terça-feira, 27 de abril de 2021

Viagens linguísticas



Refeição Cultural

Terminada a aventura a bordo do Pequod, passando um tempo de meus dias atribulados junto ao capitão Acab e sua tripulação, à caça da baleia branca Moby Dick, me preparo agora para novas aventuras literárias, novas viagens a novas culturas e novas viagens para dentro de mim mesmo, meu cérebro e o que sou.

Eu e o amigo Sérgio Gouveia vamos embarcar na companhia de Leopold Bloom e vamos perambular pela Dublin do início do século XX durante o longo dia 16 de junho de 1904. Para meu amigo, será a novidade de um dos romances mais icônicos da literatura mundial; para mim, será a releitura da obra duas décadas após minha epopeia joyceana. 

Ulisses, de James Joyce, é sobretudo uma viagem linguística. Assim como outras obras do gênero romance com linguagens pouco comuns aos leitores, o romance de Joyce é uma leitura exigente. Me deu trabalho da primeira vez. Vamos ver agora.

Para tornar mais interessante a leitura do Ulisses de Joyce, decidi ler ao mesmo tempo a obra referência de Ulisses, a Odisseia, de Homero. E vou ler a Odisseia em versos, coisa que nunca terminei, pois comecei e larguei. Já li a Odisseia em prosa para tomar conhecimento do clássico e atender às necessidades acadêmicas.

Sendo assim, daqui a poucos dias começo a viagem pela Dublin de Leopold Bloom, Molly Bloom e Stephen Dedalus. Antes, vou fazer a arrumação necessária da casa, deixada um pouco de lado durante a viagem a bordo do baleeiro Pequod.

Para iniciar as novas viagens linguísticas, li entre ontem à noite e hoje de manhã mais de 50 páginas de ensaios e textos críticos contidos na minha edição especial da Odisseia, uma edição da Edusp à cargo do professor Antonio Medina, já falecido. Tive aula com o Medina na FFLCH e nunca mais vou me esquecer daquelas aulas. Eram fantásticas! 

Os textos que li do professor Medina e do poeta e crítico Haroldo de Campos foram centrais para iniciar a leitura da Odisseia e de Ulisses. Os textos abordaram a questão da linguagem, das traduções e foram motivados por causa da figura polêmica do tradutor da edição que tenho, Manuel Odorico Mendes, um grande intelectual maranhense do século XIX.

Odorico Mendes é tratado de forma dura e até descortês pelo crítico de literatura brasileira Sílvio Romero e também por nosso mestre Antonio Candido. Em sua defesa lemos Haroldo de Campos e o professor Medina. Quanta reflexão pude ler nas 50 páginas de críticas de minha edição! Talvez comente durante as leituras dos clássicos parte dos conceitos apreendidos ali.

E não é que fui até a estante para dar uma olhada em qual tradução em verso eu tinha da Ilíada de Homero e para minha surpresa também é uma tradução de Odorico Mendes! A gente nem sabe tudo o que tem em casa...

Enfim, vamos começar a arrumação da casa, porque depois vamos embarcar em longas viagens, em viagens fantásticas, sem dúvida! Alguém mais se habilita para essas viagens?

Boas leituras, amigas e amigos leitores!

William


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