sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Leitura de poesia (54) - Ser, Drummond



SER - DRUMMOND


O filho que não fiz 

hoje seria homem. 

Ele corre na brisa,

sem carne, sem nome.


Às vezes o encontro 

num encontro de nuvem. 

Apoia em meu ombro 

seu ombro nenhum.


Interrogo meu filho, 

objeto de ar:

em que gruta ou concha

quedas abstrato?


Lá onde eu jazia,

responde-me o hálito,

não me percebeste,

contudo chamava-te


como ainda te chamo

(além, além do amor)

onde nada, tudo

aspira a criar-se.


O filho que não fiz

faz-se por si mesmo.


Do livro Claro enigma, 1951.

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COMENTÁRIO:

Caraca, que profundo isso!

Algo que poderias ter feito no passado, e que talvez ainda aperte teu coração, reminiscências do passado que sempre voltam.

Oportunidades perdidas, contudo, não significa que outras oportunidades não venham a existir, até porque:

"onde nada, tudo

aspira a criar-se."


O poema é profundo em suas imagens e sentidos metafóricos.


Por outro lado:

"O filho que não fiz

faz-se por si mesmo."

Quantas veredas poderia ter trilhado e não trilhei. Em cada trilha um destino. 

Na trilha que não trilhei, alguém trilhou. 


Na história, um tijolo. 

Os muros não têm os nomes de todos os tijolos. Os muros estão por aí. 


William 


ANDRADE, Carlos Drummond. Nova reunião: 23 livros de poesia - volume 1. 3ª edição - Rio de Janeiro: BestBolso, 2010.


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