Clareira - Adélia Prado
Seria tão bom, como já foi,
as comadres se visitarem nos domingos.
Os compadres fiquem na sala, cordiosos,
pitando e rapando a goela. Os meninos,
farejando e mijando com os cachorros.
Houve esta vida ou inventei?
Eu gosto de metafísica, só pra depois
pegar meu bastidor e bordar ponto de cruz,
falar as falas certas: a de Lurdes casou,
a das Dores se forma, a vaca fez, aconteceu,
as santas missões vêm aí, vigiai e orai
que a vida é breve.
Agora que o destino do mundo pende do meu palpite,
quero um casal de compadres, molécula de sanidade,
pra eu sobreviver.
Do livro Bagagem (1976)
---
COMENTÁRIO:
O mundo humano é velho, apesar de ser tão recente na natureza de bilhões de anos do mundo.
Estava pensando nas ideias que movem o mundo dos humanos... só metafísica!
Não à toa todo mundo se baseia nela no viver. Ou, querendo ou não, é afetado por ela no viver.
Antes de ler a poesia de Adélia Prado, que gosta de metafísica, estava lendo a versão do Hamas sobre o que se passa na Palestina... e lá estão os motivos de sempre, a metafísica.
Eu sei o que sentem as pessoas que creem nas metafísicas... cristãos, judeus, muçulmanos. Vivi décadas sob as abstrações e regras da metafísica.
Hoje, independente do ódio todo que se sobressai das metafísicas, só queria mesmo uma clareira "pra eu sobreviver".
William
Bibliografia:
PRADO, Adélia. Bagagem [recurso eletrônico]. 1. ed. - Rio de Janeiro: Record, 2021.
Esse poema é lindo. Bela escolha! Abraços nos seus.
ResponderExcluirA cada leitura de novo grupo de poemas de Adélia Prado, mais gosto da poética dela. Abração pra vcs, amiga!
ResponderExcluir