Refeição Cultural
Osasco, 2 de agosto, noite de terça-feira. 2022.
Ao voltar de uma corrida noturna aqui no bairro, senti durante o alongamento uma confluência de diversos pensamentos que atribulavam minha mente e quase tive uma crise de choro, foi estranho. Muita coisa passou pela minha cabeça. Agora já está tudo sob controle e dentro da rotina do viver.
Minha saúde não é mais a mesma desde que exerci minha última função no período laboral. Não sou velho para os padrões sociais da atualidade, mas tive uma vida muito intensa e isso pode ter me envelhecido muito mais rapidamente do que a quilometragem aparenta.
Um dos meus sonhos era continuar correndo e praticando esportes assim que tivesse mais tempo na vida e esse sonho foi pro saco ao passar a ter problemas de dores no quadril desde 2018. Acabaram meus sonhos de longas corridas como meias maratonas e maratonas. Arte marcial também já era. Insisto nas corridas, mas após a prática me sinto como se tivesse sido atropelado por um trem. É foda!
Mas por que não saio por aí fazendo um monte de exames e vejo o que pode estar errado com minha saúde? Pago uma fortuna de planos de saúde para a família e como se diz por aí o mais comum seria ir de especialista em especialista até achar que encontrei o problema e a solução pra ele...
Ao olhar para trás na minha vida antes e depois do mandato de gestor de saúde que exerci por quatro anos, diria que tenho um histórico de pouca relação com sistemas de saúde. Antes dos vinte anos, eu e minha família não tínhamos planos de saúde e quando conseguíamos algum atendimento médico era daquele jeito que o povão consegue, em algum hospital ou posto de saúde públicos. Nunca me esqueço dos barracos que armamos para salvar a vida de meus pais quando estavam entre a vida e a morte por algum caso agudo de saúde.
Na adolescência, a benzedeira Dona Nenzinha era a nossa salvação em Uberlândia. Em São Paulo, após voltar pra cá em 1987, também contei com benzedeiras, cirurgias espirituais e ajudas de toda ordem nos centros de umbanda. E nas necessidades de atendimento por eventos agudos como, por exemplo, cálculos renais e acidentes de moto era o hospital da USP que a gente procurava na região do Rio Pequeno, Zona Oeste.
Ao ter acesso a planos de saúde quando virei bancário, continuei sem ter a menor intenção de frequentar o sistema de saúde. Eu me sentia muito mal em ter um plano de saúde e o restante de minha família não ter. Quando eu passava mal por algum motivo, ficava em casa e aguentava o período ruim até melhorar. Juro que fiz isso praticamente até ser eleito diretor de saúde de nossa autogestão do Banco do Brasil, já com 45 anos de idade. Lógico que usei o plano, mas só quando o calo apertava.
Quando entrei por concurso público no Banco do Brasil, tentei por duas vezes incluir meus pais como dependentes do meu plano de saúde. As duas tentativas foram rejeitadas. O incrível é que um monte de colegas conseguia colocar os pais como dependentes nos anos noventa... as decisões eram arbitrárias... Anos mais tarde, na reforma estatutária de 1996, a situação mudou e o novo estatuto definiu de forma mais clara e rígida quem poderia ser dependente dos associados. Mas quem estava, teve um tratamento diferenciado para continuar usufruindo do sistema, pagando um valor menor.
Como gestor da autogestão em saúde, além de ter conhecido o modelo assistencial da Cassi e acreditar piamente nele, decidi investir na saúde de minha família e até hoje faço um grande esforço para mantê-los nos planos de saúde da Cassi. Entendo que ter uma oportunidade de atendimento médico é uma forma de aumentar a chance de ter meus entes queridos comigo. A família ainda é um porto seguro e uma referência num mundo tão sem sentido como esse no qual nos pegamos.
Acabei me alongando na reflexão, esses textos de diários têm essas digressões que visitam o passado e vão se fazendo enfadonhos até pra quem escreve.
Enfim, por que não saio andando pelo sistema e procurando problemas e soluções? Porque não confio mais no sistema de saúde ao qual pertenço como confiava quando ele era focado em nos proteger da sanha mercadológica dos capitalistas que vendem procedimentos de saúde e outras tralhas para enriquecerem às custas dos usuários de planos de saúde. O modelo preventivo e de acompanhamento por equipes de família está sendo todo terceirizado e não sei o que vai sobrar do modelo que tínhamos. Sei que terei que lidar com essa máquina ("indústria da saúde") de fazer dinheiro às custas da gente, mas voltei a me comportar como antes, quando evitava ao máximo usar o sistema de saúde. Isso não é nada bom...
No último texto de Memórias que escrevi no blog A Categoria Bancária (ler aqui), acabei falando um pouco do rumo que nossa autogestão está tomando e acho isso muito triste. Mas são os tempos. São as opções dos participantes dos sistemas sociais nos quais estamos enfiados.
Chega por enquanto... a cabeça está cheia de coisas, mas paro nas reflexões e nas digressões.
William
Post Scriptum (25/8/22):
Como disse acima sobre o esforço que faço para manter minha família com plano de saúde, neste mês de agosto teve reajuste no plano e a cacetada foi de mil reais de reajuste... mil reais... vou mantê-los no plano de saúde enquanto eu estiver vivo e puder dar oportunidade para eles terem acesso a alguma assistência médica nessa terra devastada pelo regime de morte e corrupção que se apossou do poder após o golpe de 2016. Dinheiro serve pra isso e não pra se acumular como pensam os capitalistas e a gente manipulada pela ideologia capitalista.
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