quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Leitura: Diário de um bandeirante ligeiramente atrasado e totalmente desarmado - Roberto Buzzo



Refeição Cultural

Osasco, 15 de fevereiro de 2023. Quarta-feira de 30º na Grande São Paulo.


Ao tentar ler para minha esposa um trecho do capítulo "A apoteose" a voz embargou, os olhos encheram-se de lágrimas e não consegui enxergar as palavras... cada emoção é única, mas como caminhante e romeiro de longa data, pude sentir um pouco do que Roberto Buzzo descreveu da emoção daquele momento em seu diário.

Peguei o livro de Buzzo na estante de casa de forma quase aleatória. Estipulei a mim mesmo que pretendo ler ao menos 3 livros por mês neste ano. Como estou com o projeto de ler e estudar a respeito da história de Cuba e do povo cubano, estou lendo livros enormes, de leituras que vão durar um tempão. Uma forma de descansar dos livrões é lendo livros leves e prazerosos durante o percurso.

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"(...) Antes de dormir, avaliara que o chão não seria tão duro como o da noite anterior. De fato, nem tão duro, nem tão seco. Descobri que não se é simples, leve e chinesa impunemente. O 'chinesa' é um preconceito meu: a barraca foi mesmo produzida na China, mas sob as especificaçoes de uma tradicional fábrica brasileira de equipamentos do gênero, como minha mochila e minha lanterna, que em nenhum momento descumpriram seu papel. Gotejava ao lado da cabeça..." (p. 39)

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Como tenho lido crônicas excelentes do Buzzo na rede social onde ele publica seus textos, decidi ler o livro dele que tenho em minha biblioteca. O cara escreve muito bem e a leitura de seu diário de um bandeirante é espetacular! É uma narrativa leve, tem humor, tem ironia da melhor qualidade e eu não esperava compartilhar também a emoção de nosso escritor peregrino e caminhador.

Buzzo percorreu 640 Km da Grande São Paulo até Fernandópolis, terra natal de sua família e de sua infância. A jornada foi feita por ele aos 50 anos de idade. O caminhante passou por 49 cidades e povoados, dormiu a maior parte dos 15 dias acampando em sua barraca em canaviais, laranjais e que tais. Passou uns perrengues típicos de uma aventura como essa e a leitura de seu diário de viagem em julho de 2004 me trouxe muitas reflexões, lembranças de uma época de minha própria vida e adorei a leitura.

Em algumas passagens, eu ia dialogando com Buzzo, do tipo: também acampei em Cabreúva; acampei e fiz rapel em Brotas; em Piracicaba, fiz 14 saltos de paraquedas e ver o rio lá de cima é um feito inesquecível. Sobretudo, faço a romaria de Uberlândia a Água Suja em Minas Gerais desde adolescente e por duas vezes planejei fazer o Caminho de Santiago e precisei adiar o projeto de quase mil quilômetros de caminhada por compromissos políticos de meus mandatos sindicais.

Vejo as mudanças em meu condicionamento físico neste momento da vida e me pergunto quais caminhos ainda vou percorrer andando ou correndo... não sei. Não sei mesmo! Meu quadril estragou meus projetos de correr uma maratona e fazer longas caminhadas... triste isso, mas a vida é assim, é o viver. Somos natureza!

Prezado Buzzo, obrigado pela publicação de seu Diário de um bandeirante ligeiramente atrasado e totalmente desarmado (2006). Tempos depois de sua viagem, viajei contigo! E só quem caminha sabe que no fundo a gente que caminha meio sem saber o motivo sabe muitas vezes que não estava sozinho, mesmo buscando a solidão momentânea, porque pessoas queridas estavam com a gente em pensamentos. Sempre estive acompanhado em minhas caminhadas solitárias.

Post Scriptum: Uma das cenas mais bonitas do filme Forrest Gump é quando ele conta a sua amada Jenny que ela estava lá ao seu lado enquanto corria por belas paisagens cortando o país do Atlântico ao Pacífico.  

Leitura nota mil!

William


Bibliografia:

BUZZO, Roberto. Diário de um bandeirante ligeiramente atrasado e totalmente desarmado. São Paulo: Com-Arte, 2006.


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