operavam os caras da casa-grande nos governos brasileiros antes do golpe de 2016, mas com Temer e Bolsonaro isso foi elevado à enésima potência...

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BURGUESIA REVOLUCIONÁRIA

"A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os instrumentos de produção, portanto as relações de produção, e por conseguinte todas as relações sociais."

Essa afirmação segue muito assertiva. Basta vermos a capacidade da burguesia de alterar em seu favor as relações de trabalho. A uberização e o fim dos direitos sociais no mundo hegemonizado pelo capitalismo é notória.

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NOVOS MERCADOS SEMPRE

"A necessidade de mercados sempre crescente para seus produtos impele a burguesia a conquistar todo o globo terrestre. Ela precisa estabelecer-se, explorar e criar vínculos em todos os lugares."

A atual situação da disputa de hegemonia global por mercados segue idêntica à de séculos atrás. Os Estados Unidos, através da Otan, estão por trás da guerra por procuração entre Ucrânia e Rússia, e a Europa inteira deixou de consumir produtos russos para consumir produtos norte-americanos. EUA x Rússia x China, nova Rota da Seda etc.

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OS EMBARGOS ECONÔMICOS ATUAIS

"Sob a ameaça da ruína, ela obriga todas as nações a adotarem o modo burguês de produção; força-as a introduzir a assim chamada civilização, quer dizer, se tornarem burguesas. Em suma, ela cria um mundo à sua imagem e semelhança."

Os embargos econômicos nada mais são do que uma forma de causar a ruína de países não alinhados e adestrados à burguesia imperialista. É como funciona o capitalismo nesses quase dois séculos de Manifesto e segue assim.

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BURGUESIA AGLOMERA POPULAÇÕES E CENTRALIZA O PODER

"Ela aglomerou as populações, centralizou os meios de produção e concentrou a propriedade em poucas mãos. Resultou daí a centralização do poder político."

Vejam essa verdade 175 anos depois da enunciação... os despossuídos se aglomeram nas periferias e encostas das cidades em condições desumanas e 1% de seres humanos capitalistas detêm 70% da riqueza produzida pela humanidade. 

Com o aquecimento global, efeito do modo de produção capitalista, as tragédias aparecem na forma de desmoronamentos dos morros nas fortes tempestades...

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A MENTIRA DA LIVRE CONCORRÊNCIA

"No seu lugar apareceu a livre concorrência, com sua organização social e política correspondente, sob a dominação econômica e política da classe burguesa."

Os capitalistas inviabilizam qualquer forma de concorrência para depois sob a forma de grandes monopólios construírem narrativas de empreendedorismo e livre concorrência... são uns fdp. Quando quebram, roubam os recursos do Estado e do povo explorado.

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NAS CRISES CAPITALISTAS, SÓ O POVO SE FERRA

"Há décadas a história da indústria e do comércio se restringe à revolta das modernas forças de produção, contra as relações de propriedade que constituem as condições vitais da burguesia e de seu domínio. Basta mencionar as crises comerciais que, repetidas periodicamente e cada vez maiores, ameaçam a sociedade burguesa. Nessas crises, grande parte não só da produção, mas também das forças produtivas criadas, é regularmente destruída. Nas crises irrompe uma epidemia social que em épocas anteriores seria considerada um contrassenso - a epidemia da superprodução. A sociedade se vê de repente em uma situação de barbárie momentânea: a fome e uma guerra geral de extermínio parecem cortar todos os suprimentos de meios de subsistência, a indústria e o comércio parecem aniquilados, e por quê? Porque a sociedade possui civilização demais, meios de subsistência demais, indústria e comércio demais..."

E como resolver uma crise capitalista?

"Como a burguesia consegue superar as crises? Por um lado, pela destruição forçada de grande quantidade de forças produtivas; por outro, por meio da conquista de novos mercados e da exploração mais intensa de mercados antigos."

Amig@s leitores, é atual demais esse Manifesto de Marx e Engels...

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TRABALHADORAS E TRABALHADORES SÃO MERAS MERCADORIAS

"Esses trabalhadores, que são forçados a se vender diariamente, constituem uma mercadoria como outra qualquer, por isso exposta a todas as vicissitudes da concorrência, a todas as turbulências do mercado."

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O CUSTO DA MÃO DE OBRA É O DA SUBSISTÊNCIA DESSA MÃO DE OBRA... QUANDO A TECNOLOGIA FAZ A MÃO DE OBRA CUSTAR MAIS QUE SUA SUBSISTÊNCIA... (DÁ MERDA)

"Os custos do trabalhador se resumem aos meios de subsistência de que necessita para se manter e se reproduzir. O preço de uma mercadoria, portanto também do trabalho, é igual aos seus custos de produção."

Só que temos um problema atual: essa mercadoria está com superprodução. O que o capitalismo faz nessas horas? Citei ali em cima: "destruição forçada de grande quantidade de forças produtivas"... 

Ou seja, para os capitalistas, é preciso destruir uma quantidade de seres humanos, essa mercadoria em excesso...

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A EXPLORAÇÃO DE MULHERES E CRIANÇAS É DA ESSÊNCIA DO CAPITALISMO

"Quanto menos destreza e força exige o trabalho manual, isto é, quanto mais a indústria moderna se desenvolve, tanto mais o trabalho dos homens é substituído pelo das mulheres e crianças. Diferenças de sexo ou de idade não têm mais qualquer relevância social para a classe trabalhadora. Só há instrumentos de trabalho, cujo preço varia conforme a idade e o sexo."

Pagar menos para certos segmentos sociais é uma escolha, uma decisão, uma arbitrariedade do capital na atualidade, por isso paga-se menos para mulheres, pessoas de pele preta, crianças, grupos que sofrem algum tipo de preconceito.

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A ATUALIDADE DO MANIFESTO COMUNISTA

Tenho diversas partes destacadas ainda e a postagem já está enorme. Vamos ver se registro uma segunda parte.

Será que os sindicatos, partidos de esquerda e movimentos sociais do nosso lado da classe fizeram esse trabalho de reler o Manifesto nesta data de comemoração de seu lançamento?

Será? Quem leu ou releu o Manifesto nesses seus 175 anos? Algum companheiro ou companheira do Partido dos Trabalhadores ou do movimento sindical leu?

Para mim, esse sim é um clássico dos clássicos!

William


Bibliografia:

MARX, Karl e ENGELS, Friedrich Engels. Manifesto do Partido Comunista. 1ª edição. Editora Expressão Popular: São Paulo, 2008.


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Diário e reflexões - Cuba XIV (23/02/23)



Refeição Cultural - Cuba (XIV)

Osasco, 23 de fevereiro de 2023. Quinta-feira.


"Para Hilda, o livro era uma ideia maravilhosa e ela se dispôs a ajudar Ernesto. Enquanto isso, os dois estabeleceram uma rotina doméstica amigável, inspirada num programa de leituras semelhante ao que Fidel tinha com Naty. Quando não trabalhavam na magnum opus de Ernesto, os dois falavam sobre poesia: Hilda emprestou a ele uma cópia dos poemas de César Vallejo e ele dividiu com ela o grande amor que tinha por Pablo Neruda, José Hernández e Sara de Ibáñez. Juntos, eles também liam obras políticas: Engels, Marx e Sartre, acima de tudo. 'Compartilhávamos a sensação de "náusea da vida"', relembra Hilda." (Fidel e Che. Reid-Henry, p. 120)


Peguei mais algumas fitas antigas em VHS para assistir. Numa delas estava escrito "Martín Fierro". Para melhorar a experiência ao ver o filme, comecei a reler o clássico poema do gaucho argentino, escrito por José Hernández (1834-1886). A caixinha da fita estava vazia... por sorte, encontrei na internet o filme completo (2005), dirigido por Gerardo Vallejo.

Ao estudar mais a respeito de Cuba e sua história libertadora e revolucionária, vi que o jovem médico argentino, Ernesto Che Guevara era leitor de José Hernández. Que legal essa ligação entre uma leitura e outra!

Terminei a 1ª parte do livro Fidel e Che - Uma amizade revolucionária (2009), de Simon Reid-Henry. Li o livro em 2010 quando o ganhei de presente. A releitura é quase uma leitura nova.

Terminei a 1ª parte do romance do escritor cubano Leonardo Padura - O homem que amava os cachorros (2009) e já estou no terceiro capítulo da 2ª parte. A impressão que tenho é que o livro é grande demais para a história. Talvez seja porque fazer uma ficção histórica sobre León Trótski seja de fato algo enorme só de pensar, imagina então para completar as lacunas da história do assassinato do líder da Revolução Russa a mando de Josef Stálin?

Em relação ao estudo de línguas e linguagem, ando devagar. Comecei a estudar espanhol na plataforma do Instituto Conhecimento Liberta (ICL) para relembrar minhas habilidades com a língua, mas ando a passos de tartaruga na sequência das aulas. Estou devagar também com as outras línguas que me esforço no aprendizado, o inglês e o japonês. Estudar pouco é melhor do que não estudar nada. Tenho lido e ouvido muito espanhol, de diversos acentos e isso é bom. Meu ouvido já está bem aguçado para as nuanças dos falares de cada país de língua espanhola.

É isso! Aprender algo diariamente e ser menos ignorante deveria ser o objetivo de toda pessoa que queira melhorar como ser humano e que queira melhorar o mundo no qual estamos também.

William


Post Scriptum: texto anterior dessa série cub.ista pode ser lido aqui.


Bibliografia:

REID-HENRY, Simon. Fidel e Che - Uma amizade revolucionária. Tradução: Beatriz Velloso. 1ª edição. Editora Globo. São Paulo, 2010.


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Diário e reflexões (22/02/23)



Refeição Cultural

Osasco, 22 de fevereiro de 2023. Noite de Quarta-feira de Cinzas.


Estava relendo o Manifesto do Partido Comunista, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels, publicado há 175 anos, em 1848. É impressionante a atualidade do manifesto! É impressionante! Os diagnósticos das questões sociais presentes naquele momento do mundo capitalista e da luta de classes se encaixam tão perfeitamente no mundo capitalista e na luta de classes do dia 22 de fevereiro de 2023 que fico até com vergonha de não termos mudado a realidade da classe trabalhadora mundial... Como pode ainda estarmos no mesmo cenário 175 anos depois de nos ter sido apresentadas as causas de nossas misérias e infelicidades enquanto classe? Que vergonha!

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No Brasil, o presidente Lula segue trabalhando intensamente para unir e reconstruir o país depois da catástrofe do período Temer e Bolsonaro, após o golpe de Estado em 2016. O governo Lula constituiu um bom grupo de ministros e ministras para a tarefa de dialogar com a diversidade social característica do país mais desigual do mundo, um país cujo povo é carente de tudo, inclusive de formação política, um povo manipulado por séculos, e Lula sabe que é necessário governar para toda essa diversidade. O governo está muito focado em refazer e criar direitos sociais, preservar os biomas naturais, trazer a paz social e oportunidades para todas as pessoas e recolocar o Brasil no mundo, inclusive defendendo o combate à fome e ao aquecimento global e propondo a paz mundial e não a guerra. Lula está hoje mais à esquerda que os movimentos sociais que o apoiam, isso está claro! Que orgulho eu sinto do presidente Lula e de várias lideranças desse governo!

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Eu sigo estudando todos os dias alguma coisa sobre Cuba e o povo cubano, esse foi um dos objetivos que propus a mim mesmo para os primeiros meses do ano. Já sei um pouco mais sobre esse país e povo maravilhosos em relação ao que sabia antes. Peguei alguns livros para ler de autores cubanos ou sobre a história de Cuba. Já li algumas centenas de páginas. No entanto, quanto mais leio, mais fica claro o quanto não sei nada de quase nada. Sei que estudar é assim mesmo, a gente estuda para saber que não sabe nada e com isso se conscientiza de que é necessário combater a ignorância estudando mais ainda. No livro sobre a amizade de Fidel Castro e Che Guevara é notável ver o quanto os dois eram apaixonados pela leitura e pelos estudos, pelo saber. Que orgulho desses dois líderes mundiais de nossa classe trabalhadora! Aliás, ainda em relação a estudar e aprender algo novo diariamente, às vezes supero até o banzo que sinto em alguns momentos e pego algo pra ler e aprender para não passar o dia sem alimentar meu cérebro, meu eu. O que cheguei a ser até agora é o resultado de um amontoado de acasos e sortes somado a um esforço honesto de tentar ser uma pessoa melhor, e o esforço em estudar faz parte dessa construção do ser humano que consegui ser.

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Feito o registro deste diário virtual e público... meu blog de cultura vai mudando ao longo do tempo... é assim mesmo.

William


domingo, 19 de fevereiro de 2023

Vendo filmes antigos (III)



Refeição Cultural

Osasco, 19 de fevereiro de 2023. Domingo de Carnaval e chuva.


Eu que nunca vi muitos filmes na vida, por vários motivos como, por exemplo, preferir leituras e por falta de tempo livre, entendi nesta fase de minha vida (não estou vendendo minha força de trabalho) que deveria ver os filmes que acumulei em casa ao longo do tempo. Sendo assim, estou vendo filmes que tenho em diversos tipos de mídia. Comecei pelos filmes em VHS.

Primeiro vi 6 filmes comprados ou gravados, filmes de décadas diversas (comentário aqui). Dessa primeira lista, O predador (1987), com Schwarzenegger, foi um dos melhores. Gostei dos dois da Coleção Folha também, o filme com a Madonna e o dirigido por Polanski.

Da segunda lista de filmes, documentários e programas em VHS (comentário aqui), o melhor que vi foi o filme Como água para chocolate (1992). Os dois filmes do Jerry Lewis, dos anos 60, são muito ruins. Os dele dos anos 50 são melhores, me parece.

Nesta terceira leva de filmes antigos, vi 5 filmes da Coleção Folha. Gostei de todos eles, sendo A casa dos espíritos (1993) o de maior destaque. Porém, fiquei pensando também no filme do Don Juan. Enfim, para quem vê poucos filmes, já está de bom tamanho ter visto 14 filmes em poucas semanas.

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OS FILMES QUE VI

- Beleza Roubada (1995) - Filme dirigido por Bernardo Bertolucci e estrelado por Liv Tyler, jovem de grande beleza. Sinopse do filme: Lucy Harmon (Liv Tyler) tem 19 anos, alguns sonhos e um trauma: sua mãe suicidou-se. Para tentar superar a dor, entre outros motivos, vai passar as férias na Toscana, Itália, na casa de Diana (Sinead Cusack) e Ian Grayson (Donal McCann). Há mais dois motivos para a viagem de Lucy: Ian quer que ela pose para um retrato e, principalmente, ela espera reencontrar Niccolo Donati (Roberto Zilbetti), com quem trocou o primeiro beijo. Mas há um motivo mais profundo: ela deseja solucionar o enigma deixado pela mãe num diário. 

Comentário: gostei do filme. É um filme com muita sensualidade no ar e as tomadas de cena com os olhares de Liv Tyler encarando o telespectador são de arrepiar. Ao ver as cenas da região da Toscana, me lembrei dos lugares por onde andei na Itália em 2009: Turim, Milão, Veneza e Florença. É um país com belas paisagens. Valeu a pena ver o filme depois de tanto tempo guardado em casa.

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- Don Juan DeMarco (1995) - Filme escrito e dirigido por Jeremy Leven e protagonizado por Johnny Depp, Marlon Brando e Faye Dunaway. Sinopse: Um rapaz usando uma máscara e trajes de época decide acabar com sua vida por perder o seu verdadeiro amor. Ele diz ser o lendário Don Juan e é salvo de se jogar de um prédio pelo psiquiatra Jack Mickler (Brando), que está a poucos dias de sua aposentadoria. O médico tem 10 dias para tentar achar um diagnóstico e cura para o jovem. O jovem paciente acaba mexendo também com a cabeça do psiquiatra... 

Comentário: na minha opinião, o filme é muito bom! O jovem Don Juan é tão bem interpretado por Depp que o telespectador acaba se encantando pelo rapaz e por seu romantismo. O que é real e o que é imaginação em nossas vidas? A história me fez pensar no amor... a música de Bryan Adams é a cereja do bolo: maravilhosa! Have You Ever Really Loved a Woman? Só quem amou sabe a respeito do amor.

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- Traídos pelo desejo (1992) - Filme inglês dirigido por Neil Jordan e estrelado por Stephen Rea, Forest Whitaker, Jaye Davidson e demais elenco. Jody, soldado inglês (Whitaker), é sequestrado por membros do IRA para ser trocado por líder preso. Se o governo não ceder em três dias o soldado será executado. Fergus (Rea), o voluntário do IRA responsável por ficar com Jody e executá-lo, acaba criando uma relação de confiança com a vítima. No desenrolar da história, Fergus acaba conhecendo a namorada de Jody em Londres, a bela cabeleireira e cantora Dil. 

Comentário: o filme me fez lembrar do mundo nos anos 70 e 80, quando o conflito entre o governo inglês e o Exército Republicano Irlandês (IRA) era uma realidade no noticiário. Atentados terroristas não eram incomuns. Outra questão bem interessante no filme do início dos anos 90 é a questão de gênero retratada na obra. A história da rã e do escorpião, contada pelo soldado inglês no cativeiro é conhecida por mim desde a mais tenra idade. 

Para reflexão: o escorpião precisa atravessar um rio e pede que a rã o leve em seu dorso, a rã desconfia da proposta porque sabe do ferrão do escorpião, que usa a razão para explicar que não teria sentido ferroar a rã e morrerem os dois afogados. No caminho a rã sente o ferrão e começa a afundar com o escorpião às costas e antes de afundarem pergunta o porquê de ação tão sem razão. O escorpião disse que foi inevitável porque era a sua natureza...

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- Surpresas do coração (1995) - Filme dirigido por Lawrence Kasdan e estrelado por Meg Ryan, Kevin Kline e Timothy Hutton. Sinopse: Kate (Meg Ryan) não acompanha o noivo Charlie (Hutton) a uma viagem a Paris porque tem muito medo de avião. Ela está entusiasmada com a hipótese de comprar uma bela casa para eles viverem após o casamento, ela inclusive poupou uma boa quantia de dinheiro pra isso. Dias depois da viagem de Charlie, ele liga dizendo que encontrou uma mulher irresistível, que se apaixonou, que sente muito pelo fato e termina o noivado. Kate inconformada com a situação, toma coragem, embarca num avião e vai a Paris para lutar por seu noivo. No voo ela conhece Luc (Kline), um ladrão francês que esconde um colar em sua bolsa. Chegando a Paris, Kate tem a bolsa roubada e então começam as peripécias da história. O ladrão atrás do colar, Kate atrás do noivo... 

Comentário: comédia romântica de entretenimento. Me distraiu por duas horas. Achei o filme bem fraquinho.

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- A casa dos espíritos (1993) - Filme dirigido por Bille August e estrelado por Winona Ryder, Meryl Streep, Jeremy Irons, Glenn Close, Antonio Banderas e elenco. Sinopse: O filme conta a história da família Trueba ao longo de décadas e ao mesmo tempo o telespectador tem ao fundo a história do Chile do início do século XX até o golpe de Estado que derrubou o governo democrático e socialista de Salvador Allende. Vemos os acontecimentos através das lembranças de Blanca (Winona Ryder), que conta a história de sua família, a mãe Clara (Streep) e o pai Esteban (Irons). O filme é baseado no livro homônimo da escritora Isabel Allende, que é filha de um primo irmão de Salvador Allende. 

Comentário: dessa sequência de filmes que vi, este foi sem dúvida o melhor deles. O filme nos faz refletir sobre muitas questões centrais da sociedade como, por exemplo, distribuição da riqueza produzida pela classe trabalhadora, a questão do amor, a fé e religiosidade de cada cultura humana, a democracia, a tolerância e a discriminação social por questões de gênero e raça etc. Filme muito bom!

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COMENTÁRIO GERAL

Se eu tivesse que escolher entre os filmes atuais e os filmes de décadas atrás, eu não pensaria duas vezes e escolheria os filmes antigos, aqueles feitos com pessoas e figurantes de carne e osso, cenários construídos ou naturais e com menos produção por um programa de computador, de forma toda digital. 

Também não tenho interesse nessa série interminável de super-heróis que resolvem as coisas do jeito deles e dane-se a opinião dos outros ou a construção coletiva. Contudo, sei o quanto os cinéfilos gostam dessas franquias e respeito o gosto de cada um. Já vi alguns filmes desses com a família e... normal.

Dos filmes que vi agora, o filme com a história do IRA e do governo inglês - Traídos pelo desejo - me fez pensar sobre algo que eu já percebia quando era criança e adolescente: viver é perigoso... o mundo não é um lugar para se viver em paz, assim como a natureza é bela só do ponto de vista humano, pois na verdade na natureza é matar ou morrer a todo instante. Me lembro dos noticiários sobre o IRA e o governo inglês.

Os dois com a temática do amor e da beleza também me agradaram bastante. Essa série da Coleção Folha tem muitos filmes com a sensualidade e a questão do desejo e sexo destacados.

Por fim, o filme - A casa dos espíritos - que se passa no Chile e que traz a questão da luta entre poderosos e a classe trabalhadora é o mais intenso. 

É isso!

William


sábado, 18 de fevereiro de 2023

Diário e reflexões - Cuba XIII (16/02/23)



Refeição Cultural - Cuba (XIII)

Osasco, 18 de fevereiro de 2023. Sábado de Carnaval de muita chuva.


Ando um pouco cansado por esses dias. Cansaço é cansaço, seja ele físico ou mental ou existencial. Mesmo assim, faço praticamente tudo que me toca fazer. Tenho ido a reuniões políticas do PT, fui à manifestação contra a taxa de juros extorsiva do Bacen, pego os livros que estou lendo e leio, vejo algumas coisas que planejei ver, faço atividades físicas... mas ando um pouco cansado. Banzo...

Um dos poucos objetivos traçados por mim para esses meses do viver é conhecer um pouco mais a respeito de Cuba e do maravilhoso povo cubano, um caso exemplar de resistência contra a hegemonia do imperialismo e do capitalismo. À medida que leio alguma coisa, aumenta a certeza sobre a minha ignorância incômoda por não saber nada a respeito da história cubana.

Vi nesta semana uma entrevista do Breno Altman a uma médica de família brasileira que me trouxe muita informação sobre Cuba. O programa "20 minutos entrevista" do Ópera Mundi do dia 07/02/23 ouviu a médica mineira Júlia Rocha, que esteve recentemente em Cuba e nos conta um pouco da experiência que viveu por lá. É uma entrevista esclarecedora! Vale a pena ver.

Em relação às leituras sobre Cuba, estou lendo 3 livros: uma antologia de José Martí, um romance de Leonardo Padura e um livro sobre a amizade entre Fidel Castro e Ernesto Che Guevara. Também está na fila o livro de Fernando Morais, A ilha

Outra atividade que estou desenvolvendo é relembrar as habilidades da língua espanhola, pois é natural que o idioma aprendido se perca se não praticamos a nova língua estrangeira apreendida.

Enfim, para o cansaço que estou já escrevi o bastante. Sigo com aquele banzo danado.

William


Post Scriptum: clique aqui caso tenha interesse em ler o texto anterior sobre meus descobrimentos cuba.istas.


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Leitura: Diário de um bandeirante ligeiramente atrasado e totalmente desarmado - Roberto Buzzo



Refeição Cultural

Osasco, 15 de fevereiro de 2023. Quarta-feira de 30º na Grande São Paulo.


Ao tentar ler para minha esposa um trecho do capítulo "A apoteose" a voz embargou, os olhos encheram-se de lágrimas e não consegui enxergar as palavras... cada emoção é única, mas como caminhante e romeiro de longa data, pude sentir um pouco do que Roberto Buzzo descreveu da emoção daquele momento em seu diário.

Peguei o livro de Buzzo na estante de casa de forma quase aleatória. Estipulei a mim mesmo que pretendo ler ao menos 3 livros por mês neste ano. Como estou com o projeto de ler e estudar a respeito da história de Cuba e do povo cubano, estou lendo livros enormes, de leituras que vão durar um tempão. Uma forma de descansar dos livrões é lendo livros leves e prazerosos durante o percurso.

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"(...) Antes de dormir, avaliara que o chão não seria tão duro como o da noite anterior. De fato, nem tão duro, nem tão seco. Descobri que não se é simples, leve e chinesa impunemente. O 'chinesa' é um preconceito meu: a barraca foi mesmo produzida na China, mas sob as especificaçoes de uma tradicional fábrica brasileira de equipamentos do gênero, como minha mochila e minha lanterna, que em nenhum momento descumpriram seu papel. Gotejava ao lado da cabeça..." (p. 39)

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Como tenho lido crônicas excelentes do Buzzo na rede social onde ele publica seus textos, decidi ler o livro dele que tenho em minha biblioteca. O cara escreve muito bem e a leitura de seu diário de um bandeirante é espetacular! É uma narrativa leve, tem humor, tem ironia da melhor qualidade e eu não esperava compartilhar também a emoção de nosso escritor peregrino e caminhador.

Buzzo percorreu 640 Km da Grande São Paulo até Fernandópolis, terra natal de sua família e de sua infância. A jornada foi feita por ele aos 50 anos de idade. O caminhante passou por 49 cidades e povoados, dormiu a maior parte dos 15 dias acampando em sua barraca em canaviais, laranjais e que tais. Passou uns perrengues típicos de uma aventura como essa e a leitura de seu diário de viagem em julho de 2004 me trouxe muitas reflexões, lembranças de uma época de minha própria vida e adorei a leitura.

Em algumas passagens, eu ia dialogando com Buzzo, do tipo: também acampei em Cabreúva; acampei e fiz rapel em Brotas; em Piracicaba, fiz 14 saltos de paraquedas e ver o rio lá de cima é um feito inesquecível. Sobretudo, faço a romaria de Uberlândia a Água Suja em Minas Gerais desde adolescente e por duas vezes planejei fazer o Caminho de Santiago e precisei adiar o projeto de quase mil quilômetros de caminhada por compromissos políticos de meus mandatos sindicais.

Vejo as mudanças em meu condicionamento físico neste momento da vida e me pergunto quais caminhos ainda vou percorrer andando ou correndo... não sei. Não sei mesmo! Meu quadril estragou meus projetos de correr uma maratona e fazer longas caminhadas... triste isso, mas a vida é assim, é o viver. Somos natureza!

Prezado Buzzo, obrigado pela publicação de seu Diário de um bandeirante ligeiramente atrasado e totalmente desarmado (2006). Tempos depois de sua viagem, viajei contigo! E só quem caminha sabe que no fundo a gente que caminha meio sem saber o motivo sabe muitas vezes que não estava sozinho, mesmo buscando a solidão momentânea, porque pessoas queridas estavam com a gente em pensamentos. Sempre estive acompanhado em minhas caminhadas solitárias.

Post Scriptum: Uma das cenas mais bonitas do filme Forrest Gump é quando ele conta a sua amada Jenny que ela estava lá ao seu lado enquanto corria por belas paisagens cortando o país do Atlântico ao Pacífico.  

Leitura nota mil!

William


Bibliografia:

BUZZO, Roberto. Diário de um bandeirante ligeiramente atrasado e totalmente desarmado. São Paulo: Com-Arte, 2006.


domingo, 12 de fevereiro de 2023

Diário e reflexões - Cuba XII (12/02/23)



Refeição Cultural - Cuba (XII)

Osasco, 12 de fevereiro de 2023. Domingo.


"Se as constantes crises de asma obrigaram Ernesto a manter distância da escola, por outro lado não o impediram de se tornar uma das crianças mais inteligentes de sua turma de amigos. Assim como Fidel, ele aprendeu a estudar sozinho. E, como no lar da família Guevara calma e tranquilidade eram bens escassos, Ernesto costumava escapulir de casa para se esconder no galinheiro com uma pilha de livros..." (p. 43)


Dentro da dimensão de estudos a respeito de Cuba e do povo cubano, peguei para reler o livro Fidel e Che - Uma amizade revolucionária (2009), de Simon Reid-Henry. Eu ganhei o livro de presente dos participantes de um curso de formação sindical que realizamos em 2010 e li o livro naquela época. Agora, releio com um novo olhar, sendo eu outra pessoa, porque no fim das contas somos natureza e mudamos o tempo todo. Como disse Che em seus diários:

"'A pessoa que escreveu estas anotações morreu no dia em que pisou novamente em solo argentino. A pessoa que as está reorganizando e polindo, eu mesmo, não sou mais eu, pelo menos não sou mais o que eu era'." (p. 77)

Penso um pouco isso quando releio e organizo meus textos escritos há tantos anos, uma ou duas décadas atrás.

Li os dois primeiros capítulos do livro, capítulos que abordam a infância e a vida dos dois revolucionários antes deles se conhecerem. O autor nos mostra o quanto a infância e adolescência deles foram diferentes. Porém, algo eles tiveram em comum: o estudo e a educação foram centrais na vida desses dois homens que tiveram a consciência de que algo deveria ser feito contra a injustiça que grassava em todos os países da América colonizados por invasores de impérios do Norte e do continente europeu.

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DESABAFO... PESSIMISMO DA RAZÃO

Neste momento da postagem, 13h28, estou azedo, incomodado com a humanidade e com o mundo. Ouvir, ler, ver qualquer coisa sobre a realidade gera revolta a qualquer pessoa minimamente consciente politicamente. 

Vejo o esforço de Lula e algumas pessoas do governo de reconstrução nacional para mudar os problemas centrais causadores da miséria e desgraça do povo e vejo que as mudanças não serão possíveis, não serão! 

Falta inteligência de nossa parte, da parte do povo miserável e manipulável desde Adão e Eva (um dos mitos manipuladores da humanidade), um povo feito de miséria e ignorância plantada e colhida pela casa-grande, aquela que aqui veio explorar e destruir tudo para seu gozo no Norte e no continente europeu.

A briga de Lula contra o neto de ditadores que está na presidência do Banco Central é só um exemplo, entretanto é um exemplo central. O sujeito tem sua fortuna em paraísos fiscais, foi colocado lá pelo regime de destruição de Bolsonaro e Guedes e atua para favorecer 1% de pessoas do país e foder 99% delas destruindo qualquer chance de o país crescer e se desenvolver para gerar riqueza para melhorar a vida do povo.

E, no entanto, pela ignorância incentivada, fornecida pelos meios ideológicos da casa-grande, e pela falta de acesso à educação libertadora negada aos filhos da classe trabalhadora, os 99%, meus vizinhos, familiares, colegas de banco público da ativa e aposentados, meus desconhecidos queridos nas ruas, nas praças, igrejas e logradouros brasis são estimulados a opinarem a favor do neto de ditador do Bacen, a favor dos juros altos da selic que enriquece mais os endinheirados que vivem de renda de títulos e à base de vinhos e caviar em seus iates sem IPVA...

Cara, eu tô tão de saco cheio dessa merda toda! Como acreditar numa falsa democracia onde a pauta a agenda a voz que manipula tudo e todos é a ideologia dos endinheirados de merda que estão em seus jatos e iates sem IPVA?

Estou estudando sobre Cuba e a miséria que eles enfrentam é fruto do embargo econômico que alguns bilionários que dominam um país determinaram para causar revolta na ilha e acabar com um sonho utópico de um mundo organizado por outra lógica que não a da exploração capitalista.

O bolsonarista neto de ditadores colocado no Bacen do Brasil está lá para aplicar o mesmo embargo econômico ao Brasil de Lula para que o país não recupere a economia, os empregos, a distribuição de renda, para que o país tenha miséria e gere revolta para acabar com um sonho de um país mais justo e solidário sob o governo de Lula e do Partido dos Trabalhadores.

E meus colegas dos bancos públicos que têm fundos de pensão baseados em aplicações em mercado financeiro e papéis de dívida de governo são alguns dos beneficiados com as taxas de juros de 13,75% da selic e os maiores juros reais do planeta Terra... Nós poucos que temos aplicações financeiras estamos ganhando mais agora do que antes com a selic menor... que merda isso! O país se ferrando e a gente que tem aplicação se dando bem!

Contudo, nós beneficiários de fundos de pensão somos cocô do mosquito no cocô do cachorro em comparação aos bilionários que bancam toda essa merda do mercado financeiro, mas temos parte nesses privilégios para o 1%. A gente fica ali entre os 5% do topo da pirâmide social... se a economia vai mal e o país não cresce, a gente dos fundos de pensão vai se foder do mesmo jeito, mas quem percebe isso? É tanta ignorância entre nós!

Cara, que saco! Que merda do caralho! Tem hora que eu não queria ver mais nenhum humano na minha frente... sei que tem gente boa por aí, mas a sociedade humana é uma desgraça! Se eu não tivesse sido politizado pelo movimento sindical e pela esquerda e pelo acesso à educação, eu não sei o que seria ou o que faria... a revolta é enorme, mesmo estando hoje como um privilegiado do topo da pirâmide (e não era até pouco tempo atrás).

Saco!

E ainda existe o álcool para entorpecer e deixar meus pares dos 99% embriagados, alegres, tristes, doidos, deprimidos, revoltados sem controle da consciência... o álcool que fode com seus rins, fígado, sistema digestório, células do corpo etc. (que fode com o parco sistema de seguridade social que já tem o teto de gastos do golpe). Que merda! 

William


Post Scriptum: o texto anterior com a temática cubana pode ser lido aqui.


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Parabéns ao Partido dos Trabalhadores!



Reflexão

Sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023.


O PT faz aniversário num momento histórico, com o presidente Lula pautando questões centrais como o papel do Banco Central, cobrando direitos sociais para a classe trabalhadora e mandando desfazer terceirizações. Essa é a deixa para o movimento sindical e partidário abrir agendas de lutas com pautas progressistas.


O Partido dos Trabalhadores completa hoje 43 anos de existência! Registro aqui minhas felicitações ao partido e aos milhões de filiados e simpatizantes do PT. Desejo que o partido se fortaleça cada dia mais e que continue contribuindo para mudar a vida da classe trabalhadora e do povo brasileiro.

MINHA HISTÓRIA COM O PT

Eu não tenho uma dessas histórias fantásticas de companheiros e companheiras que participaram da criação do partido no início dos anos oitenta. Nem tenho idade pra isso.

Eu nasci em São Paulo em 1969, fui para Minas Gerais onde passei a adolescência e voltei para São Paulo no início de 1987, quando faria 18 anos. Tirei meu título de eleitor nessa época. Eu trabalhava em serviços sem qualificação como ajudante em lanchonetes, entregador em depósito de palmitos etc. O meu primeiro voto foi nas eleições para a Prefeitura de São Paulo. Votei na candidata do PT, Luiza Erundina. Que felicidade foi ver nossa prefeita eleita!

Uma lembrança que me marca até hoje em relação ao mandato de Erundina foi em relação ao transporte público. Antes do PT gerir São Paulo, a gente só conseguia "pegar" ônibus quando eles paravam no trânsito ou no farol, de tão lotados que estavam, a gente se pendurava nas portas e janelas. Toda hora morria gente em acidentes. A prefeita municipalizou o transporte e eu passei a entrar nos ônibus e me sentir um cidadão como deveria ser. Obrigado prefeita e obrigado PT, poderia ter morrido pendurado nos ônibus como andávamos.

Meu primeiro voto para presidente da república foi em Lula. Quase ganhamos as eleições de 1989. Quase! Eu já era bancário do Unibanco e tinha contato com o movimento sindical cutista através do pessoal da regional Osasco e Oeste, porque eu trabalhava no CAU da Raposo Tavares. Foi a primeira vez que me sindicalizei também. Com os sindicalistas, comecei a ouvir o outro lado da história das lutas de classes.

Depois virei bancário do Banco do Brasil ao passar no concurso público de 1991. E olha que o concurso foi cancelado por fraude em Brasília e eu tive que passar de novo nas provas. Já como funcionário de banco público, a politização que passei a receber foi bem mais constante. Os próprios colegas sindicalizavam a gente e falavam que trabalhador vota em trabalhador. Eu que já votava no PT, tive a certeza que esse seria meu voto de forma consciente e ideológica dali adiante.

Uma década depois de ter entrado no BB, eu já era um militante do Sindicato e era o contato da direção do movimento nas agências e região onde trabalhava: apesar de o governo dos tucanos acabar com os nossos direitos nos anos noventa e não reconhecer o papel do delegado sindical, éramos os contatos do Sindicato para organizar o movimento por local de trabalho (OLT).

Em 2002, após convites anteriores para disponibilizar meu nome para uma chapa da direção do Sindicato, acabei compondo a chapa que seria eleita em abril daquele ano. Fui eleito dirigente sindical. Naquele ano de eleições presidenciais, havia uma campanha de fortalecimento do Partido dos Trabalhadores, sempre muito atacado pela casa-grande, os seus veículos de comunicação e a burguesia vira-latas brasileira. Me filiei ao PT.

Já como dirigente sindical bancário e cutista, passei a estudar com afinco a história do movimento sindical, o Novo Sindicalismo, a criação do Partido dos Trabalhadores e depois a criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e, a cada dia de militância, estudava mais sobre as lutas de classe: para mim, era uma questão central saber o que eu representava e como deveria atuar a partir de meus mandatos sindicais.

Minha militância principal foi sempre no campo sindical, onde tinha mandatos eletivos. Mas acompanhei de perto o dia a dia do PT. Esses 21 anos de filiação ao Partido dos Trabalhadores foram anos de muita aprendizagem, de transformação enquanto pessoa e enquanto cidadão de direitos. 

De um trabalhador inconformado com injustiças e voluntarioso me tornei um militante de esquerda, com consciência política e com noções sobre história da luta de classes.

Reunião do diretório do PT do Butantã em nov/2022.

MAIS À ESQUERDA!

"Não tem nenhum sentido dentro do palácio onde está o presidente da república, que fala em justiça social todo dia, a gente ter trabalhador terceirizado aqui dentro" (Presidente Lula, ao criticar a terceirização no dia 19/01/23)


Essa fala do presidente Lula poucos dias após o início de seu 3º mandato sintetiza para mim um novo momento na vida e na história dessa liderança da classe trabalhadora e do povo brasileiro. Lula é uma liderança mundial e tudo o que ele fala repercute na política global. 

O presidente da república denunciou a desgraça da terceirização! E disse que isso seria revisto no caso do Palácio do Planalto. Após essa fala contra a terceirização, não seria a hora das empresas e bancos públicos e do movimento partidário e sindical encampar a luta contra a terceirização? O Banco do Brasil e a Cassi vão seguir terceirizando tudo? Fala sério se continuarem!

Penso que é urgente que os movimentos organizados que representam os diversos segmentos do povo compreendam esse novo momento político no qual estamos inseridos e se coloquem um pouco mais à esquerda em suas concepções e práticas diárias e programáticas. O governo Lula precisa de nós para não ter que ceder a toda a pressão que a casa-grande vai tentar impor a ele!

O presidente Lula em poucas semanas de mandato já deixou claro que o cenário político atual é muito diferente dos cenários políticos que vivemos nas duas décadas anteriores ao golpe de 2016 e ao conluio mafioso orquestrado para levar a milícia de extrema-direita ao poder central do país em 2018.

Quem até agora mais falou em rever o teto de gastos que destruiu o arcabouço da proteção social no Brasil foi Lula. Quem está peitando os bilionários banqueiros e rentistas chamados de forma manipuladora por aí de "mercado" é Lula. Quem está cobrando mais direitos para a classe trabalhadora como no caso do segmento dos trabalhadores em aplicativos é Lula. Quem está cobrando um papel correto dos bancos e do sistema financeiro nacional é Lula. Quem está cobrando uma agenda de paz no mundo é Lula.

Quando o Banco Central não era autônomo de direito, e já era de fato, o movimento sindical colocava a estrutura nas ruas e nas portas do Bacen em Brasília, São Paulo e outras capitais para cobrar a redução da taxa selic. Fazíamos marchas pelo aumento real do salário mínimo todo ano, desde 2004. O mesmo em relação à correção da tabela do imposto de renda, contratação de mais trabalhadores nas empresas públicas, verbas para saúde e educação etc. Eu tenho a impressão que os movimentos organizados podem liderar a disputa nas ruas e não só nas tais redes sociais, o mundo virtual.

É isso! Vida longa ao Partido dos Trabalhadores! Os movimentos sociais terão todo o nosso apoio para organizar as mobilizações que apoiem as agendas progressistas que o presidente Lula está encampando. 

Se eu estivesse neste momento em qualquer mandato eletivo como estive por tantos anos, eu estaria muito feliz com a postura de Lula e estaria internamente repercutindo essas agendas pautadas pelo presidente contra a terceirização e exploração sem fim de nossos direitos trabalhistas e sociais.

Tenho presenciado uma mobilização muito bonita no diretório do PT do Butantã. O pessoal está com muita vontade de lutar e conquistar direitos e uma vida melhor para a população da região.

Abraços a tod@s!

William Mendes


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Diário e reflexões - Cuba XI (09/02/23)



Refeição Cultural - Cuba (XI)

Osasco, 09 de fevereiro de 2023. Fim de noite de quinta-feira.


Mais um dia de minha vida vai terminando. À minha esquerda, uma bonita lua ilumina o céu. A natureza é bela aos olhos do animal humano que pensa a respeito da lua, do sol e a respeito de tudo que está ao nosso redor. Somos natureza. Na Turquia e Síria, a natureza tremeu e mudou tudo em instantes. São mais de 20 mil mortos após o terremoto. A natureza é incontrolável! Estados Unidos e Otan querem aniquilar um país que possui bombas atômicas, a Rússia, que defende seu direito de existir. Isso pode dar uma merda global. A lua, o terremoto, a estupidez humana: tudo isso é a natureza.

Defini que iria estudar um pouco sobre Cuba e os cubanos nos primeiros meses deste ano. A história desse povo caribenho é fantástica e motivadora para nós que há séculos somos explorados pelos impérios do Norte e ainda hoje somos hegemonizados pelas ideologias dominantes desses imperialistas que pouco se importam conosco, povos do Sul, e com a vida na Terra. Estou perseguindo esse objetivo que tracei e sei um grama a mais sobre Cuba em relação ao ontem. Sei até sobre o Granma (rsrs).

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"(...) Liev Davidovitch contemplou a paisagem norueguesa e, como escreveria pouco depois, enquanto se afastavam do fiorde, fez em silêncio o balanço do seu exílio, para se certificar de que as perdas e frustrações superavam largamente os duvidosos ganhos. Nove anos de marginalização e ataques tinham conseguido transformá-lo num pária, num novo judeu errante condenado ao escárnio e à espera de uma morte infame que lhe chegaria quando a humilhação tivesse esgotado sua utilidade e sua cota de sadismo..." (p. 220/221)


Li nos últimos dias mais três capítulos do livro do escritor cubano Leonardo Padura - O homem que amava os cachorros. Foram mais de 70 páginas e o conteúdo é muito denso. A história é sobre o assassinato de Trótski. 

Já li textos parecidos sobre a história da Revolução Russa e seus líderes. Ao longo da militância no movimento sindical tive contato com diversos pontos de vista e não me censuro em relação a texto algum contra ou a favor de um ou outro grupo da esquerda mundial. 

Desde que conheci o pessoal do movimento sindical, convivi com a questão dos grupos stalinistas e trotskistas (e muitos outros), e afirmo ainda hoje que essa divisão é uma coisa que me incomoda há tempos: acho uma estupidez os rachas no campo da classe trabalhadora. 

Os caras das forças de esquerda se mataram uns aos outros ao longo da história e a direita e os capitalistas nos dominam até hoje. Vejam o exemplo do que aconteceu na Guerra Civil Espanhola! Era uma tragédia anunciada!

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É isso!

O nosso presidente Lula desembarcou nos Estados Unidos hoje para se encontrar com o presidente norte-americano, Biden. 

Que a memória de lutadores históricos como José Martí, Fidel Castro, Ernesto Che Guevara, Hugo Chávez, Leonel Brizola, Luiz Gama e tantas lideranças de Nuestra América iluminem nosso querido presidente Lula para realizarmos reuniões ativas e altivas em defesa dos interesses de nossa Pátria Grande, como Lula fez nos seus dois primeiros mandatos.

O texto anterior com a temática cubana pode ser lido aqui.

William



Bibliografia:

PADURA, Leonardo. O homem que amava os cachorros. Tradução de Helena Pitta. 2ª ed. - São Paulo: Boitempo, 2015.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Vendo filmes e programas antigos (II)



Refeição Cultural

Osasco, 08 de fevereiro de 2023. Quarta-feira.


Depois de ver as primeiras fitas VHS dias atrás, nas quais assisti a 6 filmes antigos (ver postagem aqui), vi mais algumas fitas nesses dias. Assisti agora a 3 filmes, uma retrospectiva do ano de 1997 e um documentário sobre dinossauros. Ver aquelas imagens antigas de 1997 é algo tocante para mim. Eu era absolutamente outra pessoa à época.

Na postagem anterior, registrei que o videocassete no qual assisto aos filmes havia quebrado. Consegui consertá-lo. Uma das fitas havia deixado um pedaço de papel dentro dele e ao tentar mexer naquilo acabei estragando uma outra fita que ficou presa dentro dele etc. Por incrível que pareça, consegui fazer o aparelho voltar a funcionar, desmontei e montei a fita estragada e ainda vi o conteúdo dela.

Por que não assisto aos filmes e programas contidos nas fitas VHS em mídias de streaming? Eu já pago a mensalidade de duas dessas empresas e os filmes e programas das fitas antigas não estão no catálogo das plataformas que assino. No caso da Net Claro, se eu quiser ver o filme no Now (caso esteja disponível), eu tenho que pagar de novo na maioria das vezes. Essas plataformas são tudo a mesma porcaria. E nós somos os clientes feitos de trouxas.

Enfim, sigo lendo e vendo coisas de cultura. Minha ocupação não é mais ser bancário. Não atuei nas profissões nas quais me graduei porque estava na ocupação de bancário e de político (sindicalista). Não caibo mais na militância política onde coube por décadas porque tinha mania de questionar e debater os temas fundamentais para nossa vida em sociedade, isso incomoda os políticos atuais. Não sou muito de ficar concordando automaticamente com tudo que se propõe por aí e que vai repercutir na vida de todos, inclusive na minha. Porém, sigo na torcida pelo meu lado da classe.

Me esforço para ver tudo de maneira atenta, principalmente hoje com a experiência que tenho de vida. Nem sempre consigo isso. É possível tirar ensinamentos de quase tudo, quase tudo. Até de filmes aparentemente bobos, despretensiosos. Há uma ideologia por trás de tudo que é feito pela mão humana. Olhos atentos podem ver muitas coisas por trás de coisas banais... 

Quando era dirigente sindical, costumava explicar para os novos sindicalistas que eles deveriam ficar atentos nas reuniões para ouvir e compreender o que as falas dos políticos queriam dizer para além do que eles diziam, ler nas entrelinhas. Toda fala aparente tinha uma fala de fundo, uma cutucada em alguém, em algum grupo político, uma insinuação, uma proposta a ser alimentada no coletivo etc. Ler nas entrelinhas é fundamental na política.

Voltando aos filmes antigos, vale registrar que aqui em casa nós já doamos dezenas de filmes e desenhos em VHS, em bom estado, comprados na época e vistos uma ou duas vezes, para uma pessoa que trabalha com crianças e pessoas em situação difícil, que vivem nas comunidades aqui perto. Doamos inclusive um aparelho de videocassete para as fitas serem utilizadas na brinquedoteca da comunidade.

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OS FILMES QUE VI

- O fofoqueiro (1967) - Filme escrito, produzido, dirigido e protagonizado por Jerry Lewis. O enredo da história é muito confuso. Foi um sacrifício ver o filme até o final. Nunca tinha visto um filme tão ruim do Jerry Lewis. O bancário Gerald Clamson está em férias na Califórnia e ao pescar na praia, fisga um homem ferido com roupa de mergulho. O homem é um bandido e traficante de joias e antes de morrer ele deixa um mapa do tesouro indicando um hotel. Fato central: o bandido se parece com o bancário. Clamson vai pro hotel e um monte de gente começa a persegui-lo: bandidos, funcionários do hotel, traficantes etc. Ele ainda consegue viver um romance com uma bela moça, interpretada pela atriz Susan Bay. Enfim, Jerry Lewis fez esse filme aos 40 anos de idade, já na fase sem Dean Martin. 

Gravei a fita no antigo canal CNT, e as propagandas e chamadas do ano de 1996 são um caso à parte, que coisa era aquilo que víamos naquele ano!? Antes do filme, tem na fita alguns minutos de um programa de entrevistas do Juca Kfouri com o ex-governador Franco Montoro e deputado federal pelo PSDB de SP. Interessante o pouquinho que vi.

- De caniço e samburá (1969) - Filme dirigido por George Marshall e protagonizado por Jerry Lewis. O corretor de seguros Peter Ingersoll vivia uma vida que considerava monótona e sem graça, trabalhando a semana toda na mesma rotina do escritório e aos finais de semana ainda se estressava com os afazeres do lar, onde vivia com esposa, duas crianças e o cachorro. Ao ser diagnosticado por seu médico e amigo com uma doença terminal, e incentivado pela esposa, Ingersoll vai viver os últimos meses de sua vida pescando e aproveitando a vida às custas de diversos cartões de crédito. O final do filme tem uma reviravolta na história. Esse filme é melhor que o anterior que vi, O fofoqueiro, mas ainda assim é bem fraco. Os filmes dele da década anterior são bem melhores que esses dos anos 60. O nome do filme se refere a apetrechos de pesca, vara de pescar e cesto para colocar peixes. 

- Como água para chocolate (1992) - Filme mexicano dirigido por Alfonso Arau e estrelado por Lumi Cavazos (Tita), Marco Leonardi (Pedro) e demais pessoas do elenco. Baseado em livro do mesmo nome, de Laura Esquivel, filme conta a história de amor entre Tita e Pedro e se passa em plena Revolução Mexicana (anos 1910). Uma tradição familiar - a filha caçula não deve se casar antes de a mãe morrer - impede que a paixão do casal resulte em matrimônio. Para continuar perto do objeto de seu desejo, o rapaz se casa com a irmã da mulher que ama. Tita não tem outra saída senão demonstrar silenciosamente sua paixão através dos pratos que cozinha, todos transformados em apaixonadas declarações de amor. Gostei do filme. A história é mais uma daquelas que evidenciam a violência contra as mulheres, estejam elas onde estiverem nas sociedades humanas. No entanto, mesmo num cenário de opressão, o filme ainda nos brinda com alguns momentos de muita sensualidade.

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OUTROS PROGRAMAS

- Lula e Kfouri (1996) - Outra curiosidade da fita de VHS é uma entrevista do Lula ao Juca Kfouri no ano de 1996. É só a parte final da entrevista, mas ver Lula falando o que ele e o PT pensavam a respeito do Brasil e da economia foi um choque de realidade. Lula disse que ele e o Partido não eram contra as privatizações, mas entendiam que o Governo deveria ter o comando das empresas que fossem estratégicas para o país e o povo brasileiro... Ou seja, esse é o PT, e muitos militantes acham que o Partido é mais à esquerda do que ele sempre foi. Eu aprendi isso enquanto militei no movimento sindical e na Articulação Sindical da CUT.

- Retrospectiva 1997, da Rede Globo - Gravei o programa em fita VHS, os temas destacados do ano de 1997 foram escolhidos pela edição da família Marinho. A morte da Princesa Diana, conhecida como Lady Di, foi um acontecimento no mundo das celebridades. Morreram também grandes brasileiros como Darcy Ribeiro, Paulo Freire e Betinho. O país era governado pelo tucano FHC, de péssima memória. O mundo unipolar tinha como chefe o democrata Bill Clinton, "unipolar" pelo menos do ponto de vista do imperialismo norte-americano. Eu me imagino vendo esses programas de formação ideológica da classe trabalhadora não sendo tão politizado à época como sou hoje... que foda! Não sei como escapei de me tornar um pobre de direita!

- O vídeo oficial dos dinossauros (1997) - documentário sobre dinossauros produzido em meados dos anos noventa, gravado no Museu de História Natural de Londres. Naquela época, o interesse pelos dinossauros vinha ganhando força e audiência. Viveríamos décadas de intensa divulgação desse período da história do planeta Terra. A fita é muito fraquinha se considerarmos a evolução que tivemos na área depois disso.

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COMENTÁRIO

Em relação aos filmes antigos que vi, foram entretenimento. Até vi um dos filmes com a esposa, que é cinéfila e já viu centenas de filmes na vida, enquanto eu quase não vejo filmes. Vimos juntos Como água para chocolate.

Vendo hoje os filmes norte-americanos de Jerry Lewis, vejo o quanto os filmes eram elogiados em excesso, pois não são tão bons quanto nós dizíamos que eram nos anos oitenta. Não são bons. Contudo, é bem interessante vermos a indústria do entretenimento do Tio Sam atuando por trás da banalidade do enredo. A criação do hábito de fumar, o papel subalterno das mulheres, preconceitos mil etc. 

Ver filmes norte-americanos dessas décadas facilita muito o entendimento das explicações dadas pelo sociólogo Jessé Souza sobre como os Estados Unidos empreenderam uma guerra cultural contra seu povo pobre e contra os demais países do mundo, explicações contidas no livro A guerra contra o Brasil - Como os EUA se uniram a uma organização criminosa para destruir o sonho brasileiro (2020). Ler comentário aqui.

É isso! Seguirei vendo filmes e lendo e estudando para tentar ser menos ignorante em relação ao ontem.

William