sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Leitura de poesia (33) - Clareira, Adélia Prado



Clareira - Adélia Prado


Seria tão bom, como já foi,

as comadres se visitarem nos domingos.

Os compadres fiquem na sala, cordiosos,

pitando e rapando a goela. Os meninos,

farejando e mijando com os cachorros.

Houve esta vida ou inventei?

Eu gosto de metafísica, só pra depois

pegar meu bastidor e bordar ponto de cruz,

falar as falas certas: a de Lurdes casou,

a das Dores se forma, a vaca fez, aconteceu,

as santas missões vêm aí, vigiai e orai

que a vida é breve.

Agora que o destino do mundo pende do meu palpite,

quero um casal de compadres, molécula de sanidade,

pra eu sobreviver.


Do livro Bagagem (1976)

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COMENTÁRIO:

O mundo humano é velho, apesar de ser tão recente na natureza de bilhões de anos do mundo.

Estava pensando nas ideias que movem o mundo dos humanos... só metafísica!

Não à toa todo mundo se baseia nela no viver. Ou, querendo ou não, é afetado por ela no viver.

Antes de ler a poesia de Adélia Prado, que gosta de metafísica, estava lendo a versão do Hamas sobre o que se passa na Palestina... e lá estão os motivos de sempre, a metafísica. 

Eu sei o que sentem as pessoas que creem nas metafísicas... cristãos, judeus, muçulmanos. Vivi décadas sob as abstrações e regras da metafísica. 

Hoje, independente do ódio todo que se sobressai das metafísicas, só queria mesmo uma clareira "pra eu sobreviver".

William 


Bibliografia:

PRADO, Adélia. Bagagem [recurso eletrônico]. 1. ed. - Rio de Janeiro: Record, 2021.

 

2 comentários:

  1. Esse poema é lindo. Bela escolha! Abraços nos seus.

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  2. A cada leitura de novo grupo de poemas de Adélia Prado, mais gosto da poética dela. Abração pra vcs, amiga!

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