Refeição Cultural
Encontrei o companheiro Luizinho Azevedo na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) em 19/09/25, no dia da sessão que relembrou os 40 anos da histórica greve dos bancários em 1985. Luizinho foi um dos líderes protagonistas nessa história.
Naquele dia, recebi de presente do Luizinho o livro "Desafios do Sindicalismo no Brasil Contemporâneo - Entre Transformações e Resistências", de sua autoria.
Estudioso das questões do mundo do trabalho e estrategista de primeira linha, Luizinho segue sendo referência para todos nós que lutamos por um mundo mais inclusivo e sustentável.
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TRANSFORMAÇÕES NO TRABALHO
"A teoria materialista da história enfatiza as relações sociais como o motor primário do desenvolvimento histórico e da formação das ideias. Segundo Marx, as ideias não surgem de forma isolada ou independente, mas são moldadas e influenciadas pelas condições materiais e sociais em que as pessoas vivem e trabalham." (p. 19)
No primeiro capítulo, Luizinho apresenta um panorama geral das mudanças no mundo do trabalho organizado pelo modo de produção capitalista.
Relembrou o ludismo do início do século XIX, passou pelo fordismo no início do XX e abordou o toyotismo, que flexibilizou a produção e facilitou as etapas atuais de terceirização, uberização e pejotização.
O movimento sindical tem desafios enormes para organizar e representar os trabalhadores nesse cenário atual, que ainda conta com o avanço tecnológico das IAs, eliminando boa parte do trabalho tradicional humano.
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A RESISTÊNCIA SINDICAL NO PERÍODO RECENTE
"As transformações no mundo do trabalho descaracterizaram de tal forma as identidades de categoria e de classe, que grande parte dos trabalhadores não se identifica nem como classe em si, quanto mais avançar para se sentir parte de uma classe para si, fator essencial para a organização sindical e política." (p. 27)
Luizinho apresenta de forma sucinta as causas e consequências da atual situação do mundo do trabalho no Brasil.
O golpe de Estado contra Dilma Rousseff, a prisão de Lula para darem seguimento ao golpe, as reformas de Temer e Bolsonaro, e até a dificuldade das lideranças sindicais em unificar demandas para fortalecer a classe trabalhadora são fatores analisados pelo autor no 2° capítulo do livro.
Luizinho, no entanto, não perde a esperança no planejamento estratégico para reverter o processo desagregador das classes. Temos que apostar mais na organização de fato dos trabalhadores para depois lutar pela representação de direito, até para questões de financiamento sindical (p. 24)
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HÁ MUITA FORÇA PARA SER DESPERTADA
Neste capítulo, Luizinho apresenta os desafios atuais do movimento sindical.
A sindicalização da classe trabalhadora é a menor dos últimos tempos: 8,4% de 100 milhões de pessoas ocupadas.
"As Centrais Sindicais, e a CUT em particular, precisam se organizar e fazer uma discussão com as direções de cada sindicato, entidade por entidade, sobre a necessidade de romper com o passado, dele aproveitando apenas as forças acumuladas, e iniciar uma operação efetiva de adensamento sindical, buscando valorizar as negociações coletivas e viabilizar financeiramente as entidades sindicais." (p. 33)
Comentário do blog: nas questões analisadas por Luizinho, percebem-se as dificuldades atuais para a autonomia e independência dos sindicatos em relação a partidos e governos, um dos objetivos do novo sindicalismo nascido no final dos anos setenta e início dos oitenta.
No Brasil e no mundo, na atual conjuntura, todo partido tem relação mais estreita com uma agremiação sindical. (p. 33)
O reconhecimento das Centrais Sindicais em 2008, com a participação nas contribuições sindicais à época (10%), estimulou as divisões políticas no movimento sindical.
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TENTANDO ROMPER O CERCO NEOLIBERAL
"Na base, a perda de credibilidade e o crescimento do individualismo dificultam o surgimento de uma nova geração de dirigentes. Ou seja, sem inovar na organização e nas ações não haverá militantes disponíveis para fazer a renovação nas direções." (p. 46)
Neste capítulo, o autor faz diagnósticos dos desafios dos movimentos sindicais e nos atualiza sobre as propostas em debate para fortalecer o sindicalismo.
Autorregulação no sindicalismo, adensamento sindical e campanhas de sindicalização são alguns dos eixos em debate no movimento. Além, é claro, das formas de sustentação financeira da estrutura sindical.
Luizinho fala da ideia de organizar "brigadas digitais" na questão de disputa nas redes na internet, mas a adesão até agora foi aquém do ideal por parte dos sindicatos.
O estudioso Luizinho cita as boas experiências em comunicação que o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região vem fazendo em relação a aplicativos para celular e comunicação virtual com associados. (p. 44)
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APONTAMENTOS FINAIS
Luizinho diz ao final de suas reflexões e sugestões que fazer é mais complexo do que escrever, como ele fez.
Entretanto, o blog lembra aqui que as análises e reflexões do autor devem ser recebidas por todos nós como um esforço honesto e necessário de um grande pensador e alguém que participou de toda a história de nossas lutas desde o final dos anos setenta.
O livro foi escrito no final de 2024, após o avanço da direita e da representação conservadora nos executivos e legislativos das cidades brasileiras, ou seja, após nossa derrota nas bases da classe trabalhadora.
Pensar novas estratégias de organização do povo trabalhador é pensar formas de nos sairmos melhor nas eleições de 2026.
"A guerra híbrida atacou a imagem dos sindicatos. A superação deste desgaste depende de muita dedicação, presença na base, compromisso com as reivindicações tal e qual são sentidas pela base. Mas, sem mudanças substanciais nas formas de se organizar, de representar e de se comunicar não conseguirá recuperar ou construir laços de confiança com a base." (p. 55)
Luizinho sugere ousadia para organizar os trabalhadores que não estão na forma tradicional da carteira de trabalho.
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COMENTÁRIO
Excelente leitura!
Luizinho é uma referência para mim e para todos nós que o conhecemos como um militante que congrega em sua vida a prática e a teoria no fazer político, nas lutas de classe.
Sigamos na luta por um mundo melhor para o povo trabalhador. Um mundo mais sustentável ambientalmente e que supere o capitalismo.
William Mendes
Bibliografia:
AZEVEDO, Luiz. Desafios do Sindicalismo no Brasil Contemporâneo - Entre Transformações e Resistência. 1a edição. Florianópolis, SC: Ed. do Autor, 2024.


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