Refeição Cultural - Cem clássicos
"A gramática apareceu depois de organizadas as línguas. Acontece que meu inconsciente não sabe da existência de gramáticas, nem de línguas organizadas. E como Dom Lirismo é contrabandista..." ("Prefácio interessantíssimo", Pauliceia Desvairada, 1922)
Estou nuns dias de desconstrução, e quem sabe reconstrução de algo, talvez até de descobertas de sentidos, sabendo que não há sentido nas coisas. A coisa até parece o Modernismo e seus participantes centrais, Oswald de Andrade e Mário de Andrade (além, é claro, de meu predileto, o 3º Andrade, o Drummond).
Interrompi a leitura de Moby Dick por uns dias, para ler uns livros intercalados. Estou bem na leitura do clássico de Melville. Faltam pouco mais de cem páginas para acabar o livrão.
Nesses dias de desconstrução, li primeiro o Memórias sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade. Depois li o livro de poesia Pau-Brasil, dele também. Para finalizar as obras centrais de O. A. que tenho, li o Serafim Ponte Grande. Livros fundantes do Modernismo brasileiro. Já havia lido essas obras duas décadas atrás, quando entrei na USP.
Aí fui pegar para ler os textos críticos de Haroldo de Campos, contidos nos livros do Oswald de Andrade. O texto crítico de Campos contido no João Miramar li no dia da releitura da obra. Faltavam mais dois textos críticos e o contido na edição de Pau-Brasil é enorme, mais de 50 páginas. Enfim, peguei pra ler as críticas. São muito boas!
Ao começar a leitura de Haroldo de Campos falando sobre a poesia Pau-Brasil e Oswald de Andrade, não teve jeito de ficar só nisso. Mário de Andrade era tão citado, juntamente com sua Pauliceia, que tive que parar o texto crítico e reler a Pauliceia Desvairada (1922). Mário de Andrade foi outro modernista que conheci ao estudar nas Letras da USP.
Foi assim minha manhã desta terça-feira, 20 de abril. A cada dia, menos vontade de ligar o celular eu tenho. Estamos vivendo um período de guerra, destruição do mundo, mortes nos campos de batalha, perdas de pessoas conhecidas, depressões. Explico: pandemia de Covid-19 no Brasil do regime fascista e genocida de um psicopata apoiado pela casa-grande, que acabou com a parca democracia que tínhamos ao dar um golpe de Estado em 2016. Tem horas que não queremos mais saber do mundo.
Enfim, voltando à Pauliceia Desvairada, a leitura de Mário de Andrade foi muito impactante quando a li pela primeira vez na Letras. Naquela época, eu fiz Modernismo com o professor Wisnik: foi legal demais!
Fizemos uma greve na faculdade em 2002, a maior greve da história da FFLCH, e eu cheguei a declamar "Ode ao burguês" nas escadarias do prédio da Gazeta na Avenida Paulista. Eu declamava cada verso e um monte de gente repetia em seguida... foi "arlequinal!".
Na sala de aula, o professor fazia leituras em voz alta conosco, gritando poemas da Pauliceia. Era uma loucura! Inesquecível!
É isso. Anotado mais um clássico que tive o privilégio de conhecer nesta vida.
William
Bibliografia:
ANDRADE, Mário de. Poesias completas. Círculo do Livro S.A. São Paulo, 1976
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