segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Formação Econômica do Brasil - Celso Furtado (XXI)

Quarta parte

Economia de transição para o trabalho assalariado (século XIX)

XXI. O problema da mão de obra

I. Oferta interna potencial

Este capítulo é chocante pela apresentação da questão da mão de obra escrava. Furtado apresenta alguns números da escravidão no Brasil e nos Estados Unidos ao longo do século XIX.

A nota 105 do livro é tão clara em relação aos números do tráfico de seres humanos que vale a pena deixar a citação aqui.

"Não se conhecem dados completos sobre a entrada de escravos no Brasil, nem mesmo para a época da independência política. Particularmente irregulares são os dados relativos às entradas pelos portos do norte. Entre 1827 e 1830 houve uma grande intensificação do tráfico, pois neste último ano aquele 'deveria' cessar em razão do acordo com a Inglaterra. As entradas pelo porto do Rio excederam 47 mil em 1828 e 57 mil em 1829, descendo para 32 mil em 1830. Essas importações foram evidentemente anormais, pois provocaram forte desequilíbrio no mercado, reduzindo-se os preços à metade entre 1829 e 1831. Outra etapa de grandes importações foi a que antecedeu à cessação total do tráfico, ocorrida entre 1851 e 1852. Com efeito, no quinquênio 1845-49, a importação média alcançou 48 mil indivíduos. Dificilmente se pode admitir que a importação total na primeira metade do século passado haja sido inferior a 750 mil (média anual de 15 mil), sendo porém pouco provável que haja excedido de muito um milhão. Nos EUA, entre 1800 e 1860 se importaram cerca de 320 mil escravos, e, desses, uns 270 mil foram contrabandeados depois da abolição do tráfico em 1808. O máximo das importações decenais (75 mil) foi alcançado no período imediatamente anterior à guerra civil. (Dados relativos aos EUA citados por L. C, GRAY, History of Agriculture in the Southern United States to 1860, Washington, 1933, tomo II, p. 630.)" (p. 181)

É chocante! Até a forma burocrática como o próprio Celso Furtado descreve a comercialização de seres humanos como se fossem gado. Mas o fato é que o racismo estrutural do qual falamos aqui no Brasil vem dessa realidade material e objetiva: a economia escravista que estruturou o Brasil nunca deixou de ser a base da sociedade brasileira, nunca!

Não à toa, vemos os absurdos que vemos sobre racismo neste exato momento em que escrevo esse comentário de leitura sobre a "formação econômica do Brasil".

Neste capítulo sobre a questão da mão de obra no século XIX, vemos a movimentação de milhões de seres humanos oriundos do continente africano, raptados e transportados para os Estados Unidos e para o Brasil e, ainda hoje, tem uns filh@s da puta que fazem de conta que não houve consequência alguma dessa tragédia humanitária ao longo do tempo fazendo com que todos os dados sobre pobreza e miséria recaiam sobre as populações descendentes dessa massa de pessoas capturadas e feitas de mão de obra gratuita para o engrandecimento dos brancos estrangeiros e seus descendentes das casas-grandes.

Pro inferno com cada racista que se apresente em nossa frente. Não se combate o racismo só se dizendo antirracista, racismo se combate com reação contra qualquer fdp racista, como vimos reagir nesta semana a atriz Giovanna Ewbank ao se deparar com uma racista num restaurante em Portugal.

William


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Bibliografia:

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Grandes nomes do pensamento brasileiro. 27ª ed. - São Paulo. Companhia Editora Nacional: Publifolha, 2000.


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