quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Vendo filmes e programas antigos (II)



Refeição Cultural

Osasco, 08 de fevereiro de 2023. Quarta-feira.


Depois de ver as primeiras fitas VHS dias atrás, nas quais assisti a 6 filmes antigos (ver postagem aqui), vi mais algumas fitas nesses dias. Assisti agora a 3 filmes, uma retrospectiva do ano de 1997 e um documentário sobre dinossauros. Ver aquelas imagens antigas de 1997 é algo tocante para mim. Eu era absolutamente outra pessoa à época.

Na postagem anterior, registrei que o videocassete no qual assisto aos filmes havia quebrado. Consegui consertá-lo. Uma das fitas havia deixado um pedaço de papel dentro dele e ao tentar mexer naquilo acabei estragando uma outra fita que ficou presa dentro dele etc. Por incrível que pareça, consegui fazer o aparelho voltar a funcionar, desmontei e montei a fita estragada e ainda vi o conteúdo dela.

Por que não assisto aos filmes e programas contidos nas fitas VHS em mídias de streaming? Eu já pago a mensalidade de duas dessas empresas e os filmes e programas das fitas antigas não estão no catálogo das plataformas que assino. No caso da Net Claro, se eu quiser ver o filme no Now (caso esteja disponível), eu tenho que pagar de novo na maioria das vezes. Essas plataformas são tudo a mesma porcaria. E nós somos os clientes feitos de trouxas.

Enfim, sigo lendo e vendo coisas de cultura. Minha ocupação não é mais ser bancário. Não atuei nas profissões nas quais me graduei porque estava na ocupação de bancário e de político (sindicalista). Não caibo mais na militância política onde coube por décadas porque tinha mania de questionar e debater os temas fundamentais para nossa vida em sociedade, isso incomoda os políticos atuais. Não sou muito de ficar concordando automaticamente com tudo que se propõe por aí e que vai repercutir na vida de todos, inclusive na minha. Porém, sigo na torcida pelo meu lado da classe.

Me esforço para ver tudo de maneira atenta, principalmente hoje com a experiência que tenho de vida. Nem sempre consigo isso. É possível tirar ensinamentos de quase tudo, quase tudo. Até de filmes aparentemente bobos, despretensiosos. Há uma ideologia por trás de tudo que é feito pela mão humana. Olhos atentos podem ver muitas coisas por trás de coisas banais... 

Quando era dirigente sindical, costumava explicar para os novos sindicalistas que eles deveriam ficar atentos nas reuniões para ouvir e compreender o que as falas dos políticos queriam dizer para além do que eles diziam, ler nas entrelinhas. Toda fala aparente tinha uma fala de fundo, uma cutucada em alguém, em algum grupo político, uma insinuação, uma proposta a ser alimentada no coletivo etc. Ler nas entrelinhas é fundamental na política.

Voltando aos filmes antigos, vale registrar que aqui em casa nós já doamos dezenas de filmes e desenhos em VHS, em bom estado, comprados na época e vistos uma ou duas vezes, para uma pessoa que trabalha com crianças e pessoas em situação difícil, que vivem nas comunidades aqui perto. Doamos inclusive um aparelho de videocassete para as fitas serem utilizadas na brinquedoteca da comunidade.

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OS FILMES QUE VI

- O fofoqueiro (1967) - Filme escrito, produzido, dirigido e protagonizado por Jerry Lewis. O enredo da história é muito confuso. Foi um sacrifício ver o filme até o final. Nunca tinha visto um filme tão ruim do Jerry Lewis. O bancário Gerald Clamson está em férias na Califórnia e ao pescar na praia, fisga um homem ferido com roupa de mergulho. O homem é um bandido e traficante de joias e antes de morrer ele deixa um mapa do tesouro indicando um hotel. Fato central: o bandido se parece com o bancário. Clamson vai pro hotel e um monte de gente começa a persegui-lo: bandidos, funcionários do hotel, traficantes etc. Ele ainda consegue viver um romance com uma bela moça, interpretada pela atriz Susan Bay. Enfim, Jerry Lewis fez esse filme aos 40 anos de idade, já na fase sem Dean Martin. 

Gravei a fita no antigo canal CNT, e as propagandas e chamadas do ano de 1996 são um caso à parte, que coisa era aquilo que víamos naquele ano!? Antes do filme, tem na fita alguns minutos de um programa de entrevistas do Juca Kfouri com o ex-governador Franco Montoro e deputado federal pelo PSDB de SP. Interessante o pouquinho que vi.

- De caniço e samburá (1969) - Filme dirigido por George Marshall e protagonizado por Jerry Lewis. O corretor de seguros Peter Ingersoll vivia uma vida que considerava monótona e sem graça, trabalhando a semana toda na mesma rotina do escritório e aos finais de semana ainda se estressava com os afazeres do lar, onde vivia com esposa, duas crianças e o cachorro. Ao ser diagnosticado por seu médico e amigo com uma doença terminal, e incentivado pela esposa, Ingersoll vai viver os últimos meses de sua vida pescando e aproveitando a vida às custas de diversos cartões de crédito. O final do filme tem uma reviravolta na história. Esse filme é melhor que o anterior que vi, O fofoqueiro, mas ainda assim é bem fraco. Os filmes dele da década anterior são bem melhores que esses dos anos 60. O nome do filme se refere a apetrechos de pesca, vara de pescar e cesto para colocar peixes. 

- Como água para chocolate (1992) - Filme mexicano dirigido por Alfonso Arau e estrelado por Lumi Cavazos (Tita), Marco Leonardi (Pedro) e demais pessoas do elenco. Baseado em livro do mesmo nome, de Laura Esquivel, filme conta a história de amor entre Tita e Pedro e se passa em plena Revolução Mexicana (anos 1910). Uma tradição familiar - a filha caçula não deve se casar antes de a mãe morrer - impede que a paixão do casal resulte em matrimônio. Para continuar perto do objeto de seu desejo, o rapaz se casa com a irmã da mulher que ama. Tita não tem outra saída senão demonstrar silenciosamente sua paixão através dos pratos que cozinha, todos transformados em apaixonadas declarações de amor. Gostei do filme. A história é mais uma daquelas que evidenciam a violência contra as mulheres, estejam elas onde estiverem nas sociedades humanas. No entanto, mesmo num cenário de opressão, o filme ainda nos brinda com alguns momentos de muita sensualidade.

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OUTROS PROGRAMAS

- Lula e Kfouri (1996) - Outra curiosidade da fita de VHS é uma entrevista do Lula ao Juca Kfouri no ano de 1996. É só a parte final da entrevista, mas ver Lula falando o que ele e o PT pensavam a respeito do Brasil e da economia foi um choque de realidade. Lula disse que ele e o Partido não eram contra as privatizações, mas entendiam que o Governo deveria ter o comando das empresas que fossem estratégicas para o país e o povo brasileiro... Ou seja, esse é o PT, e muitos militantes acham que o Partido é mais à esquerda do que ele sempre foi. Eu aprendi isso enquanto militei no movimento sindical e na Articulação Sindical da CUT.

- Retrospectiva 1997, da Rede Globo - Gravei o programa em fita VHS, os temas destacados do ano de 1997 foram escolhidos pela edição da família Marinho. A morte da Princesa Diana, conhecida como Lady Di, foi um acontecimento no mundo das celebridades. Morreram também grandes brasileiros como Darcy Ribeiro, Paulo Freire e Betinho. O país era governado pelo tucano FHC, de péssima memória. O mundo unipolar tinha como chefe o democrata Bill Clinton, "unipolar" pelo menos do ponto de vista do imperialismo norte-americano. Eu me imagino vendo esses programas de formação ideológica da classe trabalhadora não sendo tão politizado à época como sou hoje... que foda! Não sei como escapei de me tornar um pobre de direita!

- O vídeo oficial dos dinossauros (1997) - documentário sobre dinossauros produzido em meados dos anos noventa, gravado no Museu de História Natural de Londres. Naquela época, o interesse pelos dinossauros vinha ganhando força e audiência. Viveríamos décadas de intensa divulgação desse período da história do planeta Terra. A fita é muito fraquinha se considerarmos a evolução que tivemos na área depois disso.

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COMENTÁRIO

Em relação aos filmes antigos que vi, foram entretenimento. Até vi um dos filmes com a esposa, que é cinéfila e já viu centenas de filmes na vida, enquanto eu quase não vejo filmes. Vimos juntos Como água para chocolate.

Vendo hoje os filmes norte-americanos de Jerry Lewis, vejo o quanto os filmes eram elogiados em excesso, pois não são tão bons quanto nós dizíamos que eram nos anos oitenta. Não são bons. Contudo, é bem interessante vermos a indústria do entretenimento do Tio Sam atuando por trás da banalidade do enredo. A criação do hábito de fumar, o papel subalterno das mulheres, preconceitos mil etc. 

Ver filmes norte-americanos dessas décadas facilita muito o entendimento das explicações dadas pelo sociólogo Jessé Souza sobre como os Estados Unidos empreenderam uma guerra cultural contra seu povo pobre e contra os demais países do mundo, explicações contidas no livro A guerra contra o Brasil - Como os EUA se uniram a uma organização criminosa para destruir o sonho brasileiro (2020). Ler comentário aqui.

É isso! Seguirei vendo filmes e lendo e estudando para tentar ser menos ignorante em relação ao ontem.

William


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