Quarta Parte
Economia de transição para o trabalho assalariado (século XIX)
XXIV. O problema da mão de obra
IV. Eliminação do trabalho escravo
"O caso da ilha de Antígua é apresentado na literatura especializada inglesa como demonstrativo do caráter puramente formal da abolição da escravatura ali onde as terras estavam monopolizadas por uma classe social. A assembleia dessa ilha dispensou os escravos das obrigações criadas pelo Apprenticeship System, introduzido pelo parlamento britânico como medida de transição na abolição da escravatura. Esse sistema obrigava os escravos maiores de 6 anos a trabalhar 6 anos para os seus amos durante uma jornada de 7 1/2 horas diárias, mediante alimentação, roupa e alojamento. Ao escravo ficava a possibilidade de trabalhar pelo menos duas horas e meia diárias mais, mediante salário. Concedendo de imediato a liberdade total, os latifundistas de Antígua se concertaram para fixar um salário de subsistência extremamente baixo. A consequência foi que os ex-escravos, em vez de trabalhar 7 1/2 horas para cobrir os gastos de subsistência, como ocorreria se se aplicasse o Apprenticeship System, tiveram de trabalhar dez horas diárias para alcançar o mesmo fim. Não existindo possibilidade prática de encontrar ocupação fora das plantações, nem de emigrar, os antigos escravos tiveram de submeter-se. Com razão se pôde afirmar no Parlamento britânico, nessa época, que os milhões de libras de indenização pagos pelo governo da Grã-Bretanha aos senhores de escravos antilhanos constituíram um simples presente, sem consequências práticas para a vida das populações trabalhadoras. Em outras palavras, a abolição da escravatura só trouxe benefícios aos escravistas. Para uma análise completa do caso de Antígua veja-se LAW MATHIESON, British Slavery and Its Abolition 1823-1838, Londres, 1926." (Nota 124, p. 183)
A leitura desse capítulo me deixou numa bad danada. Vi nele o mundo ao meu redor neste momento, dia 9 de agosto de 2022 do século 21. É o tal materialismo histórico que a gente nem lembra que existe. Estamos num clima tão infestado de mitos e mentiras e sofistas aproveitadores da ignorância alheia que acabamos por ser fisgados nessa lavagem cínica que empesta o nosso dia.
Que bad!
"Prevalecia então a ideia de que um escravo era uma 'riqueza' e que a abolição da escravatura acarretaria o empobrecimento do setor da população que era responsável pela criação de riqueza no país." (p. 141)
COMENTÁRIO - Que o diga o senhor José de Alencar, escritor famoso e aclamado, defensor da manutenção da escravidão no Brasil (ler a respeito aqui).
"Propriedade da força de trabalho"
Furtado comenta um pouco no capítulo a questão da disputa por quem detém a "propriedade da força de trabalho" assim como a questão da reforma agrária e a propriedade da terra; fatores de produção.
COMENTÁRIO - Fizeram a formalidade da abolição da escravidão em 1888 e no dia seguinte como ficaram as coisas? Leia a citação acima, da nota 124. Até hoje, seguimos com a "propriedade da força de trabalho" e sem propriedade de mais nada... e as máquinas fazem agora o que boa parte da humanidade fazia... e os lucros não são distribuídos ao povo nem sequer com a redução da jornada de trabalho. Pelo contrário, os novos escravos não trabalham mais 10 horas como na referência aos escravos de Antígua para sua subsistência... trabalham 24 horas...
Que bad!
"Se bem não existam estudos específicos sobre a matéria, seria difícil admitir que as condições materiais de vida dos antigos escravos se hajam modificado sensivelmente, após a abolição, sendo pouco provável que esta última haja provocado uma redistribuição de renda de real significado." (p. 143)
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"necessidades" diferentes de acordo com o desenvolvimento mental
Essa parte final do capítulo me deixou muito incomodado. Talvez pela forma como Furtado abordou o tema, talvez porque eu concorde com ele ao ver o mundo ao meu redor.
Ao explicar que os escravos libertos na região central do país, a região do café, preferiam trabalhar só alguns dias porque isso era o suficiente para a subsistência deles, Furtado diz:
"O homem formado dentro desse sistema social está totalmente desaparelhado para responder aos estímulos econômicos. Quase não possuindo hábitos de vida familiar, a ideia de acumulação de riqueza é praticamente estranha. Demais, seu rudimentar desenvolvimento mental limita extremamente suas 'necessidades'. Sendo o trabalho para o escravo uma maldição e o ócio o bem inalcançável, a elevação de seu salário acima de suas necessidades - que estão definidas pelo nível de subsistência de um escravo - determina de imediato uma forte preferência pelo ócio." (p. 144)
Na hora, escrevi no canto do livro: "Caraca! Pensei nos novos escravos hoje... qual o nível de necessidades deles?"
Mas logo em seguida, me lembrei do quanto as ideologias da classe dominante atuaram para nos convencer de que nós das classes subalternas somos "preguiçosos" e não queremos "subir na vida" e merdas do tipo... que foda! Foram séculos de ideólogos da elite do atraso enfiando isso em nossas cabeças... (até chegarem na sofismática palavra "meritocracia")
Mais adiante, Furtado diz:
"(...) Podendo satisfazer seus gastos de subsistência com dois ou três dias de trabalho por semana, ao antigo escravo parecia muito mais atrativo 'comprar' o ócio que seguir trabalhando quando já tinha o suficiente 'para viver'..." (p. 144/145)
E eu anotei no livro: "Me lembrei das discussões que tinha com os gerentes do banco sobre não aceitar vender meus dias de férias...".
Uma vez, achei tão fdp o gerente me pressionando para vender minhas férias que disse pra ele que se eu tivesse dinheiro, eu era caixa executivo, eu aceitaria comprar dias de férias dele ao invés de vender os meus dias.
E Furtado termina esse 4º capítulo abordando a transição do trabalho escravo para o assalariado demonstrando que a forma como a abolição foi feita traria consequências profundas para a sociedade brasileira em relação ao desenvolvimento econômico do país, principalmente para a parcela "libertada" daquela forma.
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Que bad!
Neste momento da história do Brasil, o genocida no poder central está usando o orçamento do país para comprar votos durante os meses de eleição e os sofistas pregadores profissionais dos mitos manipulam zilhões de pessoas miseráveis para manterem o sistema de máfia no poder por mais tempo...
Aff! Que bad!
William
Para ler comentários sobre o capítulo seguinte, clique aqui.
Bibliografia:
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Grandes nomes do pensamento brasileiro. 27ª ed. - São Paulo. Companhia Editora Nacional: Publifolha, 2000.
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