segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Leitura de poesia (36) - Lune de Miel, T. S. Eliot



Lune de Miel - T. S. Eliot (1920)


Viram os Países-Baixos, voltam em Terre Haute;

Mais uma noite, e chegam a Ravena bela,

Lassos entre lençóis, com seus duzentos percevejos;

O suor estival e um forte odor de cadela.

Descansam de costas, joelhos abertos,

As quatro pernas moles bem inchadas de picadas.

Ergue-se o lençol para coçar melhor. 

A menos de uma légua, Saint Apollinaire

En Classe, basílica famosa entre os que adoram

Capitéis de acanto que o vento torneia.


Vão pegar o trem das oito horas 

Prolongar suas dores de Pádua a Milão,

Onde fica a Ceia e um restaurante nada caro.

Ele pensa nas gorjetas, mede o quanto gastarão.

Terão visto a Suíça e cruzado toda a França. 

E Saint Apollinaire, rígida e ascética,

Velha fábrica por Deus abandonada, guarda ainda

Em suas pedras arruinadas a forma exata de Bizâncio.


Do livro Poemas (1920)

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COMENTÁRIO:

Vi no poema certa semelhança com a temática dos poemas anteriores que escolhi, do livro de 1917: gente da classe trabalhadora e seu mundo do prazer carnal. 

A empregada da Tia Helen no colo do lacaio após a morte da patroa.

A sensualidade da boca da mulher na mesa de um café ou restaurante e os seios em movimento, no poema "Histeria". 

O casal em lua de mel proletária, com suor, percevejos, pernas picadas inchadas e coçando, e contando os tostões pra economizar o que puder. 

Aos poucos, vou conhecendo a poética de T. S. Eliot. 

Sigamos lendo poesia. 

William 


Bibliografia:

ELIOT, T. S. Poemas. Org. tradução e posfácio Caetano W. Galindo. - 1a ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 2018.


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