Refeição Cultural - Cuba (IX)
Osasco, 04 de fevereiro de 2023. Noite de sábado.
Duas leituras a respeito de organização política e social e com temáticas sobre independência e liberdade abordam aspectos antagônicos de certa forma no que diz respeito a experiências no campo da esquerda. Unidade com foco em objetivos comuns ou fragmentações diversas dos grupos de esquerda?
A leitura de José Martí demonstra o quanto um líder pode ser inspirador em seu clamor por unidade na luta do povo cubano por sua independência da coroa espanhola no século XIX. Já a leitura do romance de Leonardo Padura - O homem que amava os cachorros - aborda a quantidade incrível de divisões no campo da esquerda durante a guerra civil espanhola no século XX e durante as primeiras etapas da constituição da URSS.
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A FRAGMENTAÇÃO DA ESQUERDA ERA UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA NA ESPANHA
"No caminho para o centro, foi evitando as ruas em que tinham sido montadas as barricadas, de onde se davam tiros esporádicos. Bondes e ônibus detidos cortavam o tráfego e por toda a parte se exibiam bandeiras que revelavam a filiação política dos defensores de cada esquina: comunistas, socialistas, anarquistas, poumistas, catalanistas, sindicalistas da CNT, tropas regulares, milícias e polícia, num caleidoscópio centrífugo que convenceu o jovem da necessidade daquela batida: nenhuma guerra podia ser ganha com uma retaguarda tão caótica e dividida." (p. 193)
Este é o cenário das forças de esquerda na Espanha governada pelos socialistas de Largo Caballero e depois de sua queda por Negrín, que colocou na ilegalidade os trotskistas do Poum. (meados dos anos 30)
"Largo Caballero, acossado por todos os lados, ou talvez finalmente assumindo sua incapacidade para resolver os problemas da guerra e da República, apresentou sua demissão. Nessa altura, com o apoio dos comunistas e dos assessores, Negrín assumiu a chefia do governo e, quase como primeira medida, anunciou a ilegalidade do Poum e a intenção de julgar seus líderes." (p. 194)
Essa divisão no campo da esquerda é mais antiga que andar pra frente, como diziam na minha adolescência.
A leitura do capítulo 11 é densa em relação ao contexto no qual se encontravam as diversas forças reunidas na República Espanhola.
Curiosidade - No romance, Padura nos conta que o escritor e jornalista inglês George Orwell, que estava na Espanha naquela época, gostava de cachorros da raça galgos borzóis (págs. 185/186)
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JOSÉ MARTÍ CLAMA POR UNIDADE DO POVO CUBANO NA LUTA PELA INDEPENDÊNCIA
"¡Unámonos, cubanos, en esta otra fe: con todos, y para todos: la guerra inevitable, de modo que la respete y la desee y la ayude la patria, y no nos la mate, en flor, por local o por personal o por incompleta, el enemigo: la revolución de justicia y de realidad, para el reconocimiento y la práctica franca de las libertades verdaderas!" (from "Martí en su universo: Una antología (Spanish Edition)" by José Martí)
Vejam abaixo que forma inteligente e apaixonada de enaltecer um povo e dar coesão para a unidade na luta por objetivos comuns:
"¡De todos los cubanos! ¡Yo no sé qué misterio de ternura tiene esta dulcísima palabra, ni qué sabor tan puro sobre el de la palabra misma de hombre, que es ya tan bella, que si se la pronuncia como se debe, parece que es el aire como nimbo de oro, y es trono o cumbre de monte la naturaleza! ¡Se dice cubano, y una dulzura como de suave hermandad se esparce por nuestras entrañas, y se abre sola la caja de nuestros ahorros, y nos apretamos para hacer un puesto más en la mesa, y echa las alas el corazón enamorado para amparar al que nació en la misma tierra que nosotros, aunque el pecado lo trastorne, o la ignorancia lo extravíe, o la ira lo enfurezca, o lo ensangriente el crimen! ¡Como que unos brazos divinos que no vemos nos aprietan a todos sobre un pecho en que todavía corre la sangre y se oye todavía sollozar el corazón! ¡Créese allá en nuestra patria, para darnos luego trabajo de piedad, créese, donde el dueño corrompido pudre cuanto mira, un alma cubana nueva, erizada y hostil, un alma hosca, distinta de aquella alma casera y magnánima de nuestros padres e hija natural de la miseria que ve triunfar al vicio impune, y de la cultura inútil, que solo halla empleo en la contemplación sorda de sí misma! ¡Acá, donde vigilamos por los ausentes, donde reponemos la casa que allá se nos cae encima, donde creamos lo que ha de reemplazar a lo que allí se nos destruye, acá no hay palabra que se asemeje más a la luz del amanecer, ni consuelo que se entre con más dicha por nuestro corazón, que esta palabra inefable y ardiente de cubano!" (from "Martí en su universo: Una antología (Spanish Edition)" by José Martí)
Bibliografia:
PADURA, Leonardo. O homem que amava os cachorros. Tradução de Helena Pitta. 2ª ed. - São Paulo: Boitempo, 2015.
MARTÍ EN SU UNIVERSO - UNA ANTOLOGÍA. Edición Conmemorativa. Real Academia Española e Asociación de Academias de La Lengua Española. Alfaguara - Lengua Viva, Madrid.
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