sábado, 5 de junho de 2021

050621 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

"Como líder, uma pessoa deve algumas vezes tomar atitudes que não são populares ou cujos resultados não serão conhecidos nos anos vindouros. Há vitórias cuja glória reside apenas no fato de que elas são conhecidas por aqueles que a venceram. Isso é particularmente verdadeiro na prisão, onde devemos encontrar consolo em sermos leais aos nossos ideais, mesmo se ninguém mais tem conhecimento disso." (MANDELA, 2012, p. 479)


Sábado, fim de dia, 5 de junho do 2º ano da pandemia mundial de Covid-19. Dias tristes no Brasil e em vários lugares do mundo. Tempos de crise e miséria para a classe trabalhadora mundial. Dias de reinvenção e resistência porque a vida é uma ordem, como nos diz Drummond, e viver é bom, como diz o personagem Rodrigo Cambará na saga de Érico Veríssimo, O tempo e o vento.

Parei quase todas as minhas leituras de livros nesta semana que se encerra. Enquanto os livros aguardam a continuidade da leitura, peguei na estante a autobiografia de Nelson Mandela. E com ele estou. E nele busco inspiração. 

Estou na parte oito da história de vida de Mandela e da própria África do Sul, pois as histórias se confundem, se interpenetram, se complementam. Mandela e seus companheiros escaparam da condenação à morte e foram condenados a prisão perpétua. Estão na Ilha de Robben. Os prisioneiros ficaram presos quase duas décadas lá.

O crime que eles cometeram foi lutar por liberdade, igualdade e justiça para o povo negro sul-africano. Lideraram seu povo na luta contra o regime racial do apartheid, lutaram por décadas por democracia.

Em certo momento da leitura hoje à tarde, senti tanta agonia ao ler a descrição das injustiças que eram cometidas pela minoria branca e racista contra o povo negro sul-africano que fechei o livro, coloquei minha máscara e saí para pedalar um pouco. Acho que fiz isso só para sentir que ainda era livre, mesmo com a pandemia lá fora e com tanta coisa ruim acontecendo ao povo brasileiro.

Em vários momentos da leitura de Mandela me lembro de lutas que vivi, que vivemos no movimento sindical. Mesmo sendo pequenininhos quando vemos a história de grandes lideranças do povo, sabemos que cada lutador(a) é importante e que a soma de cada um é o todo nas lutas de classes.

Ao ler a reflexão de Mandela, que citei acima, me lembrei de vários momentos que vivi e de ações que tomei que se assemelham ao que o líder sul-africano nos conta. Na Cassi, nas negociações com os banqueiros, nas diversas oportunidades que vivi ao representar dezenas de milhares de pessoas, tive que ser muito firme ao defender o que acreditava e representava e pouca gente sabe disso ou quase ninguém. São lutas solitárias.

Certa vez nas negociações com os banqueiros, exigi que se aumentasse o valor a ser distribuído na participação nos lucros e resultados (PLR) de maneira que as funções da base da pirâmide recebessem um pouco mais, tirando um pouquinho do valor dos grandes salários no topo da pirâmide da folha de pagamento. O negociador do banco ficou muito puto e a queda de braço durou do fim da noite até o amanhecer (rsrs). Foi uma conquista coletiva muito positiva para escriturários, caixas, assistentes e primeiras funções gerenciais. Os bancários jamais saberiam de uma coisa dessas.

Outra vez, já na direção da Caixa de Assistência dos Funcionários do BB, a Cassi, exigi que o banco fosse o responsável pela despesa administrativa relativa ao pagamento da PLR dos funcionários do banco cedidos à nossa autogestão em saúde (era correto que eles recebessem, só questionei quem deveria pagar aquela remuneração). Eu entendi logo que cheguei à gestão que o correto e justo era o banco assumir aquela despesa e não a entidade de saúde. Olha! A negociação foi dura. Ficam as palavras de Mandela acima para descrever o que vivi. Não aceitei que a situação continuasse. A tensão fez com que algumas dezenas de funcionários não recebessem a remuneração variável no dia definido (depois receberam). Tive que utilizar diversas táticas e, inclusive, abri mão de receber a minha parte até que se resolvesse a questão (por princípio não recebi um centavo de PLR pela autogestão, só pelo banco). Só no 3º semestre de nossa gestão é que conseguimos resolver em definitivo o caso. A Cassi desde 2015 economizou milhões de reais com essa atitude minha. Alguém sabe disso? Óbvio que não (e ao final do mandato ainda inventaram um processo fraudulento, um lawfare, para me prejudicar nas eleições seguintes).

Mandela nos faz lembrar de muita coisa. E nos inspira a acreditar que a luta por justiça, igualdade, liberdade e por um mundo melhor para todos vale a pena. Nós temos que acreditar que vamos varrer para a lata de lixo esse nazifascismo que tomou conta do Brasil, esse ódio e essa ignorância violenta que envenenou nosso povo após a Lava Jato e o golpe de Estado em 2016. Nós vamos vencer o bolsonarismo. Essa tragédia odiosa e infeliz vai ficar para trás.

William


Bibliografia:

MANDELA, Nelson. Longa caminhada até a liberdade. Tradução de Paulo Roberto Maciel Santos. Curitiba: Nossa Cultura, 2012.


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