quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Livro: Maiakóvski: poemas - B. Schnaiderman, Augusto e Haroldo de Campos



Refeição Cultural 

Janeiro de 2025


"COME ANANÁS

Come ananás, mastiga perdiz.

Teu dia está prestes, burguês."


A leitura do livro de poemas de Maiakóvski organizado pelos irmãos Campos e por Boris Schnaiderman me permitiu conhecer um pouco da poética do poeta revolucionário e todo o contexto de sua época, as primeiras décadas do século 20.

Neste caso, a diferença de compreensão ao ler primeiro os poemas e depois reler cada um deles após os textos críticos e de esclarecimento por parte dos organizadores da edição especial foi algo central.

O texto de Boris Schnaiderman - "Maiakóvski: Evolução e Unidade" - é fundamental para uma boa leitura dos poemas de Maiakóvski. 

O texto "Eu Mesmo - Maiakóvski" também é muito interessante para conhecermos o poeta. 

Vejam essa afirmação de Maiakóvski a respeito de seus primeiros contatos com livros na infância:

"Primeiro livro

Não sei que Passarinheira Agáfia. Se tivesse então encontrado alguns livros daqueles, deixaria de ler para sempre. Felizmente, o segundo livro foi Dom Quixote. Isto é que é livro! Fiz uma espada de madeira e armadura e aniquilava tudo ao redor." (p. 57)

Simplesmente fantástico!!!

Depois o poeta diz que leu Júlio Verne.

Foi preso três vezes durante o regime czarista, escreveu na terceira prisão:

"Tendo lido os contemporâneos, despenquei-me sobre os clássicos. Byron, Shakespeare, Tolstói. Último livro: Ana Karênina. Não cheguei ao fim. De noite me chamaram "à cidade com as suas coisas". E fiquei sem saber, até hoje, como acabou aquela história dos Karênin." (pag. 64)

Maiakóvski, eu também não terminei aquela história. Ana morre no final.

Em 1915, após ser convocado para a 1a GM:

"(...) Publiquei 'A Flauta-Vértebra' e a 'Nuvem'. A nuvem saiu muito limpinha. A censura soprou nela. Umas seis páginas só de pontos. 

     Daí data o meu ódio aos pontos. E às vírgulas também." (pag. 71)

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MAIAKÓVSKI, 50 ANOS DEPOIS - Augusto de Campos 

O livro traz no Apêndice presentes aos leitores, como esse texto de A. de Campos. 

Entendi melhor a relação do poeta com seu grande amor, Lília Brik, e as várias passagens da vida nas quais Maiakóvski abordou a questão do suicídio. 

"O poema em que discute o suicídio de Iessiênin, em 1926, terminando com as linhas 'nesta vida/morrer não é difícil/o difícil/é a vida e o seu ofício' (na esplêndida recriação de Haroldo de Campos), parecia prevenir qualquer recidiva. O poeta lutava consigo mesmo?" (p. 259)

Possíveis motivos ou questões que impactavam a vida do poeta:

"Causas possíveis do suicídio? Os Charters resumem: o tratamento dado a Maiakóvski pelos 'escritores proletários'; a desilusão política; o fracasso do seu caso com Tatiana; a recusa de Nora em casar-se com ele; a ausência de Lília; problemas físicos com sua voz. Mas a ideia do suicídio sempre o perseguira..." (p. 258)


POEMA-ANEL

Vejam que legal a explicação de Augusto de Campos sobre esse poema-anel a Lília Brik:

"Todas as homenagens que o poeta rendeu a Lília (em poemas como 'Lílitchka!', 'A Flauta-Vértebra', 'O Homem', 'Disto') se resumem numa única palavra que ele transformou no que hoje chamaríamos de poema concreto. Maiakóvski fez gravar num anel, que deu a ela de presente, as letras 'L', 'IU' e 'B' - as iniciais do nome completo de sua amada: Lília IÚrievna Brik. Em disposição circular elas formam a palavra LIUBLIÚ (amo). Também no título de um poema de 1923 as letras são grafadas separadamente (L IU B L IU), embutido na palavra 'amo' o nome de Lília." (p. 259/260)

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Me sensibilizei bastante com a biografia do poeta futurista e revolucionário Vladímir Maiakóvski. 

A incompreensão da qual foi vítima, seus últimos dias e o suicídio em 14 de abril de 1930 após concluir o poema "A Plenos Pulmões" me comoveram muito.

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POETA NÃO SEGUE REGRAS, ELE CRIA REGRAS 

"Justamente por renegar a poética tradicional, com a contagem de sílabas e de pés, exigia de si e dos poetas modernos em geral um esforço maior. 'Eu não forneço nenhuma regra para que uma pessoa se torne poeta, para que escreva versos. E, em geral, tais regras não existem. Damos o nome de poeta justamente à pessoa que cria estas regras poéticas' - escreveu em seu famoso ensaio." (p. 31, Boris Schnaiderman)

O poema que abre esta postagem - "Come Ananás" - é um exemplo de poesia de luta, nos explica Boris Schnaiderman. 

Este poema abaixo também é uma posição firme de Maiakóvski sobre sua poética revolucionária na poesia:

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O LIVRO BOM É NECESSÁRIO 

(...)

Logo

      que se eleve

                a cultura do povo!

Uma só,

             para todos.

O livro bom

                é claro

                           e necessário

a mim,

          a vocês, 

                     ao camponês 

                             e ao operário


Do poema "Incompreensível para as massas".

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COMENTÁRIO FINAL

A leitura do livro Maiakóvski: poemas foi a descoberta de um grande poeta da cultura humana. 

Os textos complementares do livro, de Boris Schnaiderman, Haroldo de Campos e Augusto de Campos, deram a mim o suporte necessário para compreender e apreciar a poética de Maiakóvski. 

Saio da leitura menos ignorante no tema. E isso é bom.

Sigamos vivendo com o desejo de aprender coisas novas todos os dias. 

William 


Bibliografia:

MAIAKÓVSKI, Vladimir. Poemas. Tradução: Boris Schnaiderman, Haroldo de Campos, Augusto de Campos. Ed. especial rev. e ampl. - São Paulo: Perspectiva, 2017.


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