Ilustração de Vidas Secas - Aldemir Martins |
VIDAS SECAS
RELEITURAS
Vidas secas em versos
MUDANÇA
Na planície avermelhada
os juazeiros alargavam duas manchas verdes.
Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro,
estavam cansados e famintos.
Ordinariamente
andavam pouco,
mas como haviam repousado bastante
na areia do rio seco,
a viagem progredira bem três léguas.
Fazia hora que procuravam uma sombra.
A folhagem do juazeiro apareceu longe,
através dos galhos pelados da catinga rala.
Arrastaram-se para lá,
devagar,
sinhá Vitória com o filho mais novo
escanchado no quarto
e o baú de folha na cabeça.
Fabiano sombrio,
cambaio,
o aió a tiracolo,
a cuia pendurada numa correia
presa ao cinturão,
a espingarda de pederneira no ombro.
O menino mais velho
e a cachorra Baleia
iam atrás.
COMENTÁRIO:
Mais uma vez, faço aqui uma licença poética e disponho um trecho de Vidas Secas em outro formato - em versos livres.
O ritmo de leitura é exatamente o mesmo em que leio, respeitando os sinais gráficos de Graciliano e a minha respiração.
É isso.
Bibliografia:
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 80ª edição. Editora Record. 2000.
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