domingo, 7 de agosto de 2022

Formação Econômica do Brasil - Celso Furtado (XXIII)

Quarta parte

Economia de transição para o trabalho assalariado (século XIX)

XXIII. Transumância amazônica


"Essa enorme transumância indica claramente que a fins do século passado já existia no Brasil um reservatório substancial de mão de obra, e leva a crer que, se não tivesse sido possível solucionar o problema da lavoura cafeeira com imigrantes europeus, uma solução alternativa teria surgido dentro do próprio país. Aparentemente, a imigração europeia para a região cafeeira deixou disponível o excedente de população nordestina para a expansão da produção da borracha." (p. 137)

A primeira observação é quanto ao termo "transumância" usado por Celso Furtado. Todas as definições que encontrei deixam claro que o conceito mais usado para a palavra é a migração de rebanhos, gado, pastoreados por pessoas, tipo os vaqueiros ou pantaneiros conduzindo gados pra lá e pra cá.

Furtado teria usado o termo para se referir a seres humanos tratados como gado mesmo? Ele está falando do Brasil do século XIX para o início do XX, ou seja, do fim da escravidão humana formal para uma nova forma de escravidão que vigora até hoje. Ou já em meados do século passado, ele usou o termo transumância em sua significação menos comum ou até rara se referindo a migração de gente como mão de obra? Sei lá.

Este é o 3º capítulo tratando do problema da mão de obra na transição para o trabalho assalariado no Brasil.

Um dos destaques do capítulo, pra mim, é a lembrança da morte de quase 200 mil pessoas por fome na região Nordeste na segunda metade do século XIX. Essa calamidade facilitou a migração dos nordestinos para a região amazônica, como mão de obra barata para expandir a extração da borracha, em alta no mercado internacional naquela época.

"Esse problema estrutural assumira extrema gravidade por ocasião da prolongada seca de 1877-80, durante a qual desapareceu quase todo o rebanho da região e pereceram de cem a duzentas mil pessoas." (p. 139)

Finalizo os comentários com uma comparação que Furtado faz dos migrantes europeus vindos para cá para as regiões de café na região Sudeste e os migrantes do Nordeste para a região amazônica: ele afirma no final da página 139 que a situação do povo daqui foi bem pior que a do povo que veio com alguns auxílios da Europa pra cá.

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COMENTÁRIO

A história só esclarece o que já sabemos ao estudar as origens das sociedades quando invadidas: os povos originários e nativos só se ferram nesses processos.

Depois no futuro os donos do poder vão usar o termo "meritocracia" para manipular o povão ao dizer que eles estão na merda porque não tiveram capacidade, porque são preguiçosos e outras merdas do tipo.

Neste desgraçado 7º ano do golpe de 2016 no Brasil, quando a "ponte para o futuro" nos levou paras os séculos de colônia que Celso Furtado nos descreve no livro, temos a chance de encerrar esse período e recomeçar um longo processo de independência e soberania do povo brasileiro de novo.

ELEIÇÕES DE OUTUBRO: temos dois projetos a escolher caso tenhamos eleições em outubro: o que está aí desde o golpe, o do Brasil colônia, e o que se apresenta para resgatar o país e criar perspectivas de um recomeço de paz e prosperidade para o povo, projeto liderado por Lula.

Vamos ver o que vai acontecer nos próximos meses. Os golpistas não vão abrir mão dessa colônia de exploração, não vão!

William


Para ler comentários sobre o capítulo seguinte, clique aqui.


Bibliografia:

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Grandes nomes do pensamento brasileiro. 27ª ed. - São Paulo. Companhia Editora Nacional: Publifolha, 2000.


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